O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL DAS RPPNS DO ESTADO DO TOCANTINS



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Transcrição:

O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL DAS RPPNS DO ESTADO DO TOCANTINS Edna de Jesus Soares Mestranda do Curso de Geografia Universidade Federal do Tocantins. Email:ednageo_dejesus@hotmail.com Lúcio Flavo Marini Adorno Prof. Dr. Universidade Federal do Tocantins. Email: adornolf@gmail.com.br INTRODUÇÃO As iniciativas privadas internacionais em prol da conservação e proteção da natureza têm seu marco em 1899 na Inglaterra com a criação da Reserva Natural Nacional de Wicken Fen em Cambridgeshire, sob o status de um National Trust (MORSELLO, 2008). Atualmente as áreas protegidas privadas são encontradas em vários países, como África do Sul, Zimbábue, Costa Rica, Bolívia, Paraguai, Colômbia, Estados Unidos, Áustria, Alemanha, Suíça, Holanda, Suécia, Itália, França e Inglaterra (BARRETO, 2012). A partir da década de 1970, a questão ambiental torna se uma preocupação em escala mundial, após a publicação do livro Limites de Crescimento pelo Clube de Roma e com a Conferência de Estocolmo, que abordaram que o aumento do consumo em nível mundial e as ações do homem sobre a natureza cada vez mais desenfreada poderiam levar a humanidade a um colapso (MUSSI, 2007). É necessário adotar medidas que visem à proteção do meio ambiente, e que o seu uso seja de forma racional, evitando um colapso ambiental, dentre as medidas para proteger o meio ambiente estão as Unidades de Conservação (UCs). Devida a necessidade de estabelecer os critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, o Brasil instituiu o seu Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) através da lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. O artigo 2º da Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000 define uma Unidade de Conservação como um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (ICMBIO, 2009).

As Unidades de Conservação podem ser classificadas em dois grupos: Unidades de Conservação de Uso Direto que são as conhecidas UCs Uso Sustentável e Unidades de Conservação de Uso Indireto ou UCs de Proteção Integral. Nas Unidades de Conservação de Uso Sustentável, estão inseridas diversas categorias. Entre elas, destaca-se a modalidade Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). RPPN é uma Unidade de Conservação criada em área particular, por ato voluntário do proprietário, que grava a totalidade ou parte de sua propriedade com perpetuidade, seu objetivo é a conservação da natureza. Não há perda dos direitos de propriedade e a gestão da área, incluindo seu manejo (uso) e proteção, é realizada pelo proprietário. É importante ressaltar que o Brasil é considerado referência no âmbito internacional sobre a conservação voluntária em áreas privadas, possuindo uma das mais completas e detalhadas legislação sobre o assunto (PELLIN, 2010). Pellin (2010) enfatiza que a lei de regulamentação das RPPNs no Brasil é recente, embora, já é possível verificar uma rápida expansão no número de reservas criadas. Atualmente existem 1094 RPPNs distribuídas em todo território nacional, que abrange uma área aproximadamente de 703353,15 ha (CADASTRO NACIONAL DE RPPNs, 2013). As RPPNs no estado do Tocantins totalizam dez reservas que somam uma área de 5496.74 ha, representando uma contribuição significativa para a conservação da biodiversidade. A presente pesquisa tem como objetivo principal a caracterização da gestão das RPPNs localizadas no estado do Tocantins, abordando as motivações que levaram a sua criação, e se os objetivos que visam a sua criação estão sendo cumpridos, isto é, a conservação da biodiversidade. AS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL As Reservas Particulares do Patrimônio Natural RPPNs são unidades de conservação de uso sustentável privada, e o seu reconhecimento legal é amparado pelo poder público em esfera Federal, Estadual ou Municipal. A sua criação é de caráter voluntário, ou seja, o proprietário da área privada tem que possuir o desejo de transformar parte ou área total de sua propriedade em RPPN, a lei é irrevogável, possui caráter perpétuo.

