PARECER Nº, DE 2009. RELATORA: Senadora FÁTIMA CLEIDE I RELATÓRIO



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Transcrição:

PARECER Nº, DE 2009 Da COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS, em decisão terminativa, sobre o Projeto de Lei do Senado nº 226, de 2003, do Senador GERSON CAMATA, que altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para regular o trabalho do adolescente. RELATORA: Senadora FÁTIMA CLEIDE I RELATÓRIO Vem à análise desta Comissão, em decisão terminativa, iniciativa do Senador Gerson Camata que altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para regular o trabalho do menor. Inicialmente distribuída unicamente para esta Comissão, a proposição tramitou também na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa CDH, em face da promulgação da Resolução nº 1, de 22 de fevereiro de 2005, que criou a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária e alterou a denominação de inúmeras Comissões desta Casa. Assim, redistribuída pela Presidência a matéria teve a oitiva preliminar da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa CDH, onde foi aprovada na sessão de 30 de agosto de 2005 o Parecer do eminente Senador ROMEU TUMA com a adição de três emendas, que abordaremos no desenvolvimento do nosso Parecer.

2 As alterações do projeto, no que respeita à CLT, concentram-se no capítulo IV, referente à proteção do trabalho do menor. O projeto limita o horário de trabalho do adolescente a quatro horas diárias e vinte semanais e exige compatibilidade com o horário escolar; limita a duas horas diárias a possibilidade de prorrogação de jornada, desde que respeitado o limite de 20 horas semanais e, em casos excepcionais e por motivo de força maior, admite a prorrogação da jornada até o máximo de oito horas diárias, respeitado um descanso de, no mínimo, 15 minutos antes do início do período extraordinário (arts. 411 e 413). A CDH neste particular alterou a redação do inciso II do art. 413 da CLT para consignar que a prorrogação da jornada de trabalho para oito horas deve ter adicional de cinqüenta por cento sobre a hora normal e desde que o trabalho do menor seja imprescindível ao funcionamento do estabelecimento. Estabelece ainda o projeto, no art. 411-A, que as férias do menor deverão coincidir com o período de suas férias escolares; no art. 424-A, que os responsáveis legais de menores trabalhadores que desrespeitarem as determinações constantes na lei poderão ser destituídos do pátrio poder ou tutela; no art. 429-A, que somente poderão ser admitidos, como aprendizes, aqueles que tiverem concluído o ensino fundamental, ou tenham conhecimentos mínimos essenciais para a preparação profissional e comprovarem, em processo de seleção profissional, possuir aptidão física e mental para a atividade que pretendem exercer. No art. 429-B, estabelece o projeto a obrigatoriedade de freqüência do menor ao curso de aprendizagem em que estiver matriculado, sob pena de perda dos salários dos dias correspondentes e, no caso de absenteísmo reiterado ou falta de aproveitamento razoável, a possibilidade de dispensa do menor por justa causa. Neste artigo a CDH alterou a redação do 2º para dispor que a falta reiterada no cumprimento da obrigação prevista no art. 429-B da CLT ou a falta de aproveitamento que implique perda do ano letivo serão consideradas justa causa para a dispensa do aprendiz.

3 Relativamente à Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, a proposição acrescenta três dispositivos ao denominado Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim, temos que, nos termos do projeto, o estabelecimento, onde se realiza o trabalho educativo, não poderá ter fins lucrativos, tendo enfoque na qualificação profissional dos alunos e repassando a estes o saldo dos resultados obtidos com a produção. Define, no art. 69-A, estágio profissionalizante como o período durante o qual as qualificações assimiladas no período de formação técnica são experimentadas nas empresas, estabelecendo as condições e requisitos para a formalização do período de estágio, permitindo que seja gratuito. Estabelece, no art. 69-B, que a carga horária, duração e jornada do estágio serão definidas pela instituição de ensino, não podendo ser superior a dois anos, nem inferior a um semestre. No art. 69-C, cria a figura da cooperativa escola, formada por alunos de estabelecimento de ensino e tendo como objetivos: a educação dos alunos dentro dos princípios do cooperativismo; ser instrumento operacional dos processos de aprendizagem; a defesa econômica dos interesses comuns, visando à aquisição de material didático e insumos necessários ao exercício da vida escolar; comercialização dos produtos do processo de aprendizagem e prestação de demais serviços de interesse dos associados. Finalmente, no art. 69-D, determina que a administração e fiscalização das cooperativas fiquem a cargo de associados civilmente capazes, podendo contar com um conselho de representantes integrados por associados maiores de dezesseis anos e, caso a administração seja composta por menores de dezesseis anos, determina que o Ministério Público deve atuar como curador para o exercício dos atos civis da entidade. Ao fundamentar sua proposta, afirma o autor a necessidade de preencher lacunas na legislação que disciplina o trabalho do menor aprendiz, com vistas a obstar a exploração do trabalho juvenil, que é usada muitas vezes em substituição à força de trabalho dos adultos com o objetivo de redução de custos.

