OS PARADIGMAS E A PRÁTICA PEDAGÓGICA: DA SUPERAÇÃO À TRANSFORMAÇÃO

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Transcrição:

OS PARADIGMAS E A PRÁTICA PEDAGÓGICA: DA SUPERAÇÃO À TRANSFORMAÇÃO Resumo SANTOS, Marizete Santana dos marizete23@yahoo.com.br SILVA, Dulcileni dulcilenisilva@hotmail.com SILVA, Giselli Cristiane giselli_cristiane2011@hotmail.com Área temática: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento O presente artigo apresenta as considerações estabelecidas a partir de uma de pesquisa-ação, realizada na disciplina de Paradigmas Educacionais e Mediação Pedagógica, da Linha de Pesquisa Teoria e Prática na Formação de Professores. A investigação sobre os Paradigmas da Ciência e a Prática Pedagógica envolveu a participação de vinte e dois professores pesquisadores da área educacional, os quais estabeleceram como objetivo analisar os paradigmas conservadores e inovadores presentes na prática pedagógica. O estudo ocorreu a partir referenciais teóricos sobre as abordagens constituintes de cada paradigma e sua influência na prática pedagógica com ênfase no paradigma emergente que se apresenta como alternativa de soluções aos problemas metodológicos, a partir da aliança entre as abordagens sistêmica, progressista e do ensino com pesquisa. Palavras chaves: Educação. Paradigmas Educacionais. Pratica Pedagógica e Formação Docente. Introdução O artigo tem como tema de investigação os Paradigmas da Ciência e a Prática Pedagógica, onde o estudo se justifica por sua atualidade e relevância diante da importância atribuída aos processos de formação docente e de organização do fazer pedagógico. A partir das concepções que compõem o conceito de paradigma busca-se, por meio da análise das abordagens que norteiam o processo pedagógico, refletir sobre os processos de ensinar e aprender no sentido de desenvolver a consciência da necessidade do rompimento

1006 com a estrutura conservadora e fragmentada consolidada no contexto escolar, que por sua vez mantém e conduz a visões reducionistas do processo ensino-aprendizagem. O objetivo aqui pretendido é o de apresentar os referenciais que caracterizam o paradigma da complexidade e sua aplicação na prática pedagógica. O enfoque no paradigma emergente apresenta-se como alternativa de soluções aos problemas metodológicos, a partir da aliança entre as abordagens sistêmica, progressista e do ensino com pesquisa. A análise da questão proposta se apóia nos argumentos teóricos de Behrens (2009), Capra (2009), Cunha (1996), Demo (1994), Kuhn (2009), Morin (1998, 2000), Moraes (2003) e Santos (2008). Desenvolvimento A proposta apresentada foi desenvolvida sob o enfoque da pesquisa - ação, ou seja, um processo de intervenção durante a própria pesquisa visando à melhoria dos resultados. A pesquisa realizada na disciplina de Paradigmas Educacionais e Mediação Pedagógica, da Linha de Pesquisa Teoria e Prática na Formação de Professores, contou com a participação de 22 professores pesquisadores da área educacional da Linha de Pesquisa Teoria e Prática na Formação de Professores do Programa de Pós Graduação strictu sensu de uma universidade no Estado do Paraná, a qual também faz parte do Projeto de Pesquisa: Formação Pedagógica de Professores. O programa da disciplina foi descrito por diferentes fases e métodos, contribuindo para o processo de reflexão crítica de cada participante através de aulas teóricas exploratórias, seguidas de sugestões de leituras de autores propostos na temática de Educação, seguido de reflexões construtivas e críticas. Com este embasamento foi possível descrever pontos relevantes sobre a crise dos paradigmas da ciência e a construção individual de quadros sinópticos sobre diferentes pressupostos, entre eles: abordagens conservadora, holística, progressista e ensino com pesquisa - caracterizando alunos, professores, metodologia, avaliação e escola. Durante os encontros dos participantes, foram discutidas as atividades coletivas e reflexões sobre as sínteses elaboradas pelo grupo. Com o objetivo de buscar o envolvimento dos participantes, a proposta primeiramente foi uma construção individual de textos e em seguida as produções coletivas, alicerçados nos avanços dos conhecimentos dos participantes da disciplina.

