AÇÃO DO SULFATO DE CONDROITINA A ASSOCIADO A CIPROFLOXACINA EM ÚLCERAS DE CÓRNEA EM CAVALOS

Documentos relacionados
AÇÃO DO SULFATO DE CONDROITINA A ASSOCIADO À CIPROFLOXACINA EM ÚLCERAS DE CÓRNEA EM CAVALOS

Ótima cobertura e lubrificação do globo ocular com apenas uma gota

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS DE CERATOPLASTIA COM ENXERTO CONJUNTIVAL LIVRE E PEDICULADO EM CÃES

AÇÃO DO SULFATO DE CONDROITINA "A" ASSOCIADO À CIPROFLOXACINA EM ÚLCERAS DE CÓRNEA PRODUZIDAS EXPERIMENTALMENTE EM CAVALOS

Avaliação do Uso Tópico de Sulfato de Condroitina A (Ciprovet ) no Tratamento de Úlcera de Córnea Experimental em Coelhos*

DESCEMETOCELE EM UM CANINO - RELATO DE CASO 1 DESCEMETOCELE IN A CANINE

COMPARAÇÃO CLÍNICA DA PRODUÇÃO LACRIMAL, EM CÃES COM CERATOCONJUNTIVITE SECA, UTILIZADO TRATAMENTO COM CÉLULAS-TRONCO PELA VIA TÓPICA E PERIGLANDULAR

Um olhar rumo ao futuro da oftalmologia veterinária

Membrana amniótica canina utilizada como bandagem em úlcera superficial de córnea de coelhos aspectos clínicos

pupila Íris ESCLERA CORPO CILIAR COROIDE ÍRIS HUMOR VÍTREO LENTE RETINA CÓRNEA NERVO ÓPTICO

Anais Expoulbra Outubro 2015 Canoas, RS, Brasil

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS PARECER

Archives of Veterinary Science v.7, n.2, p.69-74, 2002 Printed in Brazil ISSN: X

Discente de Pós Graduação em Oftalmologia Veterinária Anclivepa SP

Prática Clínica: Uso de plantas medicinais no tratamento de feridas

j/d TM Canine auxilia em casos de osteoartrite 8

Ferida e Processo de Cicatrização

Programa Analítico de Disciplina VET331 Anestesiologia Veterinária

ÚLCERA DE CÓRNEA EM EQUINO RELATO DE CASO 1

STILL. ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA Solução Oftálmica Estéril diclofenaco sódico (0,1%) BULA PARA O PACIENTE. Bula para o Paciente Pág.

Palavras-chave: túnica conjuntiva, revestimentos, úlcera da córnea, cães Keywords: conjunctiva, linings, corneal ulcer, dogs

Acta Scientiae Veterinariae ISSN: Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil

Estudo de segurança do Trissulfin SID (400 mg) administrado em gatos jovens e adultos pela via oral durante 21 dias consecutivos.

PRODUÇÃO LACRIMAL E PRESSÃO INTRAOCULAR EM GATOS DO PERÍODO NEONATAL À FASE DE SOCIALIZAÇÃO

Estudo de segurança do Trissulfin SID (400 mg e 1600 mg) administrado em cães adultos e filhotes pela via oral durante 21 dias consecutivos.

Intervenção Fisioterapeutica em Queimados. Aluna: Giselle Sousa Pereira

Avaliação clínica da ablação uveal intravítrea com gentamicina em cães portadores de glaucoma crônico

ANEXO I. Página 1 de 6

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE FRANCA

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

Cistos de íris em um canino: relato de caso

Ceratite ulcerativa corneana traumática em cão; tratamento com oxigenoterapia hiperbárica

UTILIZAÇÃO DE MEMBRANA BIOSINTÉTICA DE HIDROGEL COM NANOPRATA NO PROCESSO CICATRICIAL DE QUEIMADURA DÉRMICA CAUSADA DURANTE TRANS-OPERATÓRIO

ANESTÉSICO ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA. Solução Oftálmica Estéril. cloridrato de tetracaína 1% cloridrato de fenilefrina 0,1%

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE MEDICINA E CIRURGIA VETERINÁRIA

Resumo: Anais do 38º CBA, p.1725

SEQUESTRO CORNEANO EM FELINOS FELINE CORNEAL SEQUESTRUM. Especialização em Oftalmologia Veterinária pela Universidade de Madison

AFECÇÕES OFTÁLMICAS CIRÚRGICAS

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

TÍTULO: EFEITO DA IRRADIAÇÃO DO LASER DE BAIXA INTENSIDADE NA SINOVITE AGUDA EM RATOS WISTAR

Palavras-Chave: hemangiossarcoma ocular; neoplasia conjuntival; conjuntiva bulbar; córnea; oftalmologia veterinária.

