1 Introdução. Erosão interna devido a altos gradientes hidráulicos

Documentos relacionados
MINERAÇÃO E ÁGUA SUBTERRÂNEA: TORNANDO PROBLEMAS COM AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM SOLUÇÕES

Hugo David Ninanya De la Cruz. Modelagem numérica para avaliação do controle das águas na mineração. Dissertação de Mestrado

8 Conclusões e Considerações Finais

Coleta de dados de campo. Tratamento de dados de campo e Determinação de parâmetros. Geração de sistemas de fraturas

C T O C MONITORAMENTOS, MAPEAMENTOS E MODELAGENS DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS MARCUS VINÍCIOS ANDRADE SILVA ENG. GEÓLOGO - HIDROGEÓLOGO

(Jeong & Lee, 1992; Liu et al., 2001; Liu et al., 2003; Li et al., 2008 ehe & Chen 2012), b) Modelo discreto de redes de fraturas (Long et al.

PUA Plano de Uso da Água na Mineração. Votorantim Metais Holding Unidade Vazante - MG

5 Estudo de caso: Mina a céu aberto

Hidrogeologia: Conceitos e Aplicações

MAPEAMENTO DO NÍVEL FREÁTICO UTILIZANDO PIEZOMETRIA CONVENCIONAL MINA SUBTERRÂNEA DE VAZANTE VAZANTE MG.

4 Estudo de caso: Mina subterrânea

Figura 1 Localização do pré-sal no Brasil Fonte: Petrobras (c2012).

Atividades Especiais. Atividades de Superfície. Atividades de Profundidade

4 Fluxo na barragem de terra de Macusani - Peru

Divisão Ambiental Prazer em servir melhor!

4 Modelagens numéricas de aferição

Ângulo da bancada. Ângulo inter-rampa. Largura da. Ângulo global do talude

1 Introdução 1.1. Definição do problema

5 Estudo de casos Shopping Brooklin Descrição da obra

Hugo David Ninanya De la Cruz. Modelagem numérica para avaliação do controle das águas na mineração. Dissertação de Mestrado

SERVIÇOS PARA A INDÚSTRIA MINEIRA

CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E HIDRÁULICAS DOS POÇOS TUBULARES DA APA CARSTE LAGOA SANTA E ENTORNO, MG

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE PREDIÇÃO DE INUNDAÇÕES PARA AS BACIAS PILOTO DOS RIOS PIABANHA E PAQUEQUER, RJ (Código 11126)

DRENAGEM AULA 04 DRENAGEM SUPERFICIAL

PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE

O Homem sempre utilizou materiais de origem geológica que a Natureza lhe fornecia. Idade da Pedra Idade do Bronze Idade do Ferro

METODOLOGIA DO ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO PARA GRANDES BARRAGENS

Minimização e Coleta de Chorume

Processos Hidrológicos CST 318 / SER 456. Tema 1 Introdução ANO 2017

ALERTA MOVIMENTOS DE MASSA E INUNDAÇÃO

SELEÇÃO DE ÁREAS PARA IMPLANTAÇÃO DE ATERROS

LOCALIZAÇÃ O DA ÁREA

Agrupamento de Escolas Santa Catarina EBSARC 10º ANO 2015/2016 GEOGRAFIA A AS BARRAGENS E AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Figura 16 - Esquema geral da metodologia empregada na avaliação de recarga e sustentabilidade da micro-bacia de Barro Branco.

João Alberto Oliveira Diniz Adson Brito Monteiro Fernando Antônio Carneiro Feitosa Marcos Alexandre de Freitas Frederico Cláudio Peixinho

1 INTRODUÇÃO. 1.1 Introdução

INOVAÇÕES EM MODELAGEM NUMÉRICA HIDROGEOLÓGICA INTEGRADA A GEOTECNIA. Marina Naim Brock Trevizolli, Sophia Cavalcante Varela, Nilson Guiguer

Roteiro. Definição de termos e justificativa do estudo Estado da arte O que está sendo feito

PHD Hidrologia Aplicada. Águas Subterrâneas (2) Prof. Dr. Kamel Zahed Filho Prof. Dr. Renato Carlos Zambon

Hidráulica para Engenharia Civil e Ambiental

Dr. Mário Jorge de Souza Gonçalves

ESTUDO DO SISTEMA DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS DE PARTE DA ÁREA ABRANGIDA PELO PLANO DE URBANIZAÇÃO DA UP5 - PROTECÇÃO A ÁREAS COM RISCO DE INUNDAÇÃO

