O PACTO PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO MÉDIO E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Lisete Funari Dias (Universidade Federal do Pampa) Maira Ferreira (Universidade Federal de Pelotas) Resumo: A presente pesquisa, um recorte de uma tese de doutorado, tem por objetivo investigar o Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio (PNEM), desenvolvido Universidade Federal do Pampa (Unipampa), como espaço para a formação continuada de professores, tendo como questão central buscar compreender como foram (são) realizadas nas escolas as ações propostas na formação continuada de professores pelo PNEM. Parte-se da hipótese que a formação continuada de professores produz mudanças na escola. A pesquisa foi realizada no curso de extensão Tertúlias Pedagógicas, desenvolvido no final do ano de 2015 na Unipampa, com a finalidade de aprofundar e dar continuidade à formação desenvolvida no PNEM, envolvendo a discussão de práticas e ações realizadas na escola, durante e após o PNEM. Considerase como material para análise os relatos de sete Orientadores de Estudo, representando cinco escolas das regiões da Campanha e Fronteira Oeste do estado do Rio Grande do Sul. Os relatos foram apresentados no curso Tertúlias Pedagógicas, sendo mediados e registrados em um diário de campo, por uma das Formadoras IES. Foi evidenciado nos relatos que, os professores tem desenvolvido protagonismo com talento e criatividade no trabalho docente e reconhecem a contribuição do PNEM em suas práticas pedagógicas, sendo algumas pertinentes com as orientações dos cadernos de formação. Com relação ao curso Tertúlias, este pode ser visto como espaço de reflexão e diálogo importante para os atores das escolas e IES, tal como propõem Gatti e Barreto (2009) quando consideram a continuidade dos cursos de formação como uma das principais premissas para que ocorra o desenvolvimento profissional. Palavras-chave: Formação Continuada. Práticas Pedagógicas. Continuidade. 1 Introdução O Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio (PNEM) é um programa de formação continuada para professores e coordenadores pedagógicos que atuam no Ensino Médio não profissionalizante nas áreas rurais e urbanas (BRASIL, 2013), sendo financiado pelo Ministério da Educação (MEC) e desenvolvido com a participação de professores das universidades. A finalidade do programa é contribuir para a formação de professores da Educação Básica, propondo (re) discutir e atualizar as práticas pedagógicas em consonância com a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional LDB (BRASIL, 1996) e as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio DCNEM (BRASIL, 2012). A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) foi uma das Instituições de Ensino Superior (IES) participantes do Programa como formadora, por meio do projeto desenvolvido na região da Campanha e Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, nos anos 9793
2 de 2014 a 2015, com duração de doze meses, em um curso de 200h (MARTINS et al, 2015). A presente pesquisa, um recorte de uma tese de doutorado, foi realizada com base no que foi relatado no curso de extensão Tertúlias Pedagógicas, ocorrido no final do ano de 2015, sobre o que tem se desenvolvido nas escolas, ao longo e a partir do PNEM. Partindo da hipótese que a formação continuada de professores produz mudanças na escola, o estudo visou investigar o papel do PNEM na formação continuada de professores, procurando por resultados que identifiquem como estão sendo realizadas, nas escolas, as ações propostas na formação continuada de professores pelo PNEM. 2 Procedimentos Metodológicos O desenvolvimento da investigação tem caráter qualitativo, exploratório e descritivo. Os dados foram obtidos em um dos encontros do curso de extensão Tertúlias Pedagógicas, realizado pela Unipampa, no final do ano de 2015, com a finalidade de aprofundamento das temáticas debatidas no PNEM e, cuja organização contemplou a divisão de cerca de oitenta Orientadores de Estudo em grupos coordenados, cada um, por um Formador da IES. Na organização das ações do curso, a tarefa de cada grupo foi a apresentação de relatos de experiência envolvendo as práticas realizadas nas escolas, ao longo e após o desenvolvimento do PNEM. Este estudo considera relatos de sete Orientadores de Estudo (OE1 a OE7), representantes de cinco escolas (E1 a E5), sobre as atividades desenvolvidas nas escolas, sendo ouvidos, mediados e registrados pela primeira autora deste trabalho, em um diário de campo. Os dados obtidos por meio de relatos dos Orientadores de Estudo foram analisados à luz de teorizações sobre formação continuada de professores na perspectiva de reconhecer o papel do PNEM nas práticas pedagógicas e, possível, mudança nas escolas. 