DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL



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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL EVENTO: Audiência Pública N : 000540/01 DATA: 07/06/2001 INÍCIO: 10h33min TÉRMINO: 12h17min DURAÇÃO: 1h44min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1h48min PÁGINAS: 41 QUARTOS: 22 REVISORES: VÍCTOR, ROSA ARAGÃO SUPERVISÃO: LETÍCIA, NEUSINHA CONCATENAÇÃO: MÁRCIA DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO BEATRIZ AZEREDO Diretora do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social BNDES; CLARA STEINBERG Presidenta do Banco da Mulher; VALDI DE ARAÚJO DANTAS Diretor Executivo do Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos CEAP; ARY BURGER Presidente da Cooperativa de Crédito Porto Sol. SUMÁRIO: Exposição e debate sobre o tema Propostas do Sistema de Microcrédito em face da regulamentação do art. 192 da Constituição Sistema Financeiro Nacional. OBSERVAÇÕES

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Berzoini) Declaro abertos os trabalhos da presente reunião da Comissão Especial Sistema Financeiro Nacional. Aguardaremos alguns minutos até que seja solucionado um problema técnico no computador. (Pausa.) Para compor a Mesa convido a Dra. Beatriz Azeredo, Diretora do BNDES. Registro a presença da Dra. Clara Steinberg, Presidenta do Banco da Mulher; do Dr. Ary Burger, Presidente da Cooperativa de Crédito Porto Sol; do Dr. Valdi de Araújo Dantas, Diretor Executivo do Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos CEAP; do Dr. Jorge Hilário Gouveia Vieira, Presidente da Viva Credi; do Dr. Henry Jackelen, representante residente adjunto do PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; e do Dr. Paulo Fernando Lima, Gerente Nacional de Microcrédito da Caixa Econômica Federal. Tema da palestra: Propostas do Sistema de Microcrédito em face da Regulamentação do art. 192 da Constituição Sistema Financeiro Nacional. Vale registrar que o Governo quer acabar com esse artigo. Portanto, teremos de aguardar sua regulamentação. Como essa é uma discussão política, com certeza deixaremos para outro momento. Concedo a palavra a Dra. Beatriz Azeredo, Diretora do BNDES. A SRA. BEATRIZ AZEREDO Bom dia a todos. O BNDES sente-se agradecido por poder apresentar os principais resultados do programa de microfinanças. Contamos hoje com a presença de vários companheiros que participam desde 1996 desse trabalho sobre o acesso aos microempreendedores informais de baixa renda. 1

O BNDES começou a trabalhar nesse assunto em 1996. Naquele momento, tratávamos de um problema que vinha ocorrendo desde a década de 80: o crescente contingente de trabalhadores no chamado mercado informal, com grande número de pequenos empreendedores, dependendo dessas atividades para sua sobrevivência e, portanto, do acesso ao crédito. Em 1986, falávamos de um sistema financeiro no País extremamente desenvolvido, regulado e pouco interessado na questão do microcrédito. Apesar de existirem algumas experiências históricas bem-sucedidas no País naquele momento, elas não foram suficientes para dar capilaridade a esse microcrédito, devido à demanda. Falamos em apenas 8 milhões de reais mobilizados em 1996 para esse tipo de serviço financeiro à população empreendedora de baixa renda. Diante desse cenário aí vale lembrar a atuação do programa Comunidade Solidária, que, desde 1995, adotou o tema microcrédito como um dos temas de trabalho e solicitou explicitamente ao BNDES que colaborasse, o Banco desenhou uma estratégia de atuação que permanece até hoje. A primeira questão é o envolvimento do Banco em institucionalizar as microfinanças. Daí a importância de estarmos presentes nesta reunião. Falamos de política, legislação e normas para esse segmento. Ainda que o Banco tenha começado a trabalhar com organizações não-governamentais em 1996, desde aquele momento, havia a perspectiva fundamental de crescimento desse setor, com a inserção dessas instituições no sistema financeiro nacional. Aquele não era um ponto de partida, mas um objetivo, um ponto de chegada de toda a estratégia do BNDES. Naquele momento, tratava-se também de promover a multiplicação desses modelos já bem-sucedidos que ainda eram insuficientes. Como multiplicar essas ONGs de microcrédito, como formar uma rede de instituições profissionalizadas 2