1007 A avaliação individual e coletiva está inserida no final do processo metodológico, através do portfólio dos pesquisadores, possibilitando a produção do conhecimento de forma desafiadora, criativa e significativa. Foram utilizados diversos recursos durante o processo de aprendizagem e entre eles: filmes fragmentados pertinentes ao tema, vídeos pontuais a proposta, Power Point, imagens, textos, leituras, cartazes, materiais de apoio (tesoura, cola, canetas). De acordo com Kuhn (1996, p. 225) paradigma significa a constelação de crenças, valores e técnicas partilhadas pelos membros de uma comunidade científica e ainda cita que se referem a um modelo, padrões compartilhados que permitem a explicação de certos aspectos da realidade. Considera-se mais que do que uma teoria; implica uma estrutura que gera novas teorias, como algo que estaria no começo das teorias. Capra (1996, p.24) define paradigma social como uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de prática compartilhados por uma comunidade, que dá forma a uma visão particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza. Segundo Morin (1996, p. 287) o conceito de paradigma envolve a noção de relação e "comporta um certo número de relações lógicas, bem precisas, entre conceitos; noções básicas que governam todo discurso" (p.287, apud MORAES, 1998, p.31-32) e esclarece que o paradigma primeiro impõe conceitos soberanos e impõe, entre esses conceitos, relações que podem ser de conjunção, de disjunção, de inclusão, etc. (MORIN, 1996, p.37) Segundo o mesmo autor o paradigma: Efetua a seleção e a determinação da conceptualização e das operações lógicas. Designa as categorias fundamentais da inteligibilidade e opera o controle de seu emprego. Assim, os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles. [...] Em resumo, o paradigma instaura relações primordiais que constituem axiomas, determina conceitos, comanda discursos e/ou teorias. Organiza a organização deles e gera a geração ou a regeneração. [...] Assim, um paradigma pode ao mesmo tempo elucidar e cegar, revelar e ocultar. É no seu seio que se esconde o problema-chave do jogo da verdade e do erro. (MORIN, 2000, p. 25-27). Com embasamento nestes conceitos acima descritos e também pela necessidade de novos paradigmas devido às transformações que vem ocorrendo em diversas áreas, os

1008 profissionais da educação, de maneira sistêmica, buscam através das propostas pedagógicas, inovações e abordagens criativas e desafiadoras. De acordo com Moraes (1998, p.48) existe uma necessidade de reverter os velhos conceitos de produtividade, lucro e acúmulo de bens materiais, devendo incluir, também, o sentido mais amplo de realização, de esforço mútuo para enriquecimento mútuo, como também o desenvolvimento humano. Com a visão fragmentada, o homem deixou de contemplar alguns sentimentos em nome do racionalismo e da competitividade, trazendo conflitos e inquietações. E na educação ocorreu de maneira acentuada, através das metodologias utilizadas pelos docentes baseadas em reprodução, nas cópias e nas imitações. O professor foi considerado por muito tempo como o fator principal no processo educativo, sua tarefa principal era a transmissão do saber, enquanto que o aluno tinha apenas um papel passivo. De acordo com Behrens (2010, p. 14) a organização histórica da prática educativa assenta-se em duas dimensões: a dimensão do paradigma newtoniano-cartesiano caracterizado por abordagens reprodutivas ou paradigmas conservadores e a dimensão inovadora, denominada paradigma emergente. Os paradigmas conservadores, que caracterizaram o século XX, tinham como objetivo a reprodução e repetição do conhecimento e além de uma visão mecanicista da prática educativa. As abordagens pedagógicas que compõem este paradigma são denominadas paradigma tradicional, paradigma escolanovista e paradigma tecnicista Para superar esta crise dos paradigmas da ciência, se faz necessário encontrar uma nova forma de trabalhar em educação diferente da seqüência de conteúdos preestabelecidos, deverá constituir-se de feedbacks que promovam os mecanismos internos de auto-regulação, algo que parta de dentro do sujeito e de sua relação com os demais indivíduos e com sua realidade. Com o propósito de superar os Paradigmas Conservadores e repensar as práticas pedagógicas é que os Paradigmas Inovadores contribuem para uma nova visão do mundo, chamado de visão de mundo holística, que segundo Capra (1996, p.25) concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas, denominada ainda pelo referido autor como visão ecológica, a qual reconhece a interdependência entre os fenômenos, e que enquanto indivíduos e sociedade estão em um processo cíclico da natureza.

