INFORMATIVO DE SETEMBRO/2017 APRESENTAÇÃO O informativo Meira Valente Advogados é um meio de comunicação pelo qual buscamos informar aos nossos clientes as principais notícias jurídicas nos ramos do direito tributário e do direito civil. Tem caráter apenas genérico e informativo, não constituindo opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. NESTA EDIÇÃO LEGISLAÇÃO Medida Provisória nº 804/2017...1/2 Portaria PGFN nº 948/2017: responsabilidade tributária...2 IN nº 1.732/2017: IRRF sobre alienação de ativo não circulante...2/3 Lei nº 13.467/2017: alguns impactos da Reforma Trabalhista no tributário...3/4 POSICIONAMENTOS DA RECEITA FEDERAL SC nº 415/2017: IRPJ e CSLL na devolução de capital em bens avaliados a valor justo...4/5 SC nº 378/2017: IRRF, PIS/COFINS-importação sobre reembolso de despesas...5 ARTIGO A comissão de corretagem na compra de imóvel na planta...5/6 MEDIDA PROVISÓRIA Nº 804/2017 Foi publicada a Medida Provisória nº 804/2017 (MP 804), que prorrogou para o dia 31 de outubro de 2017 o prazo para adesão ao PERT (Programa Especial de Recuperação Tributária). Além da prorrogação do prazo de adesão, a MP 804 estabelece que a primeira e segunda parcelas a recolher referente ao percentual do débito consolidado, sem reduções, que deveriam ser pagas nos meses de agosto e setembro passam a ser exigidas cumulativamente com a parcela do mês de outubro de 2017. PORTARIA PGFN Nº 948/2017: RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA A Procuradoria da Fazenda Nacional (PGFN) editou, recentemente, a Portaria nº 948/2017, que trata do Procedimento Administrativo de Reconhecimento de Responsabilidade (PARR). Por esta norma, a PGFN poderá apurar infração à lei consistente na dissolução irregular de pessoa jurídica devedora de créditos inscritos em dívida ativa da União, a fim de responsabilizar terceiros (geralmente sócios gerentes). 1
A Portaria estabelece que o PARR deverá conter, entre outros elementos, os fatos que caracterizam a ocorrência de dissolução irregular e será iniciado mediante a notificação, por carta com aviso de recebimento, do terceiro ao qual se pretende apurar a responsabilidade. Após a notificação postal, toda e qualquer notificação do terceiro será feita por meio do Cetro Virtual de Atendimento da PGFN (e-cac). Notificado, o terceiro terá o direito de impugnar, em 15 (quinze) dias, a acusação de dissolução irregular, sendo que tal defesa será julgada pelo Procurador da Fazenda Nacional responsável pela dívida ativa. Da decisão proferida cabe recurso, no prazo de 30 dias, a ser analisado pelo Procurador Chefe, o qual não tem efeito suspensivo. Veja que, caso a acusação de dissolução irregular da sociedade seja acatada pela PGFN, em sede de impugnação ou recurso, o terceiro será considerado responsável pelas dívidas, o que implicará a sensibilização dos sistemas de controle da dívida ativa e poderá ter efeitos sobre todos os débitos inscritos em dívida ativa, em cobrança judicial ou não, em nome das pessoas jurídicas irregularmente dissolvidas e dos corresponsáveis. A nosso ver, a Portaria tem pontos delicados a serem observados quando da sua implementação, tais como: (i) o reconhecimento de dissolução irregular de sociedade para responsabilização de terceiros por meio de procedimento no âmbito administrativo; (ii) a imparcialidade que teriam as decisões proferidas no PARR, uma vez que elas serão dadas pelos próprios Procuradores da dívida ativa; (iii) quais seriam os elementos de fato que a PGFN teria que apresentar para embasar a dissolução irregular da empresa e, por conseguinte, responsabilizar terceiros. Sabendose que no Poder Judiciário cabe à PGFN o ônus de provar essa dissolução irregular, quando o terceiro não consta na CDA, e não é qualquer prova que é aceita para tanto pela jurisprudência. IN Nº 1.732/2017: IRRF SOBRE ALIENAÇÃO DE ATIVO NÃO CIRCULANTE A Receita Federal (RFB) publicou a Instrução Normativa nº 1.732/2017 (IN 1.732/2017), que altera a IN nº 1.455/2014, a qual trata sobre a incidência de imposto sobre a renda na fonte (IRRF) nos rendimentos pagos, creditados, empregados, entregues ou remetidos à pessoa jurídica domiciliada no exterior, em decorrência da alienação de bens e direito do ativo não circulante localizados no Brasil. A norma alterou a alíquota do IRRF, que antes era de 15%, para a aplicação das seguintes alíquotas progressivas: (i) 15% sobre ganho de capital até R$ 5.000.000,00; (ii) 17,5% sobre ganho de capital acima de R$ 5.000.000,00 até R$ 10.000.000,00; (iii) 20% sobre ganho de capital acima de R$ 10.000.000,00 até R$ 30.000.000,00; (iv) 22,5% sobre ganho de capital acima de R$ 30.000.000,00. Segundo tal norma, o recolhimento do IRRF deve ser feito pelo adquirente no Brasil. No caso das operações de incorporação de ações que envolvam valores mobiliários de titularidade de investidores estrangeiros, dispõe a referida norma que a responsabilidade pela retenção e recolhimento será da incorporadora no Brasil. 2
