PROPOSTA DE REGULAMENTO BRASILEIRO DA AVIAÇÃO CIVIL Nº 164 GERENCIAMENTO DO RISCO DA FAUNA NOS AERÓDROMOS PÚBLICOS JUSTIFICATIVA



Documentos relacionados
Anderson Ribeiro Correia. Superintendente de Infraestrutura Aeroportuária

PROPOSTA DE EDIÇÃO DO REGULAMENTO BRASILEIRO DA AVIAÇÃO CIVIL (RBAC) 140 CERTIFICAÇÃO E REQUISITOS OPERACIONAIS: ESCOLAS DE VOO JUSTIFICATIVA

CERTIFICAÇÃO OPERACIONAL DE AEROPORTOS

PROGRAMA BRASILEIRO PARA A SEGURANÇA OPERACIONAL DA AVIAÇÃO CIVIL PSO-BR

Segurança Operacional no Brasil

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988

Voar sobre cidade...

TENDO EM VISTA: O Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro Preto e as Resoluções Nº 91/93, 151/96 e 21/01 do Grupo Mercado Comum.

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

00P6 - Subvenção Econômica para o Desenvolvimento da Aviação Regional (MP nº 652, de 2014)

HISTÓRICO DO SMS NO BRASIL. Evolução 1º SEMINÁRIO SOBRE SISTEMAS DE GERENCIAMENTO DA SEGURANÇA OPERACIONAL DA AVIAÇÃO CIVIL ANAC - 05/12/2008

BRASIL CERTIFICAÇÃO DE AERÓDROMOS

Promover a segurança e a excelência do sistema de aviação civil, de forma a contribuir para o desenvolvimento do País e o bem-estar da sociedade

AÇÃO NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL: Belo Horizonte Dezembro de 2012

1. Esta Política Institucional de Gestão de Continuidade de Negócios:

SISTEMA REGULATÓRIO PARA A AEB. 1 - Introdução

FLY CENTER ESCOLA DE AVIAÇÃO CIVIL

PLANOS DE CONTINGÊNCIAS

SECRETARIA DE AVIAÇÃO CIVIL AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. RESOLUÇÃO No- 316, DE 9 DE MAIO DE 2014

SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ABNT NBR ISO 14001

Modelo de Concessão da Infra- Estrutura Aeroportuária. ria. Ministério da Defesa Secretaria de Aviação Civil

AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL -0> RESOLUÇÃO N 030, DE 21 DE MAIO DE 2008.

ANEXO I FORMULÁRIO DE ANÁLISE PARA PROPOSIÇÃO DE ATO NORMATIVO

CURSOS ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Considerando o art. 47 do Programa de Segurança Operacional Específico da ANAC (PSOE-

Medida Provisória nº de de 2008

PROGRAMA MOSA MAINTENANCE OPERATIONS SAFETY AUDIT (PROGRAMA DE OBSERVAÇÕES DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO)

TERMO DE REFERÊNCIA PARA OS ESTUDOS DE AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DAS INSTALAÇÕES PORTUÁRIAS

REGIMENTO DA UNIDADE DE AUDITORIA INTERNA DO IF SUDESTE DE MINAS GERAIS CAPÍTULO I

RESOLUÇÃO N 83/TCE/RO-2011

O Meio Ambiente e a prevenção do risco da fauna no entorno do Aeroporto Internacional Pinto Martins

CARGO: PROFESSOR Síntese de Deveres: Exemplo de Atribuições: Condições de Trabalho: Requisitos para preenchimento do cargo: b.1) -

C I R C U L A R D E I N F O R M A Ç Ã O A E R O N Á U T I C A PORTUGAL

INSTRUÇÃO SUPLEMENTAR IS

REGULAMENTO BRASILEIRO DA AVIAÇÃO CIVIL RBAC nº 105 EMENDA nº 00

Gerenciamento da Segurança Operacional GSO. Conceitos

Plano Diretor e Geral do Aeroporto e Requisitos para Aprovação do Projeto

Levantamento do Perfil de Governança e Gestão de Pessoas da Administração Pública Federal

1. Esta Política institucional de gestão de continuidade de negócios:

Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária. Coordenação de Meio Ambiente MERJ TERMO DE REFERÊNCIA

Considerando que as Faculdades Integradas Sévigné estão em plena reforma acadêmica que será implementada a partir de 2009 e;

