FLORESTA NACIONAL DO IBURA: AS VELHAS E AS NOVAS TERRITORIALIDADES



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Transcrição:

FLORESTA NACIONAL DO IBURA: AS VELHAS E AS NOVAS TERRITORIALIDADES 1 Jorgenaldo Calazans dos Santos Universidade Federal de Sergipe, e-mail: jorgenaldoc@hotmail.com Maria Augusta Mundim Vargas Universidade Federal de Sergipe, e-mail: amundim@infonet.com.br RESUMO Pesquisas e investigações sobre as dinâmicas territoriais em transformação tem sido alvo de um fecundo debate nos dias atuais. Ciente disso, o objetivo do artigo: Novas territorialidades: o processo de criação da Floresta Nacional do Ibura em Sergipe, Nordeste do Brasil, visa compreender as novas configurações territoriais ocorridas no espaço geográfico quando da criação da Floresta Nacional Ibura. O procedimento metodológico utilizado foi o levantamento bibliográfico e documental, delimitação dos conceitos e análise dos aspectos relacionados à gestão ambiental. Com isso, os indicadores preliminares apontam que a criação das novas unidades de conservação contribuiu significativamente para o surgimento das novas territorialidades em virtude dessas comunidades estarem em contato simbiótico (simbiose) com esses espaços. PALAVRAS-CHAVE: Floresta Nacional do Ibura FLONA; território; territorialidade, dinâmica ambiental e sustentabilidade. Introdução O processo de criação das Unidades de Conservação ao obedecer as diversas estratégias e relações socioambientais reflete categoricamente uma nova dinâmica do espaço geográfico e exige estudos sobre os indicadores de mudanças e perspectivas para as suas novas configurações. Tal fato impôs a necessidade de se repensar alternativas capazes de redirecionarem tanto os reflexos nefastos da intensa apropriação dos recursos naturais como das mais variadas configurações do território. Os paradigmas do desenvolvimento contemporâneo apontam para uma relação de simbiose entre ser humano e a natureza, o que se traduz também, numa perspectiva administrativa de longo prazo dos recursos naturais e da infra-estrutura, do patrimônio histórico-cultural, dos aspectos da preservação e de consideração das características dos povos e das comunidades tradicionais. Nesse sentido passa a ser primordial na formalização no mundo contemporâneo de interesse coletivo a preservação de áreas naturais, como é o caso das Unidades de

2 Conservação. Tais Unidades são instituídas pelo poder público e têm como principal objetivo atenuar os efeitos da destruição dos ecossistemas, podendo ser: reservas biológicas, parques, florestas e estações ecológicas, o que implica em consequências nem sempre são favoráveis ao modus vivindi das comunidades locais envolvidas com a área. A proposta de pesquisa apresentada estrutura-se para compreender as possíveis configurações territoriais ocorridas no espaço geográfico quando da criação da Floresta Nacional Ibura no município de Nossa Senhora do Socorro em Sergipe. Para tal, pretendemos caracterizar historicamente o processo de uso, ocupação e produção do espaço do antigo Horto Florestal Ibura. O estudo dos elementos e sujeitos interventores na reprodução do espaço do antigo Horto Florestal Ibura, será parte fundamental para a avaliação de produção econômica e possíveis conflitos em vista da relações de poder ali travadas. Na análise pretendemos focar as políticas públicas que refletem no processo de transformação espacial e na produção de novas territorialidades, como subsidio para entender a visão dos atores sociais quanto ao processo de inserção social, qualidade ambiental e desenvolvimento regional. Nesse sentido, a pesquisa estrutura-se para Compreender as novas configurações territoriais ocorridas no espaço geográfico do entorno da Floresta Nacional Ibura no município de Nossa Senhora do Socorro em Sergipe. Para tal, pretendemos Caracterizar o processo de uso, ocupação e produção do território do antigo Horto Florestal Ibura, até a criação da Floresta Nacional do Ibura, além de conhecer a visão dos atores (órgão públicos e moradores do Povoado Estiva) quanto ao processo de produção de novos territórios. Analisar as políticas públicas decorrente do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e que refletem no processo de transformação do território. Na análise pretendemos Identificar a ocorrência de mudanças, conflitos e novas territorialidades, bem como avaliar a multidimencionalidade do espaço redefinido com a criação da Floresta Nacional do Ibura. Importa apresentar a partir de agora as principais categorias de análise que estruturam a pesquisa, quais sejam: território, territorialidade, relações de poder, dinâmica ambiental.

