UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA JÉSSICA FERNANDES BATISTA ESTUDO DO PAPEL COMO MATERIAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL REVISÃO DE LITERATURA MOSSORÓ - RN 2013

JÉSSICA FERNANDES BATISTA ESTUDO DO PAPEL COMO MATERIAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas como exigência final para obtenção do título de Bacharel em Ciência e Tecnologia. Orientador: Profª. Dra. Marineide Jussara Diniz MOSSORÓ - RN 2013

Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e catalogação da Biblioteca Orlando Teixeira da UFERSA B333e Batista, Jéssica Fernandes. Estudo do papel como material na construção civil Revisão de literatura / Jéssica Fernandes Batista. Mossoró, RN: 2013. 59f. : il. Orientador: Profª. Dra. Marineide Jussara Diniz. Graduação (Monografia) Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Graduação em Ciência e Tecnologia, 2013. 1. Sustentabilidade (Construção). 2. Papel (Engenharia). 3. Material alternativo. I. Título. CDD: 624 Bibliotecária: Marilene Santos de Araújo CRB-5/1033

Dedico este trabalho especialmente aos meus pais, Francisca de Assis Fernandes e Cícero Romão Batista, que sempre acreditaram em mim e me apoiaram em todos os momentos de minha vida.

Primeiramente, quero agradecer ao meu Deus, que sempre está presente em minha vida, me dando forças para continuar, orientando-me em minhas decisões e sempre fornecendo a sabedoria necessária para alcançar os meus objetivos. Aos meus pais, Francisca de Assis Fernandes e Cícero Romão Batista que sempre contribuíram para minha formação pessoal e também profissional. Agradeço por toda a paciência, dedicação, ensinamentos e orações feitas à mim. Aos meus familiares, que sempre me apoiaram. Aos meus amigos, em especial Fernanda Queiroz e Alice Dantas. À todos os meus colegas do curso de Ciência e Tecnologia, em especial Débora Ellen, Kátia Priscila e Sheila Grazielle. À minha orientadora, a professora Dra. Marineide Jussara Diniz, pela orientação, dedicação, disponibilidade e sugestões para a execução deste trabalho. À todos os docentes do curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia. À todos que de alguma forma ou de outra contribuíram para a realização deste trabalho.

RESUMO Este trabalho foi realizado com o objetivo de apresentar o papel como um material alternativo para a construção civil. Devido ao aumento da quantidade de lixo e da demasiada utilização de recursos naturais a indústria da construção civil está à procura de novas medidas para a redução dos impactos ambientais. A construção sustentável faz uso de materiais alternativos e de tecnologias que se comprometem em equilibrar o meio ambiente visando o bom aproveitamento, a economia e o conforto. A metodologia aplicada foi baseada em um levantamento bibliográfico onde iniciou conceituando o termo mais discutido da atualidade que é sustentabilidade e a partir disto, como o papel passou a ser visto como um material alternativo além de sua função habitual de registrar informações por meio de livros, revistas, etc. O papel como componente construtivo (sendo ele reciclado ou não) é um assunto novo e gradativamente vem crescendo pesquisas à seu respeito, porém já pode-se constatar que é um elemento resistente, consideravelmente barato e economicamente viável. O intuito do referente trabalho é mostrar que pode ser feito elementos construtivos como telhas, tijolos, forros, drywall e estes podem proporcionar belíssimas construções. Esses elementos são considerados produtos alternativos onde proporcionam a redução dos custos, redução da quantidade de entulhos de papel nos aterros sanitários e redução da utilização de recursos naturais. Palavras-chave: Sustentabilidade nas construções; papel; material alternativo.

ABSTRACT This work was carried out with the aim of presenting the paper as an alternative material for construction. Due to the increasing amount of waste and excessive use of natural resources, the construction industry is looking for new measures to reduce environmental impacts. Sustainable construction makes use of alternative materials and technologies that are committed to balance the environment with a view to good use, economy and comfort. The methodology was based on a literature which began conceptualizing the term of the current most discussed what sustainability is and from this, as the role was seen as an alternative material in addition to its usual function of recording information from books, magazines etc. The role as a constructive component (it being recycled or not) is a new subject and gradually growing to research about him, but now it can be seen that an element is sturdy, pretty cheap and economically viable. The aim is to show the related work that can be done building elements such as roof tiles, bricks, ceilings, drywall and these can provide constructs beautiful. These elements are considered alternative products which provide cost reduction, reducing the amount of paper debris in landfills and reducing the use of natural resources. Keywords: Sustainability in construction; paper; alternative material.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Papiro.... 22 Figura 2 - Pergaminho... 22 Figura 3 - Processo de fabricação de papel na China século II... 23 Figura 4 - Processo de reciclagem.... 27 Figura 5 Camadas de Papelão.... 28 Figura 6 - Abrigo emergencial, Chicago.... 29 Figura 7 - Construção com chapas de papelão elaboradas por Richard Fuller, Montreal.... 29 Figura 8 - Tubos de papelão.... 30 Figura 9 - Pontes feitas de tubos de papelão, EUA.... 30 Figura 10 - Construção de Martin Pawley, EUA.... 31 Figura 11 - Construção da Shared Ground.... 31 Figura 12 - Clube de música pós-aula construído com tubos de papelão, Inglaterra.... 32 Figura 13 - Shigeru Ban e suas obras.... 33 Figura 14 - Tubos de papel utilizados pela professora Gerusa Salado em seu projeto.... 34 Figura 15 - Fases da construção da casa de papelão... 35 Figura 16 - Casa feita de papelão elaborada pela professora Gerusa Salado.... 35 Figura 17 Tijolos Krafterra.... 36 Figura 18 - Comparativo da resistência do BTC e krafterra... 38 Figura 19 - Comparativo o BTC e karfterra com relação à flexibilidade.... 38 Figura 20 - Processo de fabricação do tijolo (protótipo)... 39 Figura 21 - Tijolos feitos à base de papel.... 40 Figura 22 - Sacos de cimento.... 41 Figura 23 - Forreco.... 42 Figura 24 - Telhas ecológicas.... 43 Figura 25 - Galpão com a telha Tecolita.... 44 Figura 26 - Telha Onduline.... 45 Figura 27 - Inclinação da telha Onduline.... 45 Figura 28 - Espaçamento da telha Onduline.... 46 Figura 29 - Montagem da telha Onduline.... 46 Figura 30 - Sobreposição da telha Onduline.... 47 Figura 31 - Fixação das telhas Onduline.... 47 Figura 32 - Componentes Drywall.... 49 Figura 33 - Sistema de instalação Drywall.... 50

Figura 34 - Parede de Drywall.... 51 Figura 35 - Forro Drywall.... 52 Figura 36 - Revestimentos Drywall.... 52

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ABMTENC ABRAF BRACELPA CNPq CO 2 EESC IDHEA ISO ONU PUC USP Associação Brasileira de Materiais e Tecnologias Não-Convencionais Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas Associação Brasileira de Celulose e Papel Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Dióxido de carbono Escola de Engenharia de São Carlos Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica Organização Internacional para Padronização Organização das Nações Unidas Pontifícia Universidade Católica Universidade de São Paulo

