PARA ALÉM DA SAUDADE SEXUALIDADE, GÊNERO E CORPORALIDADE EM BAILES PARA A TERCEIRA IDADE EM GOIÂNIA

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Transcrição:

PARA ALÉM DA SAUDADE SEXUALIDADE, GÊNERO E CORPORALIDADE EM BAILES PARA A TERCEIRA IDADE EM GOIÂNIA Rayza Dantas de Paula 1 Resumo 2 Estudos contemporâneos apontam que a dança, por seu caráter lúdico, ajuda a prevenir a depressão entre as pessoas da chamada terceira idade. Este projeto tem como objetivo ampliar as discussões sobre essas experiências, a partir de um olhar antropológico. Assim, toma como objeto empírico a sociabilidade nas casas de dança para a terceira idade em Goiânia, buscando entender como os freqüentadores dão sentido à dança, sua relação com o corpo, o gênero e a sexualidade. Tal pesquisa tem caráter etnográfico, lançando mão da observação participante, além de entrevistas e conversas informais nesses espaços. O referencial analítico e interpretativo vem das abordagens antropológicas sobre corpo, geração, gênero e sexualidade. Palavras-chave: envelhecimento, corpo, antropologia, gênero, sexualidade 1. Introdução Refletir sobre a chamada terceira idade é o ponto de partida para este projeto. Essa expressão 3 decorre de mudanças sobre as formas de gestão da velhice, sendo importante reconhecer a contribuição dada pela antropologia para se refletir e escrever sobre o processo do envelhecimento dos variados grupos sociais. Para Guita Debert (1997), o tema da terceira idade traz para a atualidade a discussão sobre os novos espaços de sociabilidade (por exemplo, grupos de convivência, universidade para a terceira idade, etc.) como supostos meios e efeitos de retirar a imagem culturalmente construída de indivíduos desprezados com uma ausência de papeis sociais (Debert, 1997 p. 07). 1 Graduanda do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás. Endereço eletrônico: rayzasun@gmail.com 2 Trabalho desenvolvido sob orientação do Prof. Dr. Camilo Albuquerque de Braz (Faculdade de Ciências Sociais/UFG). 3 A autora Simone de Beauvoir, que na década de 1970 publica o seu livro A velhice com um caráter sócio antropológico e filosófico, traz em seu discurso preocupações sobre a representação da velhice e acaba antecipando já na época as mudanças de atitude com a chamada terceira idade, caracterizando a velhice não somente com uma condição biológica como também uma instituição social.

Caminhamos para um velho Brasil? Certamente. Há pouco mais de duas décadas, variados estudos demográficos apresentam tal expectativa pelo aumento da população idosa sobre os outros grupos etários, além da alta queda das taxas de fecundidade. 4 Márcia Pimenta Faria (2010) aponta que a preocupação com o envelhecimento do país começou primeiramente com a percepção dessa queda das taxas de natalidade a partir dos anos 1970 e 1980. 5 Assim, temos que nosso país está começando a envelhecer, e esse fato vem se destacando em novas formas de políticas sociais e discussões a respeito desse tema. Laís Lima (2010) fala sobre os aspectos positivos e deficientes das políticas criadas no início da década de 1970 para os idosos, apresentando o fato de que mesmo com todo o percurso histórico já realizado em políticas públicas para o idoso no Brasil (criação de leis, normas para o bem estar do idoso), tais ferramentas, discussões precisam ainda ser feitas com maior assiduidade e transparência ou fiscalização do governo, para que assim a população possa ter uma ação mais participativa em relação à elaboração e criação de novos programas sociais para a população idosa (LIMA, 2010, p. 5). Seguindo as idéias de Guita Debert (1997), as mudanças ocorridas em torno da velhice ressignificaram e legitimaram um conjunto de direitos que hoje se manifestam na busca pelo lazer, nos bailes, nas ginásticas, na continuidade da qualidade de vida para as pessoas mais velhas. Entretanto, a luta entre conceitos e pré-conceitos sobre o idoso ainda não se findou. Se os idosos no âmbito familiar e social antes eram vistos apenas com o status de gozadores de uma aposentadoria, sendo levados a se sentirem rejeitados, desnecessários e reduzidos, encontram-se agora integrados a realizações e recompensas para a plenitude de suas identidades, por meio do respeito pelo maior 4 Como estima o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o censo Brasileiro de 2010 deverá mostrar um país com mais idosos e uma taxa menor de natalidade. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/04/29/populacao-idosa-no-brasil-cresce-e-diminuinumero-de-jovens-revela-censo>, acesso em: 19/06/2011. 5 Na década de 1970, iniciou-se a busca e o objetivo de se ter uma política nacional para promover uma imagem positiva do idoso e auxiliar as famílias a permanecerem com os seus velhos, por meio da criação de normas e diretrizes governamentais, tais como a Reforma previdenciária em 1977 e o Conselho Nacional do Idoso, em 1994. Como resultado, criou-se o Estatuto do Idoso em 1º de Outubro de 2003, a partir da Lei N.10.741, que busca garantir maiores direitos às pessoas com idade superior a 60 anos.

