ATA DO PAINEL DE DISCUSSÃO "FINANCIAMENTO DA INCLUSÃO DIGITAL" DA III ASSEMBLÉIA GERAL DA IPAIT Terça-feira, 7 de Junho de 2005 Câmara dos Deputados, Brasília, Brasil A Deputada Luiza Erundina (Brasil), Dirigente do painel, deu as boas vindas aos Parlamentares presentes, além de demais participantes e observadores e declarou aberto o painel com a seguinte composição. Dirigente: Co-dirigente: Deputada Luiza Erundina (Brasil) Parlamentar Abdulrhman A Al Yami (Arábia Saudita)
Key-note speaker: Key-note speaker: Painelista: Painelista: Painelista: Participante Participante Participante Participante: Participante Sr. Mohamed Mushin, Vice-Presidente do Banco Mundial (Banco Mundial) Sr. Maurício Neves, Gerente do Depto. de Indústria Eletrônica da Área Industrial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (Brasil), representando o Sr. Armando Mariante Carvalho, Diretor das Áreas Industrial e de Comércio Exterior do BNDES. Dep. Julio Semeghini (Brasil) Honorável Nak Soon Kim (República da Coréia) Senador Tilvar Angel (Romenia) Deputado Paulo Mateta (Angola) Honorável Kim Nag Soon (República da Coréia) Maria Jesus Alguero (Espanha) Mr. Oh Jin Young (República da Coréia) Sr. Touchayoot Pakdi (Tailândia) A seguir são apresentados os principais pontos abordados por cada integrante dos painéis. 1. Sr. Mohamed Mushin (Banco Mundial) Destacou a pluralidade de sentidos e significados do termo inclusão digital. Desse modo, exortou o esforço dos estados nacionais para a elaboração de seus próprios conceitos, de acordo com as particularidades de cada realidade. Contudo, apesar desse caráter bastante específico, o Sr. Mushin ressaltou a existência de algumas leis básicas da inclusão digital, a saber:
- toda política de inclusão digital tem de ter, como objetivo primordial, a redução das desigualdades. E em toda realidade em que não existe acesso à informação, existe uma grande desigualdade; - há dois pilares que norteiam a construção de programas de inclusão digital. O primeiro deles é a criação de um ambiente propício ao investimento privado na área de tecnologias da informação e comunicações, de modo a gerar a infra-estrutura necessária para a universalização da informação. O segundo pilar cabe ao governo que, subsidiariamente ao mercado e apenas nos nichos em que ele não atenda, deve oferecer infraestrutura de acesso ao conhecimento e à informação, voltada para as populações de baixa renda; - Os governos devem procurar, a todo custo, reduzir todo tipo de barreira legal e/ou burocrática que se interponha entre aqueles que desejam construir negócios voltados para as tecnologias da informação e da comunicação e a efetiva realização de seus projetos. Assim, a desregulamentação das economias, a se iniciar justamente nos setores de comunicações e informática, deve ser ponto número um nas agendas dos países que pretendem promover a inclusão digital. Todas essas regras, segundo Mushin, podem ser de grande valia não apenas para a promoção da inclusão digital, mas também para a redução das desigualdades econômicas no mundo. Dados apresentados na palestra mostram que mais de 50% da população mundial vivem com uma renda inferior a US$ 2 por dia. No Brasil, apesar dos grandes avanços nos indicadores sociais na última
década, ¼ da população vive com menos de US$ 2 por dia, e a distribuição de renda é a segunda pior do planeta: os 20% mais pobres da população compartilham uma renda pouco superior a 2% do total. Assim, o maior desafio dos programas de inclusão digital é atuar também como um catalisador para a diminuição nas desigualdades de distribuição de renda, tanto em nível mundial quanto regional. E é sabido que investimentos no desenvolvimento de tecnologia e na inclusão digital têm um poder gerador de riquezas considerável, redundando, naturalmente, em redução de desigualdades econômicas. Finalmente, o Sr. Mohamed Mushin afirmou que a inclusão digital é um trabalho coletivo, que deve unir o governo, as organizações não-governamentais, o setor privado e a sociedade, com vistas à construção de uma realidade mais igualitária. 2. Sr. Maurício Neves Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (Brasil) Dividiu sua apresentação, em 4 tópicos primordiais, detalhados a seguir: a) Tecnologias da Informação e das Comunicações (TIC) no desenvolvimento econômico e social Segundo Neves, é essencial o estímulo à inovação tecnológica, de modo a possibilitar que o Brasil detenha todo o processo de produção e apreensão das tecnologias necessárias ao seu desenvolvimento. Nesse contexto, investimentos na área das TIC são estratégicos, na medida em que estimulam o desenvolvimento tecnológico em toda uma cadeia de produção do setor. Também ressaltou as grandes
mudanças que toda a cadeia produtiva vem sofrendo devido às novas tecnologias de produção, com destaque para novas formas de organização das corporações e novas relações sociais o que se convencionou chamar de Sociedade da Informação. Em nível governamental, as tecnologias da informação também vêm gerando profundas alterações, gerando uma demanda de maior transparência nas ações do governo, bem como a sua atuação como provedor de serviços em ambiente eletrônico. O resultado primordial é a criação de uma nova modalidade de administração batizada de governo eletrônico, que deve ser muito mais dinâmica e transparente do que a sua congênere tradicional. b) Evolução recente e estágio atual no Brasil Em relação a esse tema, o representante do BNDES afirmou que a inclusão digital, no que se refere ao acesso à Internet, ainda está por ser construída no País. Ele ressaltou os grandes avanços recentes no que se refere aos serviços de voz, primordialmente na telefonia móvel, que fez com que mais de 50% da população brasileira tivesse acesso ao telefone no ano de 2002. Outro exemplo de sucesso na universalização das telecomunicações é a grande oferta hoje existente de telefones de uso público hoje o Brasil tem o segundo maior número de telefones públicos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Todos esses dados fazem com que, tanto no que concerne a acessos individuais quanto a acessos públicos, o Brasil esteja consideravelmente acima da média mundial, quando considerados os números de acessos para cada cem habitantes. Contudo, também segundo dados de 2002, apenas 10,3% da população tinham acesso à Internet. Tanto em número de