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 13 2 OBJETIVOS... 15 2.1 GERAL... 15 2.2 ESPECÍFICOS... 15 3 MATERIAIS E MÉTODOS... 16 4 REVISÃO DE LITERATURA... 17 4.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL... 17 4.1.1 Construção sustentável... 18 4.1.2 Escolha dos materiais... 19 4.1.3 Tipos de construções sustentáveis... 19 4.1.4 Materiais alternativos... 20 4.2 O PAPEL... 22 4.2.1 Histórico... 22 4.2.2 Conceito... 23 4.2.3 Tipos de papéis... 24 4.2.4 Reciclagem... 25 4.3 O PAPEL COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO... 27 4.3.1 Construções com o papelão... 27 4.3.2 Tijolo de papel... 36 4.3.3 Forro feito de papel... 40 4.3.4 Telha feita de papel... 42 4.3.5 Drywall... 48 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 54 REFERÊNCIAS... 55

13 1 INTRODUÇÃO A sociedade gradativamente está se dando conta de que a utilização demasiada e inadequada dos recursos naturais está acarretando sérias consequências quando se trata do meio ambiente e tudo que o envolve. Preservar o meio ambiente, utilizar os recursos naturais de maneira correta e mantêlos para as gerações futuras são práticas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, desenvolvimento este que integra a questão social, econômica e ambiental de uma nação. A busca por soluções e/ou materiais que possam de alguma maneira substituir ou reduzir o consumo dos recursos naturais na construção civil é algo que vem crescendo, e em decorrência destes estudos muitas descobertas estão surpreendendo por possuírem características viáveis para ingressar ao setor construtivo. A construção sustentável trata-se de uma construção que visa atender as necessidades de edificação do homem sempre garantindo a preservação do meio ambiente. Novos materiais difundidos no mercado, materiais reciclados e materiais vernáculos são exemplos de materiais que este tipo de construção emprega. O papel é um material provindo dos elementos fibrosos de origem vegetal, as principais matérias-primas do papel são as árvores de eucalipto e pinus onde passam por diversos processos para formá-lo. O papel é um material que pode ser reciclado (mantendo suas propriedades) o que é muito importante quando se fala em sustentabilidade. Agregar o papel na construção civil é uma questão que vem crescendo gradativamente tanto no âmbito econômico como ambiental, por ele ser considerado um elemento resistente, consideravelmente barato e economicamente viável. A utilização do papel no setor da construção civil não é um assunto tão novo, pesquisas sobre o ingresso deste material começaram por volta de 1970 com o intuito de desenvolver outro material de construção, porém com crescimento do uso dos materiais convencionais, muitas pesquisas foram deixadas de lado. As construções com papel obtiveram um grande reconhecimento mundial a partir das obras do arquiteto Shigeru Ban, que projeta belas construções, desde 1990, tendo como material principal o papelão. O sistema construtivo de Drywall é constituído por um núcleo de gesso e em suas extremidades são colocadas placas de papel cartão; onde o gesso exerce uma resistência à compressão, e o papel resistência à tração. Paredes, forros e até revestimento são as finalidades deste sistema, que cada vez mais ganha à preferência na área da construção civil. Além disso, é um sistema considerado leve, de fácil aplicação e econômico.

14 Já existem no mercado, telhas feitas a base de papel que possuem características semelhantes às telhas convencionais e, além disso, são flexíveis, leves e versáteis. Atualmente no Brasil, existem pesquisas que tem como objetivo desenvolver tijolos, forros e até casas feitas de papel. Nestes projetos foram elaborados protótipos e trata-se apenas de uma questão de tempo para entrarem no mercado da construção civil.

15 2 OBJETIVOS 2.1 GERAL e no mundo. Estudo bibliográfico sobre a utilização do papel como material construtivo no Brasil 2.2 ESPECÍFICOS Trabalho de revisão bibliográfica sobre os tipos de materiais que podem ser feitos de papel e sua aplicação na construção civil, mostrando sua importância do ponto de vista ambiental, econômico e social.

16 3 MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa bibliográfica foi desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Nos dias de hoje, outra ferramenta de vultosa importância é a internet. Portanto, neste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica, tendo como fontes principais livros, artigos científicos, monografias, teses de mestrado, publicações em revistas especializadas, arquivos virtuais, dentre outros recursos que se mostrem úteis. Primeiramente, foi feito um levantamento de livros especializados, tanto impressos quanto digitais. De posse das informações necessárias, foi realizada exposição escrita do estudo bibliográfico, mostrando os produtos existentes feitos de papel, bem como suas vantagens e desvantagens na construção civil.

17 4 REVISÃO DE LITERATURA 4.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A primeira definição de desenvolvimento sustentável foi elaborada pela Comissão de Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente (CMMAD) por meio de um relatório apresentado em 1987. Fundada em 1984 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenada pela norueguesa Gro Harlem Brundtland a comissão debatia assuntos relacionados aos problemas ambientais. A comissão desenvolveu um relatório titulado como Nosso Futuro Comum ou relatório Brundtland. O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais. (WIKIPÉDIA, 2012). Conforme afirma Bellen (2003) o desenvolvimento sustentável é a capacidade que a empresa possui de aproveitar ao máximo os recursos naturais observando a sua capacidade de regeneração, também é integrar os sistemas econômicos, sociais e ecológicos para que seja possível um equilíbrio entre os três elementos, e de forma mais simples o desenvolvimento é a capacidade humana de se desenvolver em harmonia com o meio ambiente objetivando o desenvolvimento em conjunto. De acordo com Braga et al. (2005), o modelo de desenvolvimento sustentável deve funcionar como um sistema fechado e ter como base: Dependência do suprimento externo contínuo de energia (Sol); Uso racional da energia e da matéria com ênfase à conservação, em contraposição ao desperdício; Promoção da reciclagem e do reuso dos materiais; Controle da poluição, gerando menos resíduos para serem absorvidos pelo ambiente; e Controle do crescimento populacional em níveis aceitáveis, com perspectivas de estabilização da população.

