Dia da Libertação dos Impostos - Relatório de 2007-26 de Abril de 2007 Gabinete de Análise Económica () Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa Coordenação: Professor Doutor António Pinto Barbosa PATROCINADOR
1. O Dia da Libertação dos Impostos (DLI) Estima-se que o Dia da Libertação dos Impostos (DLI), para o ano de 2007 em Portugal, corresponda ao dia 16 de Maio. Assim, nessa data, após ter trabalhado 136 dias (mais um dia do que em 2006) o português médio já terá ganho o rendimento suficiente para cumprir as suas obrigações fiscais. DLI em 2007 O DLI em 2007 deverá ocorrer no dia 16 de Maio. A estimativa baseia-se essencialmente na informação relativa à execução orçamental de 2006 e no crescimento da receita fiscal previsto no Orçamento do Estado para 2007. Relativamente ao PIB nominal, adoptou-se a estimativa para 2007 enviada à Comissão Europeia na notificação dos défices excessivos de Março de 2007, à qual está subjacente um crescimento real de 1.8 por cento assumido no Orçamento do Estado para 2007. Tal como nos anos anteriores, o DLI de 2007 será afectado por medidas de política fiscal com impactos quer positivos quer negativos na receita fiscal. Relativamente às medidas que contribuem para o aumento no DLI, são de destacar as seguintes: - Aumento da tributação dos rendimentos de pensões por via da redução da respectiva dedução específica no OE2006 e no OE2007. - Introdução no OE2007 da retenção na fonte sobre os dividendos das participações financeiras dos bancos, em sede de IRC. - Aumento das taxas do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos em 2.5 cêntimos/litro e uma actualização das mesmas de acordo com a inflação esperada. - Subida da componente específica do imposto sobre os cigarros em 11.5 por cento. Refira-se que a limitação das provisões relevantes para a determinação do rendimento colectável no IRC introduzida no OE2007 só deverá ter um efeito positivo na receita deste imposto no próximo ano, aquando das autoliquidações relativas aos rendimentos de 2007. No que respeita às principais medidas com impacto negativo sobre a receita fiscal de 2007, refiram-se as seguintes: - Reintrodução de benefícios fiscais às aplicações em Planos Poupança Reforma no OE2006, em sede de IRS. - Reintrodução de benefícios fiscais à aquisição de material informático no OE2006.
- Criação no OE2007 de uma dedução à colecta igual a três vezes a retribuição mínima mensal por cada sujeito passivo com deficiência. Esta medida representa uma substituição da isenção de parte do rendimento e da majoração da dedução específica para os rendimentos do trabalho dependente e pensões, com um período de transição até 2009. - Eliminação da diferença entre a dedução à colecta dos sujeitos passivos casados e não casados, no OE2007. - Diferimento do prazo de pagamento no IVA nas importações de fora da União Europeia, considerada no OE2007. - Alterações no Imposto Automóvel, a partir de Julho de 2007, que embora ainda não totalmente especificadas foram tidas já em conta na previsão da receita fiscal incluída no OE2007. O gráfico seguinte descreve a evolução, baseada nos dados mais recentes, do DLI até 2006 e apresenta a estimativa para 2007. Dias de trabalho 138 136 134 132 130 128 126 124 122 Dia da Libertação dos Impostos (DLI), Portugal 2000-2007 10 de Maio 8 de Maio 13 de Maio 15 de Maio 16 de Maio 120 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano
Reavaliação do DLI em 2006 A informação obtida desde a elaboração do anterior relatório sobre o DLI permitiu actualizar a evolução desse indicador no passado recente e, em particular, o seu valor em 2006 1. Essa reavaliação não é muito significativa, situando-se assim, em média, em cerca de menos um dia de trabalho por ano no período de 2003 a 2005, decorrendo essencialmente da revisão em alta do PIB nominal. No que diz respeito à estimativa do anterior relatório sobre o DLI de 2006 (1) a diferença para a actual estimativa é explicada pela revisão em alta do PIB nominal, o que mais do que compensou o comportamento mais favorável do que o previsto da receita fiscal em 2006. O gráfico seguinte põe em confronto a evolução no passado recente do DLI estimada no anterior relatório (linha) com a evolução agora actualizada (a sombreado), utilizando os dados mais recentes. 138 136 134 Dia da Libertação dos Impostos (DLI), Portugal 2000-2007 14 de Maio 13 de Maio 1 16 de Maio 15 de Maio Dias de trabalho 132 130 128 126 10 de Maio 10 de Maio 8 de Maio 10 de Maio 8 de Maio 124 122 120 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano DLI Relatório 2007 DLI Relatório 2006 1 A metodologia utilizada no cálculo do DLI encontra-se explicada no Relatório de 2005, disponível em http://portal.fe.unl.pt/feunl/novoportal/public/docs/relatoriodli_versaoii2.pdf. A este respeito importa recordar, em particular, os seguintes pontos: - As receitas fiscais correspondem à soma dos impostos sobre o rendimento e património, sobre a produção e importação e das contribuições sociais, que constituem receita das administrações públicas, compiladas numa óptica de Contas Nacionais (SEC95). - É adicionado ao valor referido no ponto anterior o IVA pago em território nacional, mas que é transferido, como contribuição financeira, para a União Europeia. - Em 2003 foi realizada uma venda de créditos tributários que implicou, em Contas Nacionais, o registo de um montante muito elevado de receita fiscal das administrações públicas, sem que este tenha sido efectivamente pago. Assim, os dados estão expurgados desta operação e, em contrapartida, adicionados, de 2003 em diante, da estimativa dos montantes entretanto pagos à empresa adquirente dos créditos tributários.