1009 Portanto, a ecologia profunda faz perguntas profundas a respeito dos próprios fundamentos da nossa visão de mundo e do nosso mundo de vida modernos, científicos, industriais, orientados para o conhecimento materialista. Ela questiona todo esse paradigma com base numa perspectiva ecológica: a partir da perspectiva de nossos relacionamentos uns com os outros, com as gerações futuras e com a teia da vida a qual somos parte. (CAPRA 1996, p. 26). Na análise de paradigmas conservadores, considerando a abordagem tradicional, o professor é transmissor de conteúdos, em uma relação verticalizada, na abordagem humanista é um facilitador de aprendizagem, no entanto para a abordagem tecnicista o professor aplica os meios para condicionar o aluno com eficiência e eficácia. Nesta abordagem o aluno é submisso e passivo, reprodutor do conhecimento, enquanto que na abordagem escolanova é considerado o centro do processo do ensino aprendizagem, com o foco no auto desenvolvimento e ainda na abordagem tecnicista, o aluno é passivo, ingênuo, acrítico, expectador, condicionado e responsivo. No que diz respeito à metodologia aplicada nos paradigmas conservadores, no método tradicional, a aula deverá ser expositiva, baseada em modelos, fundamentada em escutar, ler, decorar e repetir. Na metodologia da abordagem humanista estão fundamentadas as experiências, não diretiva e em grupo e na abordagem tecnicista está baseada na modelagem, reforços, repetitiva, com aulas expositivas e utilização de recursos audiovisuais. Nas avaliações dos paradigmas conservadores, no sistema tradicional está focado na visão do conteúdo comunicado em sala de aula e resumido à notas. No método da escolanova/humanista a avaliação privilegia a auto-avaliação e os aspectos afetivos, sendo que na abordagem tecnicista está focada na visão do produto, valorizando a memorização. A abordagem tradicional traz como princípios a valorização do ensino humanístico e da cultura geral. Nela a escola assume lugar de excelência onde se realiza a educação, se raciocina e onde os alunos são preparados intelectual e moralmente para atuação em sociedade, de acordo com seus méritos. A escola tem uma função social, a qual instiga a participação do aluno, incentiva a intervenção para a transformação social, o professor supera a visão do aluno como passivo, como mero receptáculo de informações, nega toda a forma de repressão, possibilita a construção do conhecimento mútuo e significativo, uma concepção de educação que busque a solidariedade e não a competitividade. Segundo Gadotti (2000, p. 100) há necessidade de criar condições para pôr, fraternalmente, à prova a própria capacidade de criar, de ousar mesmo, de abrir horizontes em

1010 nome da justiça e da igualdade e de estabelecer pontos comuns através da experiência da diferença e da confrontação de opostos. Diante do paradigma Newtoniano-Cartesiano que representou uma trajetória necessária no processo evolutivo do pensamento humano, mas a partir da constatação de que os paradigmas conservadores levaram a uma mentalidade racional, reducionista e fragmentada da ciência e do homem, bem como dos seus valores e sentimentos, fazendo com que as relações sociais se caracterizassem pela desigualdade e pelo desrespeito ao ser humano, uma crise paradigmática se instalou e um novo referencial para a educação se fez necessário. Santos (2008, p. 24) ressalta que essa crise paradigmática se deve a exaustão do paradigma epistemológico e do modelo de racionalidade pelos quais as ciências em geral se regulavam. Esse paradigma, cuja melhor formulação tinha sido o positivismo em suas várias vertentes assentavam nas seguintes idéias fundamentais: distinção entre sujeito e objeto e entre natureza e sociedade ou cultura; redução da complexidade do mundo a leis simples susceptíveis a formulação matemática; uma concepção de realidade dominada pelo mecanicismo determinista e da verdade como representação transparente da realidade; uma separação absoluta entre conhecimento científico considerado o único válido e rigoroso e outras formas de conhecimento como senso comum e estudos humanísticos; privilegiamento da causalidade funcional, hostil a investigação das causas últimas, consideradas metafísicas, e centrada na manipulação e transformação da realidade estudada pela ciência. (SANTOS, 2008, p. 25). Segundo Behrens (2007, p. 45), o paradigma inovador, emergente ou da complexidade, propõe uma visão crítica, reflexiva e transformadora na Educação e exige a interconexão de múltiplas abordagens, visões e abrangências. Neste sentido a produção do conhecimento se alicerça em uma prática pedagógica constituída por uma aliança entre a visão sistêmica, a abordagem progressista e o ensino com pesquisa, atribuindo ao paradigma emergente a característica de uma teia, de um todo integrado. A visão holística se apresenta com uma superação do saber fragmentado, muito parecido com o trabalho na indústria, o qual era dividido por setores, por sequências sem a consciência global de todo o processo, pois as partes podem ser entendidas a partir da organização do todo.