Entendendo Territorialidade 3 A discussão sobre território é muito complexa e carece de esclarecimentos. Daí surge a pergunta: o que devemos entender, de imediato, por território e por territorialidade? Para Haesbaert (2004), deve-se considerar que a origem do território está ligada a uma dupla conotação: material e simbólica. No plano etimológico aparece muito próximo de terra-territorium como de terreo-territor (terror, aterrorizar), isso implica, em certa medida, dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração do terror, do medo. Entretanto, o autor conclui afirmando que qualquer que seja a acepção seguida, território está ligado a acepção de poder e que não se trata, apenas, de um poder tradicional no campo da política. Aqui estão em jogo, minimamente, dois sentidos, ou seja, o sentido mais concreto, de dominação, mas também aquele que se refere ao poder simbólico, de apropriação afetiva de algo. que: Assim, com base nesse pressuposto, Haesbaert (2007, p.36) assegura, portanto, o território aparece ao longo do tempo e na maior parte das reflexões teóricas como conceito capaz de apreender uma das principais dimensões do espaço geográfico, a sua dimensão política ou vinculada às relações de poder, dentro das diferentes perspectivas com que se manifesta o poder. Em sendo assim, importa considerar que, sob o conceito de território, tratamos o espaço geográfico a partir de uma concepção que privilegia a política ou a dominação/apropriação. Historicamente, o território na Geografia foi pensado, definido e delimitado a partir de relações de poder (SUERTEGARAY, 2005, p.52). No passado da Geografia, Ratzel (1982), ao tratar do território, vincula-o ao solo, enquanto espaço ocupado por uma determinada sociedade. Com isso, percebe-se que a concepção clássica de território vincula-se ao domínio de uma determinada área, imprimindo uma perspectiva de análise centrada na identidade nacional. Para Raffestin (1993, p.120), o território é produto do espaço, sendo, pois resultado de uma ação conduzida por um sujeito em qualquer nível. Portanto, o território é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações de poder. Raffestin (op.cit.), entende que o território surgiu posterior ao espaço e que o espaço é a prisão original. Em sendo assim, o autor em discussão assevera que o território é inegavelmente, a prisão que os homens constroem para si. Com isso fica

4 mais do que evidente o aspecto afetivo e de relação de poder implicado na acepção de território. Na esteira de Souza (1995, p.74) é possível entender que o território é fundamentalmente, um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. O mesmo destaca ainda o caráter flexível do que possa ser o território, perpassando pelas concepções de campo de forças, o qual define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre os membros da coletividade e os exteriores a essa. A partir de uma representação, os atores vão proceder à representação das superfícies, à implantação de nós e à construção de redes. Dessa forma, como o próprio cotidiano das vidas sociais das comunidades vão se formando, assim também os territórios. Entretanto, se nos limitarmos ao território concreto, esses atos vão se traduzir por atos observáveis. É por isso que a análise feita diante das relações territoriais tem que ir além do que está exposto. Deve-se penetrar no imaginário e no vivido pelas comunidades analisadas. Partindo desse pressuposto é possível entender Almeida (2008, p. 58), ao afirmar que o território é objeto de operações simbólicas e é nele que os sujeitos projetam suas concepções de mundo. Ainda consoante o entendimento de Raffestin (1993) toda prática espacial, mesmo embrionária, induzida por um sistema de ações ou de comportamentos se traduz por uma produção que faz intervir na tessitura, nos nós e nas redes. Quando falamos em território, importa considerar de modo enfático que o mesmo está delimitado por fronteiras, pois toda tessitura implica a noção de limites. Em se tratando de território, em todo caso, faz-se uma referência implícita à noção de limite que, mesmo não sendo traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com uma porção do espaço. Assim sendo, toda tessitura exprime a área de exercício de poderes ou a área de capacidade dos poderes, formando assim cinturões onde se concentram as diversas camadas da sociedade e que, de certa forma concentram suas maneiras de conviver com o espaço ao qual foi delimitado. Dessa forma é possível identificar a concentração de dominação entre essas tessituras da mesma forma que acontece com as redes, que também é um reflexo da formação de grupos organizados na sociedade. Retomando o pensamento de Raffestin (1993, p.124) toda rede revela, da mesma forma que as tessituras e a implantação dos pontos, certo domínio do espaço, isto é, um domínio do quadro espaço-temporal.