3 Análise e Discussão dos Resultados: ações do PNEM na escola Sobre a importância da formação continuada de professores e reconceituando-a, Gatti e Barreto (2009) afirmam que pesquisas relativas à identidade profissional, propõem considerar o protagonismo do professor, que passa a ser valorizado e a ocupar o centro das atenções e intenções nos projetos de formação continuada (GATTI e BARRETO, 2009, p 202). Nessa perspectiva, também Charlot (2013) considera que na formação continuada os professores possam contribuir com seus saberes, seus valores, suas 9794
3 experiências na complexa tarefa de melhorar a qualidade social da escolarização (p. 13). Nesse sentido, o professor OE1, da escola E1, sinaliza o protagonismo dos professores reconhecendo a contribuição do PNEM nas práticas pedagógicas na sua escola, numa perspectiva de fortalecimento do que já se fazia. Ele diz ainda, que os professores consideram que deveria haver um Pacto do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, mas reconhece que as atividades sugeridas pelo PNEM tiveram efeitos também nesse nível de ensino. O protagonismo dos professores se manifesta na escola de várias formas e, nessa direção, o professor OE3, da escola E3, relata que no seu caso, sendo poeta e escritor de quatro obras literárias contendo poemas, percebeu que poderia usar seu talento como escritor em sua prática pedagógica. Ele relatou que passou a trabalhar com poemas em sala de aula e que, com essa mudança de prática, os alunos estariam escrevendo mais. De modo geral, mesmo com atividades envolvendo a realidade das escolas e a criatividade dos próprios professores, o papel renovador do PNEM nas práticas pedagógicas é referido pelos OE. Para o professor OE3, a proposta do Pacto também veio ao encontro das propostas que ele pensava em trabalhar na escola, no que diz respeito ao uso das tecnologias no ensino, pois passou a utilizar os grupos do Facebook para que os alunos socializem os resultados dos seus trabalhos. Esse depoimento remete ao que o Caderno II, da primeira etapa do Pacto, destaca quando trata o uso que os jovens podem fazer das tecnologias nas escolas, pois podemos tentar enxergar as possibilidades que, as redes sociais de internet oferecem são ambíguas, mas também potencialmente educativas (BRASIL, 2013, p.29). Considerando esses exemplos de relato indicando satisfação dos alunos e maior participação na realização das atividades, concordamos com Charlot (2013) quando refere que alguém aprende quando tem prazer no fato de aprender, sendo este um elemento fundamental da vida escolar. Outro relato, da professora OE2, escola E2, está de acordo com a ênfase do PNEM de valorização dos saberes e experiências dos professores, tanto na escolha de temas, quanto nas metodologias para o trabalho por projetos, pois a professora destaca que a escola já trabalhava com projetos interdisciplinares antes do Pacto, mas que essa prática ficou mais fortalecida. A professora relatou que no início do ano foi discutido que em todos os níveis de ensino, há alunos com necessidades especiais e, diante disso, foi definido que seria planejado um projeto interdisciplinar com foco em valores, 9795