Influência do flunixin meglumine sobre os valores de proteína total do humor aquoso e diâmetro pupilar após cirurgia intraocular em cães

Quanto à condição funcional do músculo temporal, todos apresentavam-se normais palpação, no pré-operatório.

Médica Veterinária Residente do Programa de Residência Multiprofissional, UFCG 6

Ceratoplastia lamelar em cães usando membrana amniótica equina. Estudo clínico e morfológico

ANESTÉSICO ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA. Solução Oftálmica Estéril. cloridrato de tetracaína 1% cloridrato de fenilefrina 0,1%

Revista de Ciência Veterinária e Saúde Pública

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA DISCIPLINA DE ESTÁGIO CURRICULAR EM MEDICINA VETERINÁRIA

Laserterapia em feridas Dra. Luciana Almeida-Lopes

Efeito do Uso Tópico de Açúcar Cristal na Cicatrização Corneana em Coelhos

BIOMICROSCOPIA ÓPTICA

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

PREPARO DA MATRIZ ACELULAR DE CÓRNEA SUÍNA E APLICABILIDADE EM CERATITES ULCERATIVAS ESTUDO EXPERIMENTAL EM COELHOS

Archives of Veterinary Science ISSN X USO TÓPICO DE SOLUÇÃO DE SULFATO DE MORFINA 1% EM OLHOS SAUDÁVEIS DE CÃES

Injeção subconjuntival de soro autógeno no tratamento de queimadura ocular por álcali em coelhos

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

ESTUDO DE TOXICIDADE RETINIANA APÓS INJEÇÕES INTRAVÍTREAS SERIADAS DE INFLIXIMABE EM OLHOS DE COELHOS

Neoplasias. Benignas. Neoplasias. Malignas. Características macroscópicas e microscópicas permitem diferenciação.

Tratamento de úlcera indolente em equino

Palavras-chave: Stades, Hotz-Celsus, Blefaroplastia, Entrópio, Cão. INTRODUÇÃO

Capítulo 2 Aspectos Histológicos

HISTERECTOMIA LAPAROSCÓPICA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE FORMIGA CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA IZABELA CRISTINA LACERDA

Apontamentos de Oftalmologia Veterinária

Reparação. Regeneração Tecidual 30/06/2010. Controlada por fatores bioquímicos Liberada em resposta a lesão celular, necrose ou trauma mecânico

Transplante de membrana amniótica canina criopreservada para cicatrização de córnea com deficiência de células límbicas em coelhos

USP testa 'pomada' quimioterápica aliada a choque de baixa intensidade para tratar câncer de pele

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

Medicina Veterinária

Complicação severa das feridas oculares abertas % de todos os casos de endoftalmites infecciosas

Anais do 38º CBA, p.0882

INFLAMAÇÃO & REPARO TECIDUAL

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

Mobilee. (BIOIBERICA / Espanha)

Debates prós e contras

Pesquisa com células tronco para tratamento de doenças da retina

LOTEPROL. BL Indústria Ótica Ltda Suspensão estéril 5,0 mg/ml

Programa para Seleção Clínica Cirúrgica e Obstetrícia de Pequenos Animais

INSTILAÇÃO DE LIDOCAÍNA NA CÓRNEA EQUINA RELATO DE CASO INSTILLATION OF LIDOCAINE IN EQUINE CORNEA CASE REPORT

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

AVANÇOS NA MEDICINA VETERINÁRIA: UM BREVE HITÓRICO SOBRE A RADIOTERAPIA EM ANIMAIS 1 INTRODUÇÃO

Norma Sueli Pinheiro Módolo. Depto. de Anestesiologia Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP

Programa Analítico de Disciplina VET362 Laboratório Clínico Veterinário

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DAS PROVAS E RESPECTIVAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Estudo retrospectivo do tratamento ambulatorial da úlcera indolente em cães da raça Boxer

Aspectos clínicos do entrópio de desenvolvimento em cães da raça Shar Pei

BIOMODULAÇÃO NOS PROCEDIMENTOS PÓS-OPERATÓRIOS EM CIRURGIA PLÁSTICA. Profa. Maria Helena Lourenço Monteiro Pimenta Rossi