Em 1990, o Decreto Federal de nº 98.914 efetiva a criação das reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), com o seu conceito e as suas principais normas. Desse modo, as RPPNs se tornaram uma nova ferramenta para a conservação da natureza. Com a realização da Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento conhecida como Rio92, o Brasil se tornou o primeiro signatário da Convenção Internacional da Diversidade Biológica (CDB), a CDB é um dos mais relevantes instrumentos internacionais relacionados ao meio ambiente, desta forma o Brasil assumiu importantes compromissos internacionais sobre a biodiversidade (PELLIN, 2010). Buscando harmonizar as diretrizes da Convenção da Biodiversidade Internacional, em 1996 um novo Decreto Federal nº 1.922 estabelece muitas mudanças sobre as RPPNs, sendo que seu o reconhecimento é possível através do IBAMA órgão Federal e pelos órgãos de esfera Estadual, o seu caráter irrevogável, ou seja, a perpetuidade e os benefícios aos proprietários (PELLIN 2010; OJIDOS et al, 2008). Com a criação do SNUC em 2000, as Reservas são reconhecidas como UCs de uso sustentável fazendo parte oficial do Sistema nacional de Unidades de Conservação. A instrução normativa do IBAMA nº 24/2004 regulamenta as novas exigências nos documentos para reconhecer uma RPPN, ressaltando o roteiro metodológico para o plano de manejo. Em 2005 a instrução normativa de nº 62/2005 alterou o 1º artigo da Instrução normativa 24/2004. A publicação do Decreto nº 5.746 no dia 05 de abril de 2006 regulamenta o artigo 21 da lei nº. 9.985-SNUC, atualiza as exigências para a criação das reserva e demais providências, destacando a consulta pública sobre a criação de uma RPPN, a partir da publicação do referido Decreto, as RPPNs passam a ser a primeira categoria de unidade de conservação regulamentada por decreto após a publicação do SNUC (Ojidos et al., 2008; PELLIN, 2010; SOUZA et al., 2012). No ano de 2007 o IBAMA institui uma nova instrução normativa, estabelecendo com mais clareza os prazos e procedimentos de cada etapa do processo de criação da RPPN. No mesmo ano a Lei 11.516/2007 cria o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMBio cuja a missão é administrar as UCs Federais, o ICMBio está vinculado ao Ministério do Meio Ambiente - MMA. Segundo Pellin (2010), no ano de 2009 o

ICMBio ao instituir a instrução Normativa de nº 007/2009 passa a ser responsável na esfera Federal pela criação das RPPNs e cria o Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN (SIMRPPN). Embora as RPPNs sejam classificadas como UCs de uso sustentável, as atividades permitidas são as pesquisas científicas, educação ambiental, atividades recreativas e o ecoturismo. Portanto, cabe ao órgão responsável pelo reconhecimento da RPPN autorizar ou licenciar as atividades que possam ser desenvolvidas na RPPN, desde que não comprometa o equilíbrio ecológico ou não provoque dano algum na conservação da biodiversidade (COUTINHO, 2005). Existem 1094 RPPNs distribuídas em todo território nacional, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são os estados com maior área de RPPNs, já o estado de Minas Gerais em a maior quantidade de RPPNs criadas são 246 RPPNs, logo em seguida, vem o estado do Paraná com 217 RPPNs, este merece destaque por ter uma legislação completa e inovadora. A Gestão nas Unidades de Conservação De acordo com Mesquita; Leopoldino (2001), as áreas naturais protegidas em terrenos privados vêm se constituindo como uma importante ferramenta complementar aos esforços públicos para a proteção de biodiversidade. No entanto, é necessário que essas unidades de conservação cumpram realmente com o seu objetivo de criação, sendo que para alcançar esse objetivo é necessário uma gestão eficiente. É inegável a necessidade da implantação da gestão em uma UC, sendo assim Saraiva (2008) destaca que não basta criar as UCs, é necessário gerir e manejá-las, priorizando ação que visam minimizar os impactos sobre a biodiversidade, bem como o seu fortalecimento e a sua integração com as comunidades vizinhas. Desta forma, Carvalho (2009) enfatiza que áreas naturais precisam de uma gestão qualificada, continuada e eficaz. As abordagens referentes ao conceito de gestão iniciam-se com as ideias clássicas de Henri Fayol, porém as famosas fases de planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar, foram definidas antes de 1900 pelo autor. Segundo as ideias de Fayol a gestão está relacionada com a problemática da definição de objetivos que, por sua vez, são quantificados

