ACÓRDÃO Registro: 2013.0000521113 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0036314-91.2013.8.26.0000, da Comarca de Santa Branca, em que é agravante HSBC BANK BRASIL S/A BANCO MULTIPLO, são agravados WIREX CABLE S A (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL), WIREX CONDUTORES DO BRASIL S A (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) e EMPASE EMPREENDIMENTOS PARTICIPAÇAO IMPORTAÇOES E EXPORTAÇOES LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL). ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por maioria de votos, deram provimento ao recurso, vencida a relatora, que a ele negava provimento. Acórdão com o 2 º juiz. Declarará voto o 3º juiz.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ REYNALDO (Presidente sem voto), TASSO DUARTE DE MELO, vencedor, LIGIA ARAÚJO BISOGNI, vencida e ALEXANDRE LAZZARINI. São Paulo, 19 de agosto de 2013. Tasso Duarte de Melo RELATOR DESIGNADO Assinatura Eletrônica
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0036314-91.2013.8.26.0000 COMARCA: SANTA BRANCA AGRAVANTE: HSBC BANK BRASIL S/A BANCO MÚLTIPLO AGRAVADAS: WIREX CABLE S/A E OUTRAS (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) V O T O Nº 11541 RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Cláusula de extensão dos efeitos da recuperação aos devedores solidários, avalistas e demais garantidores da dívida. Ineficácia em face do credor que se insurgiu expressamente contra a aprovação do plano ou apenas desta cláusula. Prevalência do art. 49, 1º, da Lei nº 11.101/2005. Precedente desta Câmara. Decisão reformada. Recurso provido. Trata-se de agravo de instrumento interposto por HSBC Bank Brasil S/A Banco Múltiplo contra a r. decisão copiada às fls. 256, que concedeu a recuperação judicial às sociedades empresárias Wirex Cable S/A e Outras. Sustenta o banco Agravante a ineficácia da cláusula nº 7 do plano de recuperação, que prevê a extensão dos efeitos da novação aos coobrigados, solidários, fiadores e avalistas, por violar os arts. 49 e 59 da Lei nº 11.101/2005. Indeferido pela Relatora sorteada o requerimento de atribuição de efeito suspensivo ao recurso (fls. 291/292). Respostas ao recurso às fls. 303/306 (administrador judicial) e 308/317 (Agravadas). Parecer da Procuradoria de Justiça pelo parcial provimento do recurso (fls. 319/324). É o relatório. O recurso comporta provimento.
Nas Disposições Finais do Plano de Recuperação constou, expressamente: Enquanto estiverem sendo cumpridas as obrigações previstas no presente Plano de Recuperação Judicial, deverão ser suspensas todas as ações e execuções movidas contra as Recuperandas, acionistas, quotistas, fiadores, avalistas e coobrigados decorrentes das dívidas sujeitas aos efeitos da Recuperação Judicial (fls.107). recuperação, Registre-se que o Agravante votou pela rejeição do plano de com ressalva e reserva de direitos acerca da ilegalidade de cláusulas que tratem de (...) suspensão de ações e/ou novação de dívidas contra garantidores, avalistas, fiadores ou coobrigados a qualquer título (fls. 283). A discussão posta é no sentido de perquirir, na espécie, o alcance da norma do art. 49, 1º, da Lei nº 11.101/2005 ao Agravante, considerando que ele votou pela rejeição do Plano de Recuperação e, em especial, da cláusula que determina a suspensão das ações e execuções em face dos devedores solidários. A questão não é nova e os precedentes desta Corte são no sentido da ineficácia da referida cláusula em face do credor que se insurgiu expressamente contra a aprovação do plano ou apenas dessa cláusula, com a prevalência do disposto no 1º do art. 49 da Lei de Falências. Nesse sentido, já decidiu esta C. Câmara Reservada de Direito Empresarial: Recuperação Judicial. Reserva manifestada pelo credoragravante em Assembleia Geral de Credores (AGC) quanto a cláusula de extensão dos efeitos da recuperação aos devedores solidários, avalistas e demais garantidores da dívida. Matéria não impugnada pelo recorrente, e que não será objeto de apreciação pela Câmara. Precedentes jurisprudenciais da extinta Câmara Reservada de Falência e Recuperação deste Tribunal que, a despeito da previsão do 1º do artigo 49 da Lei nº 11.101/05, reconhecem a possibilidade de disposição de direitos, que não alcança, contudo, o credor que não aderiu a cláusula de disposição inserida no Plano. Agravo de instrumento desprovido. (A.I. 0119370-56.2012.8.26.0000, Rel. José
Reynaldo, j. 08/04/2013) Por ser assim, de rigor a reforma da r. decisão agravada, para declarar a ineficácia da referida cláusula em face do Agravante. Diante do exposto, dá-se provimento ao recurso, com a reforma da r. decisão agravada, para declarar a ineficácia da cláusula nº 7 do Plano de Recuperação Judicial das empresas Agravadas em face do Agravante. TASSO DUARTE DE MELO Relator designado