REPERCUSSÕES OCULARES DA DIABETES MELLITUS E DO HIPERADRENOCORTICISMO 1

RELATO DE CASO. Resumo: O segmento anterior do bulbo ocular é compreendido pela córnea, câmara

EPITEZAN ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA. Pomada Oftálmica Estéril Tubo contendo 3,5 g de pomada oftálmica estéril

Processo Inflamatório e Lesão Celular. Professor: Vinicius Coca

LACRIFILM (carmelose sódica)

ANEXO IV CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DAS PROVAS E RESPECTIVAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ULTRACAVITAÇÃO NO TRATAMENTO DO FIBRO EDEMA GELÓIDE AVALIADO POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

RELATO DO CASO HMPA, feminino, 49 anos, feminino, leucoderma, profissão do lar, natural e procedente de Uberlândia. Paciente submetida a EECC em olho

Processo de reparação de lesões da córnea e a membrana amniótica na oftalmologia

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE IMPLANTES DE PLGA CONTENDO ÁCIDO ROSMARÍNICO PARA O TRATAMENTO DE DOENÇAS PROLIFERATIVAS DA RETINA

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

LOTEPROL. BL Indústria Ótica Ltda Suspensão estéril 5,0 mg/ml

Transcrição:

AÇÃO DO SULFATO DE CONDROITINA A ASSOCIADO A CIPROFLOXACINA EM ÚLCERAS DE CÓRNEA EM CAVALOS WOUK, A. F. P.F. 1 ; ZULIAN, I. 2 ; MÜLLER, G. 3 ; SOUZA, A. L. G. 4 Os glicosaminoglicanos polissulfatados (GAGPs), como o sulfato de condroitina, possuem ação inibitória da plasmina, uma enzima fibrinolítica encontrada em altas concentrações em córneas lesadas, além de ação anabólica sobre fibroblastos, condrócitos e sinoviócitos. O objetivo desta pesquisa foi estudar os efeitos clínicos da instilação tópica de uma associação de ciprofloxacina e sulfato de condroitina A sobre a cicatrização de úlceras corneanas experimentais produzidas em cavalos. Para isto, utilizaram-se 10 olhos de 5 cavalos, nos quais a córnea foi submetida à trefinação central e observação durante 24 horas para o início dos tratamentos. Considerando-se cada animal como seu próprio controle, os olhos direitos compuseram o grupo controle, e os olhos esquerdos, o grupo tratamento, submetidos à instilação de uma associação de ciprofloxacina com sulfato de condroitina A, duas vezes ao dia. Os cavalos foram examinados a cada dois dias, durante 30 dias, para avaliação dos sinais clínicos. A cicatrização das úlceras foi confirmada por prova de retenção de fluoresceína negativa. Os olhos tratados com sulfato de condroitina A e ciprofloxacina apresentaram redução precoce dos sinais clínicos e preenchimento do leito da úlcera com tecido cicatricial de melhor qualidade, obtendo cicatrização sem leucoma em 80% dos olhos em 14 dias. Os olhos controle apresentaram edema corneano e neovascularização mais importantes e a redução dos sinais clínicos e a cicatrização iniciaram-se tardiamente, resultando em discreto leucoma. Palavras-chave: úlcera, córnea, GAGPs (glicosaminoglicanos polissulfatados), eqüino. 1 Professor Titular de Clínica Cirúrgica e Oftalmológica da UFPR e PUCPR. 2 Professor Assistente de Clínica Médica de Eqüinos da UFPR 3 Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFPR 4 Médica Veterinária Residente do Hospital Veterinário para Animais de Companhia da PUCPR.

