IMPACTOS DO DESEMPREGO NA SAÚDE, EMOÇÕES E RELACIONAMENTOS FEVEREIRO 2018
DESEMPREGO GERA CONSEQUÊNCIA NA SAÚDE E EMOÇÕES O trabalho é uma das ocupações humanas que mais dão sentido à vida em sociedade. Carregado de subjetividade e de significados específicos na trajetória de cada um, ele costuma ser confundido com a própria identidade, a ponto de dizermos frequentemente que um indivíduo é um advogado, outro é um médico, e assim por diante de modo que o trabalho, em grande parte, ajuda a definir quem é uma pessoa, para si mesma, para os familiares e os outros à sua volta. Mas o que acontece quando esse meio de subsistência é retirado do contexto? Quais seriam as consequências do desemprego, para além da função econômica e das finanças pessoais? A presente pesquisa, conduzida pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), investiga os impactos do desemprego 1 na saúde, nas emoções e nos relacionamentos. 1 O questionário foi respondido apenas por pessoas que se enquadravam nos seguintes critérios: está procurando emprego; enquanto não encontra emprego, está recorrendo a formas alternativas de renda; não está procurando emprego porque procurou por muito tempo sem sucesso e está aguardando para ver se surge alguma oportunidade. 2
IMPACTOS SOBRE AS EMOÇÕES APÓS O DESEMPREGO, 45% SE SENTEM ENVERGONHADOS PERANTE A FAMÍLIA E OS AMIGOS PRÓXIMOS Desde cedo a maioria de nós aprende que o dinheiro está diretamente relacionado à aquisição de autonomia: realizamos determinada ocupação sabendo que, ao fim do mês, teremos uma contrapartida financeira. Qualquer que seja o salário ou o ganho proporcionado pela atividade remunerada, essa quantia nos permite pagar as contas e concretizar inúmeros desejos e necessidade de consumo, pessoais ou familiares. Não surpreende, portanto, que a ideia de perda seja uma das mais comuns entre aqueles que estão sem emprego no momento: sete em cada dez entrevistados garantem que se sentem privados, em algum grau, de consumir coisas que antes tinham, como lazer, alimentos, roupas etc. (71,7%, aumentando para 78,6% na faixa etária de 35 a 49 anos). O desemprego também está principalmente associado à ansiedade (69,8%), à insegurança de não conseguir outro emprego (67,2%), ao estresse/nervosismo (64,0%), à angústia (63,5%, aumentando para 72,8% na faixa etária de 35 a 49 anos) e à depressão/desânimo (60,5%, aumentando para 63,9% entre as mulheres e 70,4% entre aqueles com idade entre 35 e 49 anos). SENTIMENTOS APÓS PERDER O EMPREGO 72% Privado de consumir coisas que antes tinha como lazer, alimentos, roupas, etc. Ansioso 70% Inseguro de não conseguir emprego 67% 63% Angustiado 64% Estressado/ nervoso 60% Deprimido, triste e/ou desanimado Com a autoestima baixa Envergonhado perante a família e amigos próximos 45% Perda de valor perante as pessoas 56% 40% 59% Com medo 68% Esperançoso 41% Tenho estado mais otimista, confiante de que boas coisas irão acontecer Culpado 37% 28% Aliviado 3
Todos esses sentimentos negativos estão ainda acompanhados da preocupação em relação à própria imagem diante dos outros, como indica a pesquisa: quatro em cada dez entrevistados se sentem envergonhados perante a família e os amigos próximos (44,8%), sobretudo aqueles que possuem até o ensino fundamental completo (54,0%). Além disso, de modo semelhante, 40,0% relatam a sensação de perda de valor perante as pessoas. A professora titular do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da FGV-EAESP, Maria Tereza Fleury, lembra que a relação entre trabalho e identidade é antiga, mas a questão vai além: Desde a idade média você tem toda a discussão de a pessoa ser conhecida por sua profissão, até o sobrenome era dado pela profissão. Mas hoje isso está assumindo contornos muito diferentes, por que você tem toda uma questão do avanço tecnológico, em que trabalho não é mais sinônimo de emprego. O medo que as pessoas têm é na hora que perdem o emprego, será que vão conseguir trabalho? No passado, se uma pessoa que trabalhasse num call-center perdesse o emprego numa empresa, provavelmente seria empregada em outra. Hoje, muito mais relevante é toda a revolução tecnológica e como as pessoas vão se reposicionar no mercado. A perda do emprego, portanto, também parece estar relacionada a uma certa desorientação das pessoas, que em muitos casos ainda estão se adaptando às novidades que a tecnologia impõe ao mercado de trabalho, em que novas ocupações vão surgindo à medida que outras mais tradicionais vão desaparecendo ou sendo radicalmente modificadas. Por outro lado, embora não estejam entre os mais citados, também há sentimentos positivos associados à vida após a perda do emprego: 67,8% se dizem esperançosos, enquanto 41,5% têm estado mais otimistas e confiantes de que boas coisas irão acontecer e 27,7% se sentem aliviados (com aumento de 14,0 p.p em relação a 2017), especialmente os entrevistados com até o ensino fundamental completo (40,0%), sugerindo que talvez, para essas pessoas, o emprego estivesse sendo fonte de algum nível de estresse. 4