IPH Hidrologia II. Controle de cheias e Drenagem Urbana. Walter Collischonn

Recursos hídricos em Berlim - Panorama

NRM - Normas Regulamentadoras da Mineração - Especificidade na Indústria de Areia e Brita NRM 02. Lavra a Céu Aberto

Mananciais de Abastecimento. João Karlos Locastro contato:

1 Introdução Relevância e Motivação do estudo

Iniciando pela chuva, temos basicamente 4 destinos para as águas pluviais:

ACTIVIDADES HUMANAS AMBIENTE GEOLÓGICO IMPACTO NOS PROJECTOS DE ENGENHARIA

OBRAS RODOVIÁRIAS. Os fatores que influenciam o traçado geométrico de obras rodoviárias, aplicam-se a: Distinguem-se:

MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL VIAS DE COMUNICAÇÃO. Luís de Picado Santos Drenagem

GESTÃO INTEGRADA DE ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS PARA EMPREENDIMENTOS MINERÁRIOS

5 Análise Tridimensional de Pressão de Poros Usando o Modelo de Eaton e o Trend de Bowers

3 Controle das águas em projetos de mineração

A DIMENSÃO TRIDIMENSIONAL DO ESPAÇO URBANO - PROPOSTA PARA UM PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DOS TÚNEIS VIÁRIOS DOS MUNICÍPIOS A PARTIR DE UMA POLÍTICA DE

A perfuração deverá seguir as normas técnicas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.

Teste 1 de Vias de Comunicação II GUIA DE CORRECÇÃO

DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO SOLO ATERROS DE RESÍDUOS

Figura 1.1 Esquema da técnica de fraturamento hidráulico (EPA, 2004).

1 Introdução 1.1. Generalidades

conta-se com registros correspondentes a 03 inclinômetros, denominados como I 01, I 02 e I 03. Referente às medições de porepressão, conta-se com

4 Deslocamentos gerados pela escavação

DRENAGEM AULA 01 INTRODUÇÃO: CONCEITOS BÁSICOS TIPOS DE DRENAGEM ELEMENTOS DE PROJETO

5 Rebaixamento do lençol freático

2 Exploração e Produção de Petróleo

MONITORIZAÇÃO DE INSTALAÇÕES DE RESÍDUOS MINEIROS

ÁGUA SUBTERRÂNEA E MINERAÇÃO. A mineração faz retirada planejada de água subterrânea e favorece outros usos das águas

7 Cenários simulados de bombeamento

estímulo de outro, dado um evento. Este evento pode ser precipitação, percolação solo-superfície, infiltração ou fluxo imposto.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA APLICADOS À PRESERVAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS

Estabilidade de rochas superfície de deslizamento plana

Hidrogeologia Ambiental. Gary Wealthall

ANEXO I-D. Estudos Topográficos, Geológicos/Geotécnicos, Arqueológicos, Ambientais e de Interferência de Redes de Utilidades

Faculdade de Engenharia Departamento de Estruturas e Fundações. Lista de Exercicios

Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica. Prof. D.Sc Enoque Pereira da Silva

(Adaptado de Revista Galileu, n.119, jun. de 2001, p.47).

MODELO HIDROGEOLÓGICO CONCEITUAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CAMPUS DA UFMG, BELO HORIZONTE / MG

Riscos de Cheias e Secas: O papel regulador dos aquíferos

Características de regiões cárstica

Simulação Numérica do Fluxo e Transporte

7 Hidrologia de Água Subterrânea

COMPARTIMENTAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DA FORMAÇÃO CAPIRU NA REGIÃO NORTE DE CURITIBA-PR, BRASIL. Ernani Francisco da Rosa Filho 1, Marcos Justino Guarda 2

XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS VIII FENÁGUA - Feira Nacional da Água XIX Encontro Nacional de Perfuradores de Poços

DRENAGEM E ESTUDO HIDROLÓGICO

SUMÁRIO. CAPíTULO 1 APRESENTAÇÃO

10263 MÉTODOS DE CÁLCULO DE PERÍMETROS DE PROTEÇÃO DE POÇOS DE CAPTAÇÃO COMPARADOS À LEGISLAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Introdução à CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA

A IMPORTÂNCIA DA INSTALAÇÃO DE ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS E PLUVIÔMETRICAS PARA O ESTUDO DA HIDROLOGIA: CASO DA BACIA DO RIO JUQUERIQUERÊ

Modelo Hidrogeológico Conceitual e Matemático da Bacia Sedimentar do Tucano Central. 12 de agosto de 2014 Mauro C C M Prado Hidrogeólogo, MSc

