Educação financeira e ensino de matemática com estudantes do ensino médio, em uma escola no interior do Espírito Santo.



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Transcrição:

Educação financeira e ensino de matemática com estudantes do ensino médio, em uma escola no interior do Espírito Santo. Alexsandra Alves Pereira¹ GD3 Educação Matemática no Ensino Médio RESUMO Devido à preocupação atual em nossa sociedade para alcançar uma situação financeira estável, a presente pesquisa propõe um estudo da forma como os estudantes e seus familiares lidam com o dinheiro em seu cotidiano. Através da matemática financeira está sendo realizado um trabalho envolvendo o controle dos gastos pessoais com os estudantes do 3º ano do Ensino Médio da Escola Victório Bravim e seus familiares, no município de Marechal Floriano, por intermédio de um fluxo de caixa pessoal. Atividades com sequências didáticas estão sendo aplicadas com o intuito de promover um olhar crítico e de levantar dados para uma análise posterior. É um projeto de cunho social voltado para o uso consciente e sustentável do dinheiro. Visando orientar os estudantes por meio da Educação Matemática, com a finalidade de se tornarem cidadãos conscientes de sua função social. Palavras-Chave: Matemática financeira. Educação matemática. Fluxo de caixa. INTRODUÇÃO Devido ao fato dos estudantes e seus familiares não contabilizarem seus ganhos e gastos, como mostra a experiência docente em que estou inserida, foi proposto um projeto de pesquisa com o intuito de promover uma conscientização no consumo de produto e, ou, serviços. A pesquisa está sendo realizada com estudantes da educação básica e temos a pretensão de desenvolver uma aprendizagem significativa¹ no ensino da matemática, em especial no conteúdo envolvendo matemática financeira com o uso de um fluxo de caixa pessoal. A utilização do fluxo de caixa pessoal a ser construído nas aulas de matemática, vai orientar os estudantes e seus familiares, para que possam organizar de forma fácil seus ganhos e gastos. Além das atividades em sala de aula, temos a preocupação de orientar os estudantes do ensino médio para o mercado de trabalho, pois estarão atuando em áreas provavelmente direcionadas a funções que têm ligação direta com a moeda circulante.

Para que os professores possam realizar um trabalho em conformidade com as leis existentes no Brasil e ainda prepará-los para a vida, Rosetti Junior e Schimiguel (2011, p.2), afirma que: o ensino, o trabalho pedagógico e uso dos modelos matemáticos e financeiros em sala de aula devem estar em consonância com as necessidades, os interesses e as experiências da vida do aluno. Através do fluxo de caixa pessoal, que passa assumir uma função de controle e de organização em relação às receitas e despesas, o estudante entra em contato com assuntos econômicos e financeiros. Devido à grande amplitude do tema Educação Matemática Financeira o presente artigo limitou-se a explorar como objeto de estudo o uso do estudo o fluxo de caixa pessoal, utilizando o referencial teórico que está servindo como base epistemológica para o desenvolvimento da pesquisa. JUSTIFICATIVA Os estudantes e seus familiares não possuírem o hábito de registro de suas movimentações envolvendo ganhos e gastos pessoais, nesse sentido surgiu à vontade de estudar esse grupo de pessoas para verificar a necessidade de proporcionar uma visão crítica sobre o consumo. Com base no exposto acima um questionamento se faz necessário: O uso desse fluxo de caixa pessoal auxiliará no ensino e aprendizagem dos estudantes de forma significativa, possibilitando-os a realizar uma análise crítica desses gastos? Destaca-se como resposta o do fato de alguns estudantes possuírem poucos conhecimentos relacionados à matemática financeira e, em contrapartida, quando possuem esses conhecimentos desconsidera a valoração exagerada que o mercado impõe sobre esses produtos ou serviços, tornando-os consumistas compulsivos. A pesquisa tem por objetivo principal investigar o controle de gastos pessoais dos estudantes, por meio de fluxo de caixa pessoal, nas aulas de matemática, para possibilitar aos estudantes que irão ser inseridos no mercado uma visão econômica e financeira. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A organização do controle e registro financeiro pessoal devido às mudanças no contexto social atual se torna cada vez mais necessário. Diante desse cenário é fundamental que tenhamos uma visão crítica desse mercado enquanto consumidores conscientes. Para iniciar um debate sobre o problema proposto numa perspectiva voltada para educação matemática crítica alguns autores serviram como base epistemológica para a pesquisa em busca dos aspectos políticos e sociais que permeiam a ideia do uso do fluxo de caixa pessoal. Para iniciarmos esse debate citamos a experiência de Freire no Brasil que é voltada para a construção de uma pedagogia crítica, se apropriando da problemática política e social que vem surgindo e contextualizando-a no âmbito educacional. O Método de Paulo Freire é, fundamentalmente, um método de cultura popular: Conscientiza e politiza. Não absorve o político no pedagógico, mas também não põe inimizade entre educação e política (FREIRE, 2005, p.22). A dignidade do indivíduo é violentada pela exclusão social, que se dá muitas vezes por não passar pelas barreiras discriminatórias estabelecidas pela sociedade dominante, inclusive e, principalmente, no sistema escolar (D AMBROSIO, 2007, p.9). Para identificar a opressão ocorrida na sociedade na qual estamos inseridos, é importante um diálogo na busca de levar o indivíduo a uma leitura crítica desse contexto, problematizando situações cotidianas. Nesse sentido os currículos atuais presentes nas instituições de ensino devem ser abertos e flexíveis, possibilitando uma alfabetização matemática. Em um currículo crítico, colocamos princípios aparentemente objetivos e neutros para a estruturação de uma nova perspectiva, pois, buscamos tais princípios como algo carregado de valores (SKOVSMOSE, 2001, p.19). Subjetividade e objetividade, desta forma, se encontram naquela unidade dialética de que resulta um conhecer solidário com o atuar e este com aquele. É exatamente esta unidade dialética que gera um atuar e um pensar certos na e sobre a realidade para transformá-la (FREIRE, 2005, p.27). Segundo D Ambrosio (2007, p.66), [...] alfabetização e contagem, embora necessárias, são insuficientes para o pleno exercício da cidadania, e ao se deparar com os assuntos envolvendo seus ganhos e gastos os estudantes encontrarão problemas que deverão ser