5 Como estamos refletindo, devemos considerar que os aspectos que definem territorialidade implicam, certamente, nos mesmos que refletem sobre a multidimensionalidade, pois se analisarmos o território vivido pelos membros das sociedades poderemos notar que ele está carregado por diversas multidimensionalidades que serão geradas pela criação do território. Isso ocorre porque os homens vivem ao mesmo tempo o processo e o produto territorial por meio de um sistema de relações existenciais e/ou produtivistas. Daí ser possível afirmar que as relações de poder existentes entre os agentes buscam modificar tanto as relações com a natureza como as relações sociais. Assim, a territorialidade seria definida como um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional entre a sociedade, o espaço e o tempo, pois a vida é tecida por relações, e são essas relações que surgem a cada momento no dinamismo em que a sociedade evolui (Raffestin (1993, p.161). Com base nessa dinâmica podemos afirmar que a todo momento está surgindo novas territorialidades em todos os espaços e em todos os momentos da vida em sociedade. Desse modo, a territorialidade se manifesta em todas as escalas espaciais e sociais, ela é consubstancial a todas as relações e seria possível dizer que, de certa forma, ela é a face vivida da face agida do poder, segundo Raffestin (1993, p.164). Dessa forma, podemos analisar da seguinte maneira: se o vivido e o agido pela sociedade é o que traz à tona a territorialidade, então todas as sociedades possuem níveis diversos de relações territoriais, sejam elas em qualquer grau. Mas ao se relacionarem com outros espaços delimitados elas estarão criando novas relações territoriais. Assim, o surgimento das novas territorialidades está ligado não somente aos aspectos objetivos da realidade vivida pelas populações. Devemos considerar quer as novas territorialidades envolvem também, sua dimensão subjetiva, a qual aparece de modo concreto por meio das manifestações de sofrimento, desejos, julgamentos e expectativas. Com isso, a discussão sobre as identidades do povo se faz importante, pois é nesse momento que conhecemos os motivos pelos quais as comunidades firmam relações com os diversos territórios e assim formam diante dessa relação as novas territorialidades. Podemos buscar entender como o pensamento e as ações das relações interagem com a história acumulada de um lugar e como esses elementos ganham na

6 especificidade dessa história, passando assim a constituir a sua própria história imaginada como produto de camadas superpostas de diferentes conjuntos de ligações tanto locais como em sua perspectiva mais abrangente e global. Segundo Castells (1999, p.23), a identidade é a fonte de significados e experiência de um povo. Por isso, está fortemente ligada a essa construção de territorialidades. Convém lembrar que, ao analisarmos uma comunidade rural, entendese que o amor que ela manifesta pela terra é o que, efetivamente, constitui a sua identidade propriamente dita. A firmação do apego pelo território nas áreas rurais é notória, pois essa relação de pertencimento faz crescer a identidade com a terra. Nesse sentido, Almeida (2008, p. 59) acrescenta que é inevitável a conclusão de que muitos laços de identidade se manifestam na convivência com o lugar, com o território Nesse contexto, outra questão importante diz respeito ao fato de que os atores sociais podem estar envolvidos em mais de uma identidade, ocasionando dessa forma identidades múltiplas. Castells (1999, p.24), afirma que as identidades organizam os significados que irão demarcar o grau de importância que os atores sociais darão aos costumes e tradições ligadas ao território. Resgatando, Almeida (2008, p. 49) nos diz que tem-se clareza de que as identidades imbricam-se, mesclam-se e apresentam dinamicidade, construindo uma diversidade identitária. Diante disso, deve-se considerar que a construção social da identidade sempre ocorre em um contexto marcado por relações de poder. Assim, podemos discutir as definições de Castells (1999), quando diferencia os tipos de identidade, que seriam a identidade legitimadora, possivelmente, alicerçada em uma ideologia defendida por uma coletividade; a identidade de resistência criada por atores que se encontram em posições/condições desvalorizadas pela lógica da dominação, e que dessa forma resiste a certa ideologia imposta pelas relações de poder e, por fim, a identidade de projeto quando os atores sociais buscam de qualquer forma uma posição social e constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e o faz com o propósito de alavancar a transformação de toda a estrutura social. Para Almeida (2009, p.166) na condição de território, não tem o seu significado apenas na materialidade visível e no que é mensurável, mas sim no conjunto de relações que pode manter com outros elementos da vida social. Retomando Haesbaert (2007), importa considerar que o território é construído no jogo entre material e imaterial, funcional e simbólico. Dessa forma podemos afirmar que as concepções de território capazes de responder melhor pela realidade

