Mariana Sandoval Lourenço Faculdade de Medicina Centro de Ciências da Vida mariana.sl@puccampinas.edu.br



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APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS COM VARIÁVEIS BIOLÓGICAS, SOCIOECONÔMICAS E DEMOGRÁFICAS PLANO DE TRABALHO PARA INICIAÇÃO CIENTÍFICA NUM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO INFANTO-JUVENIL Mariana Sandoval Lourenço Faculdade de Medicina Centro de Ciências da Vida mariana.sl@puccampinas.edu.br Resumo: A prevalência de obesidade infantil tem aumentado nos últimos anos, o que é preocupante, já que ela pode antecipar o aparecimento de doenças crônicas. Estas taxas elevadas não devem ser vistas apenas como uma relação entre ingesta energética e gasto calórico. A obesidade apresenta causa multifatorial, em que também devem ser considerados os fatores genéticos, psicológicos, demográficos e socioeconômicos que influem em sua gênese. Objetivo: Verificar a relação entre taxas de excesso de peso nas crianças e variáveis biológicas, socioeconômicas e demográficas. Métodos: Foram estudadas 17 crianças, eutróficas e obesas, com idade entre 5 e 13 anos, usuárias dos serviços de saúde da PUC-Campinas. Aplicou-se um questionário nos seus responsáveis, avaliando variáveis biológicas, socioeconômicas e demográficas, e estudou-se a relação entre essas variáveis e a obesidade infantil. Resultados: A análise estatística revelou que mães de filhos obesos possuíam IMC maior que mães de filhos eutróficos e que a freqüência de atividade física semanal foi maior nos eutróficos. Também observouse uma maior freqüência de doenças crônicas nos pais de filhos obesos, além de uma maior escolaridade nos pais deste mesmo grupo. Conclusão: Foi possível estudar alguns dos fatores relacionados à gênese da obesidade, dentre eles a influência dos pais, o nível socioeconômico e o modo de vida de cada criança, para que assim a obesidade infantil possa ser combatida de um modo mais eficaz. Palavras-chave: obesidade infantil, fatores de risco. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde - Medicina. 1. INTRODUÇÃO A prevalência da obesidade infantil tem atingido níveis alarmantes, afetando todos os grupos socioeconômicos, tanto de países desenvolvidos como em Mário Augusto Paschoal Função autonômica cardíaca e atividade física na saúde e na doença Centro de Ciências da Vida fisioni@puc-campinas.edu.br desenvolvimento. O acometimento de população cada vez mais jovem é preocupante, pois pode preceder o aparecimento de doenças crônicas, causando aumento da morbidade na infância, com um maior risco para doenças cardiovasculares, afecções ortopédicas, respiratórias, gastrointestinais e endócrinas, além de uma baixa auto-estima [1,2]. Além disso, crianças com peso elevado têm maior chance de permanecer com excesso de peso na vida adulta, com maior risco de desenvolverem hipertensão arterial, dislipidemia, aterosclerose, diabetes tipo 2, disfunção hepática e outras comorbidades [3]. Apesar de a obesidade ser definida como um desbalanço entre a ingesta e o gasto energético [4], diversos outros fatores, como demográficos, biológicos, sociais e econômicos podem influenciar sua gênese, interferindo indiretamente na relação oferta-consumo calórico. Dentro desse contexto, e baseando-se em estudos que buscam encontrar diversos fatores de risco para obesidade infantil, o presente estudo procurou analisar, de forma conjunta, algumas variáveis biológicas, socioeconômicas e demográficas, na expectativa de que elas exibissem possíveis relações com taxas de excesso de peso em crianças e adolescentes. Assim, pode-se compreender melhor como o modo de vida pode atuar na gênese da obesidade e, desta forma, combatê-la de modo mais eficaz. 2. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Humanos da Pontifícia U- niversidade Católica de Campinas, protocolo número 700/06. 2.1 Seleção de voluntários O estudo, de caráter transversal, foi realizado em usuários dos serviços de saúde da PUC-Campinas (Enfermaria de Pediatria e Ambulatório de Pediatria) e em voluntários selecionados previamente em uma escola de Campinas. Participaram do estudo 17 crianças entre 5 e 13 anos, sendo 9 eutróficas e 8 aci-