computadores quanto de pontos de acesso à Internet, o Brasil tem uma média de atendimento, em grupos de cem habitantes, inferior à média mundial, o que demonstra a necessidade de grandes investimentos, tanto do setor privado quanto do setor público, para que se universalize o acesso às TIC. c) Financiamento e atuação do BNDES O BNDES atua, no que concerne ao financiamento dos projetos voltados para a inclusão digital, em duas frentes distintas. A primeira delas é a alavancagem da regulamentação o que significa o financiamento dos planos de implementação das metas de universalização das concessionárias de telefonia; e o aporte de capital do BNDES em projetos dessas mesmas concessionárias que tenham por objetivo ampliar sua rede de cobertura. A segunda é a indução das decisões de políticas públicas segundo Neves, essa indução se dá por meio da elaboração de linhas diferenciadas de crédito, com condições especiais, destinados a todo e qualquer agente econômico que pretenda implementar um projeto que seja considerado de interesse da política governamental vigente, como por exemplo o desenvolvimento de tecnologia nacional no setor das TIC. d) Agenda Futura O grande desafio deve ser a implementação das novas metas de universalização das concessionárias de telecomunicações, que estarão vigentes a partir de 2006. As novas metas incluem diversos dispositivos para a promoção da inclusão digital, e o BNDES está finalizando os estudos para a oferta de linhas de crédito especiais para o atendimento dessas novas metas. Destacou ainda a
participação do banco nos novos programas de inclusão digital que estão sendo implementados pelo governo federal, com destaque para o PC Conectado, além da urgência na utilização das verbas do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), que até agora ainda não foram empregadas. Em relação ao fundo, o BNDES deverá atuar como um agente auxiliar, inclusive no que concerne ao aporte de capitais que venham a ser necessários para a complementação das verbas oriundas do FUST nos projetos por ele financiados. 3. Dep. Júlio Semeghini (Brasil) Proferiu palestra intitulada "Financiamento sustentável da inclusão digital no Brasil". Foram apresentados os dados do faturamento do setor de TIC no Brasil, da ordem de 40 bilhões de dólares anuais. No entanto, o Brasil, que ocupa a 72 a posição no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, possui apenas 12% de habitantes com acesso à Internet. Foi salientado o impulso às TIC que a Lei de Informática brasileira deu, aumentando a participação do setor no PIB do País, de 1,7% para 3,5%, em 2002, mediante uma renúncia fiscal de aproximadamente US$ 1,7 bilhões em valores históricos. Apesar das iniciativas de inclusão digital contarem com mais de US$ 180 milhões anuais à disposição pelos setores público e privado, foram salientadas as enormes necessidades de um país continental com 180 milhões de habitantes e 150 milhões de infoexcluídos. Estimou-se em US$ 2,8 bilhões por ano a necessidade de recursos para acabar com a brecha digital no País. Como o Brasil não dispõe
desses recursos, o palestrante salientou a imperiosa necessidade de se desenvolver um projeto consistente de financiamento, apoiado no desenvolvimento tecnológico do país, fortemente apoiado em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para a problemática local. A questão da inovação também foi salientada como sendo extremamente importante para o desenvolvimento sustentável da inclusão digital e a Lei de Inovação. O instrumento garante participação nos lucros das invenções aos pesquisadores das instituições de ensino e pesquisa e deverá alavancar o desenvolvimento tecnológico aplicado no País. Foram citadas também as iniciativas parlamentares em tramitação na Câmara dos Deputados do Brasil, que tratam dos seguintes temas: i) certificação digital, ii) fundos de financiamento e benefícios sociais em prol da inclusão digital, iii) crimes de informática, iv) acesso à Internet, v) extinção da assinatura básica de telefonia, vi) software livre, vii) regulamentação do spam, viii) proibição de comercialização de software OEM. 4. Nak Soon Kim (Coréia do Sul) O parlamentar sul-coreano falou sobre a participação do seu governo no World Summit of the Information Society (WSIS) e na construção de um fundo de solidariedade digital. O título da palestra foi WSIS and Digital Solidary Fund. Segundo Kim, a Coréia vem trabalhando, em nível mundial, para criar uma ponte que possa unir os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, de modo a acabar com a divisão digital hoje existente. Para tanto, o governo coreano elaborou
um projeto de cooperação internacional, que tem como objetivo principal a criação de um meio ambiente das TIC, baseado primordialmente no desenvolvimento de recursos humanos nos países em desenvolvimento. Para tanto, experts coreanos estão atuando em diversos países no treinamento de profissionais, que serão replicadores dos conhecimentos adquiridos por meio dessa parceria em seus países de origem. Além disso, jovens estudantes coreanos estão participando de programas voluntários de intercâmbio, e passam entre 1 e 3 meses em países em desenvolvimento, trabalhando em projetos de educação infantil voltada para a utilização de computadores e o acesso à Internet. Finalmente, o governo coreano está destinando recursos para a construção de centros de acesso à Internet em países em desenvolvimento, para estimular o acesso compartilhado de infraestruturas nesses locais. A reunião foi encerrada às 17 horas e 20 minutos