Subsídios para o conhecimento da Flora do Porto Santo



Documentos relacionados
ENDEMISMO, PROVINCIALISMO E DISJUNÇÃO

Briófitos nas grutas dos Açores

SERRA DA ESTRELA FLORA E VEGETAÇÃO. Acompanhamento de Botânica Doutor Jorge Capelo PROGRAMA

Boletim Climatológico Mensal Fevereiro de 2010

Fotografias PauloHSilva//siaram. Saber Mais... Ambiente Açores

Convenção sobre Diversidade Biológica: ABS

ITINERARIOS TURISTICOS. Tema I - Considerações Gerais. 3º ano Gestão de Mercados Turísticos Informação Turística e Animação Turística

Convenção sobre Diversidade Biológica: ABS

Rota de Aprendizagem 2015/16 5.º Ano

Figura 1: Bosque de Casal do Rei, alguns meses após o incêndio que ocorreu no Verão de 2005.

A PALINOLOGIA COMO FERRAMENTA PARA APONTAR EVIDÊNCIAS DA OCUPAÇÕES HUMANAS NA ZONA DA MATA MINEIRA, MG, BRASIL

RIBEIRINHA DAS ORIGENS À ACTUALIDADE

Ciências Naturais 8ªano. 1. Ecossistemas Interacções seres vivos -ambiente

Conservação e Extinção das Espécies

FLORESTAS PLANTADAS E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO BRASIL

Boletim climatológico mensal novembro 2011

Licenciatura em Ciências Biológicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1968;

O que é biodiversidade?

ORÉADES NÚCLEO DE GEOPROCESSAMENTO RELATÓRIO DE ATIVIDADES

Distribuição e caraterização do clima e das formações vegetais

Sistema COC de Educação Unidade Portugal

Ensino Fundamental II

Síntese ilha do Faial

1º CAMPUS DO JUNCAL AGOSTO 2015

José Manuel Rosa Pinto Curriculum vitae

13 A 21 DE SETEMBRO ILHAS DOS AÇORES

VARIAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR AO LONGO DO ANO EM PORTUGAL

ANEXO A. Carta Educativa do Concelho de Mafra Anexo A, Pág. 305

Estatísticas do Emprego 1º trimestre de 2010

5ª SÉRIE/6º ANO - ENSINO FUNDAMENTAL UM MUNDO MELHOR PARA TODOS

Osgas na Madeira?! Proposta de projecto no contexto do ano internacional para a biodiversidade

Introdução da região:

Unidades de Conservação no âmbito da Lei Estadual /13 e a Mineração. Carlos Leite Santos Tales Peche Socio

Boletim Climatológico Mensal Maio de 2014

Acta Amazônica, 22 (4): BRIÓFITAS DA ILHA DE MARACÁ, RORAIMA, BRASIL. RESUMO

O Sal tem uma superfície total de 216 km² e uma extensão máxima de cerca de 30 km, com cerca de habitantes(censo junho 2010).

Bioma é um conceito estabelecido para classificar ambientes com base na

ESTRUTURA EMPRESARIAL NACIONAL 1995/98

N. o de Julho de 2004 DIÁRIO DA REPÚBLICA I SÉRIE-B 4033

MAPA 1. DEMARCAÇÃO GEOGRÁFICA DO CONCELHO DE CÂMARA DE LOBOS E RESPECTIVAS FREGUESIAS

FLORA DO BRASIL ONLINE 2020

RELATÓRIO DO ESTADO DO AMBIENTE 2008 INDICADORES

Associação dos Amigos do Jardim Botânico da Ajuda ILHA DA MADEIRA FLORA E VEGETAÇÃO. 20 a 24 JUNHO 2012

Curitiba-PR Brasil Março Prefeitura

ESTUDO INFORMA D&B. Gestão e Liderança Feminina em Portugal 3ª Edição, Fevereiro 2013