ma do peso (sobrepeso e obesidade), assim classificadas segundo as curvas da OMS de 2007, sendo sobrepeso definido como Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior ao percentil 85, e obesidade, como IMC igual ou superior ao percentil 95. 2.2 Aplicação de questionários Um questionário foi elaborado previamente para este estudo, contendo variáveis socioeconômicas, biológicas e demográficas, sendo elas: Idade da criança; Peso, altura e Índice de Massa Corporal (IMC) da criança e dos pais; Tipo de aleitamento durante o primeiro ano de vida; Tipo de escola; Número de refeições por dia; Antecedentes familiares de doenças crônicas; Prática de atividade física; Tempo diário de exposição ao vídeo; Renda familiar per capita; Escolaridade dos pais; Naturalidade e procedência dos pais. O questionário foi aplicado, pelo aluno de Iniciação Científica, nos responsáveis pelas crianças, que concordaram em participar do projeto e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A aplicação de cada questionário durou cerca de 20 minutos. Estes foram realizados na Enfermaria de Pediatria, na sala de espera do Ambulatório de Pediatria ou na sala do grupo de pesquisa localizada no Ambulatório de Fisioterapia. 2.3 Avaliação antropométrica A avaliação antropométrica das crianças e seus responsáveis foi feita pela aferição do peso corporal e da estatura e cálculo do IMC (peso/altura²). Foram utilizadas 3 balanças diferentes para aferição do peso, segundo o local onde foi aplicado o questionário: Filizola no Ambulatório de Fisioterapia, Welmy no Ambulatório de Pediatria e Urano na Enfermaria. Para obtenção do valor da estatura utilizou-se a toesa metálica da balança Filizola e régua afixada à parede. 2.4 Análise estatística A análise estatística foi descritiva e inferencial, sendo usado o Microsoft Excel e o programa estatístico GraphPad Prism 4.0. Os dados foram apresentados por meio de boxplots nos quais se evidencia o valor de mediana, 1º e 3º quartis e valores extremos, sendo empregado o teste de Mann Whitney com nível de significância p<0,05 para o cálculo de possível diferença entre os valores dos grupos. 3. RESULTADOS 3.1 Análise de amostra Foram estudadas 17 crianças, sendo 9 eutróficas e 8 acima do peso (sobrepeso e obesidade). Das crianças eutróficas, 3 eram do sexo feminino e 6 do masculino, sendo a média de idade de 8,5 (± 1,9) anos. Entre as crianças com excesso de peso, 3 eram do sexo feminino e 5 do sexo masculino, e a média de idade foi de 9,6 (± 1,4) anos. A média de peso das crianças eutróficas foi de 28,4 kg (± 5,0), e das obesas foi de 54,9 kg (± 7,68). Com relação à estatura, a média dos eutróficos foi de 1,33 m (± 0,08), e dos obesos foi de 1,46 m (± 0,08). 3.2 Variáveis biológicas As variáveis biológicas estudadas foram: antropometria (peso corporal e estatura) das crianças e seus pais, tempo de aleitamento materno, prática de atividade física, tempo de exposição diária ao vídeo, número de refeições diárias e antecedente familiar de doenças crônicas. Comparando-se o peso e a estatura de crianças eutróficas e obesas, pode-se perceber diferenças importantes, sendo estas variáveis significativamente maiores nas crianças obesas. Com relação ao IMC dos pais de crianças eutróficas e obesas (Figura 1), observou-se que a mediana e os valores extremos do IMC de mães de filhos obesos foi maior que o de mãe de filhos eutróficos, relação esta não observada entre os pais, já que as medianas e IMC nos dois grupos de pais foram próximas. Figura 1: Valores medianos, 1 e 3 quartis e valores extremos do IMC dos pais de crianças eutróficas e de obesas.