Modelagem hidrológica da bacia hidrográfica do Rio Macaé utilizando o MOHID Land

Dados do poço PTP 04/05

CURSO DE CAPACITAÇÃO EM ESTRUTURAS DE BARRAGENS: TERRA, ENROCAMENTO E REJEITOS

Reabilitação de Áreas de Resíduo Desativadas

Modelos de planeamento e gestão de recursos hídricos. 19 de Novembro

URBANIZAÇÃO E DRENAGEM URNANA EM PORTO ALEGRE. Joel Avruch Goldenfum - IPH/UFRGS

CURSO DE CAPACITAÇÃO EM ESTRUTURAS DE BARRAGENS: TERRA, ENROCAMENTO E REJEITOS. Critérios para escolha do tipo e local de implantação de uma barragem

CONTRIBUIÇÃO DO SISTEMA AQUÍFERO URUCUIA PARA O RIO SÃO FRANCISCO: MODELAGEM HIDROGEOLÓGICA DAS BACIAS DO RIO GRANDE E RIO CORRENTE (BA)

Geologia de Túneis UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL. GAEC - Geologia Aplicada à Engenharia Civil

AQUÍFERO BARREIRAS: ALTO POTENCIAL HÍDRICO SUBTERRÂNEO NA PORÇÃO DO BAIXO RIO DOCE NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

HIDROGEOLOGIA. Acção de Formação Modelos Hidrogeológicos: Elaboração e Experimentação. Novembro de 2004

Transcrição:

1 Introdução Processos de escavação em uma mina abaixo do lençol freático podem criar uma série de problemas relacionado com a água que afetam a eficiência operacional e viabilidade econômica de operação na mina (Doulati Ardejani et al., 2003). Por outro lado a água é também indispensável para diversos processos mineiros. Procedimentos de rebaixamento do lençol freático permitem a extração da água das regiões de escavação da mina, deixando-a em condições de trabalhabilidade, e ao mesmo tempo, permitem aproveitar esta água por tecnologias de re-uso em distintas áreas da mineração. Estes processos são conhecidos como técnicas de controle da água, que são continuamente implementadas e monitoradas durante os processos de escavação e ao longo da vida dos projetos de mineração. Se por um lado um estudo geológico do depósito de minério a ser explorado permite conhecer e calcular a disposição das reservas a explorar, encaminhando, basicamente, à devida escolha do método mais adequado de exploração do minério com o menor custo, por outro lado, um estudo hidrogeológico detalhado do depósito permite valorar os sistemas de controle de água mais adequados, necessários para permitir a atividade mineira. A implementação de um apropriado sistema de controle de água pode facilitar os processos de escavação de uma mina, caracterizada por estratificações complexas de materiais permeáveis abaixo do lençol freático. Um sistema inadequado ou não controlado do fluxo subterrâneo pode, por pressão hidrostática ou exfiltração, causar piping 1, levantamento da base da escavação, ou reduzir a estabilidade dos taludes de escavação (no caso de uma mina a céu aberto), ou colapso, subsidência (no caso de uma mina subterrânea). Modelagens numéricas via elementos finitos ou diferenças finitas são ferramentas versáteis e de grande ajuda quando aplicadas a este tipo de processos 1 Erosão interna devido a altos gradientes hidráulicos

22 de escavação e de controle das águas, especialmente quando se lida com aplicações tridimensionais, com heterogeneidade e anisotropia das propriedades dos materiais e de grandes proporções em área e profundidade das estratificações, como normalmente abrangem projetos de mineração, onde as soluções analíticas não podem mais ser aplicadas. Parte da sua capacidade está também em que permite a compreensão, interpretação e o entendimento dos processos que regem esses sistemas reais complexos, bem como a incorporação e otimização das técnicas de controle de água a serem empregadas nos processos de escavação. Simulações numéricas são empregadas em projetos de hidrogeologia na mineração, permitindo tanto a calibração das propriedades hidráulicas pela incorporação das adequadas condições de contorno, assim como previsões de respostas hidráulicas perante diferentes condições de fluxo que virem a ocorrer, com base em um modelo conceitual bem definido que representem o comportamento hidrogeológico da região em estudo. De acordo com Aryafar et al., 2007, os resultados de tais simulações seriam usados para desenvolver uma estratégia apropriada para o controle das águas, com o intuito de minimizar problemas operacionais abaixo do lençol freático e problemas ambientais na fase de viabilidade no projeto de mineração. Este trabalho de dissertação de mestrado compreende análises numéricas tridimensionais de fluxo subterrâneo via elementos finitos, com o programa FEFLOW 6.2, para dois casos gerais de exploração realizados na mineração, mina subterrânea e mina a céu aberto. Análises numéricas hidrogeológicas em condições de fluxo permanente e transiente para as condições de exploração atuais das minas estão sendo avaliadas. Estas análises abrangem a elaboração do modelo hidrogeológico conceitual, o desenvolvimento de uma sistemática de uso adequado das condições de contorno e de restrição, a calibração do modelo numérico e a verificação das respostas do fluxo subterrâneo gerados pela incorporação de distintos técnicas de controle. No primeiro caso da mina subterrânea, unidade Vazante da empresa Votorantim Metais Zinco S.A., é destinada à lavra em áreas cársticas para o beneficiamento de minério de zinco. Esta mina vem explorando este minério desde 1969 através de processos de lavra a céu aberto, e as atividades subterrâneas tiveram início no ano de 1982. Atualmente, a mina de Vazante consiste em níveis

