GESTÃO AMBIENTAL DE EMPREENDIMENTOS RODOVIÁRIOS ESTUDO DE CASO BR-262/MS



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Transcrição:

GESTÃO AMBIENTAL DE EMPREENDIMENTOS RODOVIÁRIOS ESTUDO DE CASO BR-262/MS Philipe Ratton Universidade Federal do Paraná Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura Marcela Barcelos Sobanski Universidade Federal do Paraná Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura Eduardo Ratton Universidade Federal do Paraná Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura RESUMO O desenvolvimento de obras de infraestrutura rodoviária no Brasil remonta ao século XX, consolidando a predominância desse modal sobre os demais com participação de aproximadamente 61% na matriz de transporte de cargas. A evolução dessas obras sempre ocorreu de forma a garantir em primeiro lugar a eficiência em termos de prazo, custos e técnica, relegando aspectos inerentes à integridade do meio ambiente. Após a publicação da Resolução nº 237/1997 do CONAMA, tiveram início em termos práticos os processos de licenciamento ambiental de empreendimentos rodoviários. Ainda em estágio inicial, o licenciamento ambiental brasileiro é estruturado em três fases principais, estando o empreendedor sujeito à obtenção de licenças (prévia, de instalação, de operação) para poder executar suas atividades. Durante a fase de instalação da obra é obrigatória a execução da sua gestão ambiental, buscando organizar as atividades de modo que os impactos ambientais provocados pela sua implantação sejam minimizados. Este artigo busca descrever a gestão ambiental das obras de recuperação do pavimento e implantação de acostamentos na BR-262/MS, em uma extensão de 284,2 km, realizada pela Universidade Federal do Paraná. As características do empreendimento e de sua localização, em um bioma tão peculiar e diversificado como é o Pantanal, requereram significativa preocupação com o meio ambiente, especialmente pelas particularidades encontradas na execução dos programas ambientais. São detalhadas as metodologias utilizadas na implementação de alguns dos principais programas ambientais e as abordagens inovadoras desenvolvidas. Destacaram-se a metodologia de aplicação das fichas de monitoramento ambiental durante as obras, as propostas de dispositivos de proteção à fauna e a produção de músicas relacionadas a temas e problemáticas regionais (realizada no âmbito dos programas de Educação Ambiental e Comunicação Social). Palavras-chave: Gestão ambiental; empreendimentos rodoviários; BR-262/MS. ABSTRACT The development of road infrastructure projects in Brazil dates back to the twentieth century, consolidating the dominance of road transport with a share of approximately 61% at the matrix of cargo transportation. The evolution of these works always occurred to ensure firstly the efficiency in terms of time, cost and technique, relegating aspects concerning the integrity of the environment. After the publication of Resolution No. 237/1997 of CONAMA, really started in practical terms the processes for roads environmental licensing. Still at an early stage, the Brazilian environmental licensing is structured into three main phases, with the entrepreneur subject to obtaining permits (previous, to installation, to operation) in order to perform his activities. During the work's installation phase it is required the implementation of an environmental management, which seeks to organize the activities so that the environmental impacts arising from its execution are minimized. This article intends to describe the environmental management of the works rehabilitation of the pavement and deployment of shoulders on BR-262/MS, over a length of 284.2 km, held by the Federal University of Paraná. The characteristics of the project and its location, in a biome so quirky and diversified as the Pantanal, required significant concern with the environment, especially due the peculiarities encountered in the implementation of the environmental programs. It will be detailed the methodologies used in the implementation of some main environmental programs and innovative approaches developed. Noteworthy the methodology of implementation of environmental assessment checklists during the works, the devices proposed to protect the fauna and the production of songs related to regional issues (performed under the Environmental Education program and the Social Communication program). Key Words: Environmental management; highway projects; BR-262/MS.

