IMPLEMENTAÇÃO DE UMA HEURÍSTICA PARA AJUSTE DE PARÂMETROS DE UM MODELO DE MECÂNICA COMPUTACIONAL USANDO UM SISTEMA DE WORKFLOW CIENTÍFICO DISTRIBUÍDO



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SIMMEC / EMMCOMP 2014 XI Simpósio de Mecânica Computacional II Encontro Mineiro de Modelagem Computacional IMPLEMENTAÇÃO DE UMA HEURÍSTICA PARA AJUSTE DE PARÂMETROS DE UM MODELO DE MECÂNICA COMPUTACIONAL USANDO UM SISTEMA DE WORKFLOW CIENTÍFICO DISTRIBUÍDO Aldemon L. Bonifácio, Rafaela O. Amaral, Felipe Rooke aldemon@ice.ufjf.br, rafaela.amaral@engenharia.ufjf.br, felipe@rooke.com.br Universidade Federal de Juiz de Fora Campus Universitário Bairro Martelos Juiz de Fora MG, 36036-330, Minas Gerais, Brasil Ciro B. Barbosa, Michèle C. R. Farage ciro.barbosa@ice.ufjf.br, michele.farage@ufjf.edu.br Universidade Federal de Juiz de Fora Campus Universitário Bairro Martelos Juiz de Fora MG, 36036-330, Minas Gerais, Brasil Abstract. Esse trabalho apresenta os resultados alcançados na automação de uma heurística para ajuste de parâmetros do Modelo de Dano Mecânico de Mazars (Mazars, 1984), aplicado na modelagem termo-hidro-mecânica de estruturas de concreto (Amaral, 2014). A aplicação dessa heurística foi automatizada utilizado um Sistema de Workflow Científico (SWC) (Deelman et al., 2009; Gannon et al., 2007) em ambiente computacional distribuído, desenvolvido pelos autores. A heurística é uma estratégia operacional para tratar o universo combinatorial de parâmetros ajustáveis do modelo, minimizando o número de simulações necessárias na busca de resultados de simulação mais próximos dos dados experimentais. O SWC proporciona facilidade, na construção e processamento da heurística, e eficiência, pelo uso de um sistema de computação distribuída. A partir dos resultados obtidos, fica demonstrado que o uso da heurística automatizada diminuiu o erro do modelo em relação aos resultados das simulações iniciais feitas manualmente. Palavras-chave: Sistema de Workflow Científico, Dano de Mazars, Ajuste de Parâmetros

1 INTRODUÇÃO A modelagem computacional vem se tornando cada vez mais importante como parte da metodologia para busca de conhecimento científico nas mais diversas áreas do conhecimento humano, tais como: engenharias e ciências biológicas. Em alguns casos sua contribuição está relacionada a aspectos econômicos ou éticos da realização de experimentos, ou à manipulação eficiente de dados (Heymann, 2010). Entretanto, a aplicação de métodos computacionais para simulação é uma área do conhecimento de razoável complexidade, que demanda tempo e esforço. Tipicamente a experimentação in silico demanda um perfil multidisciplinar do pesquisador, que deve expandir seu conhecimento para além de sua especialidade, no sentido da área de aplicação, ou das técnicas matemáticas e computacionais necessárias, dificultando o processo. Esse trabalho apresenta uma abordagem para ajuste de parâmetros de um modelo na área de Mecânica Computacional que visa, simultaneamente, tratar o problema de forma eficiente, enquanto reduz a dificuldade mencionada acima. A abordagem consiste em implementar uma heurística para minimizar o espaço combinatorial de parâmetros ajustáveis e, para aumentar a eficiência do processo de busca, usando um Sistema de Workflow Científico (SWC) para automatizar o processo e acelerar sua execução usando processamento distribuído. Para tratar a dificuldade de executar um processamento complexo em um ambiente operacional também complexo, é utilizado um SWC, construído pelos autores desse artigo, chamado Automação de Workflows Científicos em Ambiente Distribuído (SWADE). O SWADE é um sistema, baseado em serviços web, que permite ao pesquisador focar a atenção na elaboração e execução da heurística, minimizando a manipulação de conceitos técnicos do ambiente computacional distribuído e heterogêneo. O problema em estudo consiste em estimar uma série de parâmetros que caracterizam o Modelo de Dano Mecânico de Mazars (Mazars, 1984), através de procedimentos de análise inversa. Nas seções seguintes são apresentados: uma revisão de alguns conceitos no domínio deste trabalho; os detalhes arquitetônicos do SWC ad hoc dos autores; a aplicação dessa ferramenta no problema de Mecânica Computacional e, finalmente, são apresentadas algumas conclusões sobre os resultados alcançados com a abordagem adotada. 2 REVISÃO CONCEITUAL Essa seção introduz o problema tratado e o conceito de workflow, que integram o contexto de trabalho. 2.1 Ajuste de Parâmetros para o Modelo Mecânico de Mazars Para melhor entendimento do procedimento adotado, descreve-se aqui, sucintamente, a aplicação em questão. Trata-se da obtenção dos parâmetros que definem o Modelo de Dano Mecânico de Mazars (Mazars, 1984) a partir de curvas de evolução da temperatura medida em corpos de prova de concreto submetidos a temperaturas elevadas. O concreto é um material que sofre degradações quando sujeito a temperaturas altas. Uma das formas de representar este efeito através da simulação computacional é a adoção de modelos

