FUTUROS PROFESSORES DESAFIOS DA FORMAÇÃO Cecília Maria Marafelli Doutoranda em Educação Pontifícia Universidade Católica PUC-Rio Este texto se propõe a analisar e trazer resultados parciais de uma pesquisa desenvolvida por grupo um grupo de pesquisas em Sociologia da Educação. O grupo iniciou uma pesquisa sobre os Cursos de Pedagogia em um projeto que se propõe a investigar as características de cursos de Pedagogia do Rio de Janeiro, focalizando as condições de formação e do desenvolvimento do trabalho discente, tendo em vista os perfis, trajetórias escolares e condições de estudo. Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado um survey, a partir da aplicação de um questionário (segue anexo) para os alunos do curso de Pedagogia de seis diferentes instituições, sendo cinco instituições no município do Rio de Janeiro e uma em outro município do Estado. Do total das seis instituições visitadas, duas eram públicas e quatro privadas e foram obtidos, ao todo, 542 respondentes. O presente trabalho é uma tentativa de análise exploratória dos dados advindos dos dois primeiros blocos desse questionário. Este é constituído de 6 blocos, totalizando 57 perguntas. Os blocos são: Trajetória escolar, Contexto escolar, Práticas de estudo, Práticas culturais/sociais, Dados sobre a residência, família e relações sociais e Situação profissional atual. O primeiro bloco de perguntas do questionário (questões 1 a 10), indagam a respeito da trajetória escolar dos estudantes, buscando informações sobre sua formação básica. Cerca de 62% dos alunos de Pedagogia respondentes fizeram o ensino básico na rede pública municipal/estadual/federal. Em torno de 1/3 dos alunos de Pedagogia fez magistério no ensino médio. Em duas instituições, além dos questionários, foram realizados relatos, por escrito, sobre os motivos da escolha por Pedagogia e em diversos desses relatos os estudantes afirmam ter escolhido Pedagogia por já terem cursado formação de professores (antigo Curso Normal) em nível médio e já atuarem como professores. A escolha desses estudantes por darem continuidade à formação docente, agora em nível superior, pode significar o esforço de profissionalização desses professores, investimento de muitas pesquisadoras da área de educação infantil, que defendem que a profissão de professor vai além do cuidado maternal que caracterizava a profissão. 4969
2 Além disso, a LDB indicou a formação em nível superior para professores de séries iniciais, logo, muitos concursos públicos passaram a exigir em seus editais a formação em nível superior, representando ainda, um ganho financeiro. Apesar de cursarem o Ensino Médio no período diurno (apenas 17,4 % cursaram no noturno) 61,1% desses alunos cursam Pedagogia no período noturno. Tal dado pode indicar a necessidade de esses estudantes escolherem estudar à noite, pela possibilidade ou mais provavelmente, necessidade de trabalhar para se manter na universidade, contribuir para a renda familiar. Ao serem perguntados sobre os motivos que influenciaram a escolha pelo curso de Pedagogia, os respondentes, podendo marcar todas as opções que o influenciaram, indicaram prioritariamente a opção já atuo ou quero atuar na área de educação, com pouco mais de 25,1% das respostas válidas, seguida da afirmativa ser/querer ser professor, 23,5% das respostas válidas. Cabe a observação de que apesar das duas opções, juntas, terem obtido cerca de 50% das respostas, temos um índice um pouco maior de respostas na opção pela atuação em área de educação e não pelo magistério propriamente. Outros 13,7% dos alunos justificaram a escolha do curso para obter o diploma de curso superior, 11,4% disseram ter escolhido o curso para ter outra opção profissional, 9,8% mencionaram a influência da família/amigos, quase o mesmo percentual 9,2% fez a opção a partir da admiração por um antigo professor, e a opção menos citada foi a menor relação candidato/vaga obtendo 7,3% das respostas válidas. A opção que fala sobre