Dia Mundial da Saúde 2015 DO CAMPO À MESA, OBTENDO ALIMENTOS SEGUROS. Seus alimentos são seguros? CONTEXTO 1. A inocuidade dos alimentos é uma prioridade global e uma questão importante de saúde pública, visto que as doenças, infecções e intoxicações causadas por alimentos (DTAs) são uma grande causa de sofrimento e morte em todo o mundo. As doenças de origem alimentar podem ser definidas como aquelas condições que resultam comumente da ingestão de alimentos e abrangem toda uma série de doenças causadas por patógenos entéricos, parasitas, contaminantes químicos e biotoxinas. 2. Essas doenças prejudicam a produtividade, estressam grandemente o sistema de saúde pública e reduz o produto econômico, devido à perda de confiança na segurança do turismo, da produção de alimentos e do sistema de comercialização. 3. Os alimentos podem atuar como vetores de um grande número de perigos. Há mais de 200 agentes biológicos e uma quantidade incalculável de agentes químicos conhecidos que causam doenças suscetíveis de serem transmitidas pelos alimentos, inclusive graves doenças emergentes. 4. A incidência de doenças transmitidas por alimentos varia muitíssimo de país para país, recaindo sobre os países de baixa renda a maior carga do problema. Mas a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos continua a desafiar a saúde pública de países industrializados também, apesar do progresso em higiene, proteção e controle de alimentos. 5. Estudos recentes sobre a carga de doenças no Caribe indicaram taxas de incidência de doença gastrointestinal severa, relacionada com alimentos contaminados, entre 0,65 e 1,4 casos/pessoa/ano, e um custo total estimado dessas ocorrências, entre US$ 700.000 e US$ 19 milhões. Os Estados Unidos estimam que, todo ano, de um a seis americanos (ou seja, 48 milhões de pessoas) ficam doentes, 128.000 são hospitalizados e 3.000 morrem por causa de doenças transmitidas por alimentos, ocasionando um custo total de US$ 77,7 milhões. 1
6. Graves surtos de doenças transmitidas por alimentos foram registrados na região nos últimos anos, denotando a importância dessas doenças para a saúde pública e para a esfera social. Cerca de 10% de eventos potenciais de importância para a saúde pública constatada pelo Sistema de Gestão de Eventos da OMS desde 2002 foram de origem alimentar. 7. É necessário aplicar as normas e práticas de inocuidade a toda a cadeia alimentar desde as fases de produção, transporte e processamento e de distribuição e venda no varejo ao armazenamento, manuseio, preparo e serviço de refeições. Práticas inadequadas em qualquer estágio da cadeia alimentar acarretam exposição a perigos alimentares, afetando desproporcionalmente os segmentos populacionais menos favorecidos. 8. A segurança dos alimentos está relacionada com as tendências do mercado, as demandas dos consumidores e a política econômica e ambiental. O ritmo de crescimento do comércio e das viagens internacionais é cada vez mais intenso. Hoje, alimentos produzidos num país são transportados para consumo no outro lado do mundo. A rápida movimentação de pessoas e produtos pelo mundo, resultado da globalização, continuará a representar um risco cada vez maior de transmissão de doenças. Os consumidores não apenas transformam os produtos e os processos da cadeia alimentar com base em suas preferências, como também influenciam as políticas agrícolas e alimentares nacionais e globais. Além disso, o clima está mudando e continuará a mudar, constituindo os alimentos um fator determinante desse processo. A influência da mudança climática sobre a segurança hídrica e alimentar e sobre as doenças transmitidas por alimentos continuará a ser um fator importante. 9. A situação acima descrita contribui para a formação de um novo cenário global, em que tanto as já conhecidas como as novas doenças de origem alimentar podem aparecer e se propagar rapidamente. Uma única fonte de contaminação pode se propagar profusamente, gerando consequências de alcance global. A maior expectativa de vida e o número cada vez maior de pessoas com o sistema imune fragilizado são responsáveis por uma população vulnerável maior, para a qual os alimentos que não são seguros representam uma ameaça ainda mais séria. 10. A Declaração Mundial sobre a Nutrição, de 1992, afirma que o acesso a alimentos seguros e nutritivos é um direito básico do indivíduo. Esse direito é reafirmado pela Declaração de 2014 da Segunda Conferência Internacional 2