em metas, num espaço de tempo e ao ordenamento dos recursos e esforços para alcançá-los (Flores et.al. 2009). Diversas são as ferramentas utilizadas na gestão das UCs, dentre as quais o plano de manejo é essencial. Vários mecanismos de gestão para UCs têm sido aplicadas por todo mundo, bem como a aplicação de avaliação do seu desempenho e efetividade. Tais mecanismos são utilizados com o objetivo de saber se as UCs cumprem com o seu objetivo de criação (MMA, 2007). Sistema de Gestão Ambiental aplicado nas Unidades de Conservação O Sistema de Gestão Ambiental SGA é definido como mecanismo de controle que integra um conjunto de procedimentos e instrumentos usados para gerir uma organização de modo que se alcance o melhor relacionamento possível com o meio ambiente (MMA, 2007). Este sistema se destaca pela utilização da Norma ISO 14001, resultado do trabalho de diversas organizações e países no fórum mundial para normalização das atividades humanas que é a International Standardization Organization ISO. Portanto, as normas do SGA são voluntárias e podem ser aplicadas em qualquer organização independente do porte ou setor de atuação, seus padrões de exigências são válidos internacionalmente, este é um dos grandes benefícios do SGA ISO 14000. A ISO é uma organização internacional fundada em 1947, cuja sede está localizada em Genebra Suíça, responsável pela elaboração de normas com padrões internacionais. O SGA pode ser aplicado em diversos tipos de organizações, sua aplicação estende-se às UCs, conforme o manual de metodologia para implementação de SGA em UCs, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente- MMA em parceria com Serviço de apoio às Micro e Pequenas Empresa do Distrito Federal SEBRAE/DF 2007. A aplicação do SGA nas unidades de conservação permite que o gestor da UC e toda sua equipe possam conhecer os pontos conflitantes entre seu objetivo e sua prática no dia-dia, por sua forma sistêmica define programas com objetivos e metas específicas para controle dos aspectos ambientais significativos de suas atividades e assim prevenir impactos ambientais negativos. Além disso, permite estabelecer seus objetivos e metas em conformidade com as atividades de turismo, de pesquisa e preservação de espécies ameaçadas de extinção, a

preservação e conservação do bioma que predomina na UC atendendo os objetivos estabelecidos pelo órgão ambiental responsável (MMA, 2007). O MMA (2007) de acordo com a NBR ISO 14001 ressalta que o desenvolvimento e a implementação do SGA baseia-se em cinco princípios norteadores, são eles: 1 Comprometimento e Política: por meio do gestor da instituição deve-se estabelecer seu compromisso com o desempenho ambiental e a definição da sua política ambiental; 2 Planejamento: elaboração de um plano para que a política ambiental da instituição seja exercida. Logo, é necessário identificar todos os aspectos ambientais de suas atividades, determinar os que são significativos e definir as ações de controle para que gerem impactos negativos; 3 Implementação e Operação: desenvolver a capacitação e o apoio necessário para implementação da sua política, objetivos, metas e programas ambientais; 4 Verificação: monitorar e avaliar sistematicamente o seu desempenho ambiental; 5 Análise pela administração: sistematizar a avaliação crítica e o aperfeiçoamento contínuo do seu sistema de gestão ambiental, isto é fundamental para identificar as melhorias no desempenho da gestão ambiental e assim, elaborar novos objetivos e metas para o SGA estabelecendo o ciclo de melhoria contínua. Ao implantar o SGA a instituição pode solicitar ao Organismo de Certificação Acreditado OCA que avalie e ateste se o SGA está em conformidade com as normas NBR ISO 14001 (MMA, 2007). Atualmente uma das preocupações sobre as UCs, é saber se realmente cumprem com o seu objetivo de criação? No entanto, diversas pesquisas são realizadas no desígnio de responder a questão acima, vale ressaltar que a implantação de um SGA nas UCs possibilita resultados positivos. Portanto, o SGA não substitui o Plano de Manejo, mas é uma ferramenta complementar, que assegura o cumprimento do que foi planejado, assim os planos e as atividades previstas podem ser controladas e antes que se tornem inviáveis, medidas alternativas são adotadas para atingir os objetivos. Desta forma, não resta dúvidas que ao sistematizar e monitorar o Plano de Manejo pode-se garantir uma maior eficiência na sua execução e, consequentemente, a melhoria da gestão da UC.