menor candidato vaga para ingresso no ensino superior aparece com apenas 14,8% das respostas, não apresentando-se como uma alternativa relevante, assim como a opção para obter diploma de curso superior, contrariando estudos que afirmam que a escolha pelo curso de Pedagogia também se dá pela facilidade de ingresso. (Saraiva e Ferenc, 2010, Nascimento e Souza, 2012) Cabe comentar que as opções obter um diploma de curso superior, para ter outra opção profissional e menor relação candidato/vaga - que não contemplam a escolha pela área da docência e/ou trabalhar na área da educação foram escolhidas por cerca de 1/3 dos respondentes. De acordo com os dados, a escolha pelo curso de Pedagogia foi a primeira opção para a grande maioria (65,7%) dos alunos respondentes. No entanto, percebemos pelas 4970
respostas daqueles que marcaram não e justificaram, que houve entendimentos diferentes para a pergunta: A escolha pelo curso de Pedagogia foi sua primeira opção? Primeira opção de carreira; primeira opção naquele ano; primeira opção de graduação? Em ordem de preferência, as áreas em que os respondentes pretendem trabalhar foram Outras áreas dentro da Pedagogia com 42,6% das respostas, seguida de Educação Infantil com 34,9% e a menos apontada foi Primeiro Segmento do Ensino Fundamental, com 22,5% do total de respostas. É interessante notar que assim como o principal motivo da escolha do curso de Pedagogia foi atuar ou querer atuar na área de educação, aqui também os estudantes, quando questionados sobre a área em que pretendem trabalhar, apontam como principal a opção Outras áreas dentro da Pedagogia. A docência não se trata mais da única opção para os estudantes que cursam Pedagogia. Além disso, menos estudantes pretendem trabalhar no Primeiro segmento do Ensino Fundamental do que na Educação Infantil. Se Pedagogia é um curso que forma professores de Ensino Fundamental, onde estão os futuros professores de 1º ao 5º ano, na medida em que cada vez menos estudantes de Pedagogia dizem querem atuar com esse segmento de ensino? O segundo bloco traz perguntas (questões do número 11 ao 21) que fazem referência ao contexto escolar do curso. Logo de início o estudante encontra a pergunta: Se você tivesse oportunidade e condições, mudaria de curso? 80,2% dos alunos respondeu que não mudaria de curso, mesmo se tivesse oportunidade e condições. Resultado que demonstra uma satisfação, ou um conformismo, dos alunos com o curso pesquisado. A hipótese de conformismo se justifica ao se levar em consideração uma das principais teses no campo da Sociologia da Educação de inspiração bourdieusiana é que as aspirações e expectativas subjetivas estão moldadas pelas condições objetivas nas quais os atores são socializados (Nogueira e Nogueira, 2015, Nogueira e Nogueira 2002). A escolha profissional de um indivíduo está alinhada a uma imagem dos estudos superiores como futuro impossível, possível ou normal e é resultado de uma adaptação dos agentes às condições sociais objetivas. 4971
4 Ao serem indagados se determinados blocos de disciplinas seriam ou não relevantes para sua formação profissional, observamos que, de forma geral, a maioria dos estudantes considera que as disciplinas Fundamentos da Educação, didáticas e metodologias, os estágios, práticas de ensino e as formações específicas bastantes relevantes, já que a soma do percentual de sempre e muitas vezes relevantes ultrapassou 90%. Esses dados corroboram as pesquisas sobre o tema que têm apontado que é a grande importância dada pelos alunos do curso de Pedagogia para as disciplinas práticas, considerando-as fundamentais em sua formação e trazendo a crítica de que o atual curso de formação de professores, no âmbito de graduação, seria fundamentalmente teórico, deixando uma lacuna na formação prática desses futuros professores. Dentro dessa mesma ideia Cruz (2009), ao analisar o referido curso, ressalta que a amplitude da formação aponta para um questionamento: que concepção