METODOLOGIA Foram utilizados dez olhos de cinco cavalos (Equus caballus), de propriedade da Polícia Militar de Curitiba, onde a pesquisa foi realizada durante o ano de 2001. Selecionaram-se animais adultos, do sexo masculino e, de raças variadas. Estes últimos, passaram inicialmente por exame geral e oftalmológico específico para padronização dos indivíduos e eliminação das variáveis indesejáveis. Na semiologia oftálmica, consideraram-se os seguintes exames: teste lacrimal de Schirmer, biomicroscopia em lâmpada de fenda, tonometria de aplanação, oftalmoscopia binocular indireta e prova de fluoresceína 5. Após a seleção, os animais foram identificados e mantidos em baias individuais apropriadas, com a alimentação e cuidados adequados. Inicialmente, realizaram-se úlceras experimentais, e os animais foram tranqüilizados com neuroleptoanalgesia - uma associação de butorfanol 6 na dose de 2 ml com acepromazina 7 a 1% na dose de 3 ml por via intravenosa. Após alguns minutos, realizou-se bloqueio anestésico dos nervos auriculopalpebral e supraorbital com 5 ml de lidocaína 8 a 2 %, sem vasoconstritor, promovendo analgesia e anestesia retrobulbar. A anestesia da córnea foi complementada com pomada oftálmica anestésica a base de prilocaína 9. A trepanação das córneas foi realizada com um punch de 0,6 mm em posição de 12 horas, no eixo pupilar. Os dez olhos foram divididos em dois grupos: controle, composto pelos olhos direito, e tratamento, composto pelos olhos esquerdo. Para estes últimos, adotou-se um protocolo de instilação de colírio com associação de sulfato de condroitina A 20% e ciprofloxacin 10, em intervalos de 12 horas, até retenção negativa de fluoresceína. Nos olhos direito, utilizou-se solução oftálmica estéril de tobramicina 11, na concentração de 0,3%, a cada 6 horas, até cicatrização das úlceras. Cada animal constituiu-se em uma unidade experimental, sendo seu próprio controle. As córneas foram avaliadas diariamente com oftalmoscopia direta e prova de retenção de fluoresceína (figura 1) e, em dias alternados, com oftalmoscopia indireta e biomicroscopia em lâmpada de fenda durante 30 dias. Após o período de 30 dias, os eqüinos sofreram exame oftálmico quinzenal durante cinco meses. 5 Tiras de fluoresceína Ophtalmos/PR 6 Torbugesic - Fort Dodge S.A. 7 Acepran - Univet S.A. 8 Lidocaína2% - Apsen do Brasil Ind. Quim. E Farm. Ltda. 9 Emla - Astra Química e Farmacêutica Ltda. 10 Ciprovet - Labyes S.A. 11 Tobrex - Alcon Ltda. RESULTADOS Os olhos do grupo controle e os olhos do tratamento (100%) apresentaram blefarospasmo e fotofobia e 80% dos mesmos manifestaram epífora, com duração média de 3 dias. O desaparecimento destes sinais clínicos ocorreu, no grupo de cinco olhos tratados com associação de

sulfato de condroitina A e ciprofloxacina, dois dias antes do grupo controle, o qual permaneceu apresentando sinais de intensidade leve até o quinto dia ( figura 2). A remissão do edema de córnea, observado em todos os olhos, ocorreu num período de três dias e num período médio de 5 dias, nos olhos tratado e controle, respectivamente. No quinto dia de tratamento com associação de sulfato de condroitina A e ciprofloxacina, três olhos apresentaram preenchimento do leito da úlcera em plano estromal ( figura 3), porém ainda positivo ao teste de fluoresceína. Os outros dois olhos apresentaram início de preenchimento da úlcera com tecido cicatricial a termo e, através da oftalmoscopia direta, observou-se leve neovascularização da córnea. No décimo dia de tratamento com sulfato de condroitina A e ciprofloxacina, constatou-se em quatro olhos maior evolução da organização tecidual e ausência de leucoma (figura 4). Nesta fase, o quinto olho apresentou preenchimento do leito da úlcera por tecido cicatricial em plano epitelial. Com 16 dias de evolução do tratamento, 80% dos olhos tratados apresentaram completa cicatrização, constatada pelo resultado negativo da prova de fluoresceína. As córneas apresentavam-se transparentes, avasculares e sem leucoma. Os demais 20% tiveram a resolução da úlcera completada em média com 21 dias de tratamento. Todas as cicatrizações do grupo de tratamento ocorreram sem a formação de leucoma ou neovascularização. Nos olhos do grupo controle, aos nove dias, observou-se 80% das córneas ainda ulceradas e início do preenchimento do leito da úlcera em 20% delas (figura 5). Em todos os olhos do grupo controle verificou-se edema e neovascularização intensos pannus. O início do preenchimento do leito das úlceras com tecido cicatricial e diminuição do pannus foi verificada após 10 e 15 dias de tratamento, respectivamente. A completa cicatrização das úlceras e o teste de retenção de fluoresceína negativo, somente foram verificados após 20 dias de tratamento com colírio de tobramicina. Com 30 dias, observava-se ainda a presença de discreto leucoma. Aos 90 dias de observação, notou-se transparência corneana completa, sem leucoma em quase todos os olhos do grupo controle e, aos cinco meses, verificou-se ainda em um olho, discreto leucoma. DISCUSSÃO A cicatrização corneana normal ocorre por meio de migração celular e mitose, que cobrem os pequenos e grandes defeitos, respectivamente. Sua ocorrência parece ser dependente da formação e adesão da membrana basal às células epiteliais da córnea. Esses eventos, por sua vez, são beneficiados pela fibronectina, importante glicoproteína envolvida na migração celular e capaz de promover um leito para as células epiteliais em regeneração aderirem-se ao estroma. No entanto, devido á susceptibilidade desta molécula às proteinases envolvidas na patogenia das lesões corneanas, o processo de cicatrização da córnea apresentar-se-ia prejudicado se sua destruição ocorresse. Muito embora, conforme conclusão de PHAN et al. (1989), a matriz fibrina-