7 contemporânea devem superar os dualismos fundamentais tais como: tempo-espaço, fixação-mobilidade, funcional e simbólico. Com isso, devemos tratar o território sabendo que ele está em constante processo de formação e não como instituição já formada. Para tanto, deve-se levar em consideração as múltiplas temporalidades e velocidades a partir das quais ele pode ser constituído. Isso se tratando dos diversos tipos de territórios sejam aqueles com maior estabilidade, sejam os que apresentam uma maior mobilidade e flexíveis, sejam os mais funcionais ou ainda aqueles com maior carga ou poder simbólico. Partindo dessa discussão é que apontamos para a necessidade de entender os tipos de identidade e de que forma uma identidade defensiva nos termos das instituições/ideologias dominantes, revertendo ao campo axiológico, ou seja, a consideração dos valores e, ao mesmo tempo, reforçando os limites da resistência. A categoria territorialidade tem sido privilegiada por diversos estudiosos o que implica considerar a sua relevância. Em assim sendo, Célia Santos (1996), em sua produção levanta as discussões mais recentes àquela época, sobre território e territorialidade, englobando as duas dimensões da apropriação do território: a dimensão concreta, que envolve domínio político e ou econômico e a apropriação simbólica, que envolve a apropriação cultural-simbólica referente a espaços de vivência cotidiana, ao tempo, aos ritmos de vida. Ainda nesse mesmo trabalho a autora aborda a posição do Estado ao desenvolver suas políticas de modernização. Nesse ponto, o Estado tem sido indiferente aos impactos na identidade cultural, no cotidiano, no saber dos indivíduos que vivem num determinado território. Nesse sentido, Hélio Nascimento (1999), aborda no seu trabalho o processo de interação entre os atores, que ocorre a formação de territórios no qual se integram diferentes redes. Estas são analisadas sob deferentes abordagens, conforme destacam os teóricos Haesbaert (1995), Raffestim (1993), Souza (1995), Santos (1997) entre outros. Ainda podemos destacar os estudos de Ramos Filho (2002), que em sua pesquisa analisa o processo de (des)territorialização em uma área antes ocupada por uma usina de cana de açúcar, identificando os elementos que interferem na construção de novas territorialidades na área. O estudo apresenta também as relações sócioterritoriais desenvolvidas nas terras em litígio, tem permitido a (re)criação de novas e distintas territorialidades dos acampamentos. Estas se explicitam nos novos usos dados a terra, nas distintas relações políticas internas, nas diferentes formas de organização para a produção, assim como nos elementos simbólicos que preservam a partir do contato com a terra.

