Cidade Muçulmana. Antonio Castelnou

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Transcrição:

Cidade Muçulmana Antonio Castelnou

Introdução Desde finais do século II d.c., Roma vinha perdendo seu caráter de capital única, já que os tetrarcas, que compartilhavam a administração imperial com Diocleciano (245-305), residiam em outras cidades espalhadas pelo Império. Em 313 d.c., o IMPÉRIO ROMANO acabou sendo dividido em dois: o Ocidental, cuja capital passou a ser Ravenna; e o Oriental, liderado por Bizâncio (cidade mais tarde rebatizada como Constantinopla e hoje Istambul).

Cidade de Ravenna (Emília-Romgna, Itália) N 1 3 2 4 RAVENNA era uma cidade romana secundária, fundada entre os pântanos da Costa Adriática e transformada na nova capital ocidental em 402 d.c. por Flávio Honório (384-423), filho de Teodósio I. Mais tarde, tornou-se a capital do reino ostrogodo e das províncias bizantinas da Itália. 1 Ig. San Vitale 3 Battistero 2 Mausoleo di 4 Ig. Apollinare Galla Placidia Nuova

Hoje um centro industrial italiano em ascensão, RAVENNA encontrou seu apogeu entre os séculos V e VI d.c., vinculando-se à sorte do domínio bizantino. Seus palácios reais e imperiais desapareceram, mas sobreviveram as igrejas bizantinas, cujos exteriores carecem de ornamentação, mas os interiores são ricamente revestidos em mármore. Chiesa di San Vitale (526/47 dc, Ravenna Itália)

Cidade de Bizâncio (depois Constantinopla) BIZÂNCIO era uma das cidades coloniais gregas mais importantes e ricas, fundada pelo explorador Bizas em cerca de 667 a.c. numa localização estratégica no estreito de Bósforo, na passagem entre os mares Negro e de Mármara, que se ligava ao Mediterrâneo e garantia sua expansão até virar uma cidadeestado independente. Império Bizantino

Constantinopla Passou a ser chamada de CONSTANTINOPLA quando, entre 324 e 330, Constantino fez várias intervenções para transformá-la na Nova Roma, como a ampliação dos muros, a abertura de um novo fórum e a reorganização da acrópole, do palácio imperial e do hipódromo. Seu sucessor Teodósio I continuou os trabalhos até o século IV.

Apesar da queda do IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE, em 476 d.c., Constantinopla permaneceu como centro político e econômico do Oriente, alcançando seu ápice no século VI d.c. com Justiniano I (483-565), que levou o poder bizantino à sua maior extensão, incluindo Síria, Palestina, Ásia Menor, Grécia, Bálcãs, Itália, sul da Espanha e territórios do norte da África. Hagia Sofia (537/8, Istambul Turquia)

Atual cidade de Istambul (Turquia, Ásia Menor) Aprimorada e embelezada por cerca de 1000 anos, Constantinopla foi sempre cercada de inimigos, tendo sido sitiada por eslavos, árabes, búlgaros, persas e russos, caindo finalmente para os otomanos (turcos) em 1453 d.c., quando passou a se chamar ISTAMBUL. Vista geral com a Mesquita Azul (1609/16, Istambul Turquia)

Islamismo Movimento político-religioso referente ao ISLÃ (do ár. Islam; obediência a Deus), isto é, à doutrina muçulmana fundada no século VII d.c., na Arábia, por Maomé (c.570-632), Profeta que recebeu de Deus (Alá) a revelação corânica. A tradição islâmica (sunna) baseia-se no livro sagrado do ALCORÃO e na tradição do Profeta (hadith), que prega a existência de um Deus único, ser supremo e infinitamente perfeito, criador do universo e juiz soberano dos homens.

A RELIGIÃO MUÇULMANA fundamenta-se em 05 (cinco) atos essenciais ou pilares do Islã: 1. A profissão de fé (Chahada), que testemunha a crença em Alá e em seu Profeta Muhammad 2. A prece legal (Salaat), que exige o cumprimento 05 vezes ao dia de um conjunto de invocações e prostrações normativas à Meca; 3. O jejum diurno (Ramadã), que deve ser rigorosamente praticado no mês referido; 4. A peregrinação à Meca (Hadjdj) que deve ser feita pelo menos uma vez na vida; 5. O pagamento da esmola legal (Zakat), o que caiu em desuso. Burqa Salaat

Com o progressivo esfacelamento do poderio romano na Europa e o início da Idade Média, a unidade do mundo mediterrânico acabou sendo interrompida, o que possibilitou a expansão da CIVILIZAÇÃO ISLÂMICA, a qual conquistou novos territórios através da guerra santa (Jihad). Meca

Mapa Os árabes invadiram as costas do mar Mediterrâneo a partir da segunda metade do século VII d.c. e apoderaram-se de várias áreas urbanizadas do Oriente helenístico, tais como Alexandria, Antioquia, Tesifo, Damascus e Jerusalém, entre outras cidades. Cidade de Damascus (Síria, Oriente Médio)

Cidade de Fez (Marrocos, África) DAMASCUS, situada na atual Síria, foi a primeira capital dos califas Omíadas, de 660 a 750, em cujo recinto sagrado foi construída a primeira mesquita do Islão. Mais tarde, com a conquista de mais territórios, os árabes preferiram fundar novas cidades, como: Kairouan (Tunísia, 670) Xiraz (Pérsia, 674) Bagdá (Iraque, 762) Fez (Marrocos, 808) Fustat (atual Cairo, 969)

Grande Mesquita de Qayrawan (836/75) Kairouan Cidade de Qayrawan ou Kairouan (Tunísia, África)

Palermo Palazzo della Cuba (1180, Palermo It.) Na Espanha, a partir de 711, e na Sicília, em 827, os muçulmanos escolheram como capitais cidades romanas secundárias respectivamente, CÓRDOBA e PALERMO e a transformaram em grandes e populosas metrópoles islâmicas.

Mesquita de Qarawiyyin (859/1135, Fez Marrocos) As MESQUITAS (mezquitas) constituem-se em locais de culto muçulmano compostos por um pátio porticado (sahn), em cujo centro se encontra a fonte para as abluções, ligado a uma área coberta onde os fiéis rezam isoladamente. O santuário coberto orienta seu lado principal e sacro (qibla) para MECA, cujo centro é marcado por um nicho emoldurado (mihrab), ladeado por um púlpito triangular (minbar).

Grande Mesquita (836/75, Qayrawan Tunísia) mihrab sahn N mihrab minarete minbar qibla

Grande Mesquita (848/61, Samarra Iraque) As MESQUITAS diferenciam-se tanto dos templos pagãos (edifícios fechados ao público, que se olham do lado de fora) como das igrejas cristãs (espaços fechados unitários, onde todos os fiéis participam de uma cerimônia coletiva).

Grande Mesquita da Caaba (Meca, Arábia Saudita) Mesquita de Ibn-Tulun (Séc. VIII dc, Cairo Egito) Minarete da Kotobiya (Séc. XII, Marrakesh Marrocos) Mesquita de Mihrimah (Séc. XVI, Istambul Turquia)

O principal santuário islâmico é a CAABA (Ka bah), em Meca (Makka); um templo cúbico de 10 x 12 m e altura de 15 m que se considera erguido por Abraão para venerar a pedra negra. Instituído por Maomé, que destruiu os seus ídolos e aí fundou o culto monoteísta depois da Hégira, é o centro sagrado para o qual todos os fiéis devem olhar no momento da oração, orientando assim a parede principal (qibla) das mesquitas. Cerimônia do Hadjdj (Grande Mesquita de Meca AS)