23 múltiplos de mineração subterrânea situados abaixo da superfície do lençol freático, onde a remoção da água subterrânea que entra na mina cria um desnível na superfície piezométrica superior ou igual a 180 metros. Este cone de depressão origina altos gradientes hidráulicos na região entre o rio Santa Catarina e as atividades subterrâneas de mineração. O rio Santa Catarina corre do oeste ao leste a aproximadamente 1 km ao sul da mina (Figura 1.1) atravessando superficialmente a região do Dolomito e a área do cone de depressão do lençol freático criado pela remoção da água da mina. Figura 1.1 - Localização da mina subterrânea de Vazante em relação ao rio Santa Catarina e às estações de medição (Votorantim, 2013) Devido à necessidade de conhecer as trajetórias de fluxo subterrâneo e os mecanismos de infiltração na mina (Figura 1.2), testes de rastreamento através de traçadores foram realizados pela empresa DHI no ano de 2013 para ajudar na identificação de caminhos preferenciais geradas pelas feições cársticas, que não tinham sido antes consideradas. Um modelo hidrogeológico mais completo foi considerado neste trabalho em parceria com a DHI para um conhecimento mais realista do comportamento do fluxo que envolve à mina. Portanto, modelagens numéricas das águas subterrâneas são utilizadas para simular esses sistemas de fluxos, e neste caso particular, para a simulação das características do fluxo nos condutos identificados pelos testes de rastreamento. A

24 identificação das possíveis trajetórias de fluxo entre pontos à montante da mina de Vazante, as várzeas e margens do rio Santa Catarina e o interior da mina subterrânea permitirão a quantificação de uma eventual contribuição das águas superficiais para a mina subterrânea por meio destas feições cársticas. Neste contexto, uma recalibração do modelo hidrogeológico foi realizada para servir como plataforma na avaliação do efeito de estratégias atenuantes, tais como o reposicionamento ou o revestimento do rio nos locais em que forem registradas perdas ou em que sua existência seja presumida; ou, por último, o fechamento dos condutos formados por dissolução. O modelo proposto nesta dissertação também permite a previsão do efeito da redução das perdas da água do rio sobre a área e sobre a profundidade do cone de depressão existente. Figura 1.2 - Possíveis mecanismos de infiltração desenvolvidos: Infiltração sazonal em resposta a alta precipitação (ex. 205 mm em 5 dias), fluxo em conduto ao longo de cársticos interconectados, e Infiltração através de fraturas e permeabilidade do maciço rochoso (Schlumberger Water Services, 2008) No segundo estudo de caso tem-se a mina a céu aberto, localizada no continente Europeu. A exploração desta mina é de rocha industrial que começou sua atividade pelos anos 50 e que atualmente ainda está em processos de operação. Os trabalhos foram realizados por perfuração e detonação em bancos e bermas descendentes em profundidade e avanço na direção sudoeste. Atualmente, a pedreira tem uma superfície de terreno de mais de 84 hectares. Esta mina se