1. INTRODUÇÃO A evolução da infraestrutura de transportes brasileira sempre foi respaldada no desenvolvimento do modal rodoviário, o que conduziu à matriz de transporte de cargas atual, com predominância deste (61,1%) em detrimento dos demais (20,7% ferroviário; 13,6% aquaviário; 4,2% dutoviário; 0,4% aeroviário), conforme apontam os dados da CNT (2013). Desde o início do século XX, os investimentos em rodovias têm crescido, com a justificativa de induzir ao desenvolvimento do país e permitir o escoamento da produção agrícola e industrial. A execução de obras era realizada de modo a se garantir eficiência em termos de prazo, custos e técnica, relegando aspectos inerentes à integridade do meio ambiente. A evolução legislativa e dos conceitos ambientais, no Brasil, teve início oficialmente com a sanção da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual teve como principal objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. No entanto, foi após a publicação da Resolução nº 237/1997, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que surgiram os processos de licenciamento ambiental de empreendimentos, os quais foram estruturados em três fases distintas, estando o empreendedor sujeito à obtenção de licenças (LP licença prévia; LI licença de instalação; e LO licença de operação) para poder executar suas atividades. O artigo aqui apresentado tem foco sobre a fase instalação da obra, período em que são executadas todas as ações e programas ambientais previamente definidos durante a realização dos estudos ambientais. Nessa etapa, o órgão ambiental licenciador exige a implantação de uma Gestão Ambiental, a qual pode ser entendida como o conjunto de atividades realizadas por uma equipe multidisciplinar com o objetivo de pôr em prática as diretrizes e ações previstas no Plano Básico Ambiental (PBA) aprovado, ou estudo ambiental equivalente. A Gestão Ambiental busca organizar as atividades a serem desenvolvidas de modo que os impactos ambientais provocados pela implantação do empreendimento sejam minimizados. Cabe à gestão ambiental: Avaliar e revisar toda documentação técnica e ambiental do empreendimento, objetivando atender às exigências das licenças ambientais; Executar e supervisionar os programas ambientais; Monitorar e acompanhar as atividades ambientais previstas; Dar apoio institucional a outras partes interessadas tais como o Ministério Público, Órgão Ambiental Estadual, o IPHAN, a FUNAI, a Defesa Civil, Prefeituras, e outros de interesse; Elaborar relatórios periódicos das atividades realizadas; Rever periodicamente os procedimentos. No Mato Grosso do Sul, a gestão ambiental das obras de recuperação do pavimento e implantação de acostamentos na BR-262, em uma extensão de 284,2 km, vem sendo realizada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), através de um Termo de Cooperação Técnica com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). As obras desenvolvem-se entre os municípios de Anastácio/MS e Corumbá/MS, cruzando os biomas Cerrado e Pantanal. O presente trabalho busca descrever as atividades realizadas pela gestora ambiental do referido empreendimento, no período entre agosto/2011 e maio/2013, apontando as

metodologias utilizadas e principais resultados obtidos. 2. METODOLOGIA 2.1 Descrição do Empreendimento O empreendimento cuja gestão ambiental está sendo apresentada neste artigo consiste nas obras de recuperação e implantação de acostamentos no subtrecho da rodovia federal BR-262 estabelecido entre os municípios de Anastácio/MS e Corumbá/MS, no segmento entre o km 488,8 e o km 773,0, com extensão de 284,2 km (Figura 1). Esse trecho corresponde aos códigos do Plano Nacional de Viação (PNV) 262BMS1362 a 262BMS1465. Segundo o PNV, a BR-262 é uma rodovia transversal brasileira, que corta os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, no sentido leste-oeste, com extensão total de 2.300 km. Figura 1 Localização da área de estudo do monitoramento de atropelamentos de fauna BR-262/MS, trecho de Anastácio a Corumbá. 2.2 Métodos A Gestão Ambiental realizada pela UFPR consistiu na supervisão e execução dos programas ambientais definidos nos estudos ambientais do empreendimento (FERMA, 2009; DNIT, 2009) e condicionados à Licença de Instalação nº 733/2010, expedida pelo IBAMA. A Supervisão Ambiental contemplou os programas cuja execução era de responsabilidade das construtoras, a saber: Programa Ambiental da Construção, Programa de Recuperação de Áreas Degradadas, Programa de Prevenção de Processos Erosivos, Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes Líquidos e Programa de Prevenção de Acidentes. A supervisão das ações referentes a estes programas foi realizada por meio de inspeções ao local da obra, com o preenchimento de uma Ficha de Monitoramento, a qual constituiu um checklist com o registro de todas as ocorrências, cujas informações integraram os relatórios repassados ao empreendedor (DNIT) e ao órgão ambiental responsável (IBAMA). Já a execução de programas ambientais pela gestora ambiental contemplou: o monitoramento da qualidade da água, o monitoramento de atropelamentos de fauna, a educação ambiental e a comunicação social.