de dano, como o Modelo de Dano de Mazars. Em linhas gerais, o modelo assume que as deformações de tração causam microfissuras distribuídas no material e, consequentemente, a degradação do meio, afetando o comportamento microestrutural do concreto. Para o cálculo do dano de Mazars, é necessário empregar 5 parâmetros característicos do material - A t, B t, A c, B c, ɛ d0 - para calcular uma grandeza escalar denominada Variável de Dano (D), conforme indicado na Eq. (1). D = (1 ɛ d0(1 A t ) ˆɛ A t exp[b t (ˆɛ ɛ d0 )] )αβ t +(1 ɛ d0(1 A c ) A c ˆɛ exp[b c (ˆɛ ɛ d0 )] )αβ c, (1) sendo α β t + α β c = 1 e β = 1, 06. A t, B t, A c, B c e ɛ d0 são os parâmetros característicos do material em questão - que é o concreto. Tais parâmetros podem ser extraídos de curvas tensão x deformação de corpos-de-prova de concreto, obtidas através de ensaios mecânicos destrutivos para permitir a adoção de tal modelo na simulação do comportamento mecânico de estruturas de concreto considerando a ocorrência de dano. A variável D varia de 0 a 1 e quantifica o dano mecânico, que é considerado através de reduções gradativas do módulo de elasticidade do material. A relação tensão-deformação adotada é uma adaptação da lei de Hooke, sendo descrita pela Eq. (2): σ = E 0 (1 D)ɛ, (2) onde σ é a tensão, ɛ é a deformação e E 0 é o módulo de elasticidade do material íntegro. Na aplicação em questão, o comportamento mecânico de estruturas de concreto submetidas a temperaturas elevadas foi sumulado através de um modelo termo-hidro-mecânico (THM), transiente e não linear - sendo a degradação sofrida pelo material representada pelo Dano de Mazars. O programa empregado na análise foi o Cast3M - que se trata de um código aberto, desenvolvido em Elementos Finitos empregando a linguagem Gibiane (Le Fichoux, 2011). Uma vez que não se dispunha de informações experimentais para a identificação direta dos parâmetros de Mazars, estes foram determinados através do procedimento de ajuste de que trata este trabalho. Os resultados experimentais empregados para este fim foram curvas de variação da temperatura medidas em corpos de prova de concreto submetidos a temperaturas elevadas. A seção 3 descreve a heurística adotada para se estimar os parâmetros de Mazars - o que, basicamente, consistiu em comparar curvas de evolução de temperatura obtidas numericamente empregando o modelo THM via Cast3M com as curvas experimentais. Mais detalhes sobre os experimentos em laboratório e o modelo termo-hidro-mecânico empregados podem ser encontrados nas referências (Amaral, 2014) e (Ferreira et al., 2014). 2.2 Workflow Científico Um workflow científico é uma descrição dos passos para executar um experimento específico, incluindo seus artefatos e processos. Um SWC é uma ferramenta computacional para automatizar a execução de um workflow, permitindo que os pesquisadores criem e executem experimentos computacionais, dado um conjunto de serviços e informações disponíveis em um