O MMA em parceria com o SEBRAE-DF aplicou o projeto piloto do SGA nas seguintes UCs: Parque Nacional da Serrados Órgãos PARNASO e no Parque Nacional de Tijuca, ambos localizados no estado do Rio de Janeiro e no Parque Nacional do Iguaçu, no estado do Paraná. De acordo com Batista (2010) a aplicação do SGA nas UCs, funciona como uma ferramenta capaz de administrar com eficiência as áreas protegidas, garantindo a execução das ações identificadas e apoiando forma a implantação das atividades já previstas no Plano de Manejo. Caracterização das RPPNs no Tocantins No estado do Tocantins as dez RPPNs foram reconhecidas no âmbito Federal, apesar de que o estado possui Lei que regulamenta o seu Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC-TO) através da lei n 1.560, de 5 de abril de 2005, no artigo 28 reconhece que as RPPNs fazem parte do seu Sistema de UCs, bem como possui o decreto que regulamenta as RPPNs no âmbito estadual até o presente momento não há RPPN criada pelo âmbito estadual. As Reservas Particulares de Patrimônio Natural no estado do Tocantins abrange uma área de aproximadamente 5496.74 ha, este total de área transformada em RPPN coloca o estado do Tocantins na 15ª posição do ranking nacional. Porém, no estado foram criadas dez RPPNs, localizando-se nos municípios de Palmas-TO, Pium-TO, Lagoa da Confusão-TO, Abreulândia-TO, Almas-TO, Dianópolis-TO, São Félix do Tocantins-TO e Aurora do Tocantins - TO. O que podemos observar é que essas RPPNs não se apresenta tão dispersas, na porção oeste estão quatro reservas, duas RPPNs na região central do estado, uma RPPN à leste e três RPPNs no sudeste do Tocantins (Figura 1).

Figura 1 Localização das RPPNs em estudo. METODOLOGIA Conforme a metodologia do SGA desenvolvida pelo MMA/SEBRAE-DF 2007 foram organizados formulários para serem aplicados em Campo. Elaboraram-se os questionários que foram respondidos pelos proprietários das RPPNs, posteriormente a tabulação e análise dos dados. Foram levantadas informações juntos aos órgãos estaduais SEMADES e NATURATINS e Federal ICMBIO através de entrevistas sobre a gestão das reservas, bem como a realização de protocolo de campo. RESULTADOS E DISCUSSÕES Atualmente no estado do Tocantins foram criadas dez RPPNs pelo órgão Federal, primeiramente foram realizados contatos com os proprietários das reservas solicitando a

participação no referido estudo. Desta maneira até o momento foram contatados nove proprietários ou instituidores de RPPNs, sendo que sete aceitaram a realização da pesquisa em suas propriedades. Das dez RPPNs existentes, sete reservas pertencem a pessoas físicas que por diversos motivos resolveram transformar em RPPN a sua propriedade, duas RPPN foram instituídas por empresas como forma de compensação ambiental e uma RPPN foi criada por uma ONG (Gráfico 1). Com relação aos motivos que levaram os proprietários a criar uma RPPN a principal motivação foi a conservação da natureza (Gráfico 2), embora tenha sido citado implantação de atividade de ecoturismo e a captação de recursos.