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SECRETARIA ESPECIAL DE PORTOS PORTARIA SEP Nº 104, DE 29 DE ABRIL DE 2009.

b) supervisionar o cumprimento desta política pelas entidades integrantes do Sistema Sicoob;

NR 35 Trabalho em Altura

Esfera: 10 Função: 05 - Defesa Nacional Subfunção: Formação de Recursos Humanos UO: Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC

PROVA OBJETIVA. 8 A CLAC é um organismo internacional subordinado à OACI. 9 As recomendações e resoluções estabelecidas pela CLAC são

RESOLUÇÃO RDC ANVISA Nº 345, DE 16 DE DEZEMBRO DE (D.O.U. de 19/12/02)

RESOLUÇÃO N. TC-03/2003

IS Nº Revisão B

GUIA PARA O RECONHECIMENTO DOS PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE

INSTRUÇÃO CONJUNTA Nº 1, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008

LEI COMPLEMENTAR Nº 97, DE 9 DE JUNHO DE Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas.

INSTRUÇÃO NORMATIVA No- 4, DE 2 DE SETEMBRO DE 2009

CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E PREVENÇÃO DE ACIDENTES AERONÁUTICOS - CENIPA. Brig Ar CARLOS Alberto da Conceição (61) cac363@gmail.

Normatização e legislação aplicada: diretrizes e parâmetros de licenciamento e controle no estado de São Paulo

REGULAMENTO BRASILEIRO DA AVIAÇÃO CIVIL

RELATÓRIO SOBRE A GESTÃO DE RISCO OPERACIONAL NO BANCO BMG

-0> INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 65, DE 30 DE OUTUBRO DE 2012.

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador JORGE VIANA

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA DIRETORIA DE CONTABILIDADE GERAL GERÊNCIA DE ESTUDOS E NORMATIZAÇÃO CONTÁBIL

POLÍTICA DE GESTÃO DE RISCOS DAS EMPRESAS ELETROBRAS

DECRETO No , DE 7 DE NOVEMBRO DE 2011

ATO NORMATIVO Nº 006 /2007

ANEXO 10 TDR AUDITORES

Tarifas Aeroportuárias e ATAERO. Uma proposta de destinação de parte destes recursos financeiros ao fomento do potencial turístico nacional

SEMINÁRIO SOBRE ZONAS DE PROTEÇÃO - AEROPORTO INTERNACIONAL DE FORTALEZA PINTO MARTINS - SBFZ

Impresso em 26/08/ :52:49 (Sem título)

PROGRAMA DE SEGURANÇA OPERACIONAL ESPECÍFICO DA AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL. PSOE-ANAC

Ministério dos Transportes

RELATÓRIO TÉCNICO GESOL Nº 19/2009

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

Relatório de Acesso Público Gerenciamento de Capital 10/ 06 / Relatório de Acesso Público Gerenciamento de Capital

INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES DO MUNICÍPIO DE GUARAPARI / ES IPG

POP 010: MONITORAMENTO DE LABORATÓRIOS DA REDE NACIONAL DE LABORATÓRIOS AGROPECUÁRIOS

REGIMENTO DA ESCOLA DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Estrutura de Gerenciamento do Risco Operacional

DECLARAÇÃO DE POSICIONAMENTO DO IIA: O PAPEL DA AUDITORIA INTERNA

RESOLVEU: I - probidade na condução das atividades no melhor interesse de seus clientes e na integridade do mercado;

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO DE PLANOS DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PGRS

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL DO BANCO COOPERATIVO SICREDI E EMPRESAS CONTROLADAS

Estrutura de gerenciamento do Risco Operacional do Sistema Sicoob

DÉDALO Ferramenta de Apoio à Gestão de Empresas Aéreas

SECRETARÍA DEL MERCOSUR RESOLUCIÓN GMC Nº 26/01 ARTÍCULO 10 FE DE ERRATAS ORIGINAL

O termo compliance é originário do verbo, em inglês, to comply, e significa estar em conformidade com regras, normas e procedimentos.

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DE RISCO DE CRÉDITO

PROCEDIMENTO OPERACIONAL

CARGAS PERIGOSAS NOS PORTOS

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS Grupo Parlamentar

Estabelece os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais.