ambiente computacional (Pignotti et al., 2011). Outras definições podem ser encontradas em (Seffino et al., 1999; Yu and Buyya, 2005a; Altintas et al., 2006). O uso de SWCs tem como sua principal propriedade a flexibilidade, que pode ser definida como: a facilidade de se dar manutenção nos workflows; de usar dados heterogêneos; de fazer o acompanhamento do processamento; e de fazer a análise dos resultados. Essas características são de grande importância para aumentar a eficiência do trabalho do pesquisador. Um grande número de ferramentas computacionais do tipo SWC está disponível para uso (Yu and Buyya, 2005b). Essas ferramentas possuem funcionalidades semelhantes as do SWADE, entretanto, são usualmente voltadas para um ou outro aspecto do conjunto de fatores envolvidos nessa tarefa, sem atender no conjunto. A ferramenta Vistrails, por exemplo, é voltada para um eficiente mecanismo de rastreamento dos experimentos, área conhecida como proveniência (Bavoil et al., 2005). A ferramenta Kepler apresenta resultados expressivos na interface para manipulação de blocos de construção de experimentos, assim como na composição de modelos computacionais (Ludäscher et al., 2006). A característica que diferencia o SWADE é seu mecanismo para estender o conjunto de ações executáveis, com uma administração distribuída em ambiente computacional heterogêneo. 3 Arquitetura do SWADE Para alcançar o objetivo de prover abstração quanto a complexidade tecnológica, optou-se aqui pelo uso de uma ferramenta ad hoc, chamada SWADE, que enfatiza a facilidade tanto de disponibilizar recursos novos quanto de fazer uso dos recursos existentes no ambiente. Os recursos, nesse contexto, são dados e programas. O SWADE permite também uma fácil inserção de um novo nó de processamento no sistema, aumentando o poder de processamento da ferramenta de forma escalável. Possui uma arquitetura híbrida, onde vários nós de processamento compõem o sistema, executando funcionalidades servidoras, comunicando entre si para execução das tarefas dos workflows. Os nós também executam atividades clientes, que permitem a interação do usuário com o sistema, através de funcionalidades como: criar e monitorar a execução de experimentos; inserção e remoção de novos nós no grupo de servidores; entre outros. Um dos servidores assume o papel de escalonador de tarefas entre os nós disponíveis no sistema. No momento temos implementada a política de escalonamento FIFO (First In, First Out), que habilita as demandas por ordem de chegada, de acordo com a disponibilidade dos servidores. A Fig. 1 ilustra essa estrutura. Além dos recursos de construção de workflows, tais como: sequenciamento de ações, iteração, execução condicional, execução paralela, passagem de parâmetros, variáveis e recursão, esse middleware permite que novas ações possam ser disponibilizadas para composição de workflows de maneira flexível. Tais ações podem ser de natureza variada, como por exemplo: um comando de sistema operacional (Windows ou Linux); um programa executável (Java ou C) ; ferramentas de terceiros que possam ser executadas na linha de comando (Matlab ou Cast3M); serviços web; entre outras, adicionadas sem necessidade de recompilar o sistema. As ações são organizadas através de uma linguagem textual própria (script), com uma sintaxe simples. As ações, referenciadas no script, são identificadas pelo SWADE em tempo de execução, juntamente com os parâmetros associados. A inclusão de novas ações pode ser administrada de forma distribuída, por qualquer cliente em qualquer nó do sistema. Os detalhes técnicos da execução de uma ação são encapsulados

Figura 1: Arquitetura da ferramenta SWADE. em arquivos de configuração, do tipo XML, e carregados uma única vez, no momento de sua implantação, ficando a mesma disponível para o usuário na forma de uma chamada de função na linguagem textual, como por exemplo: castem("script.dgibi"), constituída de uma palavra representativa da ação e eventuais parâmetros. A atual interface para construção, acionamento e monitoramento da execução dos workflows científicos é mostrada na Fig. 2, que exemplifica também parte da sintaxe da linguagem do SWADE. A apresentação na integra do script para implementação da heurística não é possível aqui por falta de espaço. Figura 2: Interface de usuário da ferramenta SWADE.