Nos termos da IN 1.732/2017, a tributação desse ganho pelo IRRF deverá observar a Convenção para evitar a dupla tributação firmada entre o Brasil e o país de residência do alienante. Na maioria dos Tratados, o imposto recolhido no Brasil (localização do bem) reduz aquele exigido no exterior. LEI Nº 13.467/2017: ALGUNS IMPACTOS DA REFORMA TRABALHISTA NO TRIBUTÁRIO A Lei nº 13.467/2017, que entrará em vigor no próximo dia 11 de novembro, relativa à Reforma Trabalhista, traz alguns impactos relacionados às verbas que configurariam remuneração do empregado, para fins de recolhimento de contribuição previdenciária. Com a alteração dos 2º e 5º do artigo 457 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), as seguintes verbas, ainda que habituais, passam a não mais integrar o salário do empregado, não estando sujeitas ao recolhimento de contribuição previdenciária (patronal e empregados): (i) 100% do valor dispendido com diárias de viagem. Antes da reforma trabalhista, apenas as despesas a este título que não excedessem 50% do salário recebido pelo empregado não integrariam o salário; (ii) prêmios concedidos por mera liberalidade pelo empregador ao empregado, em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro, em razão de desempenho melhor do que o esperado no exercício de suas funções. Antes da reforma trabalhista, se esses prêmios fossem concedidos com habitualidade, o entendimento era que integravam o salário do empregado para fins de contribuição previdenciária; (iii) seguro médico ou odontológico, ainda que concedido em diferentes modalidades de planos e coberturas. Antes da reforma trabalhista, era questionável pelo Fisco Federal se o seguro médico e odontológico que fosse concedido em diferentes modalidades e planos (por ex. plano de saúde diferenciado para diretores e gerentes) estaria fora da incidência da contribuição previdenciária 1. Além da contribuição previdenciária, vale lembrar que a contribuição sindical tornou-se facultativa, tanto para o empresário quanto para o empregado. Contudo, sabe-se que o Ministério do Trabalho, as Centrais Sindicais e o Executivo têm discutido propostas para instituição, por Medida Provisória, de um novo imposto sindical. SC Nº 415/2017: IRPJ E CSLL NA DEVOLUÇÃO DE CAPITAL EM BENS AVALIADOS A VALOR JUSTO A Receita Federal (RFB), por meio da Solução de Consulta nº 415/2017 (SC 415), respondeu à consulta formulada por uma indústria, sobre o recolhimento de IRPJ e CSLL na devolução de capital aos sócios em bens que foram avaliados a valor justo. No caso analisado, levando-se em conta as alterações promovidas pela Lei nº 11.638/2007 1 Recentemente, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), no processo nº 10380.727103/2014-51), proferiu decisão que entendeu que o seguro médico, ainda que concedido em diferentes modalidades a gerentes e diretores, não integra o salário do empregado para fins de recolhimento de contribuição previdenciária. Este entendimento, contraria entendimento da Câmara Superior do CARF. 3
nas demonstrações contábeis e os procedimentos para a neutralidade tributária estabelecidos pela Lei nº 11.941/2009, revogada pela Lei nº 12.973/2014, o contribuinte procedeu à avaliação a valor justo de determinados bens de seu ativo, contabilizando em subconta o valor do acréscimo ao valor histórico registrado. Tendo em vista que o efeito positivo advindo da avaliação do ativo pelo valor justo foi contabilizado em subconta, nos termos do art. 98 da Instrução Normativa nº 1.700/2017, que revogou a IN nº 1.515/2014, tal ganho somente será tributado quando da realização do ativo, pela baixa, alienação, amortização, etc.. Nesses termos, defende o contribuinte, na SC 415, que o valor do ativo para a