tempo livre para si e para se relacionar. Debert possibilita uma discussão e interpretação dessa reinvenção da velhice e reprivatização do envelhecimento. À luz dessas discussões, este projeto foca nas casas de dança para a terceira idade em Goiânia, buscando, a partir de um olhar antropológico, entender os sentidos que seus freqüentadores dão à dança, ao corpo, ao gênero e à sexualidade. Tenho especial interesse pelo desenvolvimento das relações afetivas e amorosas entre tais sujeitos. Meu intuito é o de interpretar a possível ressignificação do envelhecimento como uma etapa da vida assexuada, num contexto em que o corpo e a sexualidade, especialmente na terceira idade, vêm sendo cada vez mais medicalizados (Russo at all, 2009). Partindo desse ponto de vista, o interesse no corpo vai além do fator meramente biológico 6, percorrendo tramas de significados, práticas e visões de mundo. 2. Aproximações com o campo: dança e envelhecimento Segundo Robatto (1994), a dança tem muitas funções e um caráter sociabilizador, de comunicação, prazer, diversão e revitalização, sendo uma prática que desperta e desenvolve sentimentos e capacidades. Já Regina Simões (1998), ao analisar a busca pelas atividades físicas e ginásticas na terceira idade, parte dos discursos dos próprios idosos sobre seus corpos. O corpo comunica-se por gestos e expressões, como uma parte ou pelo todo, com ou sem intenção, expressa emoções, sensibilidade, sexualidade entre outras manifestações (SIMÕES, 1998 p.62). Nesse sentido, cabe indagar: qual a importância e significado da dança e suas relações com o corpo, o gênero e a sexualidade, no contexto que pretendo estudar? É importante também questionar sobre a existência de estereótipos sobre o corpo idoso, bem como sobre o envelhecimento enquanto uma etapa assexuada. Nesse sentido, Guacira Lopes Louro (2000) destaca que a sexualidade, antes tratada como um assunto privado, sem nenhuma dimensão social, é tomada 6 Já Marcel Mauss fazia uma discussão clássica sobre as técnicas corporais, as maneiras que os homens sabem servir-se de seus corpos (MAUSS, 2003, p. 211), compreendendo que toda atitude corporal é efeito de uma educação, de um aprendizado, de uma técnica, percebendo que cada sociedade tem seus hábitos que lhe são próprios.

atualmente como uma questão política e pública, sendo ainda regulada, condenada ou negada. Ela compreende que as transformações sociais cada vez mais constroem novas formas de relacionamentos e de vida, juntamente com as tecnologias reprodutivas e de consumo, alterando as formas de gerar, de nascer, de crescer, de amar ou de morrer (LOURO, 2000, p. 2). Seguindo essas ideias, somos levados a afirmar o corpo como construção cultural. Se ele só ganha sentido na cultura, as possibilidades de expressar seus prazeres e desejos também são socialmente estabelecidas. A chamada medicalização da sexualidade, surgida no século XIX na Europa, envolveu um processo de controle social, produção de identidades e de novas formas de subjetividade, tendo como base as práticas afetivo-sexuais. É nessa época que nasce a chamada sexologia, visando o atendimento clínico ou a prevenção de supostos distúrbios relacionados à sexualidade (Russo, at all, 2009). Num primeiro momento, voltava-se ao estudo das chamadas perversões sexuais (práticas que escapavam da sexualidade heterossexual, conjugal, monogâmica e reprodutiva). Nos anos 1940, a segunda onda sexológica, exemplificada por Alfred Kinsey, desl ocou o olhar cada vez mais para a sexualidade conjugal, com foco na questão do orgasmo. Após a criação das terapias de reposição hormonal (inicialmente, voltadas para as mulheres e hoje em dia incluindo os homens) e a invenção da pílula mágica, conhecida como Viagra, estaríamos na terceira onda da sexologia. Ela é marcada por uma (re)medicalização da sexualidade, trazendo implicações para se pensar nos corpos e na sexualidade, sobretudo masculina. Meu intuito é problematizar também os efeitos desses processos no que diz respeito a possíveis reconfigurações do envelhecimento enquanto etapa sexualmente ativa. Por isso, o foco desta pesquisa recairá sobre os modos como os corpos são significados pelos sujeitos das casas de dança para a terceira idade, a partir de suas relações com convenções de gênero e sexualidade, e também sobre os efeitos da medicalização da sexualidade, sobretudo das pessoas mais velhas.

3. Referências BEAUVOIR, Simone de. A velhice. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990. BRASIL, PORTAL. População idosa no Brasil cresce e diminui número de jovens, revela Censo. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/04/29/populacao-idosa-no-brasilcresce-e-diminui-numero-de-jovens-revela-censo>. Acesso em: 19 jun. 2011 DEBERT, Guita Grin. A Reinvenção da Velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. 1. ed. 1. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/Fapesp, 2004. DEBERT, Guita Grin. Envelhecimento e curso de vida. In: MOTTA, Alda Brito (org.). Dossiê Gênero e Velhice. Revista Estudos Feministas. V. 5, N 1. Rio de Janeiro: UFSC/UFRJ, 1997. FARIA, Márcia Pimenta. Velhice e sociedade contemporânea: uma reflexão acerca da gestão do envelhecimento. In: I SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAS. Goiânia: FCS/UFG, 2010, p. 830 840. LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade / Guacira Lopes Louro (organizadora). Belo Horizonte: Autêntica, 2000. LIMA, Laís da Silva. Envelhecimento populacional no Brasil. In: I SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAS, 2010. Goiânia: FCS/UFG, 2010, p. 853 858. MAUSS, Marcel. As técnicas Corporais. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003. ROBATTO, L. Dança em processo: a linguagem do indizível. Salvador: UFBA, 1994. RUSSO, Jane A. at all. O campo da sexologia no Brasil: constituição e institucionalização. Physis: Revista de Saúde Coletiva, vol.19, n. 3. Rio de Janeiro: UERJ, 2009, p.617-636. SIMÕES, R. Corporeidade e terceira idade a marginalização do corpo idoso. São Paulo: Unimep, 1998.