resolvidos. Sendo assim a matemática quanto mais contextualizada poderá servir de recurso para solucionar problemas. [...] é essencial que os problemas se relacionem com situações e conflitos sociais fundamentais, e é importante que os estudantes possam reconhecer os problemas como seus próprios problemas, de acordo com ambos os critérios subjetivo e objetivo da identificação do problema (SKOVSMOSE, 2001, p.24). Ao propor uma pedagogia crítica e problematizadora, Freire contextualizou a realidade com uma abordagem reflexiva. Humanização e desumanização, dentro da história, num contexto real, concreto, objetivo, são possibilidades dos homens como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão (FREIRE, 2005, p.32). Ole Skovsmose (2001, p.27) ao falar da matemática diz que: [...] enfatizo as relações com a realidade já vivida mais do que com uma realidade falsa, inventada com o único propósito de servir como exemplo de aplicação, os currículos devem ser construídos para atender as causas reais vivenciadas pelo Ubiratan D Ambrosio (2007, p.23) enfatiza que: Análise comparativa de preços, de contas, de orçamento, proporcionam excelente material pedagógico. Para Freire, O processo educacional é político, a qual promove uma consciência reflexiva levando o indivíduo a se reconhecer como sujeito atuante no contexto social em que vive, lutando pela sua libertação e restauração de sua humanidade. Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela (FREIRE, 2005, p.34). Numa educação crítica [...] a educação não deve servir como reprodução passiva de relações sociais existentes e de relações de poder, (...) a educação deve lutar para ter um papel ativo paralelo ao de outras forças sociais críticas (SKOVSMOSE, 2001, p.32). A matemática tem um campo extenso de aplicações e o uso de técnicas e tecnologias pode perfeitamente ser inserido no processo de ensino e aprendizagem como forma de dinamizar o sistema educacional, promovendo a consciência crítica e a democratização do acesso à educação. [...] teorias e práticas são as bases de elaboração de conhecimento e decisões de comportamento, a partir de representações da realidade (D AMBROSIO, 2007, p.27).