2. O Dia da Libertação do Sector Público (DLSP) Em 2007, os portugueses irão trabalhar até 15 de Junho (166 dias) para pagar a totalidade do Sector Público, menos três dias que em 2006. Tal como nos relatórios anteriores, apresenta-se de seguida um importante indicador adicional - o Dia da Libertação do Sector Público (DLSP) - que procura levar em conta todo o tipo de tributação, nomeadamente a tributação implícita associada ao défice. O próximo gráfico apresenta os valores do DLSP recalculados de acordo com a informação actualmente disponível (a sombreado), bem como os incluídos no relatório de 2006 (linha). Relativamente à estimativa apresentada no anterior relatório, a variação do DLSP em 2006 foi revista em baixa em cerca de quatro dias de trabalho devido quer à subida da estimativa do PIB nominal (que se traduziu numa diminuição no DLSP em 3 dias de trabalho), quer ao comportamento mais favorável da despesa pública (que representou menos um dia de trabalho). Para 2007, a estimativa apresentada para o DLSP baseia-se essencialmente no Orçamento do Estado para 2007, mas tem em conta a informação relativa à execução de 2006. Deste modo, as estimativas actuais do DLI e do DLSP têm implícito um défice de 3.3 por cento do PIB, igual ao objectivo oficial anunciado recentemente pelo Governo na sequência dos bons resultados orçamentais de 2006. A confirmarem-se as estimativas, os portugueses irão trabalhar até 15 de Junho de 2007 para pagar a totalidade do sector público, menos três dias que em 2006.
Dias de trabalho 180 175 170 165 6 de Junho 160 6 de Junho 155 Dia da Libertação do Sector Público (DLSP), Portugal 2000-2007 11 de Junho 11 de Junho 11 de Junho 11 de Junho 17 de Junho 15 de Junho 18 de Junho 18 de Junho 24 de Junho 23 de Junho 22 de Junho 18 de Junho 15 de Junho 150 145 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano DLSP Relatório 2007 DLSP Relatório 2006 3. O DLI por tipo de imposto O DLI por tipo de imposto em Portugal O gráfico seguinte ilustra a decomposição do DLI pelos principais tipos de impostos em Portugal, no período de 2000 a 2007. Como se pode observar, a subida do número de dias de trabalho necessários para cumprir as obrigações fiscais em 2006 em Portugal tem subjacente, no essencial, um aumento dos impostos sobre a produção e a importação, um pouco à semelhança do que se tem verificado nos últimos anos. Com efeito, as medidas de política fiscal adoptadas no período mais recente estiveram muito centradas na tributação indirecta, em particular no IVA, Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Imposto sobre o Tabaco. Pelo contrário, em 2007, espera-se que o aumento dos dias de trabalho para cumprimento das obrigações fiscais decorra predominantemente dos impostos sobre o rendimento e o património, em particular do IRC. Este resultado não decorrerá do impacto de medidas de política fiscal no IRC, mas sim do facto de o OE2007 prever um crescimento muito significativo da receita do IRC devido ao aumento de resultados esperados da actividade de um número muito restrito de empresas de grande dimensão.