fibronectina não seja essencial para a migração de células epiteliais em um modelo experimental de ferida superficial de córnea, o mesmo parece não acontecer na cicatrização de modelos de lesões envolvendo extenso dano tecidual infiltração de células inflamatórias. Considerando-se que altos níveis de plasmina foram demonstrados em córneas humanas ulceradas (Salone apud WOUK et al., 1998) e, ainda, que isto poderia ocorrer também em córneas animais ulceradas, o uso de substâncias inibidoras da plasmina no tratamento dessas lesões, como os GAGPs, impediria a destruição da fibronectina e, portanto, permitiria a ocorrência do processo de cicatrização das células epiteliais da córnea em menos tempo, quando comparado ao tratamento convencional. Isto explicaria o menor período de tempo gasto na cicatrização das córneas ulceradas dos cavalos tratadas com sulfato de condroitina A e o percentual de sucesso de 80%, semelhante aos obtidos por MILLER (1996) e WOUK et al. (1998). Após 24 horas da lesão corneana experimental, todos os animais apresentaram sinais clínicos compatíveis com ceratite ulcerativa, concordando com a descrição feita por KERN (1990).No entanto, não se observou uveíte reflexa em nenhum dos cavalos estudados. O blefarospasmo observado em todos os olhos e a fotofobia vista na maioria deles são sinais clínicos compatíveis com dor ocular e conseqüência do quadro inflamatório instalado. Por conseguinte, a redução destes sinais e da inflamação ocular ocorrida antecipadamente nos olhos do grupo tratado, é decorrente do uso dos GAGPs, sugerindo assim um efeito antiinflamatório tópico, conforme feito por MILLER (1996) e WOUK et al. (1998). Esta última ação dos GAGPs é explicada por sua capacidade de varrer radicais livres, diminuir a síntese de prostaglandina E2, bloquear a ação do sistema do complemento e reduzir a produção de interleucina-1. Outro importante efeito relacionado à utilização dos GAGPs refere-se à qualidade da cicatrização corneana. Nenhum dos olhos tratados com a associação de ciprofloxacina e sulfato de condroitina A (100%) apresentou opacidades como nébula, mácula ou leucoma ao final da cicatrização corneana. Os resultados obtidos com a pesquisa permitiram concluir que a instilação tópica de uma associação de sulfato de condroitina A 20% com ciprofloxacina promove a cicatrização mais rápida de úlceras de córnea produzidas experimentalmente em cavalos, além de evitar a formação de cicatriz corneana e reduzir as manifestações oculares de origem inflamatória. Em decorrência dos bons resultados obtidos nessa e em outras pesquisas, os GAGPs têm se mostrado muito promissores no tratamento de alguns tipos de lesões corneanas. Portanto, novos estudos submetendo-s a novos desafios devem ser perseguidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREW, S.E., GELATT, K.N. Erosiones corneales persistentes em los perros. Waltham Focus, v. 11, n.1, p. 10-15, 2001.