É importante que os estudantes aprendam alguns modelos matemáticos, nesse sentido o fluxo de caixa pessoal possibilitará aos estudantes esse acesso, permitindo acompanhar seus ganhos e gastos pessoais com maior eficiência [...] uma situação que apenas os limita e que eles podem transformar, é fundamental, então, que ao reconhecerem o limite que a realidade opressora lhes impõe, tenham, neste reconhecimento, o motor de sua ação libertadora (FREIRE, 2005, p.39). A realidade social, objetiva, que não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não se transforma por acaso. Se os homens são produtos desta realidade e se esta, na inversão da práxis, se volta sobre eles e os condiciona, transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa dos homens (FREIRE, 2005, p.41). Modelos matemáticos, a exemplo o fluxo de caixa pessoal possibilita a investigação de detalhes presentes em transações cotidianas e as relaciona com implicações sociais importantes, como a aquisição de produtos e, ou, serviços supérfluos que poderá passar despercebidos quando não há um registro. Será impossível entendermos o comportamento da juventude de hoje, portanto, avaliarmos o estado da educação, sem recorrermos a uma análise do momento cultural que os jovens estão vivendo (D AMBROSIO, 2007, p.30). [...] é difícil entender como os fatores econômicos estão inter-relacionados é difícil ver como essas relações são inseridas no modelo matemático, (...) devemos ser capazes de apontar que ideias econômicas estão escondidas atrás da cortina de certas fórmulas matemáticas (SKOVSMOSE, 2001, p.42). Na visão de Skovsmose (2001), situações materiais que de fato, informem sobre modelos matemáticos com funções e aplicações reais desenvolvem situações libertadoras de ensino e aprendizagem, sendo a matemática muito importante para o desenvolvimento de tecnologias. A matemática interessante e útil deve prevalecer nos currículos favorecendo programas de ensino que possa propiciar aos estudantes questionar e criticar situações cotidianas. Os educadores devem oferecer situações que promovam uma visão crítica do presente e instrumentos necessários para essa crítica, sejam eles materiais ou intelectuais. A intervenção do educador tem como objetivo maior aprimorar práticas e reflexões, e instrumentos de crítica (D AMBRÓSIO, 2007, p.81). A educação não pode focalizar na mera transmissão de conteúdos desinteressantes e inúteis, é importante oferecer situações que promovam ações voltadas para a modificação

da realidade. Interagir com a realidade, processar informações e ainda realizar ações fará com que os estudantes analisem o seu entorno de forma crítica. Interagir o estudante com a realidade da qual faz parte, sendo agente de transformação é um grande desafio para a educação e quando bem contextualizados os instrumentos materiais e intelectuais, ajudam a enfrentar situações e resolver problemas reais. Para alguns, planejar a própria vida pode ser um exagero e para outros uma necessidade, com uma visão crítica o ser humano pode decidir se acredita que o destino por si só definirá os acontecimentos na vida ou se intervém sabendo da importância de se construir o próprio destino. Quanto mais às massas populares desvelam a realidade objetiva e desafiadora sobre a qual elas devem incidir sua ação transformadora, tanto mais se inserem nela criticamente (FREIRE, 2005, p.44). A discussão sobre a necessidade de um controle nos gastos dos brasileiros é evidente e um acompanhamento através de um fluxo de caixa pessoal, onde as informações dos ganhos e gastos são descritos através de planilhas, para melhor visualização de entradas e saídas de cada pessoa se torna uma ferramenta aplicável no cotidiano das famílias. Sendo de fácil leitura e que tenha qualidade nas informações contábeis necessárias para realizar uma contabilidade individual eficiente. Nesse sentido é que a alfabetização matemática pode auxiliar no desenvolvimento da atividade envolvendo fluxo de caixa pessoal onde: Por alfabetização matemática, podemos inicialmente entender uma habilidade de calcular e usar técnicas matemáticas e formais [...] (SKOVSMOSE, 2001, p.67). Através de uma educação sem aplicabilidade à realidade, Freire (2005, p.66): [...] a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante, contrapondo essa idéia é importante trabalhar conteúdos significativos que possibilitem ao estudante uma visão crítica do cotidiano, propiciando a produção do conhecimento como processo de busca. Segundo Freire (2005, p.68), Quanto mais se exercitem os educandos no arquivamento dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica de que resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele. Como sujeitos. Ainda