O desenvolvimento e o atendimento das diretrizes propostas nos programas ambientais são de fundamental importância para a minimização dos impactos gerados pelas obras, cabendo aos programas mitigar, monitorar, controlar, compensar ou restaurar os danos ambientais que venham a ocorrer em função do empreendimento. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os programas ambientais executados e supervisionados pela gestora ambiental são listados a seguir: Programa de Gestão e Supervisão Ambiental Execução Programa de Monitoramento de Atropelamentos de Fauna Execução Programa de Monitoramento da Qualidade da Água Execução Programa de Educação Ambiental Execução Programa de Comunicação Social Execução Programa de Gerenciamento de Desapropriações e Indenizações Supervisão Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes Supervisão Programa de Prevenção e Controle de Processos Erosivos Supervisão Programa de Controle de Supressão da Vegetação Supervisão Programa de Recuperação de Áreas Degradadas Supervisão Programa de Gerenciamento de Riscos Supervisão Programa de Prevenção de Acidentes Supervisão Programa Ambiental de Construção Supervisão Plano de Ação de Emergência Supervisão Com o objetivo de facilitar a leitura e a compreensão das ações realizadas durante a gestão ambiental das obras da BR-262/MS, os principais programas serão apresentados em um tópico específico, composto por: metodologia de aplicação, atividades executadas, principais resultados e propostas de melhoria. 3.1 Programa Ambiental de Construção PAC Em obras rodoviárias, é recorrente a necessidade de utilização de áreas de apoio, tais como áreas de empréstimo de materiais, canteiro de obras, etc. O principal objetivo do PAC é apresentar diretrizes para a escolha, a exploração e a recuperação dessas áreas de forma a cumprir as exigências pautadas pelo licenciamento ambiental. As ações e propostas do PAC também servem de auxílio para outros programas ambientais, minimizando os impactos negativos gerados pela restauração da rodovia. A execução do PAC pela equipe da UFPR foi feita com o auxílio de uma ficha de inspeção, a qual foi elaborada de modo a permitir a avaliação dos aspectos ambientais definidos nos programas do PBA aprovado e nas condicionantes da licença ambiental emitida. As inspeções à obra realizadas pelo inspetor ambiental eram consolidadas através do preenchimento da ficha de monitoramento com frequência semanal, o que forneceu subsídios para avaliar a evolução dos atributos analisados durante o andamento da obra, facilitando a identificação e a solução de problemas. O preenchimento da ficha era feito pela avaliação dos índices de satisfação e atendimento à regularidade ambiental de cada quesito, com níveis de atribuição variando de 1 a 4, conforme descrito no Quadro 1. O modelo de ficha utilizado para as obras da BR-262/MS contemplava 51 tópicos. O Quadro 2 ilustra um trecho da ficha de inspeção que diz respeito ao Programa de Gerenciamento de Riscos na Obra. Na coluna da esquerda são apresentados os quesitos avaliados, nas 4 colunas centrais constam as possíveis notas de avaliação e na coluna da

direita são inseridos comentários sobre o item avaliado, bem como os números das fotos correspondentes e outras informações de interesse. Quadro 1 Níveis de Atendimento da Ficha de Monitoramento. 1) NÃO ATENDIMENTO: 0 25% Refere-se à situação verificada em campo onde, segundo a avaliação do inspetor, o aspecto ambiental foi atendido em até 25%. Caracteriza-se pela não conformidade. 2) POUCO ATENDIDO: 25 50% Refere-se à situação verificada em campo onde, segundo a avaliação do inspetor, o aspecto ambiental foi atendido de 25% até 50%. Caracteriza-se pela não conformidade parcial. 3) PARCIALMENTE ATENDIDO: 50 75% Refere-se à situação verificada em campo onde, segundo a avaliação do inspetor, o aspecto ambiental foi atendido de 50 % até 75%. Caracteriza-se pela conformidade parcial. 