18 4.1.1 Construção sustentável Segundo Mário Augusto Araújo (2012), consultor do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (IDHEA), a construção sustentável baseia-se no desenvolvimento de um modelo que enfrente e proponha soluções aos principais problemas ambientais de sua época, sem renunciar à moderna tecnologia e à criação de edificações que atendam as necessidades de seus usuários. Na busca de minimizar os impactos ambientais provocados pela construção, surge o paradigma da construção sustentável. No âmbito da Agenda 21 para a Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento, a construção sustentável é definida como: "um processo holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre o ambiente natural e construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2012). Recentemente, a construção ganhou normas próprias no âmbito da sustentabilidade, por meio do sistema Organização Internacional para Padronização (ISO). São elas as normas ISO 21930 (2007) Sustentabilidade na construção civil Declaração ambiental de produtos para construção e ISO 15392 (2008) Sustentabilidade na construção civil Princípios gerais. É do Comitê Técnico da ISO, também, o seguinte conceito de obra sustentável: Edificação sustentável é aquela que pode manter moderadamente ou melhorar a qualidade de vida e harmonizar-se com o clima, a tradição, a cultura e o ambiente na região, ao mesmo tempo em que conserva a energia e os recursos, recicla materiais e reduz as substâncias perigosas dentro da capacidade dos ecossistemas locais e globais, ao longo do ciclo de vida do edifício (ISO/ TC 59/SC3 N 459). De acordo com Mário Augusto Araújo (2012), há nove passos principais para a obra seja considerada sustentável estes passos estão conformes ao que recomendam alguns dos principais sistemas de avaliação e certificação de obras no mundo e são: 1. Planejamento Sustentável da obra; 2. Aproveitamento passivo dos recursos naturais; 3. Eficiência energética; 4. Gestão e economia da água; 5. Gestão dos resíduos na edificação;

19 6. Qualidade do ar e do ambiente interior; 7. Conforto termo-acústico; 8. Uso racional de materiais; 9. Uso de produtos e tecnologias ambientalmente amigáveis. 4.1.2 Escolha dos materiais A escolha dos produtos e materiais para uma obra sustentável deve seguir alguns parâmetros como a matéria-prima, a sua extração, qualidade, durabilidade, emissão de poluentes, gastos de energia para transformação, etc. Deste modo verifica-se se o material é classificado como sustentável observando o conforto, aproveitamento e economia em seu uso (ARAÚJO, 2012). É importante evitar ou minimizar o uso de materiais sobre os quais pairem suspeitas ou que reconhecidamente acarretem problemas ambientais, tais como o PVC, que gera impactos em sua produção, uso e descarte (sua queima gera ácido clorídrico e dioxina) e alumínio (que provoca grandes impactos ambientais para a sua extração e requerem imensos gastos energéticos durante sua produção e mesmo reciclagem, se comparado a outros materiais). (ARAÚJO, 2012). 4.1.3 Tipos de construções sustentáveis Mário Augusto Araújo (2012) afirma que há dois modelos de construção sustentável que são as construções coordenadas por profissionais da área e com o uso de ecoprodutos e tecnologias sustentáveis modernas dentro das normas e padrões vigentes para o mercado e as autoconstruções que são construções feitas pelo próprio usuário, sem contar diretamente com suporte de profissionais. Este tipo de construção ultrapassa mais de 60% das obras civis no Brasil e inclui dose de criatividade, vontade pessoal do proprietário e responsável pela obra. Construção com materiais sustentáveis industriais Construções edificadas com ecoprodutos fabricados industrialmente, adquiridos prontos, atendendo a normas, legislação e demanda do mercado.

20 Construção com resíduos não-reprocessados (Earthship) Consiste na utilização de resíduos de origem urbana com fins lucrativos, tais como garrafas PET, papéis, latas, etc. Um dos exemplos mais notórios de Earthship intuitivo e sem planejamento são as favelas dos grandes centros urbanos. No entanto, também pode ser um modelo criativo de autoconstrução, com o uso destes mesmos resíduos a partir de concepções de Ecodesign (projeto sustentável). Construção com material de reuso (demolição ou segunda mão) Esse tipo de construção incorpora produtos convencionais descartados e prolonga sua vida útil, evitando sua destinação para aterros sanitários ou destruição por processos perigosos. Construção alternativa Utiliza materiais convencionais disponíveis no mercado, com funções diferentes das originais. É um dos modelos principais adotados em comunidades carentes ou sistemas de autoconstrução. Construção natural É o sistema construtivo mais ecológico, portanto, mais próximo da própria natureza, uma vez que integra a edificação com o ambiente natural e o modifica ao mínimo. Respeita o entorno e usa materiais disponíveis no local da obra ou adjacências (Permacultura). 4.1.4 Materiais alternativos Desde os primórdios o homem sempre utilizou para construir suas habitações materiais como pedra, palha, galhos, troncos de árvores, a própria terra entre outros. Com esses materiais o homem foi capaz de produzir obras belíssimas de engenharia. Obras estas elaboradas sem a existência do conhecimento do aço, alumínio, cimento Portland, etc. Com a revolução industrial (século XVII) começaram a aparecer os materiais de construção que hoje são conhecidos como materiais de construção convencionais. A partir disto, casas construídas com materiais industrializados eram símbolos de status e modernidade. Com a maciça propaganda e a difusão dos materiais convencionais ocasionou-se o desprezo, esquecimento e o abandono de técnicas e novas buscas por materiais não-convencionais, materiais estes que atualmente são associados à pobreza (PERAZZO, 2011)..

21 Normando Perazzo (2011) ressalta sobre o prejuízo ambiental que o uso demasiado de materiais industrializados trás, visto que, no processo de fabricação os materiais consomem oxigênio e liberam CO 2 e muitos outros poluentes responsáveis por chuvas ácidas que danificam severamente a natureza e também o efeito estufa que lentamente está aquecendo a Terra. Mesmo agredindo o meio ambiente em seu processo de fabricação há também grande preocupação com o enorme volume de entulhos, estes difíceis de serem reincorporados na natureza. De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) nas últimas décadas a necessidade de promover um desenvolvimento ecológico e sustentável tem motivado cientistas a desenvolver e utilizar materiais que despendam menor quantidade de energia e gerem menos resíduos e poluentes, sejam mais facilmente reincorporados pela natureza e mais acessíveis à população de baixo poder aquisitivo e estejam disponíveis localmente. No Brasil, um dos pioneiros no estudo de materiais nãoconvencionais é o pesquisador do CNPq, Khosrow Ghavami, também professor titular do departamento de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC- Rio), além de ser membro fundador e atualmente presidente da Associação Brasileira de Ciências em Materiais e Tecnologias não Convencionais (ABMTENC, 2010). Pode-se dizer que os materiais de construção não- convencionais são ecologicamente corretos, pois: Tratam-se de materiais tradicionais disponíveis na natureza, muitos dos quais renováveis, e como no caso do aproveitamento dos resíduos, contribuem para livrar o ambiente de seu incômodo; Envolvem menor energia que os industrializados; Em geral são não poluentes; Muitos incorporam-se novamente à Natureza sem maiores danos; Podem ser obtidos em processos não centralizados; Podem gerar tecnologias apropriadas; Podem levar a um menor custo construtivo; Podem fazer uso intensivo de mão de obra; Podem ajudar na redução do problema da casa nos países em desenvolvimento.