4 Ao projeto foram apresentadas duas emendas, de autoria do Senador Antonio Carlos Valadares. A primeira determina a exclusão do 3º do art. 69-A, o qual possibilitava a realização de estágio não remunerado. Argumenta que a retribuição pelo trabalho do jovem estagiário, ainda que não importe em contraprestação monetária, deve permitir a cobertura de despesas com alimentação, vestuário e transporte, concluindo que o estudante como qualquer trabalhador não deve pagar para trabalhar. A segunda emenda acrescenta, ao art. 69-A, dois parágrafos para determinar que o estágio somente possa ser realizado em unidades com condições de oferecer experiência na área de formação do jovem trabalhador e, também, dispor que o estágio não cria vínculo empregatício de qualquer natureza. Na CDH embora tenha ficado obscura no Parecer a menção a supressão aos arts. 68-A e 68-B é o que se depreende da sua análise, onde se inscreveu que tais dispositivos estariam prejudicados à luz da Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977. II ANÁLISE Preliminarmente, assinalamos que o projeto não apresenta vícios de constitucionalidade, nem de legalidade. A iniciativa, no âmbito do Direito do Trabalho, está em harmonia com os preceitos constitucionais, jurídicos e regimentais e foi elaborada com observância dos pressupostos relativos à iniciativa e à competência para legislar (art. 61 e caput do art. 48 da Carta Magna, respectivamente). Passemos, pois, à análise do mérito. No que importa à fixação do horário de trabalho do menor aprendiz em quatro horas diárias e vinte semanais, somada à determinação de que o horário de trabalho do menor deverá ser compatível com o horário escolar, a iniciativa deve ser muito bem sopesada. O que se propõe é uma redução de 44 horas para 20 horas como teto de jornada semanal. A aprovação de medida desta natureza poderá ter um impacto enorme, colocando para fora do mercado de trabalho um contingente enorme de trabalhadores jovens ávidos por experiência profissional, a partir dos 16 anos de idade.

5 A Lei 8.069, de 1990, proíbe a menores de 14 anos de idade o trabalho, salvo na condição de aprendiz. Entretanto, o art. 60 dessa Lei deverá ser entendido como a proibição do trabalho aos menores de 16 anos, por força da Emenda Constitucional nº 20, que alterou o artigo 7, XXXIII da Constituição Federal, proibindo qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, à partir dos 14 anos, pela razão de que a norma constitucional prevalece sobre as leis infra-constitucionais. Esta proibição tem em vista a filosofia da Lei 8.069, de 1990, visando à proteção integral da criança e do adolescente. Presume-se que antes dos 16 anos de idade (idade introduzida pela Emenda Constitucional nº 20) o menor há de receber a instrução e educação devida, necessitando, para trabalhador de um desenvolvimento adequado, além do necessário lazer que lhe deve ser assegurado. Por sua idade e desenvolvimento físico e mental, a Lei busca evitar futuros desgastes que irão prejudicar o futuro empregado. A Lei 8.069, de 1990, considera aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação e educação em vigor. Saliente-se ainda que a Lei nº 10.097, de 2000, já introduziu na CLT que a jornada máxima do aprendiz não excederá seis horas diárias, senão vejamos: Art. 432. A duração do trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias, sendo vedadas a prorrogação e a compensação de jornada. 1 o O limite previsto neste artigo poderá ser de até oito horas diárias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica. Por esta razão seria temerária uma alteração do limite máximo da jornada neste momento sem estudos preliminares que possam demonstrar o impacto desta medida na formação de nossos jovens e nos programas sociais em andamento envolvendo inúmeros convênios entre entidades privadas e o poder público.