4) PLENAMENTE ATENDIDO: 75 100% Refere-se à situação verificada em campo onde, segundo a avaliação do inspetor, o aspecto ambiental foi atendido de 75% a 100%. Caracteriza-se pela conformidade. Quadro 2 Trecho da ficha de inspeção de monitoramento das obras da BR-262/MS. FICHA DE MONITORAMENTO AMBIENTAL BR 262/MS TRECHO: ANASTÁCIO - CORUMBÁ Inspeção nº: Data: Frequência Semanal Responsável: 1- Não Atendido; 2- Pouco Atendido; 3- Parcialmente Atendido; 4- Plenamente Atendido ATENDIMENTO QUESITOS COMENTÁRIO 1 2 3 4 PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS NA OBRA 47) Há condições de segurança no armazenamento e manuseio de combustíveis e produtos inflamáveis. 48) Há procedimentos de verificação de vazamento de combustíveis e medidas de controle na ocorrência. 49) Há cumprimento da regulamentação específica para o transporte de produtos perigosos (combustíveis, inflamáveis, etc.). 50) Na ocorrência de acidentes, há procedimentos para acionar a Polícia Rodoviária Federal, Bombeiros e a Defesa Civil em tempo hábil, conforme o caso, para o controle ambiental da situação. 51) Foram identificados pontos críticos com maior probabilidade de acidentes com cargas perigosas? Se sim, há medidas de prevenção? A análise comparativa entre os resultados das inspeções ambientais realizadas entre os meses de agosto/2011 e dezembro/2011 (UFPR, 2011) demonstra que houve relativas melhorias no período (Figura 2). De modo geral, houve queda do nível de atendimento 1 (não atendido), de 37% em agosto para 18% em dezembro. O nível de atendimento 3 (parcialmente atendido) apresentou crescimento ao longo dos meses, iniciando em 18% no mês agosto e alcançando 41% em dezembro. O nível 4 também sofreu variação positiva, de 16% para 22%. 50% 40% 30% 20% 10% 0% 37% 27% 29% 25% 22% 8% Frequência (%) x Avaliação 29% 26% Figura 2 Gráfico comparativo entre 5 meses de inspeção das obras da BR-262/MS. 1- Não Atendido, 2- Pouco Atendido, 3- Parcialmente Atendido, 4- Completamente Atendido. 18% 33% 29% 26% 41% 22% 16% 18% 17% 19% 1 2 3 4 Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

3.2 Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes PGRSE O PGRSE compreende o conjunto de ações, diretas ou indiretas, que envolvem as etapas de coleta, triagem, acondicionamento temporário, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos e rejeitos produzidos na obra. Cabe à construtora executar ações que garantam o cumprimento adequado de cada uma destas etapas e é função da gestora ambiental realizar a supervisão dessas ações, de modo a prevenir a ocorrência de impactos negativos ao meio ambiente. Entre as principais atividades executadas pela construtora, citam-se: Implantação de sistema de drenagem (canaletas) ao redor da oficina, dos reservatórios de produtos asfálticos e do local de lavagem de equipamentos (Figura 3), com a função de conter possíveis vazamentos, óleos e águas residuais, direcionando esses fluidos para caixas separadoras de água e óleo; Disposição de coletores coloridos (Figura 3) para auxiliar na triagem dos resíduos, devido à diversidade de composição (plásticos, metais, orgânicos, etc.), facilitando o subsequente processamento; Destinação dos efluentes domésticos à fossa séptica do canteiro de obras; Transporte de resíduos em acordo com as características físicas e químicas dos mesmos; Armazenamento de produtos perigosos em tambores; Manuseio adequado das mangueiras de abastecimento (combustíveis, óleos e produtos asfálticos) de modo a se prevenir vazamentos e utilização de bandejas de contenção. Figura 3 Esquerda: caixa separadora de água e óleo. Direita: coletores coloridos para separação do lixo. Mesmo com todas as ações e dispositivos de prevenção, foi detectada a ocorrência de vazamentos de óleo durante a obra, o que foi corrigido pela adoção de medidas de conformidade e ações de conscientização ambiental (através do Programa de Educação Ambiental). 3.3 Programa de Prevenção e Controle de Processos Erosivos PPCPE O PPCPE tem por objetivo executar ações preventivas e corretivas a fim de promover o controle dos processos erosivos decorrentes das obras e evitar problemas de instabilidade de taludes e assoreamento de corpos d água. Os processos erosivos podem ocorrer em taludes de corte e aterro, canteiros de obras, caminhos de serviço, entre outras áreas, que devido ao manejo inadequado do solo ou ao subdimensionamento de dispositivos de drenagem podem ser alvo de danos ambientais.