UNIDADE DE AUDITORIA INTERNA (UAUDI) Conceitos & Normativos

TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR DO ESTADO

ÁREA PARA TITULO. [Classificação: Pública]

Transcrição:

PROPOSTA DE REGULAMENTO BRASILEIRO DA AVIAÇÃO CIVIL Nº 164 GERENCIAMENTO DO RISCO DA FAUNA NOS AERÓDROMOS PÚBLICOS JUSTIFICATIVA 1. APRESENTAÇÃO A proposta de Regulamento Brasileiro da Aviação Civil nº 164 estabelece requisitos aplicáveis aos operadores de aeródromos públicos brasileiros com a finalidade de gerenciar o risco provocado pela fauna às operações aéreas. 2. JUSTIFICATIVA As colisões entre aeronaves e fauna, além de provocar prejuízos significativos à aviação civil, é um item caro à segurança operacional da aviação civil, pelo seu potencial de causar acidentes de ordem catastrófica. Os dados de colisão publicados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) demonstram que os relatos têm aumentado a cada ano, tendo crescido 46% (quarenta e seis por cento) de 2010 para 2011 - a quantidade passou de 998 (novecentos e noventa e oito) a 1.460 (mil quatrocentos e sessenta) relatos. Embora não seja possível precisar as causas desse acréscimo mesmo porque os relatos têm caráter voluntário, muitas alternativas são consideradas verdadeiras, como a maior atenção recente da comunidade aeronáutica sobre o tema, em virtude do acidente ocorrido em 2009 na cidade de Nova Iorque; a evolução do mercado de aviação civil brasileiro, provocando uma maior exposição ao risco; as condições sanitárias deficientes de muitos municípios brasileiros, aumentando a incidência de aves nocivas à aviação como os urubus-de-cabeça-preta (Coragyps atratus); e a ausência de procedimentos específicos por parte dos operadores de aeródromos, no sentido de evitar que os sítios aeroportuários sirvam de atrativo para aves e outros animais que possam provocar risco às operações aéreas.

De acordo com os dados da Federal Aviation Administration (FAA), por intermédio dos seus registros de colisão, 74% das colisões ocorrem a menos de 500 pés, em área considerada airport environment, ou seja, uma área onde o operador de aeródromo tem um domínio/conhecimento mais efetivo (sítio aeroportuário e vizinhança imediata). Nesse contexto, torna-se fundamental a emissão de uma norma específica sobre o assunto, de modo a exigir que os operadores de aeródromos incorporem medidas operacionais e de manutenção do sítio aeroportuário com a finalidade de mitigar o risco provocado pela fauna. Assim, a proposição do presente regulamento vem atender às orientações e recomendações da auditoria realizada pela OACI, dentro do escopo do Universal Safety Audit Programme USOAP, no ano de 2009. A presente proposta coaduna-se, ainda, com o disposto pela Lei nº 12.725, de 16 de outubro de 2012 (que dispõe sobre o controle da fauna nas imediações dos aeródromos), ao disciplinar as atividades de administração do sítio aeroportuário inerentes às suas responsabilidades no gerenciamento do risco da fauna (Art. 4º, Inciso III). Cumpre ressaltar que a proposta deste RBAC restringe a sua aplicabilidade apenas às atividades de caráter operacional atribuídas aos operadores dos aeródromos públicos brasileiros, sem prejuízo da observância às normas de natureza ambiental, tanto no que se refere ao manejo de fauna e flora quanto aos demais aspectos sujeitos à regulação e fiscalização da autoridade ambiental. Ressalte-se, igualmente, que esta proposta foi elaborada à luz da atribuição de competências determinada pela Portaria Normativa nº 1.887, do Ministério da Defesa, de modo que não apresenta conflitos com as responsabilidades e atribições exclusivas do Comando da Aeronáutica para o trato do assunto. As reuniões de coordenação, realizadas durante o ano de 2012, entre Secretaria de Aviação Civil SAC, ANAC, Comando da Aeronáutica e Infraero, com vista à definição e revisão da supracitada Portaria contribuíram, inclusive, para o estabelecimento consensual das diretrizes fundamentais para o desenvolvimento desta proposta de RBAC. 3. FUNDAMENTAÇÃO O Direito Aeronáutico no Brasil é regulado por Tratados, Convenções e Atos Internacionais de que o Brasil seja parte, pela legislação complementar e pelo Código Brasileiro de Aeronáutica CBA. Dentro deste escopo, destaca-se a condição do Brasil como Estado Contratante da Organização de Aviação Civil Internacional OACI, sendo signatário da Convenção de Chicago e seus Anexos, dentre os quais destacam-se os itens abaixo.