4 Descrição da Heurística Em trabalhos iniciais foram realizados testes manuais, usando soluções numéricas dos modelos, durante um longo período de experimentação. Com base nestes testes, os parâmetros característicos do material foram ajustados manualmente. A partir dos resultados obtidos manualmente, foram então realizadas comparações entre as soluções numéricas e o resultado experimental, obtendo-se como melhor resultado um erro de 0,13760, calculado pela raiz do erro médio quadrático (Root Mean Square Error - RMSE). Com o objetivo de melhorar o resultado alcançado anteriormente, foi criada uma heurística para executar o Cast3M com os parâmetros de forma sistemática. Foram selecionados 6 parâmetros passíveis de serem alterados e seus respectivos limites (Eq. (3)), para encontrar o melhor ajuste. A função que estes parâmetros exercem no modelo é detalhada na Seção 2.1. 1, 0 <= A c <= 1, 5 0, 7 <= A t <= 1, 0 10 5 <= ɛ d0 <= 10 4 1000 <= B c <= 2000 10 4 <= B t <= 10 5 1, 0 <= β <= 1, 2 (3) Numa primeira abordagem, optou-se por variar os parâmetros por meio de uma progressão aritmética, sendo usados os intervalos definidos em Eq. (3). Os diversos valores possíveis para cada parâmetro geraram um conjunto de 6624 combinações a serem processadas. Após cada processamento de cada combinação, foi coletado o erro e comparado ao resultado experimental. O Algoritmo (1) apresenta a lógica usada nesta primeira heurística. Algoritmo 1: Workflow científico da primeira abordagem (progressão aritmética) início inicializa_valores_parâmetros; enquanto existir_combinação_parâmetros faça executa_simulações_simultaneamente; incrementa_valores_parâmetros; fim fim Visando aumentar a eficiência do processo, foi proposta uma segunda heurística com limites diferentes, descritos em Eq. (4), e um novo critério para encontrar o melhor resultado, que funciona da seguinte forma: 1. obtém-se 6 valores numéricos relacionados ao primeiro parâmetro, sendo que 4 destes são equidistantes entre os limites; 2. substitui-se cada valor obtido na combinação anterior e obtendo-se 6 combinações diferentes de parâmetros;

3. processa-se simultaneamente as 6 combinações; 4. após o processamento, compara-se os erros de cada execução e, se existir um resultado melhor, utiliza-se o valor do parâmetro correspondente como referência para uma nova escolha de números; 5. se existir melhor resultado, repete o processo desde o início; 6. se não existir melhor resultado para o parâmetro atual, repete o processo com o parâmetro seguinte, ou finaliza o experimento se não tiver nenhuma melhora ao alterar todos os parâmetros. 1, 0 <= A c <= 2, 0 0, 2 <= A t <= 1, 0 10 5 <= ɛ d0 <= 10 3 500 <= B c <= 2000 10 2 <= B t <= 10 5 0, 9 <= β <= 1, 5 (4) Essa segunda heurística gerou 294 combinações de parâmetros a serem processadas, e sua lógica é apresentada no Algoritmo (2). Algoritmo 2: Workflow científico da segunda abordagem (melhores resultados) início inicializa_valores_parâmetros; enquanto existir_melhor_ajuste faça executa_simulações_simultaneamente; armazena_erros; se existe_melhor_ajuste então redefine_valores_parâmetros; fim fim fim 5 Execução do Workflow Para execução das heurísticas em questão, as mesmas foram mapeadas para a linguagem do SWADE, que foi configurado para operar com 6 nós servidores. A capacidade computacional de cada máquina da rede de nós do SWADE era de: CPU i7 950 (3.07GHz), 8GB de RAM e rede de 100Mbit/s. O script usado para construção da heurística utiliza recursos, da linguagem, para otimizar o uso dos nós servidores de forma paralela, alternando os parâmetros característicos do modelo de acordo com a heurística definida na Seção 3. Desta forma, tem-se uma diminuição do tempo