Na BR-262/MS, foram realizadas ações de prevenção e controle de processos erosivos tais como a instalação de dispositivos de drenagem para auxiliar o escoamento e a dissipação de águas pluviais (sarjeta, meio-fio, bueiro, descida d água). Outra forma eficiente de estabilização dos taludes é a aplicação de cobertura vegetal, medida que gera acréscimo na resistência do solo através do esforço mecânico das raízes promovendo a diminuição do risco de deslizamentos e da consequente degradação do corpo do aterro (Figura 4). Figura 4 Lançamento de sementes sobre os taludes, após picoteamento, visando restabelecer a cobertura vegetal dos taludes e evitar processos erosivos. 3.4 Programa de Recuperação de Áreas Degradadas PRAD O PRAD propõe técnicas e procedimentos metodológicos para diagnosticar, estabilizar e recuperar os processos de degradação remanescentes em função das obras da BR-262/MS, possuindo os seguintes objetivos específicos: Recuperar todas as áreas que tenham sofrido interferência do empreendimento, com expectativa de retorno do sítio degradado à condição mais semelhante possível daquela existente antes da realização das intervenções; Controlar os processos erosivos e minimizar o carreamento de sedimentos, evitando a expansão da degradação ambiental para outros locais nas proximidades. A metodologia proposta para a recuperação das áreas degradadas em decorrência das obras da BR-262/MS, compreendeu, basicamente, as seguintes etapas: 1. Identificação das áreas a serem recuperadas: foram identificadas 13 áreas degradadas em função das obras, englobando áreas de depósito de materiais, áreas de empréstimo, cascalheira, canteiro de obras e usina de asfalto. 2. Preparo do solo para o plantio, através das ações a seguir: Reconformação da área, buscando a harmonia com a linha de relevo do entorno; Descompactação do solo, onde for necessário e quando possível, através da subsolagem (operação de preparo do solo através da quebra das camadas compactadas no interior do mesmo); Amenização dos taludes e reafeiçoamento do terreno, com o objetivo de minimizar a ocorrência de processos erosivos; Preparo e adubação das covas. 3. Instalação de sistema de drenagem: a drenagem superficial deve ser implantada de tal forma que proporcione o escoamento das águas pluviais por vias laterais a velocidades mais baixas, evitando o surgimento de processos erosivos. O direcionamento das águas para drenagens naturais deve garantir que não haja comprometimento das áreas a serem recuperadas e suas circunvizinhanças. 4. Escolha adequada das espécies: a vegetação a ser utilizada para o plantio deve ser avaliada

considerando as espécies mais resistentes para cada situação, além de serem nativas da região. 5. Recomposição da vegetação: Plantio de gramíneas (por meio de hidrossemeadura ou por lançamento manual); Plantio de espécies arbóreas e arbustivas nativas. 6. Monitoramento: após a realização do plantio de gramíneas e das mudas, deverão ser realizadas práticas de monitoramento para averiguar a pega dos espécimes, buscando obter dados para identificar a necessidade de intervenções adicionais. Após a execução do plantio, as áreas devem ser monitoradas por, no mínimo, três anos (conforme IN IBAMA nº 4, de 13 de abril de 2011). 7. Tratos culturais: são práticas de cultivo necessárias para o desenvolvimento dos indivíduos introduzidos nas áreas revegetadas até o seu estabelecimento. Incluem: adubação, controle de pragas e insetos, limpeza de coroamento e replantio. 3.5 Programa de Prevenção de Acidentes PPA O PPA visa antever cenários críticos e definir procedimentos a serem implementados, quer em termos de prevenção (impedimento da ocorrência), mitigação (convivência com o risco), ou intervenção (ação emergencial de controle nesse caso, em conjunto com o Plano de Ação de Emergência). O aspecto preventivo refere-se a todas as situações com potencial risco de comprometer a integridade física dos trabalhadores, dos usuários da rodovia e dos habitantes das comunidades lindeiras. Um exemplo disso é a conciliação entre a execução da obra e o tráfego de veículos. Em caso de acidente, devem existir procedimentos padrões a serem executados pelos colaboradores, de acordo com a gravidade da ocorrência e dos riscos associados após o acidente (por exemplo: derramamento de combustível, exigindo o acionamento da polícia militar ambiental e do corpo de bombeiros). No caso das obras da BR-262/MS, algumas das ações adotadas no âmbito do PPA são: Palestras de capacitação aos trabalhadores da obra (Figura 5); Umectação dos caminhos de serviço, considerando que o excesso de poeira em suspensão pode causar problemas respiratórios aos trabalhadores, dificuldade de visibilidade, entre outros. Utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) e de proteção coletiva (EPC); Sinalização dos trechos em obras; Sinalização no canteiro de obras advertindo para o uso adequado dos EPIs de acordo com a atividade realizada (Figura 5); Sinalização referente aos cuidados necessários com o meio ambiente. Figura 5 Esquerda: palestra de capacitação aos trabalhadores, abordando temas referentes à segurança no trabalho e preservação do meio ambiente; Direita: sinalização de uso de EPIs.