22 4.2 O PAPEL 4.2.1 Histórico O homem sempre utilizou os mais distintos meios de registrar seu cotidiano, conhecimentos e experiências adquiridas. Cada civilização possuía um meio de guardar suas informações. Os sumérios utilizavam o tijolo de barro, os indianos faziam livros de folhas de palmeiras, os maias e os astecas usavam cascas das árvores, romanos em tábuas, etc. Em 2200 a.c surgiu o papiro (Figura 1), que desenvolvido pelos egípcios, era fabricado a partir de plantas encontradas na margem do rio Nilo cuja fibras eram bastante resistentes. Após isso surgiu o pergaminho (Figura 2) era feito geralmente da pele de carneiro, e para cada livro era necessária a morte de vários animais (CALDEIRA, 2002). Figura 1 - Papiro. Fonte: http://historianovest.blogspot.com.br Figura 2 - Pergaminho Fonte: http://www.ib7.org

23 O papel atual surgiu na China no inicio do século II, através de um oficial da corte chinesa, a partir do corte de plantas, tecidos velhos e fragmentos de rede de pesca. A técnica baseava-se no cozimento de fibras, estendidas por martelo até se formar uma camada fina; posteriormente as fibras eram misturadas com água formando uma pasta e esta era posta em fôrmas e levadas para secar formando a folha celulósica (Figura 3). Dados históricos mostram que o papel foi muito difundido entre os árabes, e que foram eles os responsáveis pela instalação da primeira fábrica de papel na cidade de Játiva, Espanha, em 1150 após a invasão da Península Ibérica (CALDEIRA, 2002). Figura 3 - Processo de fabricação de papel na China século II Fonte: http://www.moleskine.com/ A partir do século XIX, inovações tecnológicas na fabricação de papel acarretaram a um aumento da oferta de papel para impressão de livros e jornais. Em 1845, o papel passou a ser feito principalmente de pasta de madeira (CALDEIRA, 2002). No Brasil, o papel começou a ser fabricado em 1809, no Rio de Janeiro. E chegou a São Paulo com o desenvolvimento industrial proporcionado pela vinda de imigrantes europeus para trabalhar na cultura do café. Em sua bagagem, eles trouxeram conhecimento sobre o processo de produção de papel. Hoje, vários Estados brasileiros produzem diferentes tipos de papel: papel-cartão, de embalagens, de imprimir e escrever, de imprensa e para fins sanitários, além dos especiais (BRACELPA, 2012). 4.2.2 Conceito O papel é um material constituído por elementos fibrosos de origem vegetal, geralmente distribuído sob a forma de folhas ou rolos. Tal material é feito a partir de uma

24 espécie de pasta desses elementos fibrosos, secada sob a forma de folhas, que por sua vez são frequentemente utilizadas para escrever, desenhar, imprimir, embalar etc. Do ponto de vista químico, o papel se constitui basicamente de ligações de hidrogênio. (WIKIPÉDIA, 2012). O papel é um produto renovável, reciclável e biodegradável cujo ciclo de vida está diretamente relacionado ao meio ambiente. (BRACELPA, 2010). A matéria-prima básica da indústria papeleira é a celulose, obtida pelo beneficiamento da madeira e, também, de aparas (sobras) de papel geradas durante o processo industrial ou recuperadas após o consumo de produtos, além de outros materiais fibrosos. (BRACELPA, 2012). Para a fabricação de papel, as fibras vegetais necessitam de propriedades específicas, como alto conteúdo de celulose, baixo custo e fácil obtenção. O material mais usado é a polpa de madeira de árvores, principalmente de eucaliptos (tempo de crescimento) e pinus (devido à resistência, preço e comprimento da fibra). Os eucaliptos levam cerca de sete anos até ser colhido e o pinus leva aproximadamente quatorze anos para ser colhido. (WIKIPÉDIA, BRACELPA, 2012). No Brasil, 100% da produção de celulose e papel são originadas de florestas plantadas de eucalipto e pinus. Nessas florestas, as árvores são cultivadas em áreas específicas, com insumos de alta qualidade, e depois, colhidas para uso industrial. Em seguida, uma nova floresta é plantada perpetuando o ciclo plantio/colheita (BRACELPA, 2012). Segundo o Anuário Estatístico da ABRAF (2012), o Brasil possui aproximadamente 7 milhões de hectares de plantio de eucaliptos e pinus, sendo 74,8% de eucaliptos e 25,2% de pinus. De acordo com o Relatório Florestal (2011) destes 7 milhões de hectares 2,2 milhões são destinados à indústria de papel e celulose. 4.2.3 Tipos de papéis Para atender a ampla variedade de aplicações, os papéis possuem propriedades que variam consideravelmente de um tipo para outro, como dureza, resistência, durabilidade e características ópticas. (SALADO, 2006). A classificação dos tipos de papel é feita através de critérios relacionados a sua aplicação. Alguns exemplos, entre outros, são:

25 Papéis para a impressão em máquina: apresentam superfície áspera e são impróprios para a escritura manual, sendo usados na produção de jornais e livros; Papéis acetinados: estes papéis se tornam lisos e brilhantes por serem submetidos previamente à operação de calandragem ou passagem por cilindros. São empregados para a escrita; Papéis cartolina: são mais espessos e podem ser usados tanto na escrita quanto para embrulhos especiais; Papel-moeda: feito de fibras têxteis e é destinado à produção de dinheiro; Papel carbono: utilizado para cópias diretas por pressionamento da folha; Papel pintado: mais conhecido como papel parede e é utilizado em decoração de ambientes; Papel-filtro: é um tipo de papel muito poroso, usado para filtrar líquidos e na fabricação de coadores de papel; Papel crepom: usado na confecção de arranjos e enfeites, possui um aspecto enrugado; Papel fotográfico: uma de suas faces é revestida com material fotossensível; Papel vegetal: papel transparente usado para desenhos e projetos arquitetônicos; Papel-bíblia: muito fino, geralmente é usado em publicações de luxo e grandes volumes; Papel Kraft: é um papel pardo, utilizado na produção de papel ondulado e papelão; Papel semikraft: papel Kraft de qualidade inferior, oriundo da reciclagem; Papelão: é como um papel cartão de alta gramatura e resistência, na maioria dos casos fabricado a partir de aparas, material este que dá a sua coloração. Existe o papelão madeira, ou Paraná, o papelão cinza e o papelão laminado. Cada tipo de papel ainda é dividido numa série de categoriais, ou seja, papéis do mesmo tipo com qualidades finais diferentes, superiores e inferiores. Além disso, há papéis que diferem na sua cor, gramatura e espessura. 4.2.4 Reciclagem De acordo com a Associação de Normas Técnicas (ABNT), para ser considerado reciclado, o papel deve conter pelo menos 50% de fibras recuperadas (pós-consumo ou préconsumo) e, no mínimo, 25% de material pós-consumo. (BRACELPA, 2010).