IMPACTOS SOBRE A SAÚDE ALTERAÇÕES NO SONO E NO APETITE SÃO OS IMPACTOS MAIS COMUNS NA SAÚDE DOS DESEMPREGADOS Insegurança, angústia, depressão, nervosismo... Essas e outras sensações negativas acumuladas a partir da situação de desemprego acabam cobrando seu preço sobre a saúde física de parte dos entrevistados: os relatos incluem alterações no sono em algum grau, seja insônia ou vontade de dormir mais que o normal (53,8%), aumento ou perda de apetite (46,8%, aumentando para 50,6% entre as mulheres), dor de cabeça/enxaqueca frequente (44,8%, aumentando para 50,0% entre as mulheres) e alterações na pressão, ficando mais baixa ou mais alta (34,8%, com aumento de 5,5 p.p em relação a 2017, e aumentando conforme a idade, chegando a 54,3% na faixa etária de 50 anos ou mais). Ao mesmo tempo, uma parte dos que perderam o emprego garante que a incerteza em relação ao futuro gerou até mesmo algum nível de vício: 16,3% garantem que passaram a descontar a ansiedade em relação a conseguir um novo emprego no cigarro, comida, álcool, entre outros sobretudo na faixa etária de 35 a 49 anos (22,3%). EFEITOS DO DESEMPREGO SOBRE A SAÚDE 54% Alteração no sono, tendo insônia ou vontade de dormir fora do normal 47% Aumento ou perda de apetite 45% Dor de cabeça/ enxaqueca frequente 35% Alteração na pressão, ficando mais alta ou mais baixa 16% Passei a descontar minha ansiedade em relação a conseguir um novo emprego em algum vício, como cigarro, comida, álcool, entre outros 5
IMPACTOS SOBRE OS RELACIONAMENTOS EMBORA EM MENOR GRAU, AGRESSÃO VERBAL E FÍSICA TAMBÉM SÃO CONSEQUÊNCIAS DO DESEMPREGO O desemprego é enfrentado individualmente, mas apenas num primeiro momento. Afinal, em alguma medida, a imensa maioria das pessoas está inserida em um contexto familiar, e a perda do trabalho pode gerar conflitos e situações desafiadoras dentro de casa e no convívio social em geral. No que diz respeito aos relacionamentos, praticamente seis em cada dez entrevistados afirmam que passaram a ter menos vontade de sair (57,0%, aumentando para 66,0% na faixa etária de 35 a 49 anos), ao passo em que 21,2% têm estado mais isolados das pessoas (com queda de 5,6 p.p. em relação a 2017). Embora os percentuais sejam bem menores, é preocupante constatar que o desemprego ocasiona agressões verbais (11,2%) e físicas (8,0%, com aumento de 4,0 p.p em relação a 2017, e chegando a 12,6% entre os que possuem até o ensino fundamental completo) a familiares e amigos. 6
EFEITOS DO DESEMPREGO SOBRE OS RELACIONAMENTOS 57% Menos vontade de sair 21% Tenho ficado mais isolado das pessoas 11% Tenho feito agressões verbais a familiares e/ou amigos 8% Já fiz agressões físicas a familiares e/ou amigos Vivenciar a perda do emprego não é nada fácil, justamente por tratar-se de algo que costuma afetar tanto o aspecto psicológico - a autoestima, por exemplo - quanto o lado prático da vida: as contas a pagar e os demais compromissos financeiros a cumprir. No entanto, o desequilíbrio emocional pode agravar ainda mais essa situação, prejudicando a capacidade da pessoa de refletir e de agir da melhor forma, podendo, ainda, comprometer a harmonia da casa e entre os demais integrantes da família. É importante, então, manter a calma e concentrar energias na busca por uma nova colocação. Enquanto não chegam oportunidades viáveis de trabalho, vale à pena buscar qualificar-se ainda mais profissionalmente, a fim de aumentar as chances de empregabilidade. 7
METODOLOGIA PÚBLICO-ALVO MÉTODO DE COLETA TAMANHO AMOSTRAL DA PESQUISA DATA DE COLETA DOS DADOS Residentes em todas Pesquisa realizada 600 casos, gerando margem 24 de novembro as capitais brasileiras, pessoalmente em de erro no geral de 4,0 à 14 de dezembro com idade igual ou pontos de fluxo p.p para um intervalo de de 2017. superior a 18 anos, considerando todas confiança a 95%. ambos os sexos, todas as 27 capitais do país. as classes sociais, desempregados e que buscam uma nova oportunidade de trabalho. 8