Dentre as dificuldades encontradas para Implantação das RPPNs está à falta de apoio do governo, falta de recursos financeiros, morosidade no processo de vistoria técnica e custos com o georreferenciamento, destacando entre esses já mencionados a falta de apoio do governo. A maioria dos proprietários 80% (n= 4) não recebeu nenhum tipo de ajuda para implantação da reserva, todavia apenas um proprietário recebeu ajuda de uma instituição. Atualmente os proprietários das RPPNs que foram entrevistados, não recebem ajuda dos órgãos públicos ambientais, refletindo assim em um descaso com essas UCs, embora a maioria dessas RPPN estão localizadas entorno de alguma UC pública ou em áreas prioritárias para a conservação da natureza. A gestão das reservas é realizada pelos seus proprietários, porém das cinco RPPNs apenas duas contam com a assiduidade do proprietário na área, isto nos levam a reflexão sobre a efetiva gestão ambiental das RPPNs. Quanto à elaboração do plano de manejo, instrumento essencial para uma gestão eficaz, em apenas em uma RPPN foi elaborado o plano, porém não foi aprovado pelo órgão competente, vale ressaltar que três reservas já deveriam estar com o seu plano de manejo elaborado conforme as exigências do órgão ambiental. Foi mencionado que para a realização do Plano de Manejo exige um custo muito alto, onde alguns citaram não ter condição de realizar tal custo, todavia já tenha gastado com a manutenção da área. As atividades que são permitidas em uma RPPN são as pesquisas científicas, educação ambiental, atividades recreativas e o ecoturismo, conforme os dados obtidos nos questionários apenas duas RPPN desenvolvem atividades, uma RPPN desenvolveu palestras para as escolas, a outra RPPN se destaca pela realização de pesquisa em sua área, uso de técnica de permacultura na limpeza da área para uso público, visita de ecoturismo. Desta forma apenas as duas RPPN citadas acima estão abertas à visitação, sendo que está recebem o mesmo tipo de visitantes tais como Escolas, Universidades, Jovens, Pesquisadores e Adultos.

O monitoramento para controle de impactos gerados pela visitação visando à minimização dos efeitos negativos e a maximização dos efeitos positivos se aplica em apenas uma RPPN, que faz o monitoramento do lixo nas instalações de apoio e nas trilhas. A participação da comunidade local na UC é de grande relevância somando assim esforços na conservação da natureza, foi identificado que em apenas uma RPPN há essa interação onde a comunidade faz visitação esporádica, foi realizada uma parceria quanto ao manejo do fogo, assim quando a comunidade local aplica sua técnica rudimentar para renovação da pastagem nativa através da queimada, avisam o proprietário quando vão fazer e atuam como brigadistas da RPPN para que o fogo não entre na reserva. Desta maneira a reserva não sofre com o problema do fogo, já que são exatamente cinco anos sem o fogo invadir a RPPN, ou seja, isso demonstra que a parceria feita entre o instituidor da RPPN e a comunidade local gerou aspectos positivos para a conservação da natureza. As atividades ambientais ora já desenvolvidas nas RPPNs em estudo efetivaram-se em três UCs. A existência de parceria entre as instituições de pesquisas ou comunidades cientificas, é positiva em apenas uma RPPN que mantém uma parceira com o Grupo das aves da Universidade Federal do Tocantins. A respeito da forma de divulgação da RPPN apenas duas RPPNs utilização a internet para a divulgação das mesmas, cabe enfatizar que o estado do Tocantins conta com o GESTO, um sistema que através de um banco de dados o proprietário ou gestor das UCs inserem as diversas informações sobre as UCs. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Fábio França Silva; MEDEIROS, Rodrigo. Dez anos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza: lições do passado, realizações presentes e perspectivas para o futuro. Brasília, DF: MMA, 2011. 220 p. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/240/_publicacao/240_publicacao06072011055602.pdf.>. Acesso em: 2 jun. 2014 BARRETO, Clarissa de Araujo. Gestão de Reservas Particulares do Patrimônio Natural no Triângulo Mineiro. In: Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, 3., 2012. Goiânia GO. Anais eletrônicos.... Goiânia GO, 2012. p. 1-9. Disponível em: http://www.ibeas.org.br/congresso/trabalhos2012/vi-021.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2014.

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