8 Dinâmica Territorial A abordagem da dinâmica territorial impõe-nos considerar duas questões aí imbricadas: por um lado o tempo presente, passado e futuro indicam processualidade e, por outro, também indica simultaneidade, pois vivemos diferentes temporalidades e territorialidades, conforme destaca Saquet (2009). Com esse entendimento é possível perceber que são os constantes e concomitantes processos de (des)territorialização e (re)territorialização que geram sempre novas territorialidades e que, certamente, novos territórios contêm traços/ características dos velhos territórios e territorialidades. Para entendermos os processos que estão (re)configurando o território do Município de Nossa Senhora do Socorro, mais precisamente no povoado Estiva, que faz fronteira com a Floresta Nacional do Ibura, é necessário relacionar os seus possíveis elementos constituintes. Na perspectiva de Saquet (2009, p.85) entende-se que: A questão da multidimensionalidade de nossas vidas cotidianas, tanto biológica como socialmente. Estabelecemos relações econômicas, políticas e culturais todos os dias, minuto a minuto, entre nós e com nossa natureza exterior (inorgânica), o que pode ser traduzido pelas diferenças, identidades e desigualdades, ou seja, pelas territorialidades cotidianas: todos os processos espaços-temporais e territoriais inerentes a nossa vida na sociedade e na natureza. É quando Tubaldini e Silva (2009, p. 116), assevera que o território apresenta um valor simbólico, pois é um espaço com significação, onde se processam as relações sociais, afetivas, de importância histórica, cultural e religiosa/espiritual. Dessa forma, podemos afirmar que no espaço do cotidiano coexistem múltiplos tipos de territórios, estes surgem tanto como forma de expressão de domínio e poder, como também na forma de resistência às transformações impostas por grupos dominantes, às desigualdades e conflitos sócio-econômicos e culturais. A população do povoado Estiva, certamente, passa por esse processo na formação de cada território que vive, cristalizando relações de influência, afetivas, simbólicas, conflitivas, identitárias, dentre outras. Sendo assim, começamos a entender e a ter maior clareza a respeito da questão da multidimensionalidade das vidas do cotidiano. É fato que estabelecemos relações econômicas, políticas e culturais todos os dias, minuto a minuto, o que pode ser traduzido pelas diferenças, identidades e desigualdades, ou seja, pelas territorialidades cotidianas, o que envolve todos os processos territoriais inerentes à vida em sociedade e sua relação com a natureza.

9 E, diante do surgimento de novos territórios e de novas territorialidades sempre podem surgir conflitos entre as partes envolvidas. Porem é necessário lembrar que os conflitos existem desde o início da humanidade, pois eles fazem parte do processo de evolução dos seres humanos e são até necessários para o desenvolvimento e o crescimento de qualquer sistema social, político e organizacional. Parafraseando Saquet (2009, p.81), os homens têm centralidade na formação de cada território: cristalizando relações de influência, afetivas, simbólicas, conflitos, identidades, etc. É possível pensar inúmeras alternativas para indivíduos e grupos lidarem com os conflitos. Mas é importante saber que estes podem ser ignorados ou abafados, ou sanados e transformados num elemento auxiliar na evolução de uma sociedade. Se observarmos a história, até há pouco tempo a ausência de conflitos era encarada como expressão de bom ambiente e de boas relações. É nesse contexto que os processos ditos identitários como os conflituosos e transformativos são históricos e relacionais e, ao mesmo tempo, materiais e imateriais. Com isso é que se entendem os conflitos tradicionais legados pela história e como tais reúnem indivíduos ao redor dos mesmos interesses, fortalecendo sua solidariedade. Os conflitos podem surgir diante de uma competição entre as pessoas motivada por pela escassez de recursos disponíveis ou ainda pela divergência de alvos entre as partes. A formação de novas territorialidades implica recordar todo um processo de formação, desde sua origem passando pelas relações materiais e imateriais. Esse movimento implica, propriamente, apropriação e dominação tanto no aspecto material como no imaterial sob a forma de manchas e de redes. Dessa forma podemos chegar a conclusão que as contradições na formação do território encontram voltadas para a ideia de posse, de perda ou conquistas de espaços. Segundo Saquet (2009, p.82), a territorialidade corresponde ao poder exercido e extrapola as relações políticas envolvendo as relações econômicas e culturais. Nesse contexto encontra-se envolvidos tanto os indivíduos como os grupos e isso ocorre também em redes e lugares de controle, mesmo que seja temporário, do e no espaço geográfico com suas edificações e relações. Saquet (op.cit.), sobre território devem reconhecer, simultaneamente, características fundamentais do processo de apropriação, dominação e produção do território assim como as relações de poder, as identidades simbólico-culturais, as contradições, as desigualdades (ritmos lentos e rápidos), as diferenças, as mudanças