capaz de entender a necessidade desse microempreendedor e conceder-lhe crédito? Além do papel tradicional de prover financiamento para essas instituições, o BNDES engajou-se num trabalho de estruturação, de apoio à criação, profissionalização e ao treinamento dessas instituições. Vale ressaltar essa atitude porque demonstra a vontade de criar. Em outras palavras, não bastava o BNDES lançar um programa e dizer que havia uma linha de financiamento para as instituições concederem crédito ao microempreendedor, porque simplesmente havia poucas instituições. O trabalho do Banco foi ajudar a multiplicar essa experiência no Brasil. Ainda na nossa estratégia de atuação, exatamente porque a idéia era multiplicar essas instituições, o Banco envolveu-se diretamente na sistematização de uma metodologia, para capacitar aqueles trabalhadores das ONGs de microcrédito, os agentes de crédito, pessoas capazes de irem até a casa do microempreendedor, na favela ou num bairro, entender o negócio, porque muitas vezes não há sequer um papel para mostrar qualquer resultado palpável, o negócio está apenas na cabeça do microempreendedor. Enfim, é um trabalhador diferente capaz de sentar com esse pequeno empreendedor, para saber se é ou não possível conceder-lhe crédito para execução do projeto. Não estamos falando de política social no sentido tradicional, mas de um serviço financeiro com elevado impacto social, dada a população de baixa renda que atinge. Na sua concepção, não é assistencialista, não conta com subsídio, paternalismo, é apenas uma análise de crédito feita por um agente treinado, para interagir com o cliente na sua grande maioria informal. Enfatizo esse aspecto porque, de fato, até 1996, tínhamos algumas experiências no Brasil muito bem-sucedidas e corporações internacionais que 3

traziam para cá sua metodologia e voltavam com ela para seu país de origem. Quer dizer, em 1996, não contávamos em nosso País com uma metodologia capaz de capacitar agentes de crédito e trabalhar com esse segmento do mercado de trabalho. Portanto, essa etapa inicial foi fundamental para um treinamento massivo de agentes de crédito e deu sustentação a um processo vigoroso de criação de organizações não-governamentais voltadas para esse segmento de 1997 para cá. Vale a observar que, no caso brasileiro, temos uma peculiaridade em relação a esse assunto, porque basicamente no mundo inteiro ele é bastante calcado em iniciativas da sociedade civil. No caso do Brasil, temos, além da sociedade envolvida em criar essas instituições, principalmente as Prefeituras municipais, traço peculiar da experiência brasileira. Em particular, a partir de 1997, observamos em todas as campanhas eleitorais a questão do emprego, do desemprego, mercado de trabalho, e as Prefeituras muito empenhadas em como posso fazer para ter nas cidades uma instituição de microcrédito. Portanto, os Governos municipais se engajaram nessa estratégia, não para ter uma organização não-governamental, mas para estimular esse era um modelo do Banco uma rede auto-sustentável, profissionalizada e autônoma e com controle por parte da sociedade. Então, muitas dessas instituições foram criadas a partir de uma iniciativa, um apoio muito firme das Prefeituras que doaram recursos inicialmente para o fundo dessas instituições, ajudaram na sua estruturação, pagaram a capacitação de agente de crédito, mas essas Prefeituras hoje têm um voto no conselho dessas instituições e não há qualquer dependência de recursos do Tesouro, recursos orçamentários. Esse é um ponto crucial nesse nosso modelo que tem papel importante dos Governos municipais. Voltando a nossa estratégia, fizemos essa capacitação de profissionais, essa premissa de auto-sustentabilidade e controle social da rede com a parceria 4

fundamental do Poder Público e o papel tradicional do Banco, aí o banco de segunda linha, provendo recursos financeiros. Passado esse tempo, de 1996 para cá, podemos dizer que o Banco hoje já tem uma estratégia, dois programas relativos a microfinanças. O primeiro deles é a provisão de recursos para que é o Programa de Crédito Produtivo Popular a criação dessa rede, o estímulo a essa rede. Basicamente estamos falando de ONGs ou mais recentemente de OCIPs e mais recentemente ainda de SCM. São os clientes do Banco no âmbito desse programa. Clientes para quê? Para receber recursos do BNDES reembolsáveis ou contrato de administração de recursos, no caso das ONGs, ou um contrato de financiamento, no caso das SCMs, e elas operam então lá na ponta provendo crédito ao microempreendedor principalmente do segmento informal. Vou voltar a falar de SCM que acho que é um ponto central da discussão de hoje, mas vou passar pelos nossos resultados até agora. Estamos falando de uma rede, portanto construída de 1996 para cá, de 27 instituições em carteiras, algumas delas já existentes antes de 1996, a maioria criada a partir desse trabalho do BNDES. Essas instituições têm uma carteira ativa de 32 milhões, o BNDES já aprovou 47,8 milhões e observamos aí a evolução, não só do valor emprestado como também do número de créditos concedidos. Começando por esse último, no ano passado essas instituições concederam 74 mil créditos na ponta. Não significa necessariamente 74 mil empreendedores, porque a idéia do microcrédito é que ele volta, ele pega e ele volta, tem o crédito consecutivo, então, tem aí um pedaço que é renovação de crédito. Até maio deste ano tem-se 26 mil créditos concedidos. Estamos falando de instituições que atuam em dezesseis Estados e cobrem na sua expansão regional, na sua regionalização, atualmente 268 Municípios. 5