defende uma aprendizagem reflexiva e problematizadora, com destaque para as desigualdades sociais existentes em nossa sociedade. Através de uma política-pedagógicodemocrática e de uma pedagogia crítica, onde valoriza a consciência individual e coletiva do indivíduo em busca de uma educação transformadora. Freire (2005, p.74) destaca que: Que o pensar dos educadores somente ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos mediatizados ambos pela realidade, portanto, na intercomunicação. Trabalhar conceitos matemáticos que possam ser aplicados no cotidiano do estudante deve ser um dos focos das instituições escolares na atualidade, promovendo a verdadeira aplicação desses conteúdos no contexto social. O cenário brasileiro está muito propício para o consumo e os estudantes, como os demais cidadãos brasileiros, devem possuir informações atualizadas e coerentes com o mercado, para realizar a tomada de decisão, nas diversas atividades econômicas e financeiras nas quais pretendem se inserir, [...] a matemática faz uma intervenção real na realidade, não apenas no sentido de que um novo insight pode mudar as interpretações, mas também no sentido de que a matemática coloniza parte da realidade e a rearruma (SKOVSMOSE, 2001, p.80). Através da educação crítica é que Paulo Freire propõe em seus estudos uma educação emancipadora, que em sua visão irá romper com o paradigma do professor ensinar e o aluno aprender e desta forma acarreta um cenário onde o professor ensina e aprende e, por consequência, o aluno também ensina e aprende, [...] o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa (FREIRE, 2005, p.79). Segundo Ole Skovsmose (2001, p.83): a matemática intervém na realidade ao criar uma segunda natureza ao nosso redor, oferecendo não apenas descrições de fenômenos, mas também modelos para alterações de comportamentos. Uma educação problematizadora rompe com a atual ideia onde quem ensina é o professor e quem aprende é o estudante, aulas voltadas somente para transmissão de conteúdos sem significados e aplicações cotidianas, pode provocar o aumento de reprovação, devido a não aprendizagem, sendo os estudantes passivos.

Em busca de uma aprendizagem significativa voltada para matemática financeira está o uso do fluxo de caixa pessoal, onde a práxis pode incentivar estudantes a serem ativos, [...] a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica um constante ato de desvelamento da realidade (FREIRE, 2005, p.80). Com o propósito de provocar sentido no trabalho realizado pelas instituições escolares, Freire reforça que: [...] não podemos, a ser ingenuamente, esperar resultados positivos de um programa, seja educativo num sentido mais técnico ou de política, se, desrespeitando a particular visão do mundo que tenha ou esteja tendo o povo, se constitui numa espécie de invasão cultural, ainda que feita com a melhor das intenções (FREIRE, 2005, p.99). Ainda com essa visão, Freire (2005, p. 100): [...] a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspirações do povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da educação ou da ação política. O papel dos agentes envolvidos no processo educativo deve primeiramente dialogar para organizar currículos que promovam a busca do conhecimento e que atenda os anseios das demandas existentes na sociedade. É na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação (FREIRE, 2005, p.101). É nesse momento que o trabalho pedagógico realizado nas instituições escolares deverá ser moldado a atender essas demandas dos estudantes. É nesse sentido que: [...] as competências tal como aparecem nas recentes políticas curriculares respondem a uma demanda por trabalhadores polivalentes para um mercado em constante transição (LOPES e MACEDO, 2009, p.57). Com um currículo voltado para desenvolver o conteúdo programático de forma significativa, os estudantes poderão se tornar seres atuantes na transformação de sua realidade e para efetivar essa ação deverão ser auxiliados por profissionais da educação que se apropriam de recursos didáticos, dentro de uma visão problematizadora. Não seria possível, nem no processo da investigação, nem nas primeiras fases do que a ele se segue, o da devolução da temática significativa como conteúdo programático, propor representações de realidades estranhas aos indivíduos (FREIRE, 2005, p.126).

Sendo capazes de analisar situações cotidianas, desenvolvendo o seu espírito crítico, por exemplo, ao ler informações na mídia referentes ao consumo de produtos e, ou, serviços e as pressões que o mercado impõe para sua aquisição. Não como mero paciente, mas, como seres conscientes do seu papel de consumidor crítico. O importante do ponto de vista de uma educação libertadora, e não bancária, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros (FREIRE, 2005, p.139). Como sujeitos reflexivos os estudantes e seus familiares, podem identificar através do fluxo de pessoal, suas reais necessidades de consumo e ainda realizar uma provisão de seus gastos, gerenciando melhor suas aquisições. Ação e reflexão conduzem à práxis e por consequência uma transformação de mundo, no que se refere ao seu cotidiano, num processo de liberdade individual, criando uma sociedade mais justa. Os lares e as escolas, primárias, médias e universitárias, que não existem no ar, mas no tempo e no espaço, não podem escapar às influências das condições objetivas estruturais (FREIRE, 2005, p.176). As instituições escolares têm um papel fundamental na preparação do estudante para ser inserido nesse contexto e nessa perspectiva é que o debate sobre educação matemática, sobretudo envolvendo matemática financeira toma proporções que vão desde o ensinar dentro de salas de aulas, como fundamentar essas aulas com conteúdos significativos para que seja aplicado no cotidiano. Adaptando-se à realidade e tornando-se sujeitos da transformação, críticos, verdadeiros, numa prática voltada para o uso consciente do dinheiro, sendo capazes de avaliar os ganhos e gastos do cotidiano. A resposta aos desafios da realidade problematizadora é já a ação dos sujeitos dialógicos sobre ela, para transformá-la (FREIRE, 2005, p.193). É importante ouvir os sujeitos envolvidos nos processos educacionais para organizar o conteúdo programático da ação educacional incentivando o desenvolvimento de busca de criatividade, decisão e consciência, construindo um currículo que valorize a visão de mundo e uma ação libertadora.

