Indicador de Reserva Financeira Março/2018
Em janeiro de 2018, apenas 18% dos brasileiros conseguiram poupar parte dos seus ganhos A boa prática financeira recomenda a formação de poupança para lidar com imprevistos, realizar sonhos de consumo e para a chegada da aposentadoria. Na falta de recursos para imprevistos, o que resta ao consumidor é o mercado de crédito, com as altas taxas de juros que o caracterizam. No caso da aposentadoria, o despreparo pode levar à redução do padrão de vida. No entanto, a maior parte dos consumidores diz não ter hábito de guardar dinheiro. É o que mostra o Indicador de Reserva Financeira do Brasileiros, apurado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). Segundo dados da sondagem, somente 18,5% conseguiram guardar alguma quantia em janeiro de 2018, ante larga maioria, de 71,5%, que não conseguiu. Mesmo nos estratos de renda mais elevados, o percentual de poupadores no último mês não alcança a maioria considerando somente as classes A e B, o percentual de poupadores foi de 42,0%. Porém, nos estratos renda mais baixos, o quadro é bem mais dramático: nas classes C, D e E, somente 11,9% conseguiram poupar recursos em janeiro. Para aqueles que não conseguiram poupar, a maior parte (42,8%) alega que a renda é baixa e que nunca sobra dinheiro. Além desses, 15,7% dizem estar sem renda e 14,2% dizem que tiveram de arcar com algum imprevisto. O descontrole financeiro foi citado 15,2%. Indicador de Reserva Financeira 74,8% 79,9% 74,3% 75,6% 76,4% 75,3% 71,6% 75,0% 73,3% 73,2% 73,4% 70,0% 71,5% 71,5% 22,5% 16,6% 20,0% 18,8% 20,1% 17,3% 21,4% 19,1% 19,8% 21,0% 22,0% 19,7% 21,4% 18,5% dez/16 jan/17 fev/17 mar/17 abr/17 mai/17 jun/17 jul/17 ago/17 set/17 out/17 nov/17 dez/17 jan/18 Sim Não De acordo com a sondagem, 36,1% disseram ter o hábito de guardar dinheiro, sendo que 24,9% guardam o que sobra do orçamento e 11,3% estipulam um valor a ser guardado. Porém, a maior parte (57,0%) não cultiva este hábito. Mais uma vez, aparecem diferenças significativas
entre os diferentes estratos de renda: nas classes A e B, 60,2% têm o hábito de poupar, enquanto nas classes C, D e E, 29,3% têm o hábito. Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os números sobre a formação da reserva financeira mostram um alto número de famílias vulneráveis. O alto desemprego e a renda ainda baixa dificulta sim a formação de poupança, mas o consumidor também deve olhar para os próprios hábitos. Quem não pode contar com uma reserva financeira torna-se vulnerável tanto no curto quanto no longo prazo. Na ocorrência de um imprevisto, por exemplo, precisa recorrer a linhas de crédito cuja taxa de juros chega a ultrapassar 300% ao ano, isso se o crédito estiver disponível e não for negado, diz. Imprevistos são as principais motivações para quem faz reserva financeira Entre aqueles que têm o hábito de poupar, os propósitos são variados. O mais citado deles é o imprevisto, mencionado por 43,3%. Garantir um futuro para família, objetivo de longo prazo, também se destaca, com 25,1%. Em seguida, aparecem as reservas para o caso de desemprego (21,5%); as viagens (16,7%); a reforma da casa (13,4%); a aposentadoria (12,5%); e a reserva para a educação dos filhos (10,4%). Em média, o valor poupado em janeiro foi de R$ 455,93. Finalidades da Reserva Financeira Imprevistos com doença e outros problemas diversos do dia a dia 43,3% Garantir um futuro melhor para a família 25,1% Reserva para caso de ficar desempregado 21,5% Viagens 16,7% Reforma da casa 13,4% Aposentadoria 12,5% Garantir uma reserva para arcar com a educação dos filhos 10,4% Comprar/quitar casa 9,6% Pagar estudos 9,6% Abrir um negócio 9,3% Compra/troca de automóvel/moto 5,1% Compra de móveis / eletrodomésticos 4,8% Outro motivo 1,8% Entre os brasileiros que têm reserva financeira, 65,1% citaram a poupança como um dos lugares em que mantêm os recursos, 24,5% mencionaram a própria casa e 20,3% mencionaram a conta corrente. Os fundos de investimento foram citados por 10,4%, seguidos do tesouro direto (7,8%); da previdência privada (6,9%). Para aqueles que mantêm dinheiro em casa, a principal razão é poder usar o dinheiro a qualquer momento (43,2%). Em seguida, aparece o fato de ser pouca a
quantia guardada (39,5%); e a crença de que é mais seguro manter em casa (24,7%); o receio de um novo confisco (14,8%), o que é infundado; o fato de não ter conta em banco (11,1%) e a desconfiança das instituições financeiras (9,9%). Destino da Reserva Financeira Conta poupança Em casa Conta corrente Fundos de investimento Tesouro direto Previdência Privada CDB Ações em bolsa de valores Dólar Imóveis LCI/LCA 10,4% 7,8% 6,9% 6,0% 5,4% 4,8% 4,2% 3,0% 20,3% 24,5% 65,1% Para Marcela Kawauti, a preocupação com os imprevistos, mencionados como a principal motivação da poupança, está em linha com a opção por modalidades com mais liquidez, mas é preciso também atentar para rentabilidade. Os recursos guardados para lidar com imprevistos têm de ser de fácil resgate. Nesses casos, a poupança pode uma boa opção. É melhor do que manter em casa ou na conta corrente, onde o risco de gastar o dinheiro é maior e não rende nada. Mas se os objetivos são de longo prazo, é preciso estar mais atento à rentabilidade. Nesses casos, vale o esforço de buscar opções mais sofisticadas de investimento, que garantam um retorno melhor. Para quem não dispõe de nenhuma reserva, o primeiro desafio é construir uma para emergências, diz. Para aqueles que mantêm o dinheiro na conta corrente, conta poupança ou em casa, em detrimento de outras aplicações mais rentáveis, os principais motivos foram o fato de não ter dinheiro suficiente para investir em algumas modalidades, citado por 27,6%; a falta de conhecimento acerca do que fazer para investir (27,1%); a liquidez, isto é, facilidade para sacar os recursos (24,9%); o costume com as modalidades tradicionais (16,7%); e o receio de perder dinheiro (16,7%). A sondagem ainda mostra que quase a metade (46,3%) dos poupadores precisaram sacar alguma parte dos seus recursos em janeiro. Os imprevistos foram a principal razão para o saque, citado por 13,4%. Além desses, 10,1% sacaram para realizar alguma compra; 9,9% sacaram para pagar contas do último mês e 9,1% para pagar dívidas pendentes. Em síntese, os dados sobre formação de reserva mostram que o hábito de guardar dinheiro é negligenciado por boa parte dos brasileiros. Concorre para isso o momento de dificuldades econômicas, o fato de a renda média ser baixa e,
além disso, a não aplicação de princípios básicos de educação financeira para a gestão de seu dinheiro. Metodologia A pesquisa abrangeu 12 capitais das cinco regiões brasileira, a saber: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. Os dados foram coletados via web e presencialmente. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.