necessário para se encontrar o melhor resultado, comparado com uma execução puramente sequencial. O conjunto de valores encontrados na primeira heurística, que representam o erro da comparação do resultado experimental e numérico, está ilustrado na Fig. 3. É mostrada também a ordem em que tais resultados foram obtidos pelo workflow científico. Percebe-se na figura que o erro tende a diminuir com a sequência das execuções das combinações dos parâmetros, fruto da heurística empregada. Figura 3: Erros (RMSE) calculados em cada execução. O tempo total gasto para processar todas as combinações de parâmetros da primeira abordagem foi de 68 horas e 22 minutos, aproximadamente. O menor erro encontrado após a execução do workflow científico foi de 0,11882, já representando um resultado numérico melhor do que os resultados anteriores. Os valores numéricos resultantes das simulações da segunda abordagem estão ilustrados na Fig. 4. Nesta abordagem foram necessárias 2 horas e 42 minutos para processar todas as combinações dos parâmetros. O menor erro encontrado após a execução do workflow científico desta segunda abordagem foi de 0,06829. A Fig. 5 mostra as curvas da evolução do dano no tempo, com diferentes combinações de parâmetros e a correspondente curva experimental. As curvas são legendadas pelo erro correspondente. Pode-se visualizar que o melhor ajuste entre os dados experimentais e o resultado numérico é entre as curvas azul e vermelha, com erro de 0,06829. Ainda são apresentadas as curvas do erro de 0,1376, dos valores de parâmetros iniciais; e do erro 0,11882, da menor diferença encontrada na primeira abordagem de ajuste de parâmetros. 6 Conclusões O aumento da eficiência no processo de experimentação permitiu um ganho no ajuste dos parâmetros do modelo, baixando o RMSE de 0,13760 para 0,06829, como pode ser visto na

Figura 4: Erros (RMSE) calculados em cada execução numa segunda abordagem. Figura 5: Comparação dos resultados experimentais, numérico inicial, numérico primeira abordagem e numérico melhor ajuste. Fig. 5. Diferentes fatores contribuíram para a obtenção dos resultados reportados na Seção 5, que foram: a diminuição do espaço combinatorial de valores de parâmetros e o paralelismo definidos na heurística; a eficiência operacional obtida com o uso do SWADE; e a execução paralela através da distribuição das tarefas. O SWADE contribuiu operacionalmente em mais de um aspecto do ciclo de vida da expe-