BANKS, W.J.. Olho e ouvido. In.. Histologia Veterinária Aplicada. 2 ed. São Paulo: Manole, 1992. p. 589-617. BARNETT, K.C., CRISPIN, S. M., LAVACH, J. D. et al. Cornea. In: Equine Ophtalmology. London: Mosby-Wolf, 1995, p.98-135. BURNS, F.R. et al. Inhibition of purified collagenase from alkali-burned rabbit corneas. Investigative Ophtalmology & Visual Science, v.30, n.7, p. 1569-1575, 1989. CLEGG, P.D. et al. The effects of drugs commonly used in the treatment of equine articular disorders on the activity of equine matrix metalloproteinase-2 and 9. Journal Veterinary Pharmacology Therapeutics, v. 21, p. 406-413, 1998. DAVIDSON, M.G. Equine Ophtalmology. IN: GELATT, K.N. Veterinary Ophtalmology. 2 nd ed. London: Lea& Febiger, 1991. p.576-610. DAVIDSON, G. Glucosamine and chondroitin sulfate. Compendium, p. 454-458, 1999. DUA, H.S., AZUARA-BLANCO, A. Allo-limbal transplantation in patients with limbal stem cell deficiency. Brasilian Journal Ophtalmology, v. 83, p.414-419, 1999. HAAMANN, P. et al. Limbal autograf transplantation. Acta ophtalmol. Scond., v. 76, p. 117-118, 1998. HAMOR, R. E., WHELAN, N.C. Equine Infectious keratitis. Clinical pharmacology and therapeutics. The Veterinary Clinics of North America, v. 15, n3, p.623-646, 1999. HELPER, L.C. Diseases and surgery of the cornea and sclera. In:. Magrane s Canine Ophtalmology. 4 th ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1989. p.102-149. KERN, T.J. Ulcerative keratitis. The Veterinary Clinics of North American Small Practice, v. 20, n.3, p. 643-666, 1999. MILLER, W.W. Using polysulfated glycosaminoglycan to treat persistent corneal erosions in dogs. Veterinary Medicine, v. 91, p. 916-922, 1996. MORI, E. M.. et al. Fibronectina tópica no tratamento de úlceras de córnea de coelho após queimadura por álcali. Arquivo Brasileiro de Oftalmologia, v. 56, n. 5, p. 254-257, 1993. NASSISSE, M.P. Canine ulcerative keratitis. Compendium of Continuous Education, v. 7, n. 9, p. 686-701, 1985. NISHIDA, T. et al. Fibronectin promotes epithelial migration of cultured rabbit cornea in situ. The Journal of Cell Biology, v. 97, n. 5, p. 1653-1657, 1983. PHAN et al. Role of fibronectin and fibrinogen in healing of corneal epithelial scrape wounds. Investigative Ophtalmology & Visual Science. RASHIMIR RAVEN, A.M. et al. Inhibition of equine complement activity by polysulfated glycosaminoglycans. Americans Journal Veterinary Research., v. 53, n. 1, p. 87-90, 1992. SLATTER, D. Cornea and sclera. In:. Fundamentals of Veterinary Ophtalmology. 3 rd ed. Philadelphia: WB Saunders, 2001. p.260-313. STARTUP, F.C. Corneal ulceration in the dog. Journal Small Animal Practice, v. 25, p. 737-752, 1984. HALL, P.A., WATT, F.M. Stem cells: the regeneration and maintenance of cellular diversity, Development, v. 106, p. 619-633, 1989. SWIFT, G.J. et al. Survival of rabbit limbal stem cell alografts. Transplantation, v. 62, n.5, p. 568-574, 1996.

WAGONER, M.D. Chemical injuries of the eye: current concepts in pathophisiology and therapy. Survey Ophtalmology. V. 41, n.4, p. 275-313, 1997. WHITLEY, R.D. Canine corneas. In: GELATT, K.N. Veterinary Ophtalmology. 2 nd ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1991. p. 307-356. WHITLEY, R.D. Infectious disease and the eye. The Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, v. 30 n. 5, p. 1098-1380, 2000. WOUK, A.F.P.F. et al. Polysulfated glycosaminoglycans used for the treatment of indolent corneal ulcers in equine pacients. Rivista Societá Italiana di Ippologia, v. 4, n. 1, p. 87-90, 1998. FIGURAS Figura 1. Imagem de olho eqüino com úlcera experimental de córnea corada pela fluoresceína (seta)

Figura 2. Imagem de olho direito (controle) eqüino com cinco dias de evolução: notar a presença de edema e úlcera com fundo transparente em posição de 11 horas (seta) Figura 3. Imagem de olho esquerdo eqüino (tratamento com associação de sulfato de condroitina A e ciprofloxacina) com 5 dias de evolução: ausência de edema e epitelização presente. Figura 4. Imagem de olho esquerdo eqüino aos nove dias de tratamento com associação de sulfato de condroitina A e ciprofloxacina: notar cicatrização a termo com discreto leucoma (seta) Figura 5. Imagem de olho direito (controle) eqüino aos dez dias de tratamento: notar presença de úlcera corneana recém epitelizada (seta)