25 situa no interior de uma bacia, formada por quatro arroios, como mostrado na Figura 1.3. O arroio principal discorre bordeando a exploração por seu flanco oeste com direção nordeste para o mar, onde verte suas águas. Esta bacia coincide com a estrutura geológica de um sinclinal e sua extensão aproximada é de 12,4 Km2. Figura 1.3 Localização e traçado do limite físico (línea cheia em vermelho) da mina a céu aberto (Fonte: Google Earth, 2014). Devido às características hidrogeológicas e a própria configuração espacial da pedreira no seu interior, i.e, na cava, há no lugar um fenômeno de afloramento e acumulação de água em volumes importantes, que em alguns momentos sobrepassam as possibilidades de drenagem e provocam inundações. O problema hídrico é devido em grande parte a que a rocha calcária explorada pela pedreira é o sustento de um aquífero livre, cujo nível freático intersecta a superfície da cava e dá lugar a superfícies de infiltração e afloramentos pontuais em forma de mananciais. Para solucionar estes problemas de inundação, atualmente a mina tem incorporado valas perimetrais, valas de distribuição e bombas, por meio dos quais controlam a evacuação e os níveis de água nos frentes explorados, permitindo a continuidade dos trabalhos em condições secas. Contudo, na zona mais profunda da exploração, os trabalhos são paralisados durante as épocas mais chuvosas do ano devido à excessiva acumulação da água (Figura 1.4).

26 Figura 1.4 - Fotografia da frente a menor cota da pedreira em condições inundadas no ano de 2010 (Díaz, 2012). Devido à situação atual do espaço mineiro e sua evolução temporal, onde a ocorrência da exfiltração das águas subterrâneas afeta a pedreira, um estudo numérico do fluxo subterrâneo é requerido para este estudo de caso, o qual consistiu primeiramente na conceitualização e calibração do modelo hidrogeológico. Desta forma, as análises de fluxo são realizadas para avaliar as características do sistema de fluxo da mina e na cava bem como de obter uma estimativa numérica de resposta da implementação de diferentes técnicas de controle das águas nas regiões de exfiltração, como o intuito de não apenas extrair a água exfiltrada na região senão também de rebaixar o lençol freático o suficiente para garantir um fator de segurança nas operações mineiras. Objetivos Este trabalho tem como objetivo demonstrar a utilidade de se aplicar modelos numéricos para se fazer em previsões de níveis de água e pressões em atividades de mineração. Para isso foram utilizados os dois casos reais mencionados acima, onde se tentou representar numericamente um conjunto de condutividades hidráulicas como solução singular do sistema hidrogeológico das águas subterrânea para uma determinada região, baseados em dados de monitoramento no campo e no modelo hidrogeológico conceitual, complementados por análises de sensibilidade quando necessário. Esta abordagem é realizada para os dois casos de exploração de minas mais empregados: subterrânea e a céu aberto.

27 Distinguir o uso adequado das condições de contorno presentes em projetos de hidrogeologia na mineração, para uma representação do comportamento ou dinâmica do fluxo mais realista em um modelo matemático. Conhecer as respostas do sistema de fluxo subterrâneo, pela impermeabilização de um rio adjacente à mina, como técnica do controle das águas para o caso da mina subterrânea. Avaliar a eficiência das diferentes técnicas de controle de água comumente usadas em casos de mineração superficial, com a finalidade de solucionar tanto os problemas de exfiltração, que podem levar a inundação e na paralização de trabalhos por longos períodos de tempo, quanto garantir condições seguras de trabalho. Escopo da dissertação O presente trabalho foi dividido em seis capítulos. O capítulo 1 corresponde à Introdução deste trabalho de dissertação, que inclui objetivos e escopo da dissertação. O capítulo 2 descreve rapidamente os conceitos fundamentais de fluxo bem como as equações governantes em águas subterrâneas, e ao mesmo tempo é feita a descrição da formulação em elementos finitos para sua solução. O capítulo 3 descreve as técnicas para controle das águas, seus principais aspectos e critérios de projeto, a serem aplicadas em um projeto de mineração subterrânea e a céu aberto. O capítulo 4 compreende a aplicação prática de um caso real de uma mina subterrânea onde se avaliou a importância de representar explicitamente feições cársticas no modelo bem como alternativas de redução de vazão na mina tais como impermeabilização da calha de um rio próximo. Quatro cenários foram avaliados para determinar a solução mais efetiva e econômica. O capítulo 5 apresenta outro estudo de caso, mas, desta vez, aplicado para um projeto de mina a céu aberto, onde as diferentes técnicas de controle de água, descritas no capítulo 3, foram implementadas e seus resultados verificados para a avaliação da eficiência e validade no presente projeto.

28 O capítulo 6 compreende as conclusões deste trabalho e as sugestões para futuras pesquisas. Esta dissertação também inclui as referências bibliográficas empregadas nesta pesquisa. Alguns anexos estão sendo incluídos, como os mapas geológicos, que auxiliam ao entendimento das condicionantes geológicas que incluem os estudos de casos desta dissertação.