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TAMBORES MATRIARCAIS DO GRUPO DE CARIMBÓ SEREIA DO MAR DA VILA SILVA EM MARAPAIM, NO PARÁ: RESISTÊNCIAS, IDENTIDADES E PERTENCIMENTO ANTES QUE O TEMPO PASSE TUDO A RASO 1 Educação, Linguagem e Memória Sil-Lena Ribeiro Calderaro Oliveira (sil-lena@hotmail.com) 1 Josiane Beloni de Paula (belonijbc@hotmail.com) 2 Patrícia Magalhães Pinheiro (patti_magalhaes@hotmail.com) 3 Elison Antonio Paim (elison0406@gmail.com) 4 Introdução Este estudo apresenta as inserções iniciais da pesquisa desenvolvida no mestrado acadêmico em Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina, que investiga o carimbó matriarcal do grupo Sereia do Mar, do município de Marapanim, no Pará. Tem como objetivo analisar por meio das narrativas orais, das oito mulheres que compõem o grupo, os diferentes 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, na linha Sociologia e História da Educação - UFSC, participa dos grupos de pesquisa: Rastros: História, Memória e Educação, da Universidade São Francisco - SP e Patrimônio, Memória e Educação (PAMEDUC) da UFSC. Orientanda do Prof. Dr. Elison Antonio Paim. 2 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, na linha Sociologia e História da Educação UFSC, integrante dos grupos de pesquisa: Rastros: História, Memória e Educação, da Universidade São Francisco SP, Patrimônio, Memória e Educação (PAMEDUC) da UFSC e Filosofia, Educação e Práxis Social (FEPráxiS) - do Núcleo de Estudos Paulo Freire - UFPel. Orientanda do Prof. Dr. Elison Antonio Paim. 3 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, na linha Sociologia e História da Educação - UFSC, participa dos grupos de pesquisa: Rastros: História, Memória e Educação, da Universidade São Francisco - SP e Patrimônio, Memória e Educação (PAMEDUC) da UFSC. Orientanda do Prof. Dr. Elison Antonio Paim. 4 Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), Mestrado Profissional em Ensino de História (Profhistória/UFSC) e de Estágio Supervisionado em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

2 saberes, fazeres e experiências educativas não formais, identificando como se constitui as identidades e suas culturas. Ouvir as narrativas orais a partir do universo que as abrigam, suas particularidades em serem mulheres, carimbozeiras, amazônidas, bem como sua singularidade por ser um grupo de carimbo, formado apenas por mulheres, que além de serem agricultoras compõem, tocam e cantam - num universo que, histórica e culturalmente, foi constituído como expressão artística eminentemente masculina, deixando para as mulheres o papel de dançarinas. Este é um estudo de natureza qualitativa desenvolvida pelo emprego da construção e análise de fontes orais e documentais como as letras autorais das músicas do carimbó, sendo fundamental o diálogo com as memórias, experiências, com o vivido das mulheres que compõem o grupo de carimbó pesquisado. A História Oral é o procedimento metodológico adotado para a obtenção das narrativas orais, que para Paul Thompson (1992) possibilita a aproximação com as experiências vividas em um tempo e espaço específico. Um recurso que valoriza o sujeito e o lugar de onde se fala, valorizando a escuta e o conhecimento experienciados por grupos que foram historicamente invisibilizados. São entrevistas feitas com auxílio de um roteiro semiestruturado, garantindo diálogos e possibilitando interação mais rica, compartilhada, em que os sujeitos possam não se limitar em responder perguntas, mas também para divergir e/ou concordar com as questões socializadas. Nesse caminhar, a pesquisa toma os seguintes questionamentos para análise das possíveis temáticas expressas e observadas nas falas dos sujeitos pesquisados: Quais as características sociais, históricas e geográficas que geram a união das pessoas da comunidade da Vila Silva, em Marapanim, microrregião da costa atlântica paraense? O que proporciona significados, sentidos de identidade e resistência do universo feminino do carimbó expresso nas letras das canções autorais do canto de trabalho e lazer? Como são constituídos os saberes,

3 fazeres e experiências nos processos educativos não formais que as mulheres do grupo de carimbó exercem/influenciam em seus pares, no lugar em que moram e trabalham cultivando a terra e tirando dela sua subsistência? Desenvolvimento O carimbó é uma expressão artística cultural de matriz africana, com forte influência indígena, que dá identidade ao povo paraense, e tem o município de Marapanim como a cidade do carimbó por abrigar muitos grupos que, anualmente, se unem para fazer o festival do carimbó na cidade. Mas essa manifestação cultural sempre foi de resistência por sofrer, historicamente, sanções como no final do século XVIII pautada por um pensamento homogeneizante, característico do pensamento colonizador, em que o carimbó foi proibido em espaços público e privado através da Lei municipal de Belém n. 1.028, de 5 de maio de 1880, presente no código de Posturas (COSTA, 2011). Uma lógica que tende a homogeneizar a cultura, fazendo com que os indivíduos, que lutam pela sobrevivência, percam cada vez mais o vínculo com seu patrimônio cultural e empobreçam suas transmissões de experiências (BENJAMIN, 1994). Hoje, sua prática é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão pelo Iphan, em setembro de 2014. Esse querer saber mais sobre o carimbó partiu de uma aula-passeio a partir das atividades do projeto de letramento Carimboletrando, sob minha coordenação como professora das turmas participantes, desenvolvido na escola estadual Palmira Gabriel, periferia de Belém, para o programa do Ensino Médio Inovador. Fomos até o município paraense de Marapanim, a terra do carimbó, com estudantes do 1º ano do Ensino Médio, juventude que muito tem a dizer de si, de seus sonhos, dos seus saberes e, principalmente, do seu reconhecimento e pertencimento à cultura do Carimbó. Para um levantamento teórico inicial, a construção dessa pesquisa toma

4 como referências Silva (1999, p. 34) que diz sobre as instâncias culturais que também são pedagógicas, ou seja, tanto a educação quanto a cultura estão envolvidas em processos de transformação da identidade e da subjetividade ; as teorizações de Stuart Hall (2001) para compreendermos a cultura popular como constituída por tradições e práticas culturais populares e pela forma como esses se processam em tensão permanente com a cultura hegemônica, Louro (1997) que disserta sobre gênero para compreender a construção dos sujeitos e suas identidades que perpassa pelas relações sociais atravessadas por diferentes discursos, símbolos, representações e práticas, dentre outros. Considerações Finais Desta forma, os discursos são valorizados e vistos como reveladores das compreensões e concepções sobre os gêneros que podem evidenciar o contexto social, cultural e histórico. Além do compartilhamento de leituras e reflexões com as colegas do grupo de pesquisa, as quais auxiliam na construção deste resumo, visando a contribuir social e academicamente. REFERÊNCIAS BENJAMIN, Walter. Experiencia e Pobreza. In:. Magia e Técnica, Arte e Política. 7. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 114-119. (Obras Escolhidas, v. 1) COSTA, T. L. Carimbó e Brega: Indústria cultural e tradição na música popular do norte do Brasil. Revista Estudos Amazônicos. v. 6, n. 1, PPGHS da Amazonia da UFPA 2011, p. 149-177 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade, tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. LOURO, Guacira L. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade; uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 5