3.6 Programa de Monitoramento da Qualidade da Água PMQA Em obras rodoviárias, o despejo de esgoto, o vazamento de hidrocarbonetos, a exemplo de material betuminoso, combustíveis, óleos e graxas, e o descarte de resíduos sólidos são algumas vias de poluição dos corpos hídricos locais, podendo causar graves impactos e passivos ambientais. Assim, o PMQA tem como objetivo monitorar os locais onde a rodovia intercepta cursos hídricos, em consonância, com a Resolução CONAMA nº 357/2005, visando detectar, com a devida antecedência, quaisquer alterações na qualidade das águas em função das obras, fornecendo os subsídios necessários ao efetivo controle ambiental, através das seguintes ações: Acompanhamento das possíveis alterações na qualidade da água ao longo da fase de implantação do empreendimento; Avaliação e comunicação ativa junto aos órgãos competentes sobre as condições de qualidade da água caso haja interferência nos usos da mesma; Proposição de medidas de controle da qualidade da água em áreas alteradas. Na BR-262/MS, trecho Anastácio-Corumbá, as campanhas de coleta e análise de qualidade de água foram realizadas com periodicidade semestral, em 10 localidades, entre rios, córregos e áreas de drenagem, sendo coletadas amostras a montante e a jusante, em relação à interseção com a rodovia. Os parâmetros avaliados foram: ph, OD, DBO, DQO, Turbidez, Temperatura, Fósforo Total, Nitratos, Nitritos, Amônia, Óleos e Graxas, Cor Verdadeira, Nitrôgenio Total e Amoniacal, Coliformes Termotolerantes e Sólidos (Suspensos, Totais, Dissolvidos e Sedimentáveis), Foram realizadas três campanhas de coleta e análise da água durante a gestão ambiental do empreendimento. O comparativo entre os resultados obtidos para o Rio Miranda, constatou o crescimento dos valores dos parâmetros Cor Verdadeira, Coliformes Termotolerantes, DBO e DQO, superando os valores máximos estabelecidos na resolução CONAMA nº 357/2005. Uma possível causa para o aumento dos valores desses parâmetros é a presença de matéria orgânica proveniente de esgotos domésticos, o que pode trazer prejuízos às comunidades aquáticas e às comunidades lindeiras que fazem uso dessa água sem tratamento. No caso analisado, não existiam frentes de obras nas adjacências do rio, o que permitiu concluir que a não conformidade observada nos resultados não era resultado do empreendimento, mas poderia servir de auxílio aos gestores do município na tomada de ações relacionadas ao saneamento básico. 3.7 Programa de Monitoramento de Atropelamentos de Fauna Acidentes rodoviários envolvendo animais silvestres têm impactos significativos não apenas sobre os condutores dos veículos, mas também sobre a fauna local. Se para os motoristas as colisões apresentam um perigo à segurança, para a fauna, muitas vezes, o atropelamento pode representar uma ameaça para a sobrevivência de certas espécies. No subtrecho da BR-262/MS em análise, a rodovia atravessa os Biomas Cerrado e Pantanal, sendo recorrentes os atropelamentos de animais silvestres. Assim, o Programa de Monitoramento de Atropelamentos de Fauna (PMAF), tem por objetivos: identificar as espécies atingidas com maior frequência; avaliar a distribuição espacial dos atropelamentos, identificando pontos críticos; e propor mecanismos de proteção à fauna a serem adotados com o intuito de reduzir o impacto da rodovia sobre a fauna silvestre, bem como o índice de

acidentes rodoviários. O monitoramento foi realizado de junho de 2011 a maio de 2012, tendo sido registrados 610 animais silvestres atropelados. A média mensal de atropelamentos foi de 50,83 animais por mês, 2,14 animais atropelados por km/ano, e quase dois por dia (1,67). As espécies mais registradas foram: jacaré-do-pantanal (Caiman yacare) (n=114), cachorrodo-mato (Cerdocyon thous) (n=80), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) (n=66), tamanduámirim (Tamandua tetradactyla) (n=65), tatu-peludo (Euphractus sexcinctus) (n=53), tatugalinha (Dasypus novemcinctus) (n=45), mão-pelada (Procyon cancrivorus) (n=25) e tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) (n=25). Entre outros registros que envolveram animais de maior porte, cita-se: anta (Tapirus terrestris) (n=6) (Fig. 2(a)), veado (Mazama spp.) (n=4), queixada (Tayassu pecari) (n=12), onça-pintada (Panthera onca) (n=1) e ema (Rhea americana) (n=2). Na identificação de pontos críticos de