- Organização de Aviação Civil Internacional OACI: (i) Annex 14 Volume 1: Aerodrome design and operations, Item 9.4: Wildlife Strike Hazard Reduction: (ii) Doc. 9137 Airport Services Manual Part 3: Wildlife Control and Reduction e Part 9: Airport Maintenance Practices; O gerenciamento do risco provocado pela fauna às operações aéreas tem sido, recentemente, muito debatido no âmbito da aviação civil nacional. No ano de 2010, a partir da publicação da Resolução CONAC nº 03, de 23 de setembro de 2010, foram emitidas diretrizes de modo a melhor endereçar as competências, tanto da ANAC quanto do Comando da Aeronáutica, para o trato do assunto, publicadas na Portaria Normativa nº 1.887 do Ministério da Defesa, de 22 de dezembro de 2010. De acordo com essa Portaria, cabe à ANAC a fiscalização sobre os sítios aeroportuários, conforme transcrito abaixo: - Portaria Normativa do Ministério da Defesa nº 1.887, de 22 de dezembro de 2010: Art. 7º - Cabe à Anac: I - identificar os focos de atração de aves, localizados no interior do sítio aeroportuário, e requisitar ao administrador do aeródromo a adoção das providências para eliminá-los; II - avaliar conclusivamente o risco aviário e adotar as medidas cabíveis para mitigá-lo; e III - zelar pelo cumprimento das restrições especificadas nos Planos Básico e Específicos de Gerenciamento de Risco Aviário. (...) Ainda no contexto explorado acima, foi sancionada, em 16 de outubro de 2012, a Lei nº 12.725, de 16 de outubro de 2012, que dispõe sobre o controle da fauna nas imediações de aeródromos. A referida lei estabelece responsabilidades específicas aos operadores de aeródromos, abaixo trancritas: - Lei nº 12.725, de 16 de outubro de 2012: (...)

Art. 3º Para o gerenciamento e a redução do risco de acidentes e incidentes aeronáuticos decorrentes da colisão de aeronaves com espécimes da fauna nos aeródromos, é estabelecida a Área de Segurança Aeroportuária - ASA, onde o aproveitamento e o uso do solo são restritos e condicionados ao cumprimento de exigências normativas específicas de segurança operacional da aviação e ambientais. 1º O perímetro da Área de Segurança Aeroportuária - ASA do aeródromo será definido a partir do centro geométrico da maior pista do aeródromo ou do aeródromo militar e compreenderá um raio de 20 km (vinte quilômetros). 2º O Programa Nacional de Gerenciamento do Risco da Fauna - PNGRF, desenvolvido e supervisionado pelas autoridades de aviação civil, aeronáutica militar e ambiental, abrangerá objetivos e metas comuns aos aeródromos e suas respectivas ASAs. Art. 4º As restrições especiais constantes no Programa Nacional de Gerenciamento do Risco da Fauna (PNGRF) devem ser observadas, obrigatoriamente: I - pela autoridade municipal, na ordenação e controle do uso e ocupação do solo urbano, sendo ela a responsável pela implementação e fiscalização do PNGRF; II - pela autoridade ambiental, no processo de licenciamento ambiental e durante as atividades de fiscalização e controle; e III - pelo operador do aeródromo, na administração do sítio aeroportuário. Neste sentido, e em respeito às atribuições legalmente concedidas à ANAC para a regulação e fiscalização dos aeródromos civis (Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005, Art. 2º), fundamenta-se a elaboração de um regulamento específico da ANAC sobre o tema. Cumpre ressaltar que a falta de normatização dificulta as ações de fiscalização, uma vez que não são determinados os requisitos mínimos para os operadores aeródromos, tornando também mais difícil a definição de ações para mitigação do risco e sanções pelo não cumprimento destas. 4. EXPOSIÇÃO TÉCNICA