Quero observar que trouxemos um folder do Banco que tem todos esses dados arrumados e essa apresentação também está disponível; o disquete vai ficar aí e tem uma cópia da apresentação para o Presidente da Comissão. Para termos uma idéia de que perfil de crédito é esse que está sendo concedido por essas 27 instituições, estamos falando de um valor médio de 1.164 reais, um prazo de 4,4 meses. A idéia do curto prazo de renovação é a de que se tem uma linha de crédito que se estende para esse empreendedor, que ele vai pagando e voltando e pegando um pouco mais e volta; faz parte da própria filosofia, da metodologia de se trabalhar com essa clientela. Tem uma faixa de encargos média mensal de 3 a 5,8% ao mês. Vale a pena chamar a atenção que ainda é muito caro o microcrédito, comparado com o que poderia ser barato, mas ele já é barato em relação, primeiro, ao acesso que muitas vezes sequer tem esse microempreendedor. Costumamos dizer que o crédito mais caro é aquele que não existe, antes de mais nada. Então há um primeiro movimento em que o crédito está sendo concedido e por que ele é caro? Porque ele custa caro. Tem-se uma metodologia bastante trabalhosa, um custo operacional alto, uma provisão de perdas que é fundamental assim como se tem uma taxa de capitalização que também é fundamental, porque estamos falando de uma rede autônoma auto-sustentável crescendo, que, portanto, não tem subsídio, não tem recurso do Tesouro. Ela tem de ter uma taxa de capitalização e permanece aí a questão do custo baixo como objetivo. Do ponto de vista do BNDES, é um objetivo de longo prazo. Este é um ponto central. O baixo custo do microcrédito não é uma premissa para o Banco, é um objetivo que tem que ser buscado a partir do crescimento dessa rede, do aumento da produtividade dessa rede, da capacidade de ela gerar recursos e, portanto, lá na ponta, baixar o seu custo operacional e poder cobrar mais baixo. Mas 6

eu diria que é crucial que essas instituições possam cobrar na ponta o suficiente para crescer e ter autonomia em termos de taxa de capitalização. Ainda no perfil desse crédito que está sendo concedido, estamos falando de 93% voltados para o chamado capital de giro, que é a grande e primeira necessidade desse microempreendedor. Quando ele vai renovar, já pensa num capital, no equipamento usado, lá na terceira rodada, no equipamento novo e por aí vai, mas há sempre o capital de giro como a necessidade número um desse empreendedor e necessidade permanente, e o crédito está aí para atender a essa demanda. Basicamente os microcréditos estão concentrados no setor de comércio e serviços; 77% foram concedidos para os empreendedores informais. Está aí o foco desse programa, dessas instituições voltadas para esse segmento que, muitas vezes, não tem sequer conta em banco e mais ou menos um equilíbrio com o público masculino e feminino de empreendedores. Em relação à inadimplência, estavam ali apontados 4,6 de inadimplência, créditos com atrasos acima de trinta dias. Esse ponto aqui é central porque se costuma dizer: Ah, a inadimplência é zero; a inadimplência não existe, é baixa; o pobre paga. Há certas vezes fantasia em relação ao microcrédito. Primeiro ponto: a inadimplência é baixa, sim, comparada com o sistema financeiro nacional como um todo. Agora, ela é baixa porque essas instituições trabalham com uma metodologia extremamente adequada a essa clientela. O empreendedor de baixa renda paga, porque sabe que ali terá uma linha de crédito permanente e há todo um tratamento técnico, dado na hora da concessão do crédito. O agente de crédito é treinado para ter uma carteira, um portifólio de baixa inadimplência. Portanto, ele tem que olhar aquele crédito sob a perspectiva de sustentabilidade, de viabilidade e tem de ser treinado para dizer também não. 7