A variável tempo de aleitamento materno não se mostrou significativamente diferente entre os obesos e eutróficos. Por outro lado, a mediana de prática de atividade física semanal foi maior em crianças eutróficas (Figura 2). Já o tempo de exposição diária ao vídeo foi similar entre os grupos de crianças, com maior dispersão dos valores documentada nos eutróficos. 3.3 Variáveis socioeconômicas As variáveis socioeconômicas estudadas foram renda familiar em salários mínimos per capita e escolaridade dos pais. Com relação à renda familiar, não houve diferença significativa entre eutróficos e obesos. Já o nível de escolaridade dos pais mostrou diferenças entre os dois grupos. Pais de filhos obesos apresentaram um nível educacional mais elevado, sendo maior a quantidade de indivíduos com ensino superior completo e incompleto e médio completo, quando comparados com pais de filhos eutróficos. Essa relação foi também observada nas mães de filhos obesos, porém não de forma tão expressiva. 3.4 Variáveis demográficas A variável demográfica estudada foi a existência de migração interestadual feita pelo pai ou pela mãe. Pode-se perceber que houve maior freqüência de migração feita pelas mães dos eutróficos e pelos pais dos obesos. Figura 2: Valores medianos, 1 e 3 quartis e valores extremos da quantidade de atividade física semanal em crianças eutróficas e em crianças obesas. Com relação a doenças crônicas (dislipidemia, hipertensão arterial e diabetes melito), obeservou-se que a freqüência destas doenças foi maior nos pais de filhos obesos (Figura 3). Entre os pais das crianças obesas, 37,5% relataram ser portadores de dislipidemia, enquanto que esse problema esteve presente em apenas 22,2% dos pais de crianças eutróficas. Com relação à hipertensão arterial, ela foi encontrada em 37,5% dos pais de crianças obesas e 22,2% dos pais de crianças eutróficas. Já o diabetes melito não foi relatado pelos pais de crianças eutróficas, estando presente em 12,5% dos pais de crianças obesas. Figura 3: Distribuição de frequência de doenças crônicas em pais de crianças eutróficas e obesas. 4. DISCUSSÃO As variáveis biológicas podem explicar como o modo de vida de cada criança age como um fator protetor ou causador de obesidade. Observando-se a relação entre a antropometria dos pais e a de seus filhos, percebe-se que a mediana e o IMC de mães de filhos eutróficos foi maior que o de mães de filhos obesos, não sendo esta relação observada nos pais. Em seu estudo dos fatores associados à obesidade, Fonseca et al [5] encontrou uma associação positiva entre obesidade dos pais e dos filhos. Segundo Rossi et al [6], a família tem um papel determinante na formação de hábitos alimentares saudáveis. Assim, não só a genética contribuiria para que pais obesos tivessem filhos obesos, como também o modo de vida e os hábitos alimentares passados dos pais para seus filhos. A relação tempo de aleitamento materno e obesidade não se mostrou estatisticamente significativa. Diversos estudos, no entanto, demonstram um efeito protetor do aleitamento materno contra a obesidade infantil [7]. Comparando-se a média de prática de atividade física semanal, observa-se que foi maior nos eutróficos. Tal fato também pode ser encontrado nos estudos de Oliveira et al [8] e Pimenta et al [9], que mostraram relação inversa entre realização de atividade física e obesidade, confirmando a importância da atividade física como recurso preventivo e terapêutico para a obesidade. Neste caso, a tendência ao sedentarismo pode ser tanto causa como consequência da obesidade. A criança tende a ficar obesa quando sedentária, e a própria obesidade poderá fazê-la ainda mais

sedentária. Assim, a inatividade física pode predispor ao ganho ponderal, assim como a obesidade pode prejudicar a prática de atividade física, já que a criança obesa geralmente é pouco hábil no esporte. Com relação ao tempo diário de exposição ao vídeo (televisão, computador, vídeo game), não foram observadas diferenças entre as crianças de ambos os grupos. Segundo a literatura, no entanto [5,9], há uma correlação positiva entre tempo destinado à televisão e porcentagem de gordura corporal, de forma que a prevalência de obesidade aumenta à medida que se aumenta o tempo de exposição ao vídeo. Isso pode ser explicado pelo fato de que o vídeo ocupa horas vagas em que a criança poderia estar realizando outras atividades. Além disso, a criança geralmente come em frente à televisão, e é persuadida a comer ainda mais por meio de propagandas que oferecem alimentos não nutritivos e muito calóricos. A comparação entre freqüência de doenças crônicas nos pais de crianças eutróficas e obesas não apontou diferenças significativas entre os dois grupos; notou-se, contudo, maior taxa de doenças crônicas nos pais de crianças obesas. A obesidade pode predispor