26 A reciclagem envolve uma cadeia que começa na separação dos resíduos sólidos pelos cidadãos, passando pela coleta, triagem e preparação do material recolhido que, em seguida, é encaminhado à indústria para que seja transformado em nova matéria-prima. (BRACELPA, 2012). O volume de aparas transformadas no Brasil, em 2010, atingiu a marca de 4 milhões de toneladas. A taxa de recuperação volume de papel reciclado sobre o total de papel entrou no mercado brasileiro em 2010 foi de 44% e vem se mantendo estabilizada em torno de 45%. (BRACELPA, 2010). Ao chegar à fábrica, os fardos de papel descartado são misturados à água em um equipamento chamado hidrapulper- uma espécie de grande liquidificador-, formando uma espécie de pasta de celulose. Em seguida, essa pasta passa por uma peneira para que sejam retiradas impurezas, como: pedaços de papel não desejáveis, fitas, plásticos, etc. Na etapa seguinte são aplicados compostos químicos (água e soda cáustica) para a retirada de tintas. Uma depuração mais fina separa a areia. Ao passar por refinadores, a pasta é processada para que as fibras se abram um pouco mais, garantindo maior resistência. E finalmente a pasta é branqueada e segue para as máquinas de fazer papel (Figura 4). (BRACELPA, 2012). Na fabricação de uma tonelada de papel, a partir de papel usado, o consumo de água é muitas vezes menor e o consumo de energia é cerca da metade. Economizam-se 2,5 barris de petróleo, 98 mil litros de água e 2500 kw/h de energia elétrica com uma tonelada de papel reciclado. (AMBIENTE, 2011).

27 Figura 4 - Processo de reciclagem. Fonte: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/ 4.3 O PAPEL COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO 4.3.1 Construções com o papelão A aplicação do papel no setor da construção civil é considerada uma técnica inovadora e ainda encontra-se em fases de testes para verificar os efeitos que o papel pode sofrer ficando exposto as oscilações do tempo. O intuito destas pesquisas é utilizar o papel como material alternativo nas construções futuras, porque este material é oriundo de reciclagem, podendo voltar a ser reciclado diversas vezes, além disso, é fácil de ser encontrado, evitando o desperdício no canteiro de obras e gerando o mínimo de resíduos, sendo técnica e ecologicamente mais viável que os materiais convencionais. (BAHIA et al, 2011) O papelão é um tipo mais grosso e resistente de papel, geralmente utilizado na fabricação de caixas, podendo ser liso ou enrugado. É produzido dos papéis compostos por

28 fibras da celulose, que são virgens ou reciclados. O papelão é um dos materiais mais procurados para o processo de reciclagem, gerando toda uma indústria deste processo, desde a sua coleta, até sua logística e reprocessamento na indústria de produção de papelão. O tipo mais comum de papelão é o papelão ondulado que é constituído por três elementos: camada externa, miolo e camada interna (Figura 5). São cortadas e moldadas em uma variedade infinita de formas e tamanhos para transformarem-se em caixas e outros. Estas três camadas básicas de papel são montadas em uma maneira que dê a estrutura total uma resistência melhor do que aquela de cada camada distinta. Esta construção engenhosa dá forma, fixa as dimensões de uma série dos arcos conectados levando a não só a geometria ter maior resistência a flexão, tenho rigidez a resistência consideráveis, mas até suporte de pesos sobre sua superfície. (BAHIA et al, 2011). Figura 5 Camadas de Papelão. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/papelão A partir da metade do século XIX, o papelão é visto como um possível material construtivo, tenta-se empregá-lo na construção de casas, abrigos e outras edificações. Estudantes, pesquisadores e profissionais passaram a buscar neste material algumas vantagens e a possibilidade de uma construção rápida, leve, barata e que atendesse às necessidades de cada ocasião. Como resultado, embora este não seja um material dos mais utilizados na construção civil, o papelão pode ser empregado na forma de chapas, painéis tipo colmeia e, finalmente, elementos tubulares. (SALADO, 2006). Segundo Minke (1980), os primeiros projetos a utilizarem o papelão em construções o fizeram na forma de chapas. Na maioria dos casos, estes eram pequenos protótipos de casas ou abrigos desenvolvidos para estudos ou construções temporárias. (SALADO, 2006). Dentre vários protótipos elaborados na época, alguns são citados.

29 A construção de um abrigo emergencial de planta circular que foi desenvolvido com painéis plastificados de papelão. A Container Corporation of America, sediada em Chicago (Figura 6), utilizou 24 painéis grampeados uns aos outros. (MINKE, 1980). Figura 6 - Abrigo emergencial, Chicago. Fonte: Minke, 1980, p.52. Richard Buckminster Fuller na universidade de McGill, em Montreal, junto com alguns estudantes construiu uma estrutura geodésica de 9,5 m de diâmetro, com chapas de papelão em formato de losangos (Figura 7). (MINKE, 1980). Figura 7 - Construção com chapas de papelão elaboradas por Richard Fuller, Montreal. Fonte: MINKE, 1980, p.52. Os tubos de papelão já são fabricados no Brasil há muitos anos e empregados como formas para pilares de concreto cilíndricos ou de outros formatos, como retangulares ou hexagonais. Estes tubos são feitos de papel kraft ou semi-kraft, de diversas gramaturas, enrolados no sistema espiral (Figura 8).

30 Figura 8 - Tubos de papelão. Fonte: http://www.pentapack.com.br/ A atratividade em se utilizar tubos de papelão na construção civil se dá por estes serem baratos, facilmente recolocados e substituídos quando danificados, de baixa tecnologia, para manterem sua cor natural e não gerarem desperdício. Além disso, podem ser reciclados ou reutilizados, caso estejam em perfeitas condições de uso. (McQUAID, 2003). O primeiro experimento feito com tubos de papelão surgiu em 1970 nos EUA, onde o engenheiro estrutural Led Zetlin construiu uma ponte para a International Paper Company (Figura 9). (MINKE, 1980). Figura 9 - Pontes feitas de tubos de papelão, EUA. Fonte: Minke, 1980, pág. 52. Em 1976, Rensselaer Polytechnic Institute, Nova Iorque, Martin Pawley fez uma construção de 60 m² utilizando tubos de papelão de 10 cm de diâmetro (Figura 10), preenchidos internamente com latas e garrafas. (MINKE, 1980).

31 Figura 10 - Construção de Martin Pawley, EUA. Fonte: Minke, 1980, pág. 56. No Reino Unido, em 2000, com o intuito de mostrarem às pessoas que era possível fazer uma arquitetura de boa qualidade com materiais não refinados, Philip Gumuchdjian e Stephen Spence, construíram um espaço de exposições de 1500 m² feito quase que inteiramente com tubos de papelão reciclados (Figura 11). (HART, 2000). Figura 11 - Construção da Shared Ground. Fonte: Hard, 2000, p.44-5. Em 2002, na Inglaterra foi construído um anexo escolar que possui componentes de papelão em sua estrutura e vedação, esta obra foi considerada a primeira obra permanente em tubos de papelão da Europa (Figura 12). (SLESSOR, 2002).