Voto nº 8353 Agravo de Instrumento nº 0036314-91.2013.8.26.0000 Comarca: Santa Branca (Vara Única) Juiz(a): Adriana Vicentin Pezzatti de Carvalho Agravante: HSBC Bank Brasil S/A Banco Multiplo Agravados: Wirex Cable S A, Wirex Condutores do Brasil S A e Empase Empreendimentos Participaçao Importaçoes e Exportaçoes Ltda DECLARAÇÃO DE VOTO 3º Juiz I) Agravo de instrumento contra r. decisão (fl. 256; fl. 3905 dos autos principais) concessiva da recuperação judicial em favor das agravadas, nos termos do art. 58 da Lei n. 11.101/05. O recurso insurge-se contra a admissão de cláusula constante no plano de recuperação judicial que estipulou a suspensão de todas as ações e execuções movidas contra as recuperandas, acionaistas, quotistas, fiadores, avalistas e coobrigados decorrentes das dívidas sujeitas aos efeitos da recuperação judicial (fl. 107), sendo que uma vez quitada a dívida em relação as recuperandas, tal quitação atinge as demais pessoas indicadas. II) Como apontado pelo Exmo. Sr. Desembargador 2º Juiz o agravante apresentou objeção ao plano de recuperação e, ainda, insurgiu-se em assembléia de credores, quanto tal cláusula (fl. 243). III) Respeitado o entendimento da Exma. Sra. Desembargadora Relatora, não é o caso de se admitir o alcance dos efeitos da recuperação judicial àqueles não sujeitos a ela, como os garantidores, razão pela qual deve ser provido o recurso, como proposto pelo Exmo. Sr. Desembargador 2ºJuiz. IV) Posiciono-me nesse sentido de longa data, como é possível verificar em antiga recuperação judicial com andamento na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo (Proc. n. 583.00.2007.233842-0, sentença concessiva da recuperação judicial de 20/6/2008).
No A.I. n. 7.399.616-4 (desta relatoria, j. 6/10/2009, 18ª Câmara de Direito Privado) mantive tal orientação, conforme ementa: Recuperação judicial. Plano aprovado. Extensão de seus efeitos aos coobrigados (sócios). Impossibilidade sem a concordância expressa do credor. Lei n. 11.101/05 (art. 49, 1º). Prosseguimento da execução individual em relação aos coobrigados. Precedentes das Câmaras de Direito Privado Comuns e Especial de Falências e Recuperações Judiciais. Recurso não provido. n. 11.101/05, que tem a seguinte redação: IV.1) A questão apresentada decorre do disposto no art. 49, 1º, da Lei Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. 1º. Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso. O art. 52, em seu inciso III, da mesma Lei n. 11.101/05, dispõe: Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:... III- ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos 1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos 3º e 4º do art. 49 desta Lei;.
Também, o art. 59 da Lei n. 11.101/05, determina: Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto n. 1º do art. 50 desta Lei. E, dispõe o art. 50, 1º, da Lei n. 11.101/05: Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros:... 1º. Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia. A respeito, Manoel Justino Bezerra Filho (Lei de Recuperação de Empresas e Falências Comentada, 5ª ed., RT, 2008, p. 146) escreve: O credor com garantia de terceiro (v.g., aval, fiança etc.), mesmo sujeitando-se aos efeitos da recuperação, pode executar o garantidor. Ressalva referido autor que em relação a esses garantidores, a exigibilidade só ocorre no vencimento normal da obrigação. Ainda na doutrina veja-se: Jorge Lobo (Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência, vários autores, coord. Paulo F.C. Salles de Toledo e Carlos Henrique Abrão, 2ª ed., Saraiva, 2007, p. 136), Julio Kahan Mandel (Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas, Saraiva, 2005, p. 102), Manoel Alonso (Comentários à Nova Lei de Recuperação de Empresas e de Falências, vários autores, coord. Newton de
Lucca e Adalberto Simão Filho, Quartier Latin, 2005, p. 233) e Rachel Sztajn (Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência, vários autores, coord. Francisco Satiro de Souza Junior e Antonio Sergio A. De Moraes Pitombo, 2ª ed., RT, 2007, pp. 228/229). Ora, para o plano de recuperação judicial atingir as garantias impõe-se a concordância de quem recebe a garantia, que no caso, não existe. IV.2) Nesse diapasão, conveniente destacar o seguinte trecho do acórdão proferido no A.I. n. 0529566-88.2010.8.26.0000 (rel. Des. Sérgio Shimura, j. 02/2/2011, 23ª Câmara de Direito Privado): Significa dizer que a linha principiológica que norteia a recuperação judicial é a superação da situação de crise econômico-financeira da própria empresa devedora, justamente para que se mantenham a fonte produtora, emprego e a sua atividade econômica - e não dos