o aparecimento de diversos tipos destas doenças. No entanto, a correlação entre esses dois aspectos ganha relevância se os pais das crianças obesas também forem ou estiverem obesos. Sendo assim, o pesquisador deve sempre estar atento a esse aspecto para poder fazer as devidas relações ou inferências. Por meio do estudo das variáveis socioeconômicas buscou-se compreender como a renda e a escolaridade podem contribuir com o ganho de peso, já que vários fatores relacionados à obesidade, como atividade física, consumo alimentar e hábitos familiares, sofrem influência dessas variáveis. A renda média foi semelhante para crianças eutróficas e obesas. Estudos de Oliveira et al [8], no entanto, encontraram uma associação positiva entre renda e obesidade, com elevadas prevalências de excesso de peso em crianças de classe socioeconômica elevada, sugerindo uma relação com acesso e hábitos alimentares. Com relação à escolaridade dos pais, observa-se um nível de escolaridade maior tanto para os pais quanto para as mães dos obesos. Estudos de Oliveira et al [8] também associaram obesidade infantil com níveis elevados de escolaridade do genitor ou genitora. Monteiro et al [10], por outro lado, evidenciaram uma mudança nos padrões de distribuição da obesidade, que em um primeiro período (1975-1989) era ascendente em todos os níveis de escolaridade, e em um segundo período (1989-1997) foi máximo para indivíduos sem escolaridade. Segundo os autores, essa tendência pode ser explicada por um maior conhecimento a respeito das conseqüências da obesidade e formas de preveni-la que teriam as pessoas com maior escolaridade. A variável demográfica estudada foi a realização de migração interestadual pelo pai ou pela mãe das crianças entrevistadas, em que se observa maior freqüência de migração realizada pelas mães dos eutróficos e pelos pais dos obesos. A migração pode atuar como um fator obesogênico na medida em que causa mudanças no ambiente e no comportamento, assim como nos hábitos alimentares de quem as pratica. Segundo Hammar et al [11], muitos estudos demonstram que os padrões de morbidade e mortalidade de populações de migrantes tendem a se deslocar em direção à população do país em que elas migraram. 5. CONCLUSÃO Pode-se concluir que a obesidade está relacionada a diversos fatores, relacionados ao âmbito socioeconômico, demográfico, ambiental e até mesmo cultural. Desta forma, para combatê-la, são necessárias medidas que atuem em todos estes setores e que forneçam, por fim, subsídios para que se tenha uma alimentação balanceada e a prática regular de exercícios físicos. Para isso, no entanto, precisa-se de novos estudos que comprovem a carga obesogênica de cada fator, para que assim se possa modificálo e combater a obesidade de um modo mais eficaz. Agradecimento: às pessoas que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento desse trabalho, e à PUC-Campinas pela bolsa FAPIC/Reitoria. REFERÊNCIAS [1] Santo, M. A.; Cecconello, I. Obesidade mórbida: controle dos riscos. Arq Gastroenterol, v. 45, n. 1, p. 1-2, 2008. [2] Must, A.; Strauss, R. S. Risk and consequences of childhood and adolescent obesity. International Journal of Obesity, v. 23, supl. 2, p. S2-S11, 1999. [3] Alves, J. G. B. ; Galé C. R.; Souza, E.; Batty, G. D. Efeito do exercício físico sobre peso corporal em crianças com excesso de peso: ensaio clínico comunitário randomizado em uma favela no Brasil. Cad. Saúde Pública (Rio de Janeiro), v. 24, n. 2, p. S353-S359, 2008.

[4] Kosti, R. I.; Panagiotakos, D. B. The epidemic of obesity in children and adolescents in the world. Cent Eur J Public Health, v. 14, p. 151-159, 2006. [5] Fonseca, V. M. ; Sichieri, R.; Veiga, G. V. Fatores associados à obesidade em adolescentes. Rev. Saúde Pública, v. 32, n. 6, 1998 [6] Rossi, A.; Moreira, E. A. M.; Rauen, M. S. Determinantes do comportamento alimentar: uma revisão com enfoque na família. Rev Nutr, v. 21, n. 6, p. 739-748, 2008. [7] Reilly, J. J. et al. Early life risk factors for obesity in childhood: cohort study. BMJ, v. 330, p. 1357-1359, 2005. [8] Oliveira, A.M.A. et al. Sobrepeso e obesidade infantil: influência de fatores biológicos e ambientais em Feira de Santana, BA. Arq Bras Endocrinol Metab, v.47 n.2 p. 144-150, 2003. [9] Pimenta, A.P.A.A.; Palma A. Perfil epidemiológico da obesidade em crianças: relação entre televisão, atividade física e obesidade. Rev. Bras. Ciên. e Mov. v. 9 n. 2 p. 19-24, 2001. [10] Monteiro, C.A.; Conde, W.L.; Castro, I.R.R. A tendêcia cambiante da relação entre escolaridade e risco de obesidade no Brasil (1975-1977). Cad Saúde Pública (Rio de Janeiro). v. 19 n. 1 p. 67-75, 2003. [11] Hammar, N. et al. Migration and differences in dietary habits a cross sectional study of Finnish tweens in Sweeden. European Journal of Clinical Nutrition. v. 63 p. 312-322, 2009.