B I O G E O G R A F I A

PROJETO DE HISTÓRIA: CAMINHOS DA HISTÓRIA

Os Segredos da Produtividade. por Pedro Conceição

FUVEST /01/2002 Biologia

Dossier Promocional. Empreendimento Varandas da Venezuela 2 - Porto

ATIVIDADE INTERAÇÕES DA VIDA. CAPÍTULOS 1, 2, 3 e 4

Bloco de Recuperação Paralela DISCIPLINA: Ciências

Unidades de Conservação da Natureza

LIFE TAXUS Um projeto para a Conservação de Boquetes de Teixo

MAS O QUE É A NATUREZA DO PLANETA TERRA?

PROVA DE HISTÓRIA 2 o TRIMESTRE 2012

Os diferentes climas do mundo

Brasil. Dos Primeiros habitantes da América à chegada dos Portugueses. Prof. Alan Carlos Ghedini

Climas e Formações Vegetais no Mundo. Capítulo 8

GEOGRAFIA - RECUPERAÇÃO

Ocupação em Empreendimentos Turísticos. Taxa de ocupação-quarto 2012

Furnas do Realengo. Visita ao complexo de Furnas na comunidade de Três Barras interior do município de Morro Grande SC.

11. Adaptações das plantas ao factor água HIDRÓFITAS XERÓFITAS MESÓFITAS HIDRÓFITAS HELÓFITAS XERÓFITAS MESÓFITAS Observações:

ASPECTOS CONSTRUTIVOS E AMBIENTAIS DE TELHADOS VERDES EXTENSIVOS

ASSOCIAÇÃO TRANSUMÂNCIA E NATUREZA. apoie esta campanha em

Exposição o minério de Barroso

Marilia Leite Conceição

RESPOSTA AO RELATÓRIO de

IV JORNADAS IBERO-ATLÂNTICAS DE ESTATÍSTICAS REGIONAIS 22 e 23 de junho de 2012 ESTATÍSTICAS FINANCEIRAS REGIONAIS. João Cadete de Matos

Monitorizar a Biodiversidade Antes (muito antes) do RECAPE?

Plano de Monitoramento dos Impactos Sociais do Projeto de Carbono no Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari

O NATAL NA FILATELIA

unidade básica da vida

Senhoras e Senhores Deputados, Acho de suma importância, Senhor Presidente, fazer um

Ginkgo biloba L. 64 Exemplares no Parque

IMPLANTAÇÃO DO ACEIRO DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIOS

D SCUR CU S R O O DE D SUA U A EXCE

PUCRS CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Genética I AULA PRÁTICA APLICAÇÕES DAS TÉCNICAS DE PCR E ELETROFORESE DE DNA

Validação da Cartografia de Habitats

Centro Hípico de Alcaria

Conceitos Básicos para Avaliação de Impactos Ambientais. [Kemal Vaz] [2 F 10:15 11:15]

PORTUGUÊS 2 o BIMESTRE

Colégio Visconde de Porto Seguro

A Biodiversidade é uma das propriedades fundamentais da natureza, responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas, e fonte de imenso

Prof: Franco Augusto

VULNERABILIDADE À EXTINÇÃO. Algumas espécies são mais vulneráveis à extinção e se enquadram em uma ou mais das seguintes categorias:

MAPA 1. DEMARCAÇÃO GEOGRÁFICA DO CONCELHO DE RIBEIRA BRAVA E RESPECTIVAS FREGUESIAS. Fonte:

INVESTIMENTOS NA ILHA TERCEIRA

Pedro Castro Henriques - DID. As áreas protegidas a seguir apresentados dividem-se entre:

Desigualdades em saúde - Mortalidade infantil. Palavras-chave: mortalidade infantil; qualidade de vida; desigualdade.