eventuais garantidores - como se infere do art. 47, Lei n 11.101/2005. Em terceiro lugar, é importante lembrar que a novação legal resulta do plano de recuperação judicial (art. 59, Lei n 11.101/2005) que, se descumprido, autoriza o pedido de falência do devedor (art. 61). Ora, como se pode pensar na eventual falência do avalista, pessoa física? Mesmo que se pudesse falar em novação (consensual do Código Civil), o art. 364, Código Civil, diz que a novação extingue os acessórios e garantias da dívida. Portanto, é desarrazoado supor que, com a recuperação judicial, o avalista fique desonerado da obrigação de garantir!!! Ademais, se a execução ficasse suspensa também contra o avalista, este teria de se sujeitar ao plano de recuperação judicial. Ora, em momento algum há previsão de inclusão ou espaço para incluir os credores do avalista no plano de recuperação judicial!! Qual seria a classe do credor do avalista, para votar em assembléia geral (art. 41, Lei n 11.101/2005)!!?? Por acaso, deferindo-se a recuperação judicial, o
avalista responderia por crime (por ex.: contabilidade paralela, desvio de bens, exercício ilegal de atividade etc, previstos nos arts. 168/178, Lei n 11.101/2005)?? Todas essas situações indicam que a recuperação judicial encerra favor exclusivo da empresa devedora, jamais dos coobrigados, fiadores ou avalistas. Por conseguinte, também não há que se falar, no caso, de aplicação da regra disposta no artigo 6º, caput, da Lei nº 11.101/05 ( a decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário ). Isso porque, ao falar em sócio solidário, a Lei Falimentar não se refere àquele que simplesmente figura como litisconsorte passivo nas ações de execução movidas contra a pessoa jurídica, mas sim ao sócio com responsabilidade solidária e ilimitada face ao patrimônio social, por força do contrato social, tal como ocorre nas sociedades em nome coletivo (art. 1.039, CC) e na sociedade em comandita simples com relação aos sócios comanditados (art. 1.045, CC), o que não é o caso do agravante frente à empresa recuperanda, que é constituída sob a forma de sociedade limitada (Boainain Indústria e Comércio Ltda.). Nesse interim, não se pode deixar de ressaltar, também, que o art. 190, da Lei de Falências, é expresso ao dispor que todas as vezes que esta Lei se referir a devedor ou falido, compreender-se-á que a disposição também se aplica aos sócios ilimitadamente responsáveis (g.n.). Tanto é, que o art. 81, caput, da Lei nº 11.101/05, dispõe que a decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes. Portanto, em se tratando de sócio de responsabilidade limitada, em cujo patrimônio pessoal não podem incidir os credores da pessoa jurídica, razão não há para se determinar a suspensão das execuções contra aquele movidas. Tecendo comentários ao referido artigo 190, da Lei nº 11.101/05, aliás,
ensina Manoel Justino Bezerra Filho: A grande maioria das sociedades hoje existentes são ou limitada (arts. 1.052 a 1.087 do Código Civil), ou sociedade anônima (Lei 6.404/76, mantida sua regência integral pelo art. 1.089 do Código Civil). No entanto, o Código Civil prevê a formação de sociedades com responsabilidade ilimitada dos sócios, na prática quase inexistentes ou melhor, existentes em pequeno número: sociedade em nome coletivo, com responsabilidade solidária e ilimitada de todos os sócios (art. 1.039); sociedade em comandita simples, também com tal tipo de responsabilidade para os sócios comanditados (art. 1.045), para cujas pessoas físicas aplica-se o disposto neste artigo. (Nova Lei de Recuperação e Falências Comentada, 3ª ed., Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 396). A respeito do tema, ainda, veja-se o A.I. n. 0052685-77.2006.8.26.0000 (rel. Des. Ricardo Negrão, j. 21/02/2006, 19ª Câmara de Direito Privado): SUSPENSÃO DO PROCESSO - Ação de execução - Superveniente processamento de recuperação judicial - Suspensão do feito em relação à companhia aérea e aos sócios avalistas do titulo executivo - Indeferimento - Legitimidade - Hipótese em que a sociedade é do tipo anônima - Subsidiariedade e limitação da responsabilidade dos sócios - Desnecessidade de preservação de seus bens particulares para salvaguarda dos direitos dos credores da sociedade empresária - Inteligência do art. 6º da Lei 11.101/05 - Recurso improvido. V) Com essas breves considerações acompanho o voto do Exmo. Sr. Desembargador 2º Juiz, para dar provimento ao agravo de instrumento para, também, declarar a ineficácia da cláusula objeto do plano de recuperação judicial que afastou o seu direito de
executar ou cobrar os garantidores das empresas em recuperação judicial. ALEXANDRE LAZZARINI 3º Juiz (assinatura eletrônica)
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