sobre a Nutrição, em Roma, segundo a qual o melhoramento da dieta e da nutrição exige leis sobre a inocuidade e a qualidade dos alimentos, bem como sobre o uso apropriado de agroquímicos, que promovam a participação nas atividades da Comissão do Codex Alimentarius destinadas ao estabelecimento de padrões internacionais de inocuidade e qualidade dos alimentos. 11. Outro grande desafio é o surgimento de resistência antimicrobiana devido ao uso de antibióticos na produção de alimentos, ilustrada pela resistência da Escherichia coli e pela Salmonella spp à cefalosporina de terceira e quarta geração e a fluoroquinolones e pela resistência do Staphylococcus aureus a todos os antibióticos beta-lactâmicos (exemplo: Staphylococcus aureus resistente à meticilina, MRSA). 12. Reconhecendo a importância da falta de inocuidade alimentar e das DTAs como uma causa importante de doenças e mortes em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou a Resolução WHA53.15 em 2002 e a Resolução WHA63.3 em maio de 2010, estabelecendo como prioridade a inocuidade dos alimentos e a prevenção e o controle de DTAs. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) também adotou como prioridade a inocuidade dos alimentos e seu aprimoramento como um dos objetivos estratégicos do seu Plano Estratégico 2014-2019. 13. Como observou o Diretor Geral da OMS em um número recente da revista Lancet, o momento pede uma resposta sustentável para os problemas centrais, que são a dispersão de autoridades responsáveis pela inocuidade dos alimentos, os orçamentos instáveis e a escassez de demonstrações convincentes sobre o efeito das doenças de origem alimentar. Portanto, a OMS dedicará seu Dia Mundial da Saúde de 2015 à Inocuidade dos Alimentos, a fim de catalisar uma ação coletiva dos governos e do público para a adoção de medidas destinadas a melhorar a segurança dos alimentos no campo, nas indústrias, nos serviços de ambulantes e nas cozinhas. 3
OBJETIVO GERAL O objetivo do Dia Mundial da Saúde de 2015 é incentivar os governos a melhorar a inocuidade dos alimentos por meio de campanhas de conscientização e da focalização de ações governamentais em andamento. Visa também a incentivar os consumidores a assegurar-se de que os alimentos em seu prato são inócuos (perguntas a serem feitas, rótulos a serem observados e dicas de higiene). OBJETIVOS ESTRATÉGICOS Desenvolvimento de mensagens básicas para melhorar o comportamento em relação a aspectos-chave de fatores responsáveis por diferenças de exposição e carga, decorrentes de determinantes sociais e econômicos (pobreza, instrução, etnicidade e gênero, fatores demográficos e condições de vida e de trabalho). Os principais alvos são os segmentos interessados na questão da segurança dos alimentos nos Estados Membros principalmente a autoridades competentes e os consumidores. 1. Modos de consumo dos alimentos: estilo de vida, preferências, comportamento e fatores psicológicos. 2. Modos de manuseio dos alimentos: higiene precária, práticas inadequadas, ambiente impróprio, falta de água potável e de saneamento. 3. Modos de produção dos alimentos: agricultura e saúde animal e práticas de produção. Uma campanha deve levar em conta também as diferenças de vulnerabilidade, resultantes de insegurança alimentar, subnutrição e co-morbidade. As diferenças de exposição a alimentos que não são seguros estão relacionadas com a capacidade dos sistemas nacionais de inocuidade dos alimentos. Esses sistemas são muito complexos, devendo-se enfatizar o fortalecimento dos sistemas de vigilância de doenças transmitidas por alimentos, as comunicações sobre saúde, a promoção do manuseio seguro dos alimentos, a inspeção baseada nos riscos e os regulamentos. 4
Modos de Consumo dos Alimentos. Elementos importantes das mensagens: 1. O estilo de vida contemporâneo e as preferências dos consumidores podem influenciar negativamente a exposição aos perigos apresentados pelos alimentos, visto que muitos consumidores estão mais interessados em economizar tempo e dinheiro e na comodidade do que no manuseio e preparo adequado dos alimentos (exemplo: recurso a alimentos já prontos para serem consumidos). 2. A falta de informações completas sobre a segurança dos alimentos leva muitas vezes a uma apreciação insuficiente dos princípios básicos do preparo de alimentos (por exemplo, contaminação cruzada e/ou outras como Cinco Chaves para segurança dos alimentos). 3. O comportamento nem sempre leva a um manuseio mais adequado dos alimentos, sendo que um número considerável de consumidores instruídos muitas vezes adota práticas impróprias de manuseio dos alimentos (exemplo: alimentos mal cozidos). 