1011 Na abordagem sistêmica, o aluno recupera valores perdidos na sociedade, busca a harmonia, a solidariedade, a igualdade e principalmente a honestidade. (BEHRENS 2009, p. 62). Nessa perspectiva, o professore reflete o para quê ensinar e para quem está ensinando, estimula o aluno a ampliar a sua visão de vida em sociedade, o trabalho do professor é em conjunto com o aluno, um ensino crítico, produtivo e transformador, buscando uma qualidade de vida. Ainda de acordo com Behrens (2009, p.67): A opção por uma metodologia sistêmica precisa possibilitar as relações sociais e interpessoais do ser humano, visando a busca da ética, da harmonia e da conciliação. Na aceitação dos diferentes, sem se tornarem divergentes, os professores precisam aceitar que seus alunos em algum aspecto, possam ter mais conhecimento e possam compartilhar esses avanços com o grupo, provocando um processo coletivo de produção de conhecimento significativo. (BEHRENS, 2009, p. 67). A abordagem do ensino com pesquisa assume as mesmas características das abordagens progressista e sistêmica, destacando-se por redimensionar a prática pedagógica através de uma metodologia do ensino com pesquisa pode propiciar um ambiente inovador de escolarização, um ambiente com pesquisa, o qual leve o aluno a participação efetiva que acesse recursos informatizados e literatura para instrumentalizar a sua construção do conhecimento. Na prática de ensino com pesquisa, o professor se propõe a aprender a aprender, instiga a investigação, incentiva o trabalho em equipe e se caracteriza pela prática da pesquisa, a avaliação é contínua, processual e participativa, observa-se o desempenho geral e globalizado do aluno, a abordagem propõe a superação da reprodução do conhecimento. Demo (1996, p. 32) ressalta que educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo, e a tenha como atitude cotidiana, deve definir a educação como processo de formação da competência histórica humana. O ensino com pesquisa deve priorizar a qualidade formal e política, unir a teoria e prática, deve conter um projeto pedagógico próprio, crítico e flexível, o qual oportunize o acesso a informação e ao conhecimento para todos os educandos.

1012 Considerações Finais A partir das análises e reflexões sobre a trajetória dos paradigmas conservadores da ciência até a construção de um paradigma inovador, emergente, é possível transitar pelas concepções pedagógicas vigentes nas práticas escolares de forma a vislumbrar um caminho em busca da superação das práticas pedagógicas fragmentadas e excludentes. Considerando a proposta de reflexão crítica sobre o paradigma da ciência e a sua influência no processo educativo, a proposta de trabalho do curso foi a investigação dos paradigmas conservadores e inovadores e suas possíveis aplicabilidades em sala de aula preocuparam-se ainda em investigar os pressupostos de cada abordagem as suas implicações. O estudo permitiu uma análise crítica e reflexiva das abordagens pedagógicas, uma investigação sobre o paradigma emergente e a prática docente, bem como a construção do conhecimento de forma coletiva e significativa. O Paradigma Inovador lança um desafio aos educadores, enfatiza uma reflexão sobre a sua ação pedagógica, deixa clara a importância do aprender a aprender, e esclarece sobre a importância da aprendizagem coletiva, significativa e continuada. Todas as etapas do trabalho desenvolvido foram de suma importância para nossa formação profissional, pois a proposta de ensino com pesquisa diversifica as oportunidades e estratégias de ensino e de aprendizagem. A partir da proposta de investigação e com a utilização de recursos pedagógicos tecnológicos propostos durantes as aulas, a efetivação de troca de experiências e de aprendizagem, a partir de trabalhos individuais e grupais, interligados, podem favorecer para a verdadeira efetivação da aprendizagem dos alunos. Foi possível perceber que a formação docente, necessita ser dinâmica e contínua, a qual propicie diferentes formas de se repensar o fazer pedagógico, e que o avanço científico e tecnológico também vêm contribuindo fortemente para o avanço na reflexão e na ação na área da educação. REFERÊNCIAS BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, Rio de Janeiro: 3ª Ed. Vozes, 2009. CAPRA, FFritjof. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos seres vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, RJ: 3ª Ed. Vozes, 2010.

1013 BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da Complexidade. Metodologia de Projetos e os contratos didáticos e portfólios. 2ed. Petrópolis: Vozes, 2007. CAPRA, F. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Curtrix, 1996. Apud BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, RJ: 3ª Ed. Vozes, 2009. CUNHA, Maria Isabel da. Relação ensino e pesquisa. In: VEIGA, Ilma P. A. Didática: o ensino e suas relações. Campinas, Papirus, 1996. DEMO, Pedro. Pesquisa e construção do conhecimento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, apud BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, Rio de Janeiro: 3ª Ed. Vozes, 1996. GADOTTI, M. Perspectivas atuais da Educação. Porto Alegre: Editora Artemedicasul, 2000. KHUN, T. A estrutura das evoluções científicas. 4ª Ed. São Paulo: Perspectivas, 1996. KUHN, Thomas. As estruturas das revoluções científicas. 4.ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1994. Apud BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, Rio de Janeiro: 3ª Ed. Vozes, 2009. MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. Campinas, Papirus, 1998. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez: Brasília, D.F. UNESCO, 2000. MORIN, Edgar. Epistemologia da Complexidade. In: SCHNITMAN, D.F. (org.). Novos paradigmas, cultura e subjetividade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. apud MORAES, Maria Candida. O paradigma educacional emergente. Campinas/SP: Papirus, 1998. SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 2. Ed. - São Paulo: Cortez, 2008.