32 Figura 12 - Clube de música pós-aula construído com tubos de papelão, Inglaterra. Fonte: Slessor, 2002, pág. 57. Há mais de duas décadas o arquiteto japonês chamado Shigeru Ban projeta e elabora obras tendo o papelão como principal material para as suas construções (Figura 13), ele já implantou suas obras em várias partes do mundo, como Japão, Índia, Turquia, França, EUA, Alemanha e Ruanda. Em algumas de obras o arquiteto utiliza tubos de papelão apenas para vedação ou estrutura e, em outras, para ambas as funções. Shigeru Ban não gosta de desperdício e defende e promove a reciclagem como uma solução pós-tecnologia e pósindustrial. E além de ser especialmente preocupado em usar os materiais com sensibilidade ecológica, ele gosta de fazê-lo para atender aos ricos e aos pobres. (BERET; PENWARDEN, 2000). Em suas obras, Ban mantém as características simples do tubo de papelão, utilizando-o oco e com tratamento contra a ação do fogo e umidade, e aumenta as suas qualidades básicas para gerar um material estrutural com resistência satisfatória. (SALADO, 2006). Para que o arquiteto pudesse gerar sistemas estruturais com tubos de papelão, foi necessário conhecer as características técnicas do material. Ban realizou alguns ensaios em laboratório e identificou que os tubos de papelão que ele utilizava resistem a cerca de 10MPa quando submetidos a esforços de compressão e a cerca de 15MPa quando submetidos à flexão. (McQUAID, 2003). Residências, escritórios, pavilhões e passarelas (pequenas pontes) são exemplos do que ele já fez com papel. Mas não só papel: ele também utiliza plástico reciclado, lona,

33 containers, bambu, laminados, etc. Shigeru Ban também é conhecido por seu trabalho social. Casa de papel de baixíssimo custo para abrigar as vitimas de furações e tendas emergenciais feitas de lona para campos de refugiados são alguns exemplos de sua arquitetura social e ecologicamente responsável. (MOURA, 2013). Figura 13 - Shigeru Ban e suas obras. Fonte: http://www.moraremfortaleza.com.br/ No Brasil, a pesquisadora do papelão como material alternativo na construção civil é a Dra. Gerusa Salado que é professora de arquitetura e urbanismo da USP de São Carlos (Figura 14). Em uma entrevista concedida ao programa Globo Ciência da emissora Rede Globo, a professora Gerusa diz que cerca de dez anos pesquisou sobre materiais alternativos para a construção civil e após tomar conhecimento das obras do arquiteto japonês Shigeru Ban resolveu fazer pesquisas relacionadas aos tubos de papelão para a construção de casas. Salado enfatiza que o Brasil é o quarto produtor de celulose e o décimo produtor mundial de papel e que o nosso país possui matéria abundante e que com a reciclagem do material, ele se torna bastante atrativo do ponto de vista da sustentabilidade ambiental. (GLOBO CIÊNCIA, 2013). O papelão, além do fato de poder ser reciclado várias vezes, não precisa de um grande processo de transformação para a reciclagem. Basta triturá-lo e misturar com água afirma a doutora da EESC Gerusa Salado. (SENA, 2011).

34 Figura 14 - Tubos de papel utilizados pela professora Gerusa Salado em seu projeto. Fonte: http://www.redeglobo.com/globociência De acordo com Gerusa Salado, a casa de papelão é feita com papelão em formato tubular e este formato agrega extrema resistência a este material, este sistema construtivo que está sendo desenvolvido pode deixar tranquilo qualquer pessoa que quiser morar nela afirma a pesquisadora. A fundação da casa é superficial e sobre ela são aparafusadas peças de argamassa pré-fabricadas e reforçadas internamente com peças metálicas, nestas peças são encaixadas os painéis de papelão cada painel é composto de por um conjunto de tubos que apresenta 1,20 m de comprimento e 2,40 m de altura e é reforçado por um fio metálico que o percorre por inteiro, acima destes painéis são encaixadas peças de argamassa iguais as que prendem a estrutura da fundação (Figura 15). A casa de papelão por ser pré-fabricada e é de fácil montagem e pode ser erguida em poucos dias (Figura 16). Com relação às intempéries, Salado afirma que a casa é toda protegida com resinas impermeabilizantes adequadas e em ambientes internos não há a necessidade de se utilizá-los, porém em ambientes externos é fundamental a utilização da resina e que esta contenha filtro solar. Em relação ao fogo, ela alerta que o material ainda precisa ser avaliado em relação ao tempo que o papelão pode levar para ser incinerado, e também precisa verificar a possibilidade de o fogo pode se extinguir sozinho, os testes são realizados em laboratório e seguem normas técnicas nacionais e/ou internacionais. (SENA, 2011).

35 Figura 15 - Fases da construção da casa de papelão. 1-Tubos e os moldes de argamassa; 2- Peças metálicas; 3- Painel de papelão; 4-Painel encaixado no molde [Editado pelo autor]. Fonte: http://www.redeglobo.com/globociência Figura 16 - Casa feita de papelão elaborada pela professora Gerusa Salado. Fonte: http://www.redeglobo.com/globociência Dentre as vantagens de se utilizar este sistema construtivo é a rapidez de construção, leveza (dispensando a fundação complexa) e facilidade de transporte e manuseio, é possível desmontar este sistema para poder utilizá-lo em outros locais e com outras funções, questões estéticas, o tubo de papelão não entra em colapso quando é submetido à cargas (deformar-se).

36 Além disso, os tubos de papelão são ocos, facilitando a instalação dos sistemas hidráulicos e elétricos, não havendo necessidade de quebrar paredes e o processo construtivo é limpo e salubre (saudável) ressalva Salado. (SENA, 2011). Há algumas desvantagens neste sistema construtivo das quais podemos citar: o papelão possui baixa resistência mecânica (flexão) e por isso, as coberturas devem ser leves; para reforçar pontos de apoio e aliviar as tensões geradas por esforços de cisalhamento deve-se usar peças de ligação feita de outros materiais; a falta de normas técnicas específicas dificulta a realização de ensaios técnicos e estudos buscam um tratamento eficiente contra a absorção de umidade. (SALADO, 2006). 4.3.2 Tijolo de papel Um dos materiais mais importantes nas construções, o tijolo, agora, pode ser feito de papel. É o que demonstra uma pesquisa realizada pelo professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB) Márcio Buson. O especialista criou um bloco compactado feito a partir da mistura de terra com as fibras das embalagens de cimento, o papel Kraft (Figura 17). Basicamente, eu pego o solo e incorporo essas fibras para formar o composto. Depois, estabilizo com um pouco de cimento para melhorar as propriedades finais do material explica o professor Buson. (ALEGRIA, 2010). Figura 17 Tijolos Krafterra. Fonte: http://comunidade.maiscomunidade.com Apelidado de krafterra, o tijolo é apontado por pesquisadores da UnB como alternativa viável para a construção civil e uma boa maneira de reaproveitar os sacos de cimento, considerados altamente poluentes. O saco de cimento é um resíduo que não é

