Curitiba no terreiro umbanda: Os olhos que não querem ver



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Transcrição:

Curitiba no terreiro umbanda: Os olhos que não querem ver Edvanio da Silva Pinheiro * RESUMO O presente trabalho tem como finalidade desvendar o mito e o preconceito vigente na sociedade curitibana a respeito da umbanda. Curitiba por ser colonizada por diversos povos, teve nos europeus seu foco central, alvo de uma ostensiva propaganda que anunciava a cidade como uma capital de rosto europeu, ou seja, branco. Sendo assim, haverá sim uma tentativa de ocultar tudo que não seja da cultura branca. O artigo mostrará que este rosto tem outras cores, entre eles o rosto afro-brasileiro. E uma das suas manifestações é a umbanda. Palavras-chave: Umbanda. Fenomenologia religiosa. Preconceito em Curitiba. 1 Introdução Curitiba sempre se auto-intitulou como sendo a capital de rosto europeu. Nela é possível vislumbrar as mais diferentes homenagens aos povos vindos principalmente da Europa. A arquitetura, os monumentos, parques, bosques e portais e os pontos turísticos da cidade. (...) Nestes espaços vemos uma exclusão dos pobres de forma geral e dos negros de forma singular e específica (SOUZA, 2008). Há dessa forma, a negação da presença significativa de outros rostos, sobretudo negros. Este artigo tem como intuito desvendar alguns dos mitos e preconceitos difundidos em Curitiba a respeito das manifestações religiosas afro-brasileiras. Porém, por motivo da brevidade deste artigo daremos ênfase, na umbanda em Curitiba. * Possui Licenciatura em Letras (Português/espanhol), Graduado em Teologia e Psicologia PUCPR. É Especialista em Formação Humana - IATES. E-mail: edvaniosf@hotmail.com

2 2 Umbanda, o que é? A umbanda, segundo Santos (2008, p. 3), embora tenha motriz africana nasceu no Rio de Janeiro, tendo influência do catolicismo e do kardecismo. Já Barros (2008, p. 78) dirá que primeira impressão que se tem é de uma mistura indigesta de elementos religiosos e profanos de origem européia, africanas e indígenas. O autor acrescenta que Esse sincretismo contém elementos da religião católica e do espiritismo kardecista, de cultos trazidos para o Brasil pelos escravos, além de alguns de duvidosa inspiração indígena (Id.). A professora Aureanice Corrêa, especialista em cultura afro-brasileira (SANTOS, 2008, p. 3.) afirma que: O surgimento da umbanda ocorre por insatisfação do médium Zélio em relação à prática religiosa kardecista embasada no espiritismo, que considerava inferiores entidades como os caboclos e pretos velhos. O kardecismo estava vinculado a classes sociais elevadas e cuja formação intelectual tinha sua base na sociedade européia, especialmente de origem francesa; de forte influência na cidade do Rio de Janeiro do início do século 20. Embora não haja um consenso enquanto sua verdadeira formação. Há no que diz respeito à mescla de elementos religiosos advindos de outras crenças. Talvez a dificuldade em definir tal manifestação religiosa resida no fato desta não deixar-se prender por dogmas, há nos grupos formados no Brasil uma abertura em relação ao diferente. No ambiente sagrado é comum a presença de várias imagens (inclusive de santos católicos), reza-se o pai-nosso, a ave-maria e, que ao serem invocados, as entidades baixem sobre aqueles iniciados numa forma de transe. Barros (2008, p. 78) ao descrever as celebrações afirma: O culto é composto de música e danças sagradas. Os atabaques marcam o ritmo, os médiuns cantam o ponto sob licença da mãe do pai-de-santo, dançam em roda e recebem as suas entidades espirituais, funcionando como seus cavalos e aparelhos. Além de expressarem dançando a sua energia vital (segundo a concepção dessas comunidades religiosas), como ocorre com os orixás do candomblé, os guias da umbanda, ao contrário daqueles, se apresentam para dar conselhos aos fiéis que deles se aproximam. Orientam estes e purificam-nos por meio de passes, protegendo-os de possíveis ataques místicos de que são ou poderão se tornar vítimas. 2