MATERIAL DE APOIO PARA INSÍGINIA MUNDIAL DE CONSERVACIONISMO

Pré-Projeto de Educação Ambiental

Património Natural local e regional Rios e Biodiversidade

Programa de Educação Ambiental

Trabalho realizado por: João Rabaça. 11º Ano do Curso Técnico de gestão de Equipamentos Informáticos

INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA SERVIÇO DE ACESSO À INTERNET 4.º TRIMESTRE DE 2009

A IMPORTÂNCIA DA VERIFICAÇÃO DAS SONDAS NA SECAGEM INDUSTRIAL DE MADEIRA

ESCOLA SECUNDÁRIA ROCHA PEIXOTO GEOGRAFIA 10º ANO DE ESCOLARIDADE 29 OUTUBRO DE 2004 GRUPO I

EMEF Nossa Senhora de Fátima Educação de Jovens e Adultos EXPOSIÇÃO DE SEBASTIÃO SALGADO/2014

Uso de Energia de combustíveis fósseis como principal culpado do Aquecimento Global

Transcrição:

240 JARDIM, R. & MENEZES DE SEQUEIRA, M., 2008. The vascular plants (Pteridophyta and Spermatophyta) of the Madeira and Selvagens archipelagos. In: BORGES, P., ABREU, C., AGUIAR, A., CARVALHO, P., JARDIM, R., MELO, I., OLIVEIRA, P., SÉRGIO, C., SERRANO, A. & VIEIRA, P. (eds.). A list of the terrestrial fungi, flora and fauna of Madeira and Selvagens archipelagos. pp.157-207, Direcção Regional do Ambiente da Madeira and Universidade dos Açores, Funchal and Angra do Heroísmo. LEE, C., KIM, S-C., LUNDY, K., SANTOS- GUERRA, A., 2005. Chloroplast DNA phylogeny of the woody Sonchus alliance (Asteraceae: Sonchinae) in the Macaronesian Islands. American Journal of Botany 92(12): 2072 2085. LOWE, R.T., 1868. A Manual Flora of Madeira and the Adjacent Islands of Porto Santo and the Desertas. Vol. 1(5): 545-552. London, John van Voorst. MENEZES, C.A., 1914. Flora do Archipelago da Madeira (Phanerogamicas e Cryptogamicas Vasculares). Funchal. Typ. Bazar do Povo. PICKERING, C.H.C., 1962. A Check-List of the Flowering Plants and Ferns of the Island of Porto Santo (Archipelago of Madeira). Boletim do Museu Municipal do Funchal 15(53): 33-62 PRESS, J.R., 1994. Sonchus L. In: Press, J.R. & Short, M.J. (eds.) Flora of Madeira pp.184-189. HMSO. London. VIEIRA, R., 1992. Flora da Madeira. O Interesse das Plantas Endémicas Macaronésicas. Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza. Lisboa. Roberto Jardim, Centro de Ciências da Vida, Universidade da Madeira, 9000-390 Funchal, Portugal; Escola Secundária de Francisco Franco, Rua João de Deus, 9, 9054-527 Funchal, Portugal, rjardim@netmadeira.com; Miguel Menezes de Sequeira, Centro de Ciências da Vida, Universidade da Madeira, 9000-390 Funchal, Portugal, sequeira@uma.pt Subsídios para o conhecimento da Flora do Porto Santo Abstract: In these contributions to the flora of Porto Santo Island (Madeira Archipelago) is proposed the recognition of Helichrysum melanophthalmum DC. var. rosea Lowe at subspecific level as Helichrysum melaleucum Rchb. subsp. roseum (Lowe) R.Jardim & M.Seq., comb. nov. Eight new species are reported for the first time for Porto Santo Island, two are considered indigenous (Asplenium onopteris L. and Ruppia maritima L.) and the others as naturalized species. The presence of two rare species is confirmed, the nemoral Sibthorpia peregrina L. and Brachypodium sylvaticum (Huds.) P. Beauv. characteristic of forest edges. O estudo da flora do Porto Santo evidenciou que as populações do endemismo madeirense Helichrysum melaleucum Rchb., existentes nesta ilha, apresentam brácteas involucrais dos capítulos rosadas a branco-rosadas, principalmente na base, e as cimeiras mais compactas (Figura 1), enquanto a maioria das populações da ilha da Madeira e das Desertas apresentam as brácteas brancas e cimeiras menos compactas. LOWE (1868) menciona estas diferenças e descreve a variedade Helichrysum melanophthalmum DC. var. rosea Lowe., para incluir as populações do Porto Santo e de duas localidades da encosta norte da ilha da Madeira. MENEZES (1914) também reconhece a variedade roseum proposta por Lowe, porém os autores subsequentes não a reconhecem taxonomicamente. Atendendo a que as características referidas são constantes nas populações de H. melaleucum do Porto Santo

