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Transcrição:

fls. 192 Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARINA GOMES ARAUJO, liberado nos autos em 09/05/2018 às 17:16. Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirconferenciadocumento.do, informe o processo 0002278-17.2018.8.26.0010 e código A4F3D3.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO PRESIDENTE DO I TRIBUNAL DO JÚRI DE SÃO PAULO. Autos nº 0002278-17.2018.8.26.0010. Consta do incluso inquérito policial que no dia 5 de abril de 2018, por volta das 19 horas e 5 minutos, na Rua Pouso Alegre, altura do n 21, Ipiranga, nesta Capital, MANOEL EDUARDO MARINHO, qualificado a fls. 24, e LEANDRO EDUARDO MARINHO, qualificado a fls. 44, agindo em concurso e com dolo eventual, deram início à execução de um crime de homicídio contra a vítima CARLOS ALBERTO BETTONI, provocando-lhe os ferimentos descritos no laudo de exame de corpo de delito de fls. 61/63, e que somente não foram a causa de sua morte por circunstâncias alheias à vontade dos agentes. Segundo se apurou, no dia dos fatos, em frente ao prédio onde funciona a sede do Instituto Luiz Inácio Lula da Silva, localizado na rua Pouso Alegre, n 21, Ipiranga, aglomeravam-se populares divididos entre apoiadores e críticos do ex-presidente da República, após a notícia de que sua prisão havia sido decretada. Neste contexto, e na suposição de que o ofendido fosse um opositor do ex-presidente, os indiciados, agindo em concurso de agentes, passaram a agredi-lo com emprego de chutes, empurrões e pontapés. fls. 196

A vítima tentava sem sucesso se defender com as mãos. Os indiciados, contudo, não cessavam o ataque e passaram a empurrar a vítima em direção à via pública. À certa altura, quando Carlos Alberto já estava na via e fora da calçada, os indiciados, mesmo percebendo a aproximação de um caminhão pela via, assumindo e aceitando os riscos de produzir o resultado morte, empurraram derradeiramente a vítima em direção à rua com violência. Em consequência, o ofendido bateu a cabeça no caminhão que por ali passava, sofrendo os ferimentos descritos no laudo de exame de corpo de delito de fls. 61/63. Com o forte impacto, Carlos Alberto caiu desacordado na via pública, iniciando-se intensa hemorragia decorrente das lesões sofridas na cabeça. Os indiciados, após constatarem que o ofendido estava imóvel e desacordado na rua, dando claras mostras uma vez mais de que o resultado morte lhes era absolutamente indiferente, afastaram-se do local, sem prestar qualquer socorro a ele mesmo estando a poucos metros do Hospital São Camilo situado nas imediações. Ainda assim, negaram socorro à vítima, assumindo o risco de que a morte pudesse ocorrer. Os indiciados, com tais condutas, agindo de maneira consciente e voluntária, aceitaram e toleraram os riscos de produzir o resultado morte da vítima, que somente não ocorreu por conta do pronto e eficaz socorro médico providenciado por terceiros. O crime foi cometido por motivo torpe decorrente de intolerância diante da suposição de que a vítima estivesse no local a protestar contra o ex-presidente da República e seus apoiadores políticos. O crime foi cometido com emprego de meio cruel eis que, ao projetarem a vítima com empurrões em direção à via por onde trafegava veículo de grande porte, os indiciados elegeram, para prática delitiva, meio apto a provocar no ofendido intenso e atroz sofrimento físico, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade humana. fls. 197