3 As celebrações, em si, são demonstrações concretas desta miscelânea que compõe a umbanda. Sendo assim, há uma grande quantidade de personagens que circulam estes rituais. São eles os caboclos, preto-velhos, exus, pombas-gira, crianças, boiadeiros, marinheiros, sereias, ciganos, soldados, estrangeiros (orientais), meninos de rua (exus-mirins) e outros que vão sendo agregados (id.). Porém, entre todos estes personagens há uma que se destaca, os pretos-velhos são as entidades mais carismáticas que povoam os terreiros de umbanda reconhecidos nacionalmente como espíritos de ex-escravos africanos nos anos da escravatura (ibid., p. 79). O autor descreve melhor esta entidade falando ainda que os preto-velhos são em geral portadores de tolerância e de simplicidade. São manifestados nos terreiros na pessoa dos médiuns. Os traços físicos são de um velho negro com traços paternais sentado com uma bengala na mão (id.). No imaginário popular existem outros dois personagens ou entidades que de certa forma representam o outro lado da moeda. Os Exus são segundo Barros (Ibid, p. 80) o outro lado da civilização, o lado marginal, caótico e ambíguo, aquele que deve ser eliminado, esquecido. São vistos como perigosos e maus, os representantes da esquerda. Porém, há os que defendam a idéia de que eles por estarem mais próximos do ser humano que é sucessível de erro, tenham menos atrativos positivos que outras entidades mais apreciadas. Há também as pombas-gira vistas pelos umbandistas como a mulher de Exu ou Exu-fêmea. Referemse, antes de tudo, segundo os umbandistas, aos espíritos de prostitutas, cortesãs, cafetinas, mulheres sem família e sem honra (id.). 3 O mito O discurso curitibano que afirma não ter nesta cidade a presença da cultura e religião afro-brasileira, não é só algo errôneo. Mas, é fruto de um descaso para com esta cultura e religião. Prefere esconder, ou pior não querer ver aquilo que está a um palmo de distância. O perfil da escravidão negra em Curitiba, que teve fim em 1888, é um tema que poucos alunos saberiam informar, caso fosse conteúdo de qualquer vestibular no Estado. Esta invisibilidade também se encontra na produção de conhecimento de intelectuais contemporâneos em que raramente se nota críticas sobre a invisibilidade do negro no Paraná (SOUZA, 2008). 3

4 Basta visitar alguns bairros de Curitiba e da região metropolitana para constatar tal realidade. Ou ainda, percorrer a pé o centro da cidade, onde será possível ver a quantidade de casas especializadas neste ramo. Se elas existem e resistem é porque há adeptos, há procura por produtos, ou seja, há consumo religioso, logo há uma prática ainda que muitas vezes velada por medo à intolerância daqueles que a condenam como religião satânica. Santos (2008, p. 2) estima que: Se alguém disser que Curitiba se torna, a cada dia, uma das capitais da umbanda no Brasil, pode ser que não haja necessariamente exagero na afirmação. Basta conferir os dados do Conselho Mediúnico do Brasil, entidade que congrega os terreiros de candomblé e umbanda do Paraná. De acordo com levantamentos informais realizados pela entidade, hoje há 25 mil terreiros no estado. Em Curitiba e região metropolitana, seriam 15 mil, 7 mil deles na capital. "Excetuando os de candomblé, é possível encontrar cerca de 6 mil terreiros de umbanda em Curitiba", De acordo com Souza (2008), muitas vezes assistimos uma sistemática tentativa, por parte dos meios de comunicação, de reforçar uma única identidade cultural para a cidade de Curitiba: População branca, descendente de europeu, católica, alfabetizada e urbana. 4 O preconceito O mito é fruto de um preconceito, às vezes manifesto, outras vezes recalcado. Porém, em alguns momentos essa discriminação vem à tona. E leva pessoas a cometerem barbaridades. A intolerância pode ser vista por meio de extermínios (GAZETA DO POVO ONLINE, 2007): A noite de sábado (17) terminou com muito sangue em Curitiba. Cinco pessoas foram mortas, duas delas adolescentes, e duas ficaram feridas em uma chacina em um terreiro de umbanda do bairro Fazendinha. Segundo a sala de imprensa da Polícia Militar, dois homens entraram atirando no local, por volta das 22 horas, momento em que estava sendo realizada uma reunião com cerca de 30 pessoas para planejar uma festa para a comunidade local (grifo do autor). 4