37 absorvido em nenhum processo de produção. Agregado à fabricação do krafterra, ele é muito bem-vindo aponta Raquel Naves Blumenschein, professora da FAU/UnB e coordenadora do Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis). (ALEGRIA, 2010). A fabricação do krafterra é composta por cinco etapas. Primeiro os sacos de cimento são limpos para que os resíduos não causem danos ao equipamento. O papel Kraft é posto então em água e agitado até formar uma polpa de celulose. Depois, o excesso de umidade é retirado, a celulose triturada e, em seguida, compactada com o cimento. (CORTEZ, 2010). A técnica utilizada pelo professor na criação do bloco é semelhante a do Bloco de Terra Compactada (BTC). Segundo o empresário do ramo da construção sustentável e revendedor de máquinas para a produção de BTC, Carlos Prata, o material é utilizado principalmente na construção de casas populares, por ser mais econômico. O BTC é criado a partir da compactação de uma porção de solo junto a outros aditivos. Sua forma mais popular é o solo-cimento, que consiste numa mistura de 88% de terra e 12% de cimento. A diferença entre o krafterra e o BTC é que parte do cimento, cerca de 6%, é substituída pela fibra de papel Kraft. Esta substituição já garante uma economia na fabricação do bloco, finaliza Buson. O experimento passou por testes de resistência à impactos e ao fogo e alguns resultados foram inesperados. Comparando o BTC com o krafterra com relação à resistência constatou-se que nos testes de resistência à impactos e ao fogo, o krafterra teve melhor desempenho que o BTC (Figura 18). Nos testes de compressão simples, em que uma força é aplicada sobre uma parede do material, e o de compressão diagonal, em que o impacto é colocado nas pontas, o krafterra apresentou resultado surpreendente em relação ao BTC, explica o professor. Com relação à flexibilidade, o krafterra mostrou-se superior ao BTC. Por contas das fibras, o tijolo krafterra deformou-se preservando sua estrutura e no BTC houve uma ruptura brusca (Figura 19). Com relação à resistência ao fogo, Devido à presença da fibra do papel, acreditávamos que o krafterra poderia não apresentar esta resistência ao calor. No entanto, os valores apresentados o qualificam inclusive como um material corta-fogo, comenta Buson. (CORTEZ, 2010).

38 Figura 18 - Comparativo da resistência do BTC e krafterra. Fonte: Apoena Pinheiro/UnB Agência. Figura 19 - Comparativo o BTC e karfterra com relação à flexibilidade. Fonte: Apoena Pinheiro/UnB Agência. Porém, nos testes de absorção de água, o produto apresentou cerca de 7,6% mais absorção que o tijolo comum. De acordo com Buson, esse aspecto torna a construção mais suscetível a infiltrações. A solução achada, então, foi a adição da seiva da babosa à composição. A seiva diminuiu a absorção de água pelo material em 6%, em comparação ao tijolo de solo-cimento. Isso demonstra que a técnica é versátil, pois permite a modificação das características do material por meio da adição de outras substâncias, observa. (ALEGRIA, 2010). Apesar dos testes com o krafterra, Buson ressalta que ainda é cedo para a utilização da tecnologia na construção. A próxima etapa agora é avaliar o comportamento do krafterra em canteiro experimental. Uma coisa é o teste de laboratório do material, outra coisa é você testar uma construção feita com este material, aponta Buson que pretende testar o material em um canteiro experimental. (CORTEZ, 2010). A maior vantagem do krafterra na opinião dos pesquisadores é o fato de ele ajudar na preservação do meio ambiente. Isso porque evita que a embalagem de cimento seja jogada no lixo. Não há um descarte correto para esses sacos, que acabam indo para aterros e lixões, comprometendo a qualidade do solo e da água e até obstruindo bueiros, explica Raquel Blumenschein. (ALEGRIA, 2010).

39 Os tradicionais tijolos de cerâmica enfrentam críticas ambientais porque seu processo de queima emite gases poluentes. Roberto Cláudio Pereira, diretor da empresa Tijol-Eco, explica que o diferencial desses tijolos está na produção e ressalta que o mercado dos produtos sustentáveis irá crescer em grande escala. Os tijolos ecológicos irão substituir a antiga alvenaria. São vantajosos porque não usam o processo de queima e ficam em torno de 40% a 50% mais baratos do que os tradicionais de cerâmica, diz. (JALOWITZKI, 2012). O próximo passo da pesquisa é analisar como o material se comporta em uma casa real. Os pesquisadores da UnB vão construir e analisar uma casa de 50 m² com o material. Recomendo que as pessoas usem o krafterra, mas sempre lembro que eu ainda não consegui fazer testes com um protótipo de uma construção em escala real, deixada ao sol, explica Buson. Em 2012, o tijolo recebeu menção honrosa na Bienal Ibero-Americana de Design de Curitiba, reconhecimento este que Márcio Buson comemora. (SILVA, 2013). A ideia de se criar um tijolo tendo o papel como constituinte também está sendo pesquisado na Espanha. Os pesquisadores da Universidad de Jaén, na Espanha, estão desenvolvendo um protótipo de tijolo composto por uma mistura de argila com resíduos de celulose. O resultado é um bloco resistente, de baixa condutividade térmica, com qualidades isolantes, econômico e de baixo impacto ao meio ambiente. Com o aumento e resíduos da indústria papeleira, os pesquisadores resolveram introduzi-lo no material cerâmico (Figura 20). (CABEZAS, 2013). Figura 20 - Processo de fabricação do tijolo (protótipo). Fonte: http://www.engenhariacivil.com/

40 Outra vantagem de se adicionar resíduos aos protótipos de tijolos é que eles fornecem energia devido à presença de matéria orgânica. Isto pode ajudar a reduzir o consumo de combustível e o tempo de cozimento necessário para sua produção. O método de fabricação consiste em criar uma massa composta por argila e os resíduos de celulose que, através do processo de pressão e extrusão mecânica, resultam no protótipo de 3x1x6cm (Figura 21). Foram feitos testes com tijolos maiores, obtendo resultados similares quanto às suas propriedades de resistência e isolamento. (CABEZAS, 2013). Figura 21 - Tijolos feitos à base de papel. Fonte: http://www.engenhariacivil.com/ Apesar de possuírem menor resistência mecânica à compressão que os blocos cerâmicos tradicionais e ainda existirem algumas dificuldades no processo de fabrico quando utilizadas altas percentagens de incorporação de resíduos, estes novos blocos apresentam vantagens inegáveis a nível econômico e ambiental afirma Carmem Martínez, uma das investigadoras do Departamento de Engenharia Química, Ambiental e de Materiais da Universidade de Jaén. (TRINDADE, 2013). 4.3.3 Forro feito de papel Os formandos no curso técnico em construção civil Edificações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) João Martins Coube, de Bauru, desenvolveram um forro utilizando sacos de cimentos vazios. Esta inovação promete ser uma alternativa tanto no aproveitamento sustentável dos materiais quanto do impulso econômico para diferentes setores. (BELTRAMIN, 2010). A inovação batizada como Forreco (Forro+ecológico), baseia-se na produção de placas para forro concebidas a partir da reciclagem do papel dos sacos de cimentos vazios. O