atropelamentos, registraram-se 35 pontos de maior agregação de mortalidade de animais silvestres. A partir dos dados levantados foi elaborada uma proposta de medidas e dispositivos de redução de acidentes e de proteção à fauna a serem instalados na BR-262/MS, trecho em estudo, a saber: Sinalização vertical de advertência diferenciada, utilizando a fauna local (Figura 6); Supressão e manutenção da vegetação na faixa de domínio da rodovia, em todo o trecho; Instalação de controladores eletrônicos de velocidade; Instalação de cercas de proteção em segmentos mais críticos (Figura 7). (a) (b) (c) (d) (e) Figura 6 (a) anta, (b) tamanduá-bandeira, (c) cervo-do-pantanal, (d) onça-pintada e (e) capivara. Ressalta-se que para a possível utilização da sinalização proposta, é necessária autorização do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), órgão responsável por aprovar, complementar ou alterar os dispositivos de sinalização e os dispositivos e equipamentos de trânsito (Art. 12, Inciso XI), podendo autorizar, em caráter experimental e por período prefixado, a utilização de sinalização não prevista neste Código (Art. 80, 2º). Figura 7 Projeto-tipo de cerca de proteção. Detalhe da cerca conduzindo para a passagem de fauna.

3.8 Programa de Educação Ambiental PEA O PEA desenvolveu-se em um permanente processo de autoanálise, reflexão e mudança de atitude e de valores, possibilitando repensar a Educação Ambiental em um processo de construção do conhecimento. Buscou-se contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas das localidades envolvidas, oportunizando estudos e reflexões em uma perspectiva de vida sustentável, enfatizada a partir da motivação, sensibilização, conscientização e incorporação de práticas de educação ambiental ao cotidiano. O trabalho foi desenvolvido nos municípios de Corumbá, Anastácio e Miranda, iniciando com a realização de um diagnóstico sobre a situação ambiental das localidades envolvidas. Posteriormente, foram selecionados articuladores locais para o desenvolvimento do programa, com supervisão da equipe da UFPR. A metodologia aplicada permitiu o acesso à informação de modo a criar instâncias regulares de debate, pesquisa e ação para a produção de conhecimentos locais significativos com capacitação continuada à distância, encontros presenciais, palestras, vídeos, exposições, práticas pedagógicas ambientais inovadoras, entre outros recursos e estratégias que se fizeram necessários no decorrer da execução do PEA. O trabalho desenvolvido junto aos profissionais da educação ocorreu através de uma formação continuada presencial e a distância, com o objetivo de capacitar esses profissionais para difundirem entre seus alunos os conceitos aprendidos, os quais passam a agir como multiplicadores do conhecimento. A abordagem junto aos usuários da rodovia ocorreu através da divulgação de CDs, panfletos, adesivos e outros materiais com apelo à campanha de educação ambiental. Os trabalhadores da obra foram contemplados por meio de palestras e diálogos contextualizados na preservação ambiental atrelada à execução de suas atividades. 3.9 Programa de Comunicação Social PCS O PCS teve como objetivo garantir, integrar e monitorar o acesso à informação a todos os atores e públicos envolvidos nas obras da BR-262/MS, prevendo diversas formas de comunicação entre as diferentes classes e setores da população que vivenciaram a gradativa execução do empreendimento, de modo a construir uma relação de diálogo, participação e colaboração. O público-alvo da campanha envolveu a população residente na região, mais especificamente, alguns grupos entendidos como prioritários: as comunidades lindeiras (associações de moradores, comunidades indígenas, assentamentos), profissionais da obra (operários e engenheiros), usuários da rodovia (motoristas particulares e profissionais de empresas de transporte) e escolas (profissionais da educação e estudantes), bem como as autoridades dos órgãos municipais, estaduais e federais. Entre as ações realizadas pelo PCS pode-se destacar: Frequente produção de releases referentes aos programas ambientais em execução (PEA, PMAF, etc) e sua inserção junto às mídias locais e regionais; Utilização de veículos de comunicação como rádios, jornais, blogs, redes sociais, panfletos, para a divulgação de informações e mensagens educativas; Pesquisa de opinião com os motoristas da rodovia; Produção de jingles e músicas com letras abordando temas regionais (preservação ambiental, diversidade do pantanal, desmatamentos, queimadas, lixo, atropelamento de animais, tráfico de animais, direção defensiva e consciente, poluição da água); Distribuição de CDs com as músicas produzidas (Figura 8);