contabilidade continuaria sendo o valor histórico registrado, a fim de fazer a devolução de capital com base nesse valor e afastar a cobrança do IRPJ e CSLL. Isso porque a Lei nº 9.249/1995, em seu artigo 22, permite que os bens e direitos entregues aos sócios a título de devolução de sua participação no capital social sejam avaliados pelo valor de mercado ou pelo valor contábil. Se avaliados pelo valor contábil, não haverá reflexos na tributação na pessoa jurídica. Contudo, caso os bens e direitos entregues sejam avaliados pelo valor de mercado, a diferença positiva entre o seu valor contábil e o seu valor de mercado será adicionada à base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Embora o contribuinte quisesse devolver o capital pelo valor histórico dos bens registrados na sua contabilidade, a fim de afastar a tributação da operação, a RFB entendeu que o valor contábil é formado pelo valor histórico acrescido do valor do ajuste registrado em subconta. Partindo desse pressuposto, a RFB se posicionou no sentido de que a devolução de capital em bens seria uma operação de realização de ativos, motivo pelo qual o ganho registrado em subconta, que comporia o seu valor contábil, deveria ser levado à tributação pelo IRPJ e CSLL. SC Nº 378/2017: IRRF SOBRE REEMBOLSO DE DESPESAS A Receita Federal (RFB) publicou resposta à Solução de Consulta nº 378/2017 (SC 378), que trata sobre a incidência de imposto sobre a renda na fonte (IRRF) e de PIS-importação e COFINSimportação sobre rendimentos pagos ao exterior por empresa estabelecida no Brasil a título de reembolso de despesa. No caso, a empresa estabelecida no Brasil recebeu técnicos especializados de sua matriz ou afiliadas localizadas no exterior. A remuneração dos expatriados, contratados pela empresa brasileira, por política do grupo econômico, poderia ser paga, em parte, pela empresa localizada no exterior. Essa parte paga no exterior foi, posteriormente, reembolsada pela empresa brasileira à empresa estrangeira e tributada, na pessoa física do funcionário, pelo imposto de renda mediante carnê-leão. Diante disso, entendeu a RFB que, por se tratar de reembolso de despesa à matriz ou afiliadas no exterior, relativa a rendimento auferido por funcionário expatriado residente no Brasil e contratado aqui, essa operação se caracterizaria como mero retorno de capital ao exterior, não passível de tributação pelo IRRF. Não se trata, portanto, aos olhos do Fisco Federal, de rendimento. No que toca ao PIS-importação e COFINSimportação, também afirmou a RFB que as remessas ao exterior a título de reembolso de despesa não sofreriam a tributação dessas 4
contribuições, por não se caracterizarem como contraprestação por serviços prestados por empresa no exterior, mas mero retorno de capital. A COMISSÃO DE CORRETAGEM NA COMPRA DE IMÓVEL NA PLANTA Assim, a partir de agosto de 2016, se no contrato de venda e compra de um imóvel na planta constar, de forma expressa, que a comissão de corretagem deverá ser paga pelo comprador, não há como pedir a devolução desse valor na justiça. Para quem já comprou um imóvel na planta sabe muito bem que, além do preço que se paga pelo imóvel, também lhe é cobrada a comissão de corretagem, ou seja, aquela destinada aos profissionais que vendem as unidades habitacionais no stand de vendas da obra. De alguns anos para cá os consumidores começaram a questionar na justiça a cobrança dessa comissão, sob a alegação de que nunca contrataram um corretor de imóveis; de que o corretor que estava no stand de vendas trabalhava para a construtora e que só pagaram a comissão para poderem comprar o imóvel, o que, nas relações de consumo pode representar venda casada, que é considerada uma prática ilegal. Durante alguns anos, o Poder Judiciário, de forma majoritária, entendeu que a cobrança de comissão de corretagem pelas construtoras na compra e venda de imóveis na planta era ilegal e que, portanto, o valor pago pelo adquirente consumidor deveria lhe ser devolvido. Ocorre, no entanto, que, em agosto de 2016, em decisão que abrange todo o território nacional e vincula todas as decisões em casos análogos, o Superior Tribunal de Justiça, ao julgar 3 recursos que versavam sobre o assunto, decidiu que a comissão de corretagem pode ser repassada ao consumidor pela construtora, desde que tal disposição esteja expressa em contrato. 5