41 material é um dos principais itens de lixo nas construções e é de reciclagem considerada praticamente inviável economicamente. (BELTRAMIN, 2010). Figura 22 - Sacos de cimento. Fonte: http://www.ambiencia.org/ O saco de cimento é um material que se decompõe lentamente, e quando inserido de forma inadequada no meio ambiente, polui o ar e lençóis freáticos pela presença de resíduos do cimento em pó (Figura 22). A iniciativa deste projeto é de cunho socioeconômico, defendem os idealizadores, professores e direção da escola. Além do caráter ecológico, também há o foco social, destaca Ademir Redondo, diretor do Senai de Bauru. Proporcionaríamos material de custo menor, com a possibilidade da implantação do forro até mesmo dos empreendimentos mais populares, enaltece o aluno Cosme Cipriano, autor do projeto ao lado dos colegas Eliane Regina Ariosi Campos, Michel Lucas Medeiros e Gildo Bonfim da Silva. (BELTRAMIN, 2010). Para fazer a placa de forro, após a coleta, os sacos de cimento são picotados, a princípio, em uma máquina trituradora inventada pelos alunos do Senai de Bauru. Em seguida, as pequenas tiras são acomodadas em um recipiente onde são encharcadas com água. Após passar por centrifugação, o composto é acondicionado em formas retangulares, para moldagem de placas com espessura que varia de 10 e 13 centímetros. Depois da secagem, a placa de forro passa pelo processo de acabamento, que pode ser feito com tinta ou massa corrida (Figura 23). Com relação à resistência do forro, o professor do curso Luiz Antônio Branco afirma que as placas são duráveis e resistentes. Elas são reforçadas por fibras

42 formadas pela própria permanência de resto de cimento junto ao papel. (BELTRAMIN, 2010). Figura 23 - Forreco. Fonte: Senai Bauru. A ideia é que alguma indústria de grande porte no setor da construção civil incorpore essa ideia. Em escala industrial, a fabricação do forro será muito rápida e econômica. Muitas empresas têm encargos ambientais e somente essa iniciativa cobriria muitos deles, acredita o professor Luiz Antônio. (BELTRAMIN, 2010). 4.3.4 Telha feita de papel As telhas, um produto tão emblemático da construção civil, começam a embarcar no reaproveitamento de materiais, o que poderá mudar seu conceito produtivo com o passar dos anos e a evolução da tecnologia. A telha ecológica surgiu na França em 1944, por conta das necessidades criadas pela Segunda Guerra Mundial, mas só apareceram no Brasil em 1997 e, mesmo assim, com peças importadas da Europa (Figura 24). Algumas empresas começaram a pôr em prática ideias e tecnologias para o seu desenvolvimento, e hoje já é possível encontrar peças produzidas a partir de materiais como papel, jornal, Tetra Pak, entre outros todos com potencial de reciclagem muito grande, depositados desordenadamente na natureza e que durariam anos para se decompor, o que gera uma poluição visual e ambiental gigantesca. (PAREDES, 2011).

43 Figura 24 - Telhas ecológicas. Fonte: http://www.hagah.com.br/ A telha feita de fibra vegetal é uma grande aposta ecológica para o setor de construção. Ela é feita com papel. De cada nove telhas fabricadas, uma árvore deixa de ser cortada, estima a supervisora de Marketing e Aplicações, Ana Carolina, uma das empresas que comercializam o produto. (ROSA, 2012). A telha de fibra vegetal tem vida útil de aproximadamente 25 anos. Ela cobre cerca de 1,5 metros e aguenta 100 quilos, assegura a supervisora de Marketing e Aplicações da Onduline, Ana Carolina. Cada peça custa em média R$ 30. A representante da empresa diz que o grande diferencial da telha é a questão ecológica. Ela é feita de papel reciclado, isso lhe dá leveza e a torna fácil de manusear. Além disto, ela é termoacústica e impermeabilizada, diz. Apesar do crescimento e do desenvolvimento do produto, essas telhas representam apenas 1%, sendo a porcentagem dominada por modelos mais tradicionais, como os de alumínio ou barro, além dos de fibrocimento, enfatiza Ricardo Bressiani, diretor executivo da Onduline. (ROSA, 2012). O nordeste brasileiro se destaca como um de seus principais mercados consumidores. Por ser uma região extremamente quente, este produto é muito instalado em barracões para a criação avícola e suína (Figura 25). Além disso, o governo baiano está incentivando o uso de materiais ecologicamente corretos em suas obras, relata Renato Borra, técnico especializado no produto, da Tecolit, empresa que chega a produzir aproximadamente 40 mil telhas por

44 mês. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul também utilizam bastante esse tipo de cobertura, afirma Rosana da Silva, do Projeto Vira Lata. Além de atender ao mercado interno, o Brasil também se tornou um exportador desse tipo de telha. Praticamente toda a produção da fábrica brasileira, situada em Juiz de Fora, é exportada para a Rússia e Ucrânia, relata Bressiani. Turquia e Venezuela também são consumidores do material. (PAREDES, 2011). Atualmente, mais de cinquenta países comercializam a telha de fibra vegetal, entre eles Rússia, Turquia, toda América Latina e EUA. A Rússia é sua maior consumidora. (ROSA, 2012). Figura 25 - Galpão com a telha Tecolita. Fonte: http://www.tecolit.com.br/ O processo de fabricação da telha é o seguinte: A matéria-prima (aparas de papel) é analisada pelo tipo e a partir de amostras são feitos testes laboratoriais para garantir a qualidade do produto final e, em seguida, é feito todo o processo de reciclagem (citado anteriormente na Figura 4). Posteriormente o material segue para uma mesa, onde toda a água é retirada e recuperada, seguindo somente as fibras vegetais para receber a resina e os pigmentos que darão cor às telhas. Neste ponto a manta é ondulada e segue para o secador. Então, a telha já colorida é cortada no tamanho final e depois segue para a etapa seguinte na qual é utilizado outro resíduo industrial: o betume. (ONDULINE, 2012). O betume é um subproduto do refino do petróleo, o asfalto, passa por um controle de qualidade e segue para a impregnação na telha. O asfalto impregnado confere à telha três características importantes: impermeabilidade permanente, resistência e isolamento acústico. Depois do produto finalizado é feito o teste de resistência mecânica (Figura 26). (ONDULINE, 2012).

45 As telhas tradicionais da Onduline possuem dimensões de 2,00 x 0,95 m e as telhas tradicionais da Tecolit possuem dimensões de 1,60 x 0,80 m. (ONDULINE; TECOLIT, 2012). No Brasil, a fábrica da Onduline segue o padrão de qualidade Europeu, certificado com o selo ISO 9001:2000 que garante a excelência no gerenciamento da produção de telhas e cumeeiras e também no processo de distribuição. A produção é certificada também pela ABNT por estar de acordo com a EM 534:2006, norma europeia de fabricação das telhas de fibras vegetais. (ONDULINE, 2012). Figura 26 - Telha Onduline. Fonte: www.onduline.com.br O processo de instalação da telha ecológica Onduline consiste em: 1. Escolher a inclinação, a empresa recomenda a inclinação do telhado em 27%. Nunca instalar com inclinação inferior à 18% (Figura 27). Figura 27 - Inclinação da telha Onduline. Fonte: http://www.onduline.com.br/ 2. Fazer o espaçamento, onde a distância entre os ripões deverá ser de 45 cm e de 1 m entre os caibros (Figura 28).