O DLI por tipo de imposto em Portugal 2000-2007 Ano 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 34 56 46 33 57 46 32 55 46 32 53 45 30 53 44 34 53 43 34 51 42 36 51 41 0 20 40 60 80 100 120 140 Dias de trabalho Impostos sobre o rendimento e o património Impostos sobre a produção e a importação Contribuições sociais O DLI de 2007 por tipo de imposto Outros Impostos, 8 dias IRS, 20 dias Contribuições, 46 dias IRC, 12 dias IVA, 32 dias ISP, 7 dias Imp. s/tabaco, 4 dias Imp. Selo, 4 dias Imp. Automóvel, 3 dias IRS IRC IVA Imp. Selo Imp. Automóvel Imp. s/tabaco ISP Contribuições Outros Impostos
Para o ano de 2007, estão acima indicados os dias de trabalho que o português médio terá de consagrar para o pagamento dos vários tipos de impostos. Por exemplo, só para pagar o Imposto Selo um indivíduo trabalhará, em média, 4 dias por ano. Do mesmo modo, um português que não fume poderá ver o seu DLI diminuir em mais de 4 dias. O DLI por tipo de imposto em 2006 Comparação com a União Europeia Os gráficos seguintes comparam o DLI por tipo de imposto em Portugal com o dos restantes antigos Estadosmembros da União Europeia em 2006. Apesar do aumento do peso da tributação em Portugal de novo em 2006, este aparece ainda como o terceiro país com o menor DLI no conjunto dos quinze Estados-membros. Esta posição relativa deriva essencialmente da magnitude dos impostos sobre o rendimento e o património em Portugal e, numa menor medida, das contribuições sociais, que se situa significativamente abaixo dos valores para a média da área do euro e da antiga UE-15. O oposto é observado nos impostos sobre a produção e a importação.
Suécia Dinamarca Bélgica França Áustria Finlândia Itália Área euro UE-15 Alemanha Países Baixos Reino Unido Espanha Luxemburgo Portugal Grécia Irlanda DLI 2006 183.2 179.7 167.8 167.2 157.6 157.1 154.4 151.3 151.0 147.3 146.1 141.1 135.1 134.4 133.8 133.8 122.8 0 50 100 150 200 Dias trabalhados Dinamarca Suécia Reino Unido Finlândia Bélgica Itália UE-15 Irlanda Luxemburgo Áustria Área do euro França Países Baixos Espanha Alemanha Portugal Grécia Impostos sobre o rendimento e o património 2006 43 4548 43 4043 32 32 48 5053 48 63 73 108 61 62 0 20 40 60 80 100 120 Dias trabalhados Dinamarca Suécia França Portugal Itália Irlanda Áustria UE-15 Área do euro Finlândia Bélgica Grécia Reino Unido Países Luxemburgo Espanha Alemanha Impostos sobre a produção e a importação 2006 56.5 62.2 65.0 56.0 54.0 51.7 51.2 50.0 49.8 49.7 48.6 47.7 47.3 47.1 45.9 45.0 44.3 0 10 20 30 40 50 60 70 Dias trabalhados França Alemanha Áustria Bélgica Área do euro Países Grécia UE-15 Suécia Itália Espanha Portugal Finlândia Luxemburgo Reino Unido Irlanda Dinamarca 7.1 Contribuições sociais 2006 22.8 30.7 58.4 63.467.2 58.1 56.8 55.8 54.5 51.0 48.1 47.5 45.5 47.3 44.9 40.2 0 10 20 30 40 50 60 70 Dias trabalhados 4. Conclusão Tomando a evolução conjunta, nos últimos anos, do DLI (impostos) e DLSP (despesa pública) é possível constatar os progressos obtidos na consolidação orçamental. Com efeito, o aumento do DLI (iniciado em 2003), conjugado com a diminuição do DLSP (desde 2005) permitiram uma significativa redução do défice orçamental em 2006 e, previsivelmente, em 2007. Em resultado, já em 2007 se prevê o quase cumprimento do limiar crítico dos 3%. Se isso vier a suceder, o português médio satisfará, finalmente, o compromisso assumido perante a União Europeia de não ter de trabalhar mais de 11 dias do ano (3% de 365 dias) para pagar os seus impostos futuros. Subsistem,
evidentemente, a partir daí, compromissos adicionais em matéria de consolidação, bem como questões de estratégia orçamental da maior importância: preservar o DLI? Reduzi-lo a par e passo com o DLSP? etc, etc. Qualquer que seja, todavia, a opção que venha a ser tomada, o progresso obtido na consolidação orçamental afigura-se constituir, só por si, um elemento muito positivo na evolução recente das finanças públicas portuguesas. Em síntese, estima-se que o Dia da Libertação dos Impostos (DLI), para o ano de 2007 em Portugal, corresponda ao dia 16 de Maio. Após ter trabalhado 136 dias (mais um dia do que em 2006) o português médio já terá ganho o rendimento suficiente para cumprir as suas obrigações fiscais. A evolução conjugada deste indicador (mais um dia) com a do Dia da Libertação do Sector Público (DLSP) (menos quatro dias) evidencia os progressos obtidos no processo de consolidação orçamental.