RESULTADOS O trabalho iniciou com pesquisas bibliográficas e, posteriormente, estamos observando o comportamento dos estudantes em suas atividades rotineiras referentes às entradas e saídas de dinheiro. Estão sendo trabalhadas sequências didáticas, envolvendo renda per capita por família, através de análises de contracheques, juro simples e juro composto, com o propósito de provocar discussão sobre a educação matemática financeira voltada para o quanto o estudante conhece o tema. [...] mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento da nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam (FREIRE, 1996, p. 60). O registro dos ganhos e gastos já está sendo realizado pelos estudantes e já é possível visualizar a mudança de postura dos estudantes em relação ao consumo excessivo, sentese, por isso, que é indispensável realizar pesquisas na área de educação financeira em aulas de matemática com estudantes do Ensino Médio. Ensinar os fundamentos de matemática tem sido um desafio para o sistema educacional brasileiro. Ao longo da história recente, os resultados de desenvolvimento dos alunos têm sido fracos, com grandes taxas de reprovação e retenção, por conta das enormes barreiras de aproveitamento enfrentadas pelos alunos (ROSETTI JUNIOR e SCHIMIGUEL, 2011, p. 1). Ao estimular o estudante a estudar matemática é necessário que os conteúdos tenham significados, diante disso Skovsmose, (2001, p.19) relata que: Referências à vida real parecem ser necessárias para estabelecer uma reflexão detalhada sobre a maneira como a Matemática pode estar operando enquanto parte de nossa sociedade. Um sujeito crítico e também reflexivo. O fluxo de caixa pessoal está sendo construído seguindo uma postura crítica, onde os estudantes são estimulados a desenvolverem as atividades com práticas voltadas para o cotidiano, baseadas na proposta da educação matemática. CONCLUSÃO Priorizar assuntos do cotidiano ligados ao fluxo de caixa pessoal é um dos caminhos possíveis para introduzir a matemática financeira nas instituições escolares para estudantes do Ensino Médio. Onde estaremos propiciando os estudantes e seus familiares organizarem

de forma fácil e compreensiva seus ganhos e gastos, facilitando a interpretação do consumo diário de forma crítica. É importante que os estudantes quando inseridos no mercado de trabalho tenham uma visão crítica desse mercado, e a matemática financeira poderá auxiliá-los a controlar seus gastos e exercer atividades ou funções que necessitem desses conhecimentos. Ao longo desse estudo autores da área da educação matemática crítica estão fazendo parte da base epistemológica, como também artigos científicos e reportagens envolvendo a economia atual. É necessário incentivar os estudantes a resolverem problemas favorecendo uma aprendizagem significativa, através de estudo de conceitos que deverão estar presentes nos currículos na condição de buscar conhecimentos, com o desejo do conhecimento como necessidade, relacionando o conteúdo estudado em sala de aula com aplicações práticas. REFERÊNCIAS D AMBROSIO, U; Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2ª ed. 3ª reimp. - Belo Horizonte: Autêntica, 2007. (Coleção Tendências em Educação Matemática). FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Sabres necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. LOPES, A.C.; MACEDO, E. Teoria de Currículo.Editora Cortez. 2009. 57p. ROSETTI JUNIOR, H.; CHIMIGUEL, J. Matemática Financeira e os Parâmetros Curriculares Nacionais. In: XIII CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. 2011. Recife- Brasil. Anais eletrônicos... Disponível em: http://www.cimm.ucr.ac.cr/ocs/files/conferences/1/schedconfs/1/papers/1025/submission/r eview/1025-7027-1-rv.pdf. Acesso em Maio de 2013. SKOVSMOSE, O. Cenários para Investigação. Dinamarca. [2000?]. Anais eletrônicos... Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/textos/skovsmose(cenarios)00.pdfa. Acesso em Maio de 2013.

SKOVSMOSE, O. Educação Matemática Crítica. A Questão da Democracia. Campinas. SP: Papirus, 2001. TEODORO, A. Fluxo de Caixa Pessoal. Anápolis, Goiás, junho de 2012 - nº 7811. Disponível em: http://www.oanapolis.com.br/pdf/7811/pag%2010.pdf. Acesso em: Maio de 2013.