Notas do Herbário 241 propomos o reconhecimento da variedade descrita por Lowe ao nível subespecífico como: Helichrysum melaleucum Rchb. in Holl subsp. roseum (Lowe) R.Jardim & M.Seq., comb. nov. Helichrysum melanophthalmum DC. var. β rosea Lowe, Man. Fl. Madeira 1: 483 (1868) (Bas). Figura 1 - Helichrysum melaleucum Rchb. subsp. roseum (Lowe) R.Jardim & M.Seq. (A, habit; B, capitula) No trabalho de campo efectuado em 2011 na ilha do Porto Santo, foram assinalados pela primeira vez para esta ilha, os seguintes taxa: Amaryllis belladona L. Amaryllidaceae Espécie originária da África do Sul, naturalizada na ilha da Madeira, é agora assinalada pela primeira vez para o Porto Santo, onde ocorre nas bermas e taludes da estrada do Pico Castelo. Pico Castelo, vertente W, na berma da estrada, alt. 230m, 05-X-2011, Roberto Jardim, 1801, UMad. Asplenium onopteris L. Aspleniaceae Espécie indígena do Porto Santo, muito rara, que ocorre nos taludes e fendas das rochas do Pico do Facho e do Pico da Gandaia, entre os 450 e 460m de altitude. Pico da Gandaia, talude N, alt. ca. 460m, 12-VII-2011, Roberto Jardim, 1692, UMad; Pico do Facho, talude N, alt. ca. 450m, 05-X-2011, Roberto Jardim, 1794,UMad. Bromus catharticus Vahl Poaceae Espécie nativa do continente Americano, naturalizada no leito da Ribeira da Vila e em zonas ruderais da Fonte do Tanque. Fonte do Tanque, alt. 46m, 22-V-2011, Roberto Jardim, 1615, UMad; Ribeira da Vila Baleira, no leito, próximo da foz, alt. 7m, 15-VII-2011, Roberto Jardim, 1782, UMad. Cotyledon orbiculata L. Crassulaceae Espécie sul-africana, cultivada nos jardins do Pico Castelo, encontrando-se naturalizada nas encostas do mesmo pico. Esta espécie não se encontra naturalizada na ilha da Madeira. Pico Castelo, vertente S, alt. 390m, 08-X- 2011, Roberto Jardim, 1830, UMad. Nicandra physalodes (L.) Gaertn., Solanaceae Espécie nativa do Peru, ruderal,