6 Nesse cenário estaria prejudicada também a disposição que se refere à regulação da prestação de serviço extraordinário pelo menor. A determinação contida no art. 411-A, estabelecendo que as férias dos menores coincidam com as férias escolares, é desnecessária, porquanto já existe previsão expressa nesse sentido no art. 136, 2 da CLT. O art. 424-A estabelece a possibilidade de perda do pátrio poder, caso haja o descumprimento da legislação de regência, por parte dos responsáveis legais de menores trabalhadores. A disciplina desta matéria deve estar reservada a esfera do direito civil dada à natureza das questões familiares envolvidas, salientando-se que o novo Código Civil instituiu o Poder Familiar (art. 1.630 do CC) em substituição ao pátrio poder. Os arts. 429-A e 429-B dispõem acerca da necessidade, para admissão como aprendiz, que o menor haja concluído o ensino fundamental, ou tenha conhecimentos mínimos essenciais para a preparação profissional; da obrigatoriedade de seleção profissional para atestar a aptidão física e mental para a atividade pretendida; da obrigatoriedade de freqüência, sob pena de perda dos salários dos dias correspondentes e, no caso de absenteísmo reiterado ou falta de aproveitamento razoável, a possibilidade de dispensa do menor por justa causa. As determinações contidas nesses dispositivos são medidas que já estão em vigor na sua maioria. O exame admissional é obrigatório para qual admissão de empregado segundo a Norma Regulamentara (NR) nº 7 do Ministério do Trabalho e Emprego. A freqüência escolar é requisito intrínseco ao processo de aprendizagem, sob pena de desconsideração da condição de aprendiz. Passamos agora a analisar as alterações que o projeto propõe para a Lei nº 8.069, de 1990.

7 A determinação contida no art. 68-A, de que a escola-produção em que se realize trabalho educativo não poderá ter fins lucrativos, e de que privilegiará a qualificação profissional dos alunos, repassando a estes o saldo dos resultados obtidos com a produção, é alternativa que merece maior reflexão. A proposta tem todos os contornos de programa de Governo que necessitaria de aporte de recursos e formatação específica para que possa ter êxito. Uma legislação da complexidade do Estatuto da Criança e do Adolescente não seria a melhor opção para tratarmos dessa matéria, em que pese a motivação do seu autor com esta proposta. Os arts. 69-A e 69-B trazem regras relativas ao estágio profissionalizante. Todavia, a matéria já se encontra propriamente normatizada pela Lei nº 11.788 de 25 de setembro de 2008 que dispõe sobre o estágio de estudantes; altera a redação do art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n o 5.452, de 1 o de maio de 1943, e a Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996; revoga as Leis n os 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6 o da Medida Provisória n o 2.164-41, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Salientamos que o projeto não trouxe, a não ser pela previsão da possibilidade de estágio não remunerado, qualquer inovação ao tratamento legal que está atualmente em vigor. Necessário observar que, no que diz respeito à previsão do projeto relativa ao estágio sem remuneração, razão assiste ao Senador Antônio Carlos Valadares, contida na justificação de emenda que apresentou nesta proposição ao afirmar que um estudante como qualquer trabalhador não deve pagar para trabalhar, devendo a contraprestação devida pelo estágio, ainda que singela, seja suficiente para cobrir as despesas decorrentes da própria prestação de serviços, tais como transporte e alimentação.

8 Nesse passo, temos que as emendas apresentadas ao projeto perdem o objeto, vez que os artigos que pretendem alterar serão objeto de emenda supressiva. Finalmente, passamos à análise dos arts. 69-C e 69-D que introduzem a figura da cooperativa escola. Não vemos como acolher os referidos dispositivos, haja vista a impossibilidade de harmonização da proteção e tutela especial que se deve dar ao trabalho dos menores, com o instituto da cooperativa de mão de obra, até porque não há instrumental eficiente para obstar e punir fraudes, abrindo-se uma perigosa oportunidade para que se escamoteie, sob um verniz de legalidade, situações de exploração e abuso do trabalho juvenil. III VOTO Em razão do exposto, opinamos pela rejeição do Projeto de Lei do Senado nº 226, de 2003. Sala da Comissão, 18 de novembro de 2009. Senadora Rosalba Ciarlini, Presidente Senadora Fátima Cleide, Relatora

9 SENADO FEDERAL COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS IV - DECISÃO DA COMISSÃO A Comissão de Assuntos Sociais, em reunião realizada nesta data, decide pela rejeição do Projeto de Lei do Senado nº 226 de 2003, de autoria do Senador Gerson Camata. Sala da Comissão, em 18 de novembro de 2009. Senadora ROSALBA CIARLINI Presidente