teórico-prática conduzirá o curso de Pedagogia, hoje, diante da abrangência? O curso de Pedagogia, ao formar o professor, não pode abster-se de formar o pedagogo. E formar o pedagogo requer considerar essencialmente a dimensão teórico-prática da educação. Ainda segundo Cruz (op cit.), a característica fragmentária do currículo tende a gerar um processo formativo disperso, abrindo mão da necessária conexão entre a teoria e a prática, não possibilitando, tanto quanto deveria, o exercício de relacionar adequadamente as teorias estudadas com as práticas pouco conhecidas. Estamos diante do núcleo das críticas sofridas pelo curso na atualidade. Sobre os tipos de avaliação utilizados nos curso de Pedagogia 95,2% dos alunos afirmaram que Trabalhos/provas em grupos/seminários são sempre ou muitas vezes frequentes; e para 4,8% são poucas vezes frequentes. Um percentual de 76,1 % dos alunos afirmou que Trabalho/prova individual são sempre ou muito frequentes; já para 23,7% dos estudantes são poucas vezes frequentes e para 0,2% nunca são utilizadas. A participação nas aulas foi apontada por 71,7% dos alunos como sempre frequentes ou muitas vezes frequentes, para 24,6% poucas vezes frequentes e para 3,6% nunca são utilizadas. Pode-se observar a partir das respostas dadas a esta questão que as formas de avaliação coletivas são mais utilizadas pelos professores do que avaliações individuais. Este dado pode nos remeter a ao fato do curse de Pedagogia ser considerado como 4972
sendo um curso fácil, fraco, diferente de outros em que predominam avaliações individuais e estas muitas vezes são motivo de extrema preocupação por parte dos estudantes. Na questão sobre aulas de Didática e de Metodologia de ensino, os materiais concretos foram apontados por 49,2% dos alunos como poucas vezes utilizados, para 20,8% nunca utilizados. Um percentual de 21,6% afirma que são muitas vezes utilizados, e para 8,4% são sempre utilizados. Tais dados nos levam a inferir mais uma vez a dificuldade de conjugar teoria e prática mesmo em aulas de didáticas oferecendo aos alunos, futuros professores o contato com materiais concretos instrumentalizando-os para a iniciação da prática docente lúdica e contextualizada. Considerações finais Este texto buscou comentar alguns resultados iniciais da pesquisa, mas a partir dos dados analisados podemos identificar alguns dos recorrentes desafios que enfrentam os cursos de formação de professores para o Ensino Fundamental, séries iniciais e Educação Infantil. Os motivos que levam o jovem a procurar o curso de Pedagogia não os conduzem, em muitos casos, a um desejo pela docência. E ao mesmo tempo, pensando naqueles que realmente desejam ser professores, estaria o curso contribuindo de forma efetiva para sua formação, auxiliando esse futuro profissional a enfrentar os desafios reais da sala de aula? Referências Bibliográficas CRUZ, G. B da. 70 anos do curso de pedagogia no Brasil: uma análise a partir da visão de dezessete pedagogos primordiais Educ. Soc., Campinas, vol. 30, n. 109, p. 1187-1205, set./dez. 2009. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br NASCIMENTO, M. A. do E.; SOUZA, da S., FERREIRA, D. M. Análise sociológica: fatores de influência no processo de escolha pelo curso de Pedagogia da UFPE, 2012. Disponível em: https://www.ufpe.br/ce/images/graduacao_pedagogia/pdf/2012.1/. Acesso em: 6 de março de 2016. NOGUEIRA, M. A.; NOGUEIRA, C. M. A. Sociologia de Pierre Bourdieu: limites e contribuições. Educação & Sociedade, São Paulo, ano XXIII, n. 78, abril 2002. NOGUEIRA, M. A.; NOGUEIRA, C. M. M. Os Herdeiros: fundamentos para uma sociologia do ensino superior. Educ. Soc. [online]. 2015, vol.36, n.130, pp. 47-62. SARAIVA, A. C. L. C, FERENC, A. V. F. A escolha profissional do curso de Pedagogia: análise das representações sociais de discentes, Ferenc, Anped, 2010. Disponível em: http://33reuniao.anped.org.br/33encontro/app/webroot/files/file/trabalhospdf. Acesso em 03 de março de 2016. 4973