242 naturalizada no leito do Ribeiro Cochino. Ribeiro Cochino, no leito próximo da ponte, alt. 70m, 17-IV-2011, Roberto Jardim, 1273, UMad. Paspalum dilatatum Poir. Poaceae Espécie originária da América do Sul, encontrada no leito da Ribeira da Vila, nas proximidades da foz. Ribeira da Vila Baleira, no leito, próximo da foz, alt. 7m, 15-VII-2011, Roberto Jardim, 1785, UMad. Ruppia maritima L. Ruppiaceae Espécie indígena do Porto Santo, cosmopolita. Na ilha do Porto Santo ocorre em duas ribeiras, na Ribeira da Serra de Dentro, a aproximadamente 900 a 500m distante do mar, entre os 25 e os 50m de altitude (Figura 2) e na Ribeira do Tanque, a cerca de 1200m do mar e a uma altitude de 45m, chegando mesmo a ser observada num tanque de rega. Esta espécie ocorre em lagunas, canais pouco profundos de águas salobras ou hipersalinas, o que indicia o elevado grau de salinidade da água das ribeiras do Porto Santo. Em relação ao arquipélago da Madeira, esta espécie foi considerada muito rara, tendo sido apenas referida para uma localidade do sul da ilha da Madeira, Paul do Mar (MENEZES, 1914; PRESS, 1994), mas actualmente é considerada extinta (JARDIM & MENEZES DE SEQUEIRA, 2008), pois o seu habitat foi destruído por diversas construções, e.g., campo de futebol, habitações e estradas. A descoberta desta espécie na ilha do Porto Santo é de grande importância, pois trata-se de um taxon característico da classe de vegetação Ruppietea maritimae que assim continua a existir no arquipélago da Madeira. Ribeira da Serra de Dentro, alt. ca. 40m, 11-VII-2011, Roberto Jardim, 1689, UMad; Ribeira do Tanque, próximo da Fonte do Tanque, alt. 45m. 33 04'02,48"N, 16 20'27,42"W, 14-VII-2011, Roberto Jardim, LM6012, MA 841264; Ribeira da Serra de Dentro, alt. ca. 25m, 15-VII-2011, Roberto Jardim, 1777, UMad; Ribeira da Serra de Dentro, alt. ca. 30m, 07-X-2011, Roberto Jardim, 1823, UMad. Senecio angulatus L.f. Asteraceae Espécie originária do Sul de África, cultivada como ornamental no Porto Santo, encontrando-se naturalizada na falésia do Porto dos Porcos e no Pico Castelo. Esta espécie não se encontra naturalizada na ilha da Madeira. Morenos, linha de água da falésia do Porto dos Porcos, alt. ca. 100m, 13-IV- 2011, Roberto Jardim, 1156, UMad. Os trabalhos de campo efectuados em 2011 permitiram ainda confirmar a presença no Porto Santo de duas espécies muito raras associadas a habitats florestais. Brachypodium sylvaticum (Huds.) P. Beauv. Poaceae Espécie nativa do Porto Santo, considerada rara e mencionada apenas para a Rocha de Nossa Senhora por MENEZES (1914) e PICKERING (1962). COPE (1994) refere a não existência de dados recentes sobre este taxon no Porto Santo. Em 2011 foram encontradas três

Notas do Herbário 243 populações, duas no Pico do Facho e outra no Pico da Gandaia, ambas na encosta norte, entre os 430 e os 480m de altitude. De acordo com CAPELO et al. (2004) trata-se de uma espécie característica de comunidades de ervas vivazes esciófilas de orlas e clareiras naturais do bosque (Trifolio-Geranietea sanguinei). Pico do Facho, vertente N, alt. 430m, 22-V-2011, Roberto Jardim, 1626, UMad; Pico do Facho, vertente N, alt. 430m, 12-VII-2011, Roberto Jardim, 1693, UMad; Pico da Gandaia, vertente N, alt. 460m, 12-VII-2011, Roberto Jardim, 1702, UMad. não tinha sido observada nos últimos anos. Trata-se de um taxon nemoral característico da aliança Sibthorpio peregrinae-clethrion arboreae (CAPELO et al., 2004). Sibthorpia peregrina L. Scrophulariaceae Espécie endémica da Madeira, muito comum na ilha da Madeira, mas referida como muito rara na ilha do Porto Santo (MENEZES, 1914; SHORT, 1994), não tendo sido assinalada nas últimas décadas e considerada extinta por JARDIM & MENEZES DE SEQUEIRA (2008). Foi confirmada a sua presença na localidade citada na literatura, Pico do Facho, mas também para o Pico da Gandaia. Verificou-se a expansão destas populações de Abril a Outubro de 2011, apesar de terem sido observados alguns sinais de herbivoria por coelhos. Estas populações são recentes, principalmente as que ocorrem nas zonas mais elevadas, pois ocorrem em áreas de clareiras formadas pela morte e queda de Cupressus macrocarpa Hartw. (Figura 3 ), e consequente maior insolação, possivelmente associada à maior precipitação dos dois últimos anos. Estes factores podem ter promovido a germinação e expansão desta espécie que Figura 2 - Ruppia maritima L., Ribeira da Serra de Dentro, 11-VII-2001. A, habitat; B, detalhe de plantas frutificadas