10 (descontinuidades), as permanências (continuidades), as redes de circulação, de comunicação. Diante deste contexto da dinâmica territorial, nota-se que ela está inserida em um processo de reconstrução de território, em que há uma imposição de um modelo político de delimitação de espaços por meio de criação de fronteira. Dessa forma, o que ocorre é a redefinição de novos territórios imprimindo com isto sérias alterações em toda a sociedade. Um exemplo dessas alterações territoriais fruto de atos políticos governamentais é o decreto da criação da Floresta Nacional do Ibura, objeto de nosso estudo e reflexão crítica em andamento. Considerações Finais: A Flona e as Novas Configurações do Território Contemporaneamente é fácil constatar um número crescente de ações em defesa do meio ambiente. Muitos estudos têm sido necessários para se avaliar os reflexos de atividades direcionadas para a apropriação dos recursos naturais e culturais, isso na tentativa de permitir às comunidades a participação na escolha dos rumos do desenvolvimento local, o que resulta, por sua vez, no pleno exercício da cidadania. Todo esse processo, certamente, incide com identificação dos elementos que promovem as novas territorialidades. O geógrafo Cláudio Egler (1996, p. 32) destaca que a concepção de risco está associada às avaliações de investimento, isto é, subsidiam a tomada de decisão ex ante e não ex post como o fazem normalmente as análises de impacto ambiental. Algo de importância capital para os dias de hoje. Nesse sentido, Quintas (2005, p. 69) concebe os problemas ambientais como situações onde haja risco e/ou dano social/ambiental e não haja nenhum tipo de reação por parte dos atingidos ou de outros. Como se vê, é muito tênue, embora bastante significativa, a diferença entre risco e problema ambiental. Os problemas de ordem natural, somados ao de ordem humana e tecnológica, estão presentes na totalidade das regiões litorâneas brasileiras. Com isso, torna-se importante reconhecer os elementos potencializadores desses perigos e riscos ambientais são maximizados através das ações antrópicas. É nesse momento que apresentamos o nosso objeto de pesquisa e a relação de toda a fundamentação do território e da construção de novas territorialidades tendo o seu espaço como palco para a construção dessas novas relações.

11 A Floresta Nacional do Ibura está localizada no município de Nossa Senhora do Socorro, Sergipe, e conta com uma área de 144 hectares, dezessete ares e oitenta e cinco centiares. Foi criada pelo decreto de 19 de setembro de 2005 com o objetivo de promover o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais, a manutenção de banco de germoplasma in situ de espécies florestais nativas, inclusive do bioma Mata Atlântica com formações de floresta estacional semidecidual nos estágios médio e avançado de regeneração, em associação com manguezal. Compreende, além das riquezas naturais e culturais, um ecossistema que agrega mata atlântica, restinga, mangues e áreas úmidas e tem como base a manutenção e a proteção dos recursos florestais e da biodiversidade, a recuperação de áreas degradadas e a pesquisa científica (Silva, Pinto, Gomes. 2008 [s.p]). A estrutura do Ibura advém da instalação de um Posto zootécnico criado em 1917 pelo poder público estadual para apoiar o desenvolvimento da pecuária do Estado de Sergipe. Naquela época, edificou-se estrutura física para o desenvolvimento de pesquisas, controle de zoonoses e para sediar estação meteorológica. Com o Decreto-Lei nº 22.973, de 20 de julho de 1933, criou-se a figura de Horto Florestal sendo administrado pelo Estado. Porém, com o advento da Lei nº 1.762, de 15 de dezembro de 1972, a área já dilapidada é doada ao extinto IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Com o propósito de implementar melhorias na área foi criado o Posto de Fomento Florestal Roberto da Costa Barros, que além da missão de proteção dos recursos florestais existentes na área, teve a função de desenvolver a silvicultura no Estado, com a produção de mudas de essências florestais, frutíferas e ornamentais. Deve-se notar, também, que por algum tempo, a referida área foi utilizada, largamente, como espaço de lazer pelos sergipanos. A criação de uma Floresta Nacional (FLONA) encontra-se amparada no arcabouço legal que rege a criação de unidades de conservação do país, ou seja, a lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000, regulamentada pelo Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002 (Lei do SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Art. 27). A área se encontra administrada pelo ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Porém, devido às limitações estruturais desse órgão, existe uma parceria com o IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, a fim de utilizá-la para a produção de mudas e essências florestais, que servem para recuperação de áreas degradadas e matas ciliares. A Floresta Nacional é definida como uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo

12 sustentável dos recursos florestais e a pesquisa cientifica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas (COSTA, 2002, p. 35). Hoje, no país, existem setenta e três florestas nacionais, estabelecidas para silvicultura, corte seletivo sustentável, proteção de bacias hidrográficas, pesquisa e recreação. A maioria está localizada no Norte do país são 39 Florestas Nacionais sendo que 99% da área dessas florestas estão na Amazônia. O Estado de Sergipe compreende uma rica diversidade de ecossistemas, são eles: a caatinga, o cerrado, a mata atlântica, os manguezais e a restinga. No entanto, toda essa biodiversidade existente desde os tempos da colonização territorial sofre, com a perda de seu patrimônio natural. Segundo Silva e Souza (2009, p. 4), não basta apenas multiplicar a quantidade de unidades no país, a exemplo do Estado de Sergipe que possuía até 2009, quinze UCs, sendo seis de Proteção Integral e nove de Uso Sustentável. O que mais tem despertado a atenção, neste cenário, é que no intervalo de cinco anos, 2004-2009, foram criadas seis unidades, e mais três estão em processo de criação. Porém, esses espaços territoriais apresentam os mais variados problemas que vem dificultando a gestão e o gerenciamento desses espaços legalmente protegidos, tais como: a falta de política florestal estadual; a inexistência de plano de manejo em todas as unidades; a falta de infraestrutura administrativa e operacional; a falta de profissionais qualificados via concurso público; as ocupações desordenadas em áreas de risco ambiental; e a falta de realização de programas de educação ambiental. Segundo Andrade (2002, p.1), uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras. Percebese que a sustentabilidade é a teoria, e consolida-se numa das alternativas práticas, visto que as definições implicam na transformação de comunidades locais em sociedades sustentáveis. Nesse sentido, devem ser destacados os principais interessados na gestão da Floresta Nacional do Ibura, em especial a comunidade do povoado Estiva, diretamente ligada à floresta, estando distante somente a 2 km². Ela é o elo que nos une para obtenção de uma possível relação entre a comunidade, a área em estudo e o poder público municipal. A Floresta Nacional do Ibura foi, durante a década de 30, um ícone de lazer, cultura e educação para os sergipanos. Vale ressaltar que, no nosso entender, ao desenvolver práticas sustentáveis na região implica em possibilidades de estabelecimento de parcerias para a estruturação e implantação, assim como a elaboração do instrumento de gestão e planejamento, caberia

13 a uma aliança entre o poder público local e a iniciativa privada. Em adição, é perceptível que a Floresta Nacional do Ibura revela-se com um proeminente potencial para a participação das instituições de ensino, pesquisa e extensão. Cremos que o debate e o aclaramento dessas questões devem continuar, pois não enxergamos outro caminho plausível capaz de contribuir, eficazmente, na construção desse novo paradigma, na criação desses novos territórios, Afetando dessa forma os costumes e tradições de comunidades que anteriormente tinha acesso livremente ao espaço, e que, nos dias atuais tal espaço fora decretado Floresta e, portanto, objeto de uma política conservacionista. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Geralda. Diversidade paisagística e identidades territoriais e culturais no Brasil sertanejo. In: ALMIDA, Maria Geralda; CHAVEIRO, Eguimar Felício; BRAGA, Helaine Costa. (Orgs.). Geografia e Cultura: os lugares da vida e a vida dos lugares. Goiânia: Editora Vieira, 2008. ALMEIDA, Maria Geralda. O sonho da conquista do Velho Mundo: a experiência de imigrantes brasileiros do viver entre territórios. In: GERALDA, Maria Geralda e CRUZ, Beatriz Nates. Território e cultura: inclusão e exclusão nas dinâmicas socioespaciais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás/FUNAPE; Manizales: Universidad de Caldas, 2009 ANDRADE, R. O. B.; TACHIZAWA, T.; CARVALHO, A. B. Gestão ambiental: enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa-Portugal: Edições 70, 2008. BRASIL. Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza SNUC. Brasília/DF, 2000. CAJAZEIRA, Maurício de Oliveira. Impactos e conflitos socioambientais na comunidade do entorno da fábrica de cimento do Município de Nossa Senhora do Socorro/SE. Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão, 2011. CASTELLS, Manuel. Paraísos comunais: identidade e significado. In. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999 COSTA, Patrícia Côrtes. Unidades de conservação: matéria prima do ecoturismo. São Paulo: Aleph, 2002. EGLER, C, A. G., Risco ambiental como critério de gestão do território: uma aplicação à zona costeira brasileira. Revista Território, 1 (1), 1996, pp.31 41.

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