Não é uma concessão em aberto, análise de risco de crédito como outra qualquer, com toda a peculiaridade de se trabalhar com empreendedor que não vai ter nenhum papel, não vai ter garantia real, não vai ter balanço para mostrar, enfim, não vai ter nenhum instrumento tradicional no sistema comercial, bancário, de crédito. É crucial que estejamos sempre apontando para instituições altamente profissionalizadas, que têm um conjunto significativo de produtos e serviços e tecnologias de concessão de crédito adequadas a essa clientela, para sustentar um crescimento com a baixa inadimplência, que é buscada através de um método de trabalho muito rigoroso. Eu tinha chamado a atenção para o fato de que temos dois programas, apenas uma forma de apresentar nossa estratégia de atuação. O primeiro deles prover esse funding de empréstimos a instituições, trabalhar junto com elas, e ter esse programa mais genérico que chamamos de desenvolvimento institucional. O Banco continua acreditando que é fundamental, não adianta apenas prover funding, por exemplo, através do BNDES ou de outras instituições financeiras oficiais federais sem a preocupação do crescimento dessa indústria de microfinanças, como chamamos. É fundamental que isso tenha uma sustentabilidade do seu crescimento. No limite para nós, no BNDES, é muito importante que essas instituições lá na frente possam até prescindir dos recursos do Banco, que elas sejam capazes de captar no mercado vou falar um pouquinho disso aí, de serem autônomas, sustentáveis e de poderem crescer até sem o recurso do Banco. O Banco, portanto, teria a função de estar estimulando o nascimento e a estruturação dessa indústria de microfinanças. O Programa de Desenvolvimento Institucional dá seqüência a essa agenda de trabalho que começou em 1996/1997, que mencionei, com a sistematização de uma 8

metodologia de capacitação de agente de crédito. O que fizemos naquele momento? Sistematizamos a metodologia, ajudou na aplicação de centenas de agentes de crédito e disponibilizou essa metodologia para qualquer instituição do mercado que queira trabalhar com esse assunto. Então, isso aí está disponibilizado na rede, em disquete, em papel para qualquer instituição. A idéia aqui é exatamente a mesma: que outros serviços e produtos que possam aumentar a produtividade, a profissionalização dessas instituições devem ser desenvolvidos e disponibilizados para o mercado em geral. O que temos aí? Temos um convênio com o BID, que, em absoluta consonância, convergência de princípios com o BNDES e vice-versa, decidiu deixar de apoiar individualmente as instituições de microcrédito no Brasil e aportar um volume de recursos, entendendo ser muito importante o chamado desenvolvimento institucional. Estamos falando de recursos não reembolsáveis nesse caso. Já estou antecipando alguns resultados dele, de instituições que tiveram acesso a esse recurso, mas eu passaria para a seguinte, apenas para dar uma idéia do que estamos pretendendo e já estamos fazendo com esses recursos. É a sistematização ou a criação de produtos novos. Por exemplo: um credit-score para ajudar o agente de crédito na ponta e aumentar a sua produtividade. Quanto ao microcrédito rural, o Banco sequer mergulhou nessa agenda. Toda aquela rede que eu mencionei é de microcrédito urbano. No que se refere à governabilidade dessas instituições, a regionalização, a medida do sucesso também são essas ONGs saírem das suas cidades de origem e começarem a abrir novas agências, não só nas cidades como também nos Municípios vizinhos. Como sustentar esse crescimento de regionalização? 9

Mais a seguir, falarei sobre a transformação ou a criação por parte de algumas ONGs de uma Sociedade de Crédito ao Microempreendedor dentro do sistema financeiro nacional. Quanto aos sistemas de informações gerenciais, é fundamental ter sistemas bem desenvolvidos e adequados para essa atividade para um maior controle, visibilidade e produtividade dessas instituições. Quanto aos procedimentos de auditoria, não temos um sistema de auditagem de contas adequado a essa atividade. A auditoria é muito nova e também tem que ser desenvolvida no sentido de como auditar essas contas, esse fundo rotativo de crédito dessas instituições. Isso já está sendo desenvolvido. No que se refere ao sistema de rating institucional, é fundamental também que possamos olhar esse horizonte, 27, 30, 40 lá na frente, e entender que instituições são essas, de quais parâmetros vamos dispor para julgar a profissionalização, a competência, a produtividade, a confiabilidade, o desempenho de uma instituição de microcrédito. Hoje, não temos esses elementos, então, a idéia é que possamos ter no País um sistema de rating institucional que nos permita a cada momento avaliar o que está acontecendo e principalmente permita aos investidores no sistema financeiro escolher as instituições em que eles podem estar investindo. Quanto ao mecanismo de gestão de uma instituição microfinanceira, é um conjunto bastante detalhado, tem o propósito de mostrar o seguinte: não há mágica para se fazer no microcrédito, não basta provisão de recursos, infelizmente não é só recurso para funding de microcrédito. Temos que fazer o investimento pesado, de alta complexidade em tecnologias de microcrédito. É um serviço para pobre, para população empreendedora de baixa renda, mas é um serviço altamente complexo, sofisticado e que não existe no mercado. Estamos criando no Brasil essa 10