Diante do exposto, denuncio a Vossa Excelência MANOEL EDUARDO MARINHO e LEANDRO EDUARDO MARINHO como incursos no artigo 121, 2º, incisos I e III, combinado com os artigos 14, inciso II e 18, inciso I, segunda parte, todos do Código Penal. Requeiro, recebida e autuada esta, sejam os réus citados e intimados para responder a acusação, bem como sejam ouvidas a vítima e as testemunhas abaixo arroladas, prosseguindo-se no rito processual previsto nos artigos 406 a 497 do Código de Processo Penal, até decisão de pronúncia e final condenação pelo Egrégio Tribunal do Júri. ROL (v) Carlos Alberto Bettoni fls. 121; (P.M.) Marcio Sales Dias Nascimento fls. 116; (P.M.) Fábio Lima Marin fls. 118; José Roberto Leal Figueiredo fls. 133; Testemunha a ser ouvida nos termos do provimento 32/00 CG fls. 133. São Paulo, 9 de maio de 2018. FELIPE EDUARDO LEVIT ZILBERMAN Promotor de Justiça fls. 198

Autos nº 0002278-17.2018.8.26.0010. 1ª Vara do júri da Capital. Meritíssimo Juiz 1 Ofereço denúncia em separado; 2 Requeiro F.A. e Certidões do que dela constar em nome dos acusados; 3 Requeiro solicite-se ao Hospital São Camilo a ficha clínica e os prontuários referentes ao atendimento médico prestado à vítima; 4 Requeiro oficie-se à Delegacia de Polícia de origem para que providencie a realização do exame de corpo de delito complementar, remetendo-se a conclusão a este juízo; 5 A testemunha protegida arrolada na inicial, cujos dados qualificativos se requer sejam mantidos em sigilo, será apresentada independentemente de intimação na forma sugerida no pedido de fls. 130; 6 Deixo de oferecer denúncia em relação ao indiciado PAULO APARECIDO SILVA CAYRES, sem embargo da falaciosa versão por ele apesentada no sentido de que não praticara nenhuma agressão contra a vítima e que caíra ao ser atingido por um pontapé. De fato, a cena delitiva contou com registro decorrente da filmagem realizada no local. As imagens revelam de forma nítida que Paulo Aparecido teve participação nas agressões perpetradas contra a vítima. Todavia, a agressão por ele perpetrada resumiu-se a um chute contra o ofendido quando ele ainda estava na calçada. Na oportunidade, o próprio indiciado desequilibrou-se e caiu sozinho ao chão, não mais praticando qualquer ato violento na sequência, como é possível se verificar claramente nas imagens captadas no local. fls. 199

Forçoso reconhecer-se não ter tido ele participação nos ataques posteriores que levaram a vítima a bater a cabeça no caminhão. A análise das imagens revela, inclusive, que Paulo já havia caído sozinho ao solo após perder o equilíbrio quando a vítima foi empurrada na direção do caminhão. Nessas condições, há que se admitir a ausência nos autos de elementos seguros a lastrearem a acusação de que, ao efetuar o pontapé contra a vítima ainda na calçada, assumira ele o risco de produzir o resultado morte, aceitando e tolerando o desfecho fatal que poderia advir do choque com o veículo pesado, fato que sequer poderia estar na sua esfera de previsibilidade. Necessário concluir-se, portanto, que os elementos de convicção coligidos acerca da presença de dolo homicida em sua conduta, mesmo que na forma indireta ou eventual, são por demais frágeis. Registre-se, uma vez mais, não ter ele participado diretamente dos ataques que se deram já na via pública quando a vítima foi projetada na direção do caminhão que por ali trafegava, fato que culminou nos graves ferimentos suportados pelo ofendido. Demais disso, não há notícia de que o pontapé por ele efetuado, por si só, guarde nexo de causalidade com alguma das lesões sofridas pela vítima, pelo que nada resta a ser apurado no tocante à sua conduta nestes autos. Diante deste quadro, requeiro o arquivamento dos autos em relação ao indiciado PAULO APARECIDO SILVA CAYRES, sem prejuízo do disposto no artigo 18 do Código de Processo Penal. São Paulo, 9 de maio de 2018. FELIPE EDUARDO LEVIT ZILBERMAN Promotor de Justiça fls. 200