4. Devido à maior demanda dos consumidores por alimentos frescos e orgânicos, os mercados hoje estão repletos de produtos perecíveis e produtos orgânicos, o que aumenta os riscos, devido a um manuseio inadequado. 5. As mulheres, em geral, têm uma percepção melhor dos riscos de alimentos que não são inócuos e, por isso, manuseiam os alimentos de modo mais seguro. 6. Os segmentos populacionais de baixa renda estão expostos a um alto risco de alimentos que não são inócuos. Nesse segmento, tanto as pessoas individualmente como o grupo como um todo se sentem frustrados por terem menos controle sobre os processos de gestão dos riscos apresentados por alimentos que não são inócuos. 7. As campanhas de comercialização bem concebidas podem mudar os hábitos de muitas pessoas, embora isso leve anos. 5
Modos de Manuseio dos Alimentos. Elementos importantes das mensagens: 1. Uma parcela considerável das doenças transmitidas por alimentos é atribuível a práticas inapropriadas de manuseio dos alimentos adotadas pelos consumidores em casa, devido principalmente a práticas precárias de higiene, falta de água potável e de saneamento, bem como a condições ambientais inadequadas, muitas vezes atuando sinergicamente. 2. Alguns fatores que costumam contribuir para doenças transmitidas por alimentos são o cozimento inadequado e as condições impróprias de armazenamento ou de temperatura, a higiene precária de quem manuseia os alimentos, como a lavagem insuficiente das mãos, a contaminação cruzada, a contaminação de alimentos crus e os alimentos de origem insegura. 3. A pobreza ou condições extremas (por exemplo, as emergências), a escassez de água, o saneamento precário, a falta de locais adequados de armazenamento e de combustível para cozimento (lenha, gás, eletricidade) dificultam o preparo seguro dos alimentos e aumentam o risco de exposição aos perigos dos alimentos que não são inócuos. 4. Está provado que a amamentação materna tem um poderoso efeito protetor, reduzindo os riscos nos lactentes. 5. Um saneamento precário eleva a morbidade e a mortalidade por diarreia entre crianças pobres. Há uma conexão entre a disposição de excretas insalubres e de lixo e uma alta prevalência de doenças diarreicas nas comunidades afetadas. 6. Em cidades em todo o mundo as pessoas frequentemente comem fora de casa, na rua. Esse costume é um fator de risco de certas doenças transmitidas por alimentos. Uma grande preocupação em relação à comida de rua tem a ver com segurança microbiológica, visto que os vendedores de comida nas ruas geralmente não dispõem de condições adequadas de higiene e saneamento. Os filhos de mulheres que vendem comida na rua têm maior prevalência de doenças gastrointestinais em comparação com a população em geral. 6
Modos de Produção dos Alimentos. Elementos importantes para as mensagens: 1. As doenças transmitidas por alimentos podem ser causadas por alimentos que não são inócuos, contaminados durante as práticas de produção agrícola e relativas à saúde animal. Por exemplo, os patógenos em verduras cruas ou em frutas podem ser devidos a irrigação com água poluída ou água residual tratada inadequadamente. Animais doentes ou infectados podem transmitir doenças pelos seus produtos. 2. As micotoxinas em cereais, tais como o milho, e em amendoim estão aumentando, devido a práticas inadequadas pós-colheita (armazenamento, conservação), prejudicando o crescimento infantil. 3. Nos países em desenvolvimento, a íntima relação entre a população rural pobre e os animais facilita a propagação de infecções zoonóticas. 4. Portanto, as mensagens devem aludir ao fato de que animais sadios dão origem a produtos sadios, à prática da boa higiene pessoal, à proteção das lavouras da contaminação fecal por animais, ao uso de dejetos fecais tratados, à avaliação dos riscos da água de irrigação e à necessidade de manter os equipamentos de armazenamento limpos e secos. 5. Uma mensagem-chave deve referir-se à introdução de micro-organismos resistentes na cadeia alimentar. No combate à resistência aos antibióticos, deve-se fazer uso prudente dos antimicrobianos na agricultura, particularmente na saúde e na produção de animais, bem como na aquicultura. A inocuidade dos alimentos deve servir de plataforma para unir as partes interessadas, com vistas à conscientização e à formulação de políticas e programas para prevenir o problema. 7