4 respeito, acolhimento e inclusão. De acordo com o Caderno IV da primeira etapa do Pacto (BRASIL, 2013), a escola deve organizar-se para investigar e trabalhar questões que sejam relevantes para essa comunidade. Nessa mesma perspectiva, esta mesma professora relatou, ainda, o desenvolvimento do projeto Consciência Negra, realizado na escola. A professora OE4 relatou que este mesmo projeto, Consciência Negra, foi desenvolvido na escola E3, considerando que as atividades planejadas foram importantes porque possibilitaram trabalhar os sentimentos dos alunos na discussão sobre o respeito à diversidade. A ênfase do trabalho por projetos, envolvendo a diversidade e inclusão, descritos pelas duas professoras, busca desenvolver, conforme LDB (BRASIL, 1996), valores de solidariedade humana, consciência e respeito à diversidade, em um trabalho voltado para a formação da cidadania. Para Charlot (2013), a cidadania requer a instrução do povo, em escolas públicas, relacionando-a ao respeito às diferenças, Muitas ações, especialmente os projetos de ensino, ocorreram no âmbito dos Seminários Integrados. Um exemplo disso foi relatado pelo professor OE7, da escola E5, sobre o tema Trabalho e Profissões, desenvolvido nos Seminários Integrados em 2015. O trabalho foi considerado como princípio educativo básico do Ensino Médio nas novas DCNEM e o tema é apresentado no Caderno II da primeira etapa do Pacto, na perspectiva de refletir sobre o papel do trabalho e da escolha da profissão para os jovens que frequentam o Ensino Médio, afirmando que: [...]é especialmente na adolescência que o sujeito começa a se perguntar que rumo tomar na vida (BRASIL, 2013, p.31). A professora OE5, da escola E4, acredita que o desenvolvimento das ações do Pacto, possibilitou aos professores trabalharem mais com a pesquisa e interdisciplinarmente, apontando também que os alunos estão fazendo mais pesquisa e sendo mais produtivos. Na mesma escola, a professora OE6, destaca que está percebendo que os professores estão mais dispostos a pensar suas práticas pedagógicas. Para a professora OE4, da escola E3, os professores que participaram do PNEM estariam fazendo um trabalho diferenciado, no entanto, afirma que eles ainda não têm o hábito de fazer registros das atividades realizadas, mostrando que, talvez, o Pacto tenha contribuído para o desenvolvimento de novas práticas, mas ainda não foi suficiente para que os professores falem, escrevam, socializem e argumentem em favor das experiências e práticas que realizam. 9796
5 4 Considerações finais Os resultados da pesquisa permitiram considerar o PNEM como política pública de formação continuada de professores capaz de validar e reforçar práticas que já vinham ocorrendo na escola, bem como incentivar os professores para o desenvolvimento de outras práticas. Sendo assim, é possível apontar que o PNEM teve efeitos nas práticas pedagógicas e na escola, respeitando as experiências dos professores. Quanto ao curso Tertúlias, entende-se sua importância por possibilitar aprofundar os temas debatidos no PNEM e avaliar sua efetividade, representando um encontro para o diálogo e reflexão sobre as práticas realizadas nas escolas. Na concepção de desenvolvimento profissional docente, Gatti e Barreto (2009) consideram como premissa, a continuidade das ações de formação continuada, o que é possível reconhecer na proposta do curso Tertúlias, caracterizando-se como espaço de reflexão sobre as práticas, em diálogo e parceria com atores de outras instituições. Referências BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Portaria nº 1140 de 22 de novembro de 2013, institui o Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/portal-do-professoreducacao-basica-nova pdf&itemid=30192>. Acesso em: 2 jun. 2014.. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno IV. Curitiba: UFPR, 2013. Disponível em: <http://pnem.fe.unb.br/publicacoes/cadernos-do-pnem>. Acesso em: 2 nov. 2014.. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa II- caderno II. Curitiba: UFPR, 2013. Disponível em: <http://pnem.fe.unb.br/publicacoes/cadernos-do-pnem>. Acesso em: 2 nov. 2014.. Ministério da Educação e Cultura. Resolução nº 2 de 30 de janeiro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Disponível em: <http://educacaointegral.mec.gov.br/images/pdf/res_ceb_2_30012012.pdf>. Acesso em: 2 nov. 2014.. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 3 nov. 2015. CHARLOT, B. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez. 2013. GATTI, B.A.; BARRETO, E. S.. Professores do Brasil: impasses e desafios / Coordenado por Bernadete Angelina Gatti e Elba Siqueira de Sá Barreto. Brasília: UNESCO, 2009. 294 p. MARTINS, C; BICA, A.; MARINHO, J; PESSANO, E. Pactuando Conhecimento e Experiências na 13ª CRE / Volume 3 /. Bagé: Fundação Universidade Federal do Pampa / Gráfica Erechim, RS, 2015. 9797