Os princípios norteadores da proposta de RBAC nº 164 baseiam-se nas normas da Federal Aviation Administration, dos Estados Unidos da América, relacionadas no 14 CFR 139.337 (Title 14 do Code of Federal Regulations, Part 139, Item 139.337 Wildlife Hazard Management), cujos requisitos são descritos no manual Wildlife Hazard Management at Airports A Manual for Airport Personnel (CLEARY, E. e DOLBEER, R., 2005), da FAA e do United States Department of Agriculture - USDA, referência internacional para o gerenciamento do risco da fauna em aeroportos. Deve-se destacar a proeminência dos Estados Unidos da América nos assuntos referentes ao gerenciamento do risco da fauna, assim como o Bird Strike Committee, que promove, em conjunto com o comitê análogo canadense, conferências de âmbito internacional sobre o assunto. Analogamente aos requisitos do FAA, o RBAC nº 164 estabelece dois tipos de documentos a serem elaborados pelos operadores de aeródromos: a Avaliação do Perigo da Fauna APF, documento semelhante ao wildlife hazard assessment, e o Programa de Gerenciamento do Risco da Fauna PGRF, análogo ao wildlife hazard management plan, cuja elaboração e adaptação à rotina operacional do aeródromo toma como premissas as conclusões e recomendações indicadas em APF. Embora tome como base a estrutura normativa norte-americana, todos os requisitos constantes do RBAC 164 atendem aos padrões e práticas recomendadas expostos no Anexo 14 à Convenção de Aviação Civil Internacional e no Doc 9137 da ICAO. 4.1. Avaliação do Perigo da Fauna - APF A Avaliação do Perigo da Fauna APF, documento análogo ao Wildlife Hazard Assessment WHA, do FAA, visa dar o diagnóstico do perigo da fauna em um determinado aeródromo, indicando um plano de ações para a mitigação do risco. Considerando que o perigo da fauna é um problema dotado de particularidade, uma vez que os aeródromos estão inseridos em regiões fitogeográficas e contextos sócio-espaciais distintos, as APF visam dar conta dessa diversidade, diagnosticando quais são as espécies que causam risco às operações aéreas no local, bem como as ações necessárias à mitigação do risco. A APF não é extensiva a todos os aeródromos brasileiros, devendo ser aplicada apenas aos que identificarem sua necessidade, de acordo com os critérios definidos no regulamento. A razão para isto, além de racionalizar as ações fiscalizatórias da Agência, é de focar essas atividades em aeródromos de maior importância e/ou que apresentem um panorama de risco da fauna que justifique tal medida.

4.2. Programa de Gerenciamento do Risco da Fauna PGRF A proposta normativa brasileira, apesar de seguir a estrutura normativa americana, atribui maior detalhamento aos procedimentos a serem tomados pelos operadores dos aeródromos na construção do PGRF. Esses procedimentos dizem respeito, sobretudo, à manutenção de estruturas comuns dos sítios aeroportuários com maior susceptibilidade de atração de animais cujos parâmetros são recomendados no próprio Manual supracitado e nas partes 3 e 9 do Doc 9137 da OACI e a procedimentos operacionais de controle e registro da presença de fauna no sítio aeroportuário. O detalhamento dos procedimentos visa uma melhor instrução das medidas básicas de controle da fauna em aeródromos, além de estarem de acordo com a filosofia dos sistemas de gerenciamento de segurança operacional, estabelecendo ações concretas no sentido de criar uma abordagem preditiva do problema. O PGRF prevê, nos moldes do Wildlife Hazard Management Plan WHMP norteamericano, a necessidade de auto-avaliação, de modo a refinar o Programa e efetuar mudanças pontuais para um melhor gerenciamento do risco. É previsto, contudo, que o operador do aeródromo promova nova APF sempre que identificar que os mecanismos internos de autoavaliação não estão sendo suficientes para a redução do risco da fauna. Este requisito busca abranger mudanças de natureza do perigo da fauna no aeródromo, que podem ocorrer por alterações do ambiente em que se localiza o mesmo. 5. CONCLUSÃO A aprovação do RBAC preencherá uma lacuna regulatória, uma vez que inexistem, até o momento, requisitos nacionais aplicáveis à fiscalização dos aeródromos brasileiros no que se refere ao gerenciamento do risco da fauna. Ademais, espera-se que a norma venha a contribuir para a redução do volume de colisões entre aeronaves e fauna no país, auxiliando, portanto, no gerenciamento do risco provocado pela fauna à aviação nacional.