Conexão com inocuidade dos alimentos, subnutrição e comorbidade As mensagens dirigidas especialmente aos governos nacionais devem levar em consideração os diferentes graus de vulnerabilidade diante de doenças transmitidas por alimentos, que dependem primariamente das condições biológicas e fisiológicas que alteram as defesas do hospedeiro e suprimem o funcionamento do sistema imune. Deve-se levar em conta particularmente o seguinte: 1. Inocuidade dos alimentos e segurança alimentar. As conquistas em matéria de inocuidade dos alimentos e de segurança alimentar podem atuar sinergicamente; e o melhoramento efetivo da inocuidade dos alimentos deve capitalizar os impactos positivos das políticas de segurança alimentar. 2. A desnutrição é uma das principais causas da vulnerabilidade de um hospedeiro às infeções causadas por alimentos. Em crianças, a desnutrição está associada à incidência e à duração da diarreia. Os alimentos devem ser nutritivos e inócuos. As autoridades nacionais devem empenhar-se mais em assegurar que os alimentos que produzimos, comercializamos e consumimos sejam livres de infecção e contaminação. 3. Pacientes de câncer e Aids submetidos a quimioterapia com drogas imunossupressoras estão sujeitos a infecções oportunistas, inclusive doenças transmitidas por alimentos, por causa da supressão imunológica. Mensagens que levem em conta os determinantes estruturais de doenças transmitidas por alimentos: Origem étnica. A etnia está estreitamente associada a uma situação desprivilegiada na sociedade, decorrente, por exemplo, de baixa renda, moradia e condições de vida precárias ou baixo nível de escolaridade. Assim, a origem étnica está com frequência vinculada estruturalmente à desigualdade nos contextos locais de cada país. Essas desvantagens cumulativas produzem condições adversas à segurança alimentar e à inocuidade dos alimentos. A proposta da campanha deve levar em conta o fato de que certos aspectos de doenças transmitidas por alimentos têm a ver com alimentos que são 8
consumidos com maior frequência por populações étnicas, devido a seus hábitos alimentares tradicionais (exemplo: brucelose e o consumo de leite cru, queijo ou outros derivados de laticínios). Gênero: Além das condições biológicas (como a gravidez), o gênero se reflete em práticas e comportamentos que afetam a inocuidade dos alimentos. Homens adultos e conceitos de masculinidade podem ter reflexo na tendência a práticas inapropriadas de manuseio de alimentos. Por outro lado, as mulheres em países industrializados estão consumindo cada vez mais alimentos característicos de feminilidade (por exemplo, iogurte, frutas frescas e verduras). Tudo isso produz diferenças na exposição aos perigos (exemplo: o surto de O154 na Alemanha). Educação: O índice de alfabetização e de instrução das mulheres presta uma contribuição significativa à disponibilidade e a alimentos seguros. Considerar mensagens dirigidas à mulher e à criança. Conexão com o comércio e o turismo Há muitas décadas existe uma conexão entre a inocuidade dos alimentos e a segurança do turismo. Embora alimentos inócuos não garantam o êxito de uma viagem, as doenças provocadas por alimentos podem levá-la ao fracasso. O turismo depende da provisão segura e confiável de alimentos. Mas as medidas para assegurar alimentos seguros por si só não constituem medidas comerciais; no entanto, os regulamentos e padrões de alimentos inócuos podem impedir o comércio e afetar significativamente a capacidade dos países em desenvolvimento para obter acesso aos mercados, particularmente aos mercados dos países industrializados. As autoridades responsáveis pela inocuidade dos alimentos nos países devem estar cientes de que, ao elevar os padrões nacionais de inocuidade dos alimentos, elas elevarão sua competitividade no mercado internacional de alimentos. Trabalhadores que lidam com alimentos Segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), o norovirus é a principal causa de doenças transmitidas por alimentos nos Estados Unidos e é disseminado principalmente por trabalhadores que lidam com alimentos e que já estão infectados. A campanha deve abordar essa questão em mensagens dirigidas especificamente a essa classe de 9
trabalhadores, atuantes desde o campo até os restaurantes. Atenção especial deve ser dada àqueles que trabalham em áreas críticas, como a pecuária e a avicultura. A diferença entre trabalhadores que lidam com alimentos e os demais trabalhadores são cruciais para a inocuidade dos alimentos e a saúde pública. 10