Veiculação de músicas e projeção de vídeos/documentários informativos e educativos; Conversas informais e palestras com os trabalhadores da obra e com motoristas profissionais (caminhoneiros e motoristas de ônibus). Uma vez que o PCS também possui apelo motivacional, no sentido de buscar despertar uma consciência coletiva que reforce e promova ações individuais e coletivas capazes de modificar comportamentos a médio e longo prazo, foi então criado um personagem central (batizado com o nome de Edu Caminha Figura 8). Este personagem, além de ampliar e enriquecer a estratégia de comunicação pelo tom lúdico-realista, constituiu-se como representante e porta-voz das ações do PCS, gerando uma interação mais direta e humanizada com tendência a promover maior conexão emocional do expectador com as mensagens transmitidas. Como o conceito chave é participação e integração entre rodovia e meio ambiente, foi desenvolvido o slogan BR-262 Faço Parte deste Caminho, despertando a identificação e a participação da população e reforçando o sentimento de pertencimento e autoestima (Figura 8). O termo caminho também permite duplo entendimento, o primeiro relacionado à estrada propriamente dita e o segundo referente a uma nova postura ambiental. Figura 8 Personagem Edu Caminha ; identidade visual e slogan da BR-262/MS; CDs com músicas produzidas abordando temas regionais. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Empreendimentos rodoviários, pelas suas características intrínsecas de linearidade e grande extensão, são causadores de impactos ambientais. Exemplo disso é a fragmentação de habitats, a supressão de vegetação, a movimentação de grandes volumes de solos, a interferência com comunidades locais, a poluição da água e do ar, entre outros (InfraSustentável, 2013). A Gestão Ambiental das obras da rodovia BR-262/MS, executada através de uma parceria entre o DNIT e a UFPR, buscou garantir o cumprimento de todos os programas ambientais em estrita observância ao PBA e outros estudos prévios realizados. Em alguns deles, as ações não se limitaram às condicionantes estabelecidas no processo de licenciamento, estendendo-se para abordagens inovadoras e que produziram importantes avanços no conhecimento científico e na formulação de novas soluções para a tratativa de situações semelhantes ao caso em estudo. Destacaram-se a metodologia de aplicação das fichas de monitoramento para avaliação da conformidade ambiental durante as obras, as propostas de dispositivos de proteção à fauna (dada a elevada incidência de atropelamentos no trecho) e a abordagem realizada no âmbito dos programas de Educação Ambiental e Comunicação Social através da produção de músicas que tratam de temas e problemáticas regionais.

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes pela oportunidade de execução dos trabalhos relatados, bem como por poderem contribuir com o desenvolvimento da questão ambiental atrelada à execução de obras de infraestrutura de transportes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CNT. Confederação Nacional do Transporte (2013) Boletim Estatístico de Cargas e Passageiros. Disponível em: www.cnt.org.br. DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. (2009) Plano Básico Ambiental (PBA). Ministério dos Transportes. Campo Grande-MS. 239p. FERMA. Ferma Engenharia (2009) Relatório de Controle Ambiental (RCA) e Plano de Controle Ambiental (PCA). Campo Grande-MS. 507p 666p. InfraSustentável. (2013) InfraSustentável 2013 Conferência de Infraestrutura Sustentável de Transportes. São Paulo-SP. RATTON, E. (2013) Gestão Ambiental BR-262/MS: faço parte deste caminho. UFPR, Curitiba-PR. ISBN: 978-85-64759-05-3. 23p. UFPR. Universidade Federal do Paraná. (2011) 2º Relatório de Gestão Ambiental Rodovia BR-262/MS. Curitiba-PR. Universidade Federal do Paraná, Av. Cel. Francisco H. dos Santos, s/n, Bairro Jardim das Américas, 81530-900, Curitiba-PR. Contatos: philipe_ratton@hotmail.com (+5541 9956-8074); marcela.sobanski@gmail.com (+5541 9675-4035); ratton.eduardo@gmail.com (+5541 9673-9515).