244 do Facho, vertente N, alt. 450, 22-V-2011, Roberto Jardim, 1652, UMad; Pico do Facho, vertente N, alt. 450, 12-VII-2011, Roberto Jardim, 1706, UMad; Pico da Gandaia, alt. 460m 12-VII-2011, Roberto Jardim, 1715, UMad; Pico do Facho, alt. 480, 05-X-2011, Roberto Jardim, 1792,UMad. Agradecimentos Os autores agradecem ao Doutor Leopoldo Medina (Real Jardín Botánico, Madrid) a confirmação da determinação de Ruppia maritima L. References Figura 3 - Sibthorpia peregrina L., Pico do Facho, clareiras entre Cupressus macrocarpa, 05-X-2011; A, habitat; B, detalhe de plantas em flor Pico do Facho, vertente N, alt. 450, 21-IV- 2011, Roberto Jardim, 1411, UMad; Pico CAPELO, J., MENEZES DE SEQUEIRA, M., JARDIM, R., COSTA, J.C., 2004. Guia da Excursão geobotânica dos V Encontros Alfa 2004 à ilha da Madeira. Quercetea 6: 5-45. COPE, T.A. 1994. Gramineae. In: PRESS, J.R. & SHORT, M.J. (eds.) Flora of Madeira pp. 406-453. HMSO. London. JARDIM, R., MENEZES DE SEQUEIRA, M., 2008. The vascular plants (Pteridophyta and Spermatophyta) of the Madeira and Selvagens archipelagos. In: BORGES, P.A.V., ABREU, C., AGUIAR, A.M.F., CARVALHO, P., JARDIM, R., MELO, I., OLIVEIRA, P., SÉRGIO, C., SERRANO, A.R.M., VIEIRA, P. (eds.). A list of the terrestrial fungi, flora and fauna of Madeira and Selvagens archipelagos. pp. 157-207, Direcção Regional do Ambiente da Madeira and Universidade dos Açores, Funchal and Angra do Heroísmo. LOWE, R.T., 1868. A Manual Flora of Madeira and the Adjacent Islands of Porto Santo and the Desertas. 1(4): 479-483. London, John van Voorst. MENEZES, C.A., 1914. Flora do Archipelago da Madeira (Phanerogamicas e Cryptogamicas Vasculares). Funchal. Typ. Bazar do Povo.

Notas do Herbário 245 PICKERING, C.H.C., 1962. A Check-List of the Flowering Plants and Ferns of the Island of Porto Santo (Archipelago of Madeira). Boletim do Museu Municipal do Funchal 15 (53): 33-62 PRESS, J.R., 1994. Rupiaceae. In: PRESS, J.R. & SHORT, M.J. (eds.) Flora of Madeira pp.384. HMSO. London. SHORT, M.J., 1994. Scrophulariaceae. In: PRESS, J.R. & SHORT, M.J. (eds.) Flora of Madeira pp. 303-316. HMSO. London. Roberto Jardim, Centro de Ciências da Vida, Universidade da Madeira, 9000-390 Funchal, Portugal; Escola Secundária de Francisco Franco, Rua João de Deus, 9, 9054-527 Funchal, Portugal, rjardim@netmadeira.com; Miguel Menezes de Sequeira, Centro de Ciências da Vida, Universidade da Madeira, 9000-390 Funchal, Portugal, sequeira@uma.pt