5 Atitudes como estas revelam um grande preconceito e uma brutalidade contra o diferente. Segundo Ana Carolina Bendlin e Kamila Mendes Martins (2008), o preconceito em relação aos rituais negros, como a umbanda e o candomblé, nasce no período de colonização brasileira e atinge grande parte da sociedade até hoje. As autoras ainda acrescentam que no Paraná a situação ainda é mais preocupante. Segundo o Caderno G (GAZETA DO POVO, 2008, p. 2): A imensa quantidade de terreiros em Curitiba desnuda a presença dos negros na chamada capital européia", diz Jayro Pereira de Jesus, da entidade que aglutina umbandista e praticantes de candomblé no estado. "Os terreiros revelam a contribuição do elemento negro na formação de Curitiba. Não é possível negar. Só não vê quem não quer", completa a pesquisadora Luciana de Morais, da UFPR. Sobre o mascaramento da cidade como sendo de rosto branco, Souza (2008) diz que: O planejamento urbano de Curitiba nas décadas de 1960 e 1970 corroborou com a imagem de uma cidade que deu certo, sobretudo, na década de 90, quando esta alcançou status de cidade de Primeiro Mundo, Cidade Modelo, sendo vista como Capital Européia do país. Uma das principais características desta urbanização foi a reserva dos bairros mais afastados, bem como a Região Metropolitana para os mais pobres. Ainda dentro desta perspectiva, a população de origem européia torna-se centro, isto é, a face saudável e civilizada. Ao mesmo tempo, a cidade se consagra como a de todas as gentes, uma espécie de laboratório racial modelo para o mundo. A situação da Umbanda não é das melhores (PRANDI, 2004): Fragmentada em pequenos grupos, fragilizada pela ausência de algum tipo de organização ampla, tendo que carregar o peso do preconceito racial que se transfere do negro para a cultura negra, a religião dos orixás tem poucas chances de se sair melhor na competição - desigual - com outras religiões. Silenciosamente, assistimos hoje a um verdadeiro massacre das religiões afro-brasileiras. Sem um projeto novo de expansão e de reorientação num quadro religioso que se tornou extremamente complexo e competitivo, a umbanda talvez tenha menos recursos que o candomblé para enfrentar a nova conjuntura. Como vemos, a situação cultural e religiosa afro-brasileira, não apresenta muita previsão de futuro, principalmente diante da enxurrada de outros movimentos religiosos que surgem com todo vigor, contando muitas vezes, além da organização possuem muitos casos vários recursos próprios que dão respostas para o anseio do homem pós-moderno. 5

6 5 Conclusão Diante dos dados apresentados podemos concluir, primeiramente que independente da diversidade de elementos advindos de outras religiões, não dá para diminuí-la em sua dignidade em quanto uma religião afro-brasileira. Depois, que negar a presença afro-brasileira em Curitiba além de não ser uma verdade histórica, seria uma injustiça social, haja vista que estes também ajudaram a construir esta cidade. Depois, que se há um ocultamento ou um descaso para com estes é porque realmente existe um preconceito contra tal povo, sua cultura e sua crença. Logo, se não se valoriza ou não se reconhece o valor, logo simplesmente se tentará arrancar do caderno da história, esta página indesejada. Curitiba en el ambiente umbanda: Los ojos que no quieren ver Edvanio de Silva Pinheiro RESUMEN El presente trabajo tiene como finalidad desvendar el mito y lo prejuicio vigente en la sociedad curitibana respecto a la umbanda. Curitiba por ser colonizada por diversos pueblos, tuvo en los europeos su foco central, de una ostensiva propaganda que anunciaba la ciudad como una capital de rostro europeo, es decir, blanco. Siendo así, habrá sí un intento de ocultar todo que no sea de la cultura blanca. El artículo mostrará que este rostro tiene otros colores, entre ellos el rostro afro brasileño. Y una de las sus manifestaciones es la umbanda. Palabras Claves: Umbanda. Fenomenología religiosa. Prejuicio en Curitiba. 6

7 Referências BARROS. Sulivan Charles. Significado pela dor. Sociologia. São Paulo. Ano II, n. 19, p. 77-83, out. 2008. BENDLIN, Ana Carolina; MARTINS, Kamila Mendes. Grupo quer acabar com intolerância religiosa. Gazeta do Povo. Vida e cidadania. Curitiba 13 maio 2008. GAZETA DO POVO ONLINE. Chacina em terreiro de umbanda deixa cinco mortos na Fazendinha. 18 nov. 2007. Disponível em: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/parana/conteudo.phtml?tl=1&id=714150&tit=chacinaem-centro-espirita-deixa-cinco-mortos-no-fazendinha (Acesso em 29 out. 2008) PRANDI, Reginaldo. O Brasil com axé: candomblé e umbanda no mercado religioso. Estudos avançados / Universidade de São Paulo. Instituto de Estudos Avançados, vol. 18 nº 52, set./dez. 2004 SANTOS, Marcio Renato dos. Curitiba afro-brasileira. Gazeta do Povo. Caderno G. 20 set. 2008 p. 1-3. SOUZA, Marcilene Lena Garcia de. Curitiba que poucos querem ver. Gazeta do Povo. Opinião. 17 maio 2008. 7