rimentação in silico: primeiramente, a automação da atividade de controlar a execução do experimento eliminou a lentidão da intervenção humana e a ocorrência de erros operacionais. Essa automação também permitiu a concepção da heurística para experimentação, de difícil operacionalização se comparada ao controle de forma manual, e permitiu tratar de forma mais eficiente o espaço combinatorial de parâmetros ajustáveis; um segundo aspecto a considerar é a facilidade de incorporar ao sistema ferramentas de terceiros, como foi o caso do Cast3M. Comparado a outros SWCs, a integração de ferramentas pode significar um esforço significativamente maior, como constatado em (Bonifácio, 2008); em terceiro lugar, é importante destacar a simplicidade da linguagem para construção do workflow, que esconde os detalhes técnicos complexos do ambiente operacional, através de ligações dinâmicas e arquivos XML de configuração. Esse fator tem um impacto significativo na economia de tempo, quando comparado ao uso de linguagens script como Python (Python Software Foundation, 2014), onde essa transparência não ocorre; finalmente, a facilidade de configurar um ambiente de execução paralela de algumas atividades do experimento, representou um aumento significativo de performance no tempo de processamento. O aumento da eficiência no processo de experimentação devido a essa combinação de fatores permitiu um ganho no ajuste dos parâmetros do modelo, baixando o RMSE de 0,13760 para 0,06829, como pode ser visto na Fig. 5. Portanto, o uso da ferramenta SWADE contribuiu de forma eficiente e eficaz para minimizar o erro entre os dados experimentais e os dados simulados. Existem outras abordagens para tratar o ajuste de parâmetros, como as meta-heurísticas da Computação Evolucionista (Bäck and Schwefel, 1993). Entretanto, a contribuição do trabalho é, em parte, apresentar a aplicabilidade dos SWCs, que cumprem o papel de auxiliar o pesquisador a executar seu workflow de forma mais eficiente. A definição do workflow atende a questões diversas, como a disponibilidade de tempo para aporte de conhecimento. Nesse trabalho, um módulo simulador (Cast3M) foi facilmente acoplado ao SWADE. Workflows científicos de constituição diversa da apresentada aqui, como por exemplo um que contenha um módulo para execução das técnicas já mencionadas, podem de maneira análoga serem automatizados com o SWADE. Alguns aspectos a serem abordados em trabalhos futuros, são: modificação da heurística para atingir uma menor granularidade na variação dos parâmetros do modelo; integrar novos métodos específicos para ajuste de parâmetros (Qaffou et al., 2010; Hutter et al., 2014) que melhorem as estratégias de busca; incorporar escalonadores de processos mais eficientes para aplicar de forma mais otimizada os recursos computacionais (Soares et al., 2013); e refinar a estratégia para paralelização de tarefas.

AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer: CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora); FAPEMIG (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS Altintas, I., Barney, O., & Jaeger-Frank, E., 2006. Provenance collection support in the kepler scientific workflow system. In IPAW, pp. 118 132. Amaral, R. d. O., 2014. Análise computacional termo-mecânica de estruturas de concreto sujeitas a temperaturas elevadas. Master s thesis, UFJF/PGMC. Bäck, T. & Schwefel, H.-P., 1993. An overview of evolutionary algorithms for parameter optimization. Evolutionary computation, vol. 1, n. 1, pp. 1 23. Bavoil, L., Callahan, S. P., Crossno, P. J., Freire, J., Scheidegger, C. E., Silva, C. T., & Vo, H. T., 2005. Vistrails: Enabling interactive multiple-view visualizations. In Visualization, 2005. VIS 05. IEEE, pp. 135 142. IEEE. Bonifácio, A. L., 2008. Análise de ferramentas computadorizadas para suporte à modelagem computacional - estudo de caso no domínio de dinâmica dos corpos deformáveis. Master s thesis, UFJF/PGMC. Deelman, E., Gannon, D., Shields, M., & Taylor, I., 2009. Workflows and e-science: An overview of workflow system features and capabilities. Future Generation Computer Systems, vol. 25, n. 5, pp. 528 540. Ferreira, A. P. G., Farage, M. C., Barbosa, F. S., Noumowé, A., & Renault, N., 2014. Thermohydric analysis of concrete rock bilayers under fire conditions. Engineering Structures, vol. 59, pp. 765 775. Gannon, D., Taylor, I. J., Deelman, E., & Shields, M., 2007. Workflows for e-science. Springer- Verlag London Limited. Heymann, M., 2010. Understanding and misunderstanding computer simulation: The case of atmospheric and climate science an introduction. Studies in History and Philosophy of Science Part B: Studies in History and Philosophy of Modern Physics, vol. 41, n. 3, pp. 193 200. Hutter, F., Xu, L., Hoos, H. H., & Leyton-Brown, K., 2014. Algorithm runtime prediction: Methods & evaluation. Artificial Intelligence, vol. 206, pp. 79 111. Le Fichoux, E., 2011. Présentation et utilisation de CASTEM. CEA. Ludäscher, B., Altintas, I., Berkley, C., Higgins, D., Jaeger, E., Jones, M., Lee, E. A., Tao, J., & Zhao, Y., 2006. Scientific workflow management and the kepler system. Concurrency and Computation: Practice and Experience, vol. 18, n. 10, pp. 1039 1065.

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