experiência, essa indústria, e há que se fazer muito desenvolvimento técnico de produto, há que se formar um mercado. O que adianta termos, por exemplo, sistemas de informação gerencial, de auditoria, se as instituições não estão preparadas para prestar esse serviço? Então, aqui a idéia é ter esses serviços, esses produtos sistematizados, desenvolvidos, disponibilizá-los para o mercado, mas pensando na demanda por esses serviços e também na oferta. Que instituições são essas que hoje não existem no mercado que serão capazes de, com esses produtos em mãos, poder prestar esses serviços para as instituições de microcrédito? É isso que está em jogo e, portanto, estamos falando de uma agenda de longo prazo, mais uma vez, de resultados absolutamente ainda lentos em relação à demanda que existe por esse serviço no País; mas é o único caminho para uma rede sustentável de mircrofinanças. Com isso encerraria, passando rapidamente pela agenda do BNDES para este ano. Estamos, em primeiro lugar, em relação às instituições já em carteira, estimulando a sua profissionalização através desse PDI Programa de Desenvolvimento Institucional. Portanto, com recursos não reembolsáveis e a sua regionalização. Várias instituições que já pegaram os recursos do PDI por exemplo, a Porto Sol está aqui presente, a Blue Sol é outra, Viva Credi é do Rio de Janeiro, Visão Mundial já estão num terceiro crédito com o BNDES. Simultaneamente, estamos provendo recursos não reembolsáveis nesse convênio com o BID para desenvolvimento institucional e também para usar aí uma expressão mais informal dando linha, dando funding para essas instituições crescerem, concedendo-lhes mais recursos. Já estamos aí na terceira rodada de aportes de recursos para essas instituições. 11

Estamos muito preocupados com a distribuição regional desses serviços. Como sempre, como garantir que as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste tenham também essa capilaridade em termos de instituições especializadas em microempreendedores. Também é possível começar a falar e essa é uma agenda um pouquinho mais para frente em políticas públicas a partir dessas instituições. O tempo todo estamos cobrando autonomia, auto-suficiência dessas instituições, mas por que não para aquelas instituições mais autônomas, mais avançadas, começarmos a pensar em atraí-las a partir de um funding do BNDES para regiões menos desenvolvidas, em que o risco seja maior, para trabalhar com novos produtos financeiros para essa clientela? Por que não financiar o chamado primeiro negócio? Sabemos que essas instituições hoje estão preparadas para baixa inadimplência, sempre para um negócio já existente, mas sabemos que a demanda é grande também para o crédito para um primeiro negócio. É um pouco aqui a idéia, por exemplo, de o Banco trabalhar com uma agenda de desenvolvimento local, em alguns Municípios da Região Norte e Nordeste. Por que não levar essas ONGs já bastantes desenvolvidas para trabalhar nessas Regiões com essa clientela? Esse é o tipo da coisa de que só podemos falar quando a ONG já tem uma velocidade suficiente para suportar um pedaço da carteira de maior risco, de uma clientela que ainda não foi alcançada. Finalmente, estamos falando em fortalecer esse modelo da Sociedade de Crédito ao Microempreendedor. Isso daí é bastante recente. Considera-se no País que é apenas o primeiro passo, o primeiro marco legal do microcrédito, que foi lançado em junho de 1999. No final do ano passado, o BNDES aprovou as duas 12

primeiras operações com esses SCMs. Portanto, naquela rede ali de 27, temos 25 ONGs e duas SCMs. A grande questão, voltando ao início, é garantir a inserção dessa atividade no sistema financeiro sob a regulação do Banco Central. Estamos pensando, sobretudo, em garantir recursos estáveis, em volumes significativos, para o crescimento dessa atividade. Costumamos dizer e quem observa esse assunto no País que as ONGs têm uma armadilha do sucesso. Se elas conseguem um certo grau de profissionalização, ficam dependendo de doação. Elas não podem fazer nenhuma captação ou de um funding, por exemplo, do BNDES ou doação da Prefeitura ou organismo multilateral. Há aí uma armadilha do bom desempenho dessas instituições. Por que não termos a possibilidade e a SCM oferece isso de atrair investidores, capital, a essas instituições? Quer dizer, isso daí é um negócio, é rentável, pode haver instituições dentro do sistema financeiro que tenha esse funding de investidores, mas atendam a essa clientela. A questão é dupla, é simultaneamente atrair novos atores para esse mercado, mas, ao mesmo tempo, atrair aquelas instituições-modelo e nós sabemos que há muitas nessa rede que são bastante bem-sucedidas que possam migrar para o sistema financeiro nacional. Por que não uma ONG isso está previsto nessa regulamentação vir a constituir uma Sociedade de Crédito ao Microempreendedor? O que ganhamos com esse movimento? Ganhamos duas coisas: a possibilidade de essa instituição, essa ONG, que abre uma SCM, atrair investidores, e, portanto, novos recursos para essa atividade, e simultaneamente começamos a contaminar esse sistema financeiro com a cultura de microfinanças que a ONG está 13

trazendo. Essa é uma questão crucial. Também não é automático achar que o sistema financeiro por si só vai dar conta desse assunto tão específico. Temos que pegar a experiência dessas ONGs e fazer com que haja vasos comunicantes com esse sistema financeiro. Há ainda os números deste ano, que estão no folder que vai ser distribuído. O Banco está falando em mais sete SCMs para essa rede, mais cinco ONGs, mais 27 milhões aprovados, totalizando 70 milhões. Imaginem também se chegar a dezenove Estados, e portanto mais três, e 360 Municípios. Finalmente, aí, essa frase com a visão do futuro no sentido de que estamos, portanto, vislumbrando e trabalhando na direção de um mercado em que os microempreendedores e clientes de baixa renda possam ter acesso a serviços financeiros, ofertados por instituições integradas ao sistema financeiro nacional. Estamos vislumbrando num futuro próximo um grande número de instituições reguladas pelo Banco Central, especializadas nesse segmento, competindo entre si para prover crédito a esses microempreendedores, principalmente aos informais. ordem. O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ Sr. Presidente, peço a palavra pela O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) Com a palavra o Relator, Deputado Edinho Bez. O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ Inicialmente, quero cumprimentar a Dra. Beatriz Azeredo. Sei pelo menos da filosofia do BNDES, no sentido de atender o microempresário, somente o pequeno e até mesmo pessoa física. Nesta Comissão, temos discutindo, Dra. Beatriz, exatamente a possibilidade de priorizar e fazer com que o pequeno empresário tenha acesso ao crédito. 14

Vejo aqui o avanço nesse sentido. Mas faço apenas uma observação: o pequeno empresário não pode pagar uma taxa de juros de 3% a 5.8% ao mês. Isso não é ajudar o pequeno, isso é ajudar a dificultar ainda mais a iniciativa. Claro que avançamos bastante nessa iniciativa. Temos conversado bastante sobre isso e gostaríamos de receber mais à frente sugestões a esta Comissão. Na qualidade de Relator, digo que serão bem-vindas sugestões com o objetivo de fazer com que o pobre tenha acesso ao crédito, porque a única forma que temos de alavancar o desenvolvimento deste País é realmente fazer com que, em nível regional e local, haja acesso ao crédito ao pobre, para que sua iniciativa, sendo competente, não seja castrada. Fiz essa interferência, Sr. Presidente, aos nobres Parlamentares, porque hoje vou ter que me retirar, mas está sendo gravada esta reunião. Vou receber a fita, que será estudada, sem nenhum prejuízo, e conto com a aquiescência dos presentes. Quero parabenizá-los por ter vindo à nossa Comissão e nos colocar também à disposição. Tenho um encontro em Florianópolis, em âmbito nacional, no qual serei palestrante e preciso estar lá às 19h. Quero parabenizá-los, colocar-me à disposição. Irei analisar depois junto com os demais membros da Comissão toda a gravação dos assuntos aqui discutidos. O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) A Dra. Beatriz, após as outras perguntas, retornará a usar a palavra. Com a palavra agora a Dra. Clara Steinberg, Presidente do Banco da Mulher. V.Sa. tem cinco minutos. A SRA. CLARA STEINBERG Sr. Presidente, prefiro até que seja informal, porque o tempo é pequeno. Não me preparei para falar em pouco tempo. Eu poderia falar uma hora. É mais fácil falar uma hora do que cinco minutos. 15

O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ Está convidada a voltar a esta Comissão. A SRA. CLARA STEINBERG Estamos representando uma das mais antigas instituições com idéia de microcrédito, porque ela surgiu em 1975 no encontro da ONU em que se deduziu que o problema da mulher, visto que estamos falando do Banco da Mulher, de não se desenvolver, de não crescer, em termos econômicos, era pela dificuldade, especialmente na área empresarial, de ter esse acesso, e na própria educação. Até hoje, há países que não a admitem até em escolas, e por aí afora. O pessoal do Brasil que assistiu ao encontro, inclusive lá estava presente uma das nossas arquitetas que trabalhava no BNH, ficou muito entusiasmado e trouxe a idéia. O Brasil chegou a participar do primeiro encontro, que foi quatro anos mais tarde, em 1979, em que se fundou a Fundação WWB, ou seja, Women World Banking, que é o Banco Mundial das Mulheres. E o Brasil ficou entusiasmado e procurou uma solução. Mas a legislação não permitia esse tipo de banco no Brasil. Nem banco médio. Isso foi muito depois. Estamos falando da década de 80. Em 1983, estudamos muito o assunto e transformamos a idéia então para uma associação, que se chama Associação Brasileira para Desenvolvimento da Mulher, mas, como subnome, o nome Banco da Mulher. Realmente, hoje estou dando os parabéns a Beatriz, porque ela apresentou de forma maravilhosa todo o processo que deveria ter sido feito. Mas, infelizmente, não tínhamos base, nem mesmo a WWB tinha. Chegamos a fazer um congresso internacional, em 1986, no Rio de Janeiro acho que ninguém sabe disso, em que veio a Presidente mundial do banco e muitas autoridades. Estamos com muitas dificuldades, porque não é fácil realizar esse trabalho sem metodologia. Começamos a executar a idéia por todo o Brasil na medida do 16

possível. E os primeiros Estados que entraram já com o trabalho de microcrédito foram a Bahia, o Amazonas e o Paraná. Depois, o Rio Grande do Sul. Naturalmente, foram buscando por si mesmas a forma de obter esses créditos. Nesse tempo, o WWB não dava, mas agora ele está dando alguma ajuda. A solução foi o BID, que só deu financiamento para o Nordeste. Não dava para o Sul. Procuramos, então, entrar em contato com o banco BAMERINDUS, por exemplo, que dava o financiamento. Mas ficamos responsáveis. Quer dizer, se a cliente não pagava, nós pagávamos. Nós quem? As pessoas voluntárias que estavam fazendo esse trabalho. Foi muito difícil. Esse trabalho andou pouco. Acho que a Beatriz esteve conosco uns quatro anos ou mais. Fizemos também um encontro como sempre falou muito bem, mas o BNDES não tinha chegado a esse ponto. Por isso dou os parabéns ao BNDES, porque realmente cresceu muito com o S final. Creio que essa é a grande solução para o País. Estamos com dez regionais, algumas no Estado, porque queríamos que cada Estado tivesse um comando, por exemplo, nas capitais. Mas houve alguma dificuldade, e estamos aceitando mudanças também, porque às vezes é a capital que não consegue. Estamos com dez funcionando; a maior parte, com muita dificuldade, porque um inicial o BNDES também não dá. Desculpe, no Rio de Janeiro, parece que agora foi aprovado. Conseguimos arrumar, com esforço enorme, quem fornecesse uma base. Quer dizer, pessoas particulares. A Prefeitura se comprometeu, mudou o Prefeito, não tinha saído o crédito. Não sei se hoje foi a Prefeitura ou o BNDES que o liberou sozinho. Quer dizer, não é muito fácil. Tenho a impressão de que esse é um trabalho talvez dos mais importantes do BNDES. Não adianta o progresso de algumas sem 17

que o País o acompanhe. No caso da mulher, por exemplo, merece até depois fazer mais considerações. O tempo é curto. pouco. O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) Pode falar mais um A SRA. CLARA STEINBERG Vou pedir uma atenção especial. Tenho um trabalho até o entreguei para Jaína, e, se for possível tirar uma cópia agora, um trabalho apresentado num congresso de energia, mas que também está tendo interesse social. Hoje, o mundo inteiro está percebendo que a humanidade não se está desenvolvendo num caminho correto. Mais de 60% recebem menos de dois salários mínimos e mais de 30%, menos de um salário mínimo. Então, não é nem de sobrevivência. Na maior parte da humanidade, cada vez mais está havendo uma distinção entre ricos e pobres dentro dos países. Esse trabalho é para melhorar a deficiência de um desenvolvimento que tem levado à criminalidade e a outros problemas. E a mulher é a base, porque ela é a mãe, é ela que educa. Se ela sai para trabalhar como empregada doméstica ou faxineira, abandona a casa, os filhos. Estou fazendo um outro trabalho, em que constato que há muito problema de os pais acompanharem as crianças. Em geral, a mãe, em quase 30% dos lares, especialmente na faixa pobre, em que o único sustento é a mulher. O trabalho que ela pode fazer em casa, pode fazer com apoio, pode fazer quando pode, sem perder as crianças, é de grande importância social. Acredito que essa é a oportunidade de se levar em conta a diferença. Sei que 50% de clientes são mulheres também, mas a forma de trabalho do Banco da Mulher está sendo não são todas, em cada regional, da forma que ela achar melhor, assumindo um trabalho. É ainda uma experiência, mas acho que ocorre no 18

mundo e aqui no Brasil também. Estamos procurando educar também ao mesmo tempo, melhorar o trabalho, para elas compreenderem a qualidade também, porque senão não conseguem competir. Então, fazem um trabalho que se perde. Elas não têm às vezes noção de custo. Temos procurado também orientar como vender. Quer dizer, estamos ajudando mais porque é o lugar mais fraco. Para encerrar, vou citar só uma frase do Yunes, que hoje é o papa no assunto. Até comentei com o Deputado Coriolano Sales. Diz o seguinte: O crédito é um dos principais direitos humanos do homem e, principalmente, da mulher. Tanto que ele enveredou praticamente todo o empréstimo para as mulheres. Se V.Exas. No livro do Prêmio Nobel de 1998 na área de Economia, Amartya Sen, um indiano, há o seguinte: Liberdade com... Agora não me lembro da frase completa. Tenho o livro, eu o li, mas não me lembro da frase. Ele tem exatamente um capítulo grande sobre desenvolvimento com liberdade. E tem um capítulo sobre a mulher, mostrando exatamente isso: está comprovada a participação do trabalho da mulher em relação à educação, em relação à modalidade infantil, a todos esses fatores sociais. No Brasil, o IBGE também forneceu estatísticas, já há anos, com crianças e adolescentes, constando que o principal é o nível de escolaridade da mulher. Estamos falando em educação como base do desenvolvimento. Isso tudo nos leva a ver que é importante. O trabalho dele é grande sobre esse assunto, mostrando essa diferença. O Amartya Sen e outra pessoa estão fazendo estudos sobre esse índice de desenvolvimento humano, que é algo importante também. Tenho a impressão de que a humanidade está mudando um pouco. A globalização, a competitividade têm que ser um pouco consideradas nessa questão. 19

Nesse momento, eu pediria mais tempo, quando houvesse, para que pudéssemos discutir um pouco mais essa situação. Devemos voltar ao assunto. Há vários pedidos de Brasília, mas há falta de recursos. Esse recurso básico para começar, ninguém dá. Ainda mais naquela época que não se conhecia o assunto, quando foi criado. Agora, corajosamente, resistentemente, a Bahia está trabalhando há doze anos. E fui na festa dos dez anos. Paraná, também. E uma que entrou nova conseguiu porque exatamente entrou no sistema novo, Prefeitura, SEBRAE. Quando o SEBRAE ajuda, já melhora. Mas o SEBRAE nem sempre, porque ele também é independente. Cada Estado tem uma forma diferente de trabalhar. Mas creio que esse caso merece e agora que a Beatriz está ao meu lado, vou conversar melhor com ela no Rio um estudo de como o BNDES pode ajudar-nos melhor. O Rio vai recomeçar, está um pouco parado, está trabalhando com favelas. Mas, na inadimplência, quem paga? Por mais que se faça, não fica nem nos 3%. Pois até agora nós pagamos, nós, as valorosas mulheres que fazem um trabalho de voluntárias. Eu já paguei muito. E as outras todas também. Quer dizer, com sacrifício, tem sido feito todo esse trabalho. Então, agora, estou certa de que nosso banco também vai fazer parte desse desenvolvimento social com apoio do BNDES. O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) Agradecemos a Dra. Clara. Esperamos revê-la aqui em uma oportunidade bastante breve. Informo aos palestrantes que a diminuição do tempo ocorreu devido ao pedido de alguns participantes que têm compromisso ainda logo após a reunião. CEAP. Passo a palavra agora ao Dr. Valdi de Araújo Dantas, Diretor-Executivo do Antes, registramos, com muito prazer, a presença da Sra. Estelita, do Banco da Mulher da Bahia e da Dra. Jane Barcellos, Gerente do Porto Sol, de Porto Alegre. 20

O SR. VALDI DE ARAÚJO DANTAS Hoje, o sistema CEAP está presente em doze Estados da Federação, trabalha em cerca de 205 Municípios e conta com um corpo de agentes de microcrédito de cerca de 230 funcionários. Começamos esse trabalho em 1986 com a primeira iniciativa no Rio Grande do Sul, criando o Centro Ana Terra, que depois veio a ser o CEAP do Rio Grande do Sul. E, a partir dessa experiência, estendeu-se principalmente para o Nordeste do Brasil. Em meados dos anos 80, a hoje chamada indústria do microcrédito passava, no mundo, por um processo de transformação dos seus conceitos, mas ainda existia possibilidade do que hoje podemos chamar de antigo modelo. Os CEAPs nasceram com recursos doados durante vários anos pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e, no momento seguinte, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento. A partir de 1996, com o ingresso do BNDES que marca no País uma nova etapa do microcrédito, passamos a trabalhar e a integrar a rede de instituições que estão nesse esforço junto com o BNDES. Eu queria, para recuperação de história e de memória, ir um pouco além de 1996, quando se iniciou o CEAP no Rio Grande do Sul, e evocar a primeira experiência de microcrédito no Brasil, e talvez no mundo, que foi em 1973, quando se criou a primeira ONG especializada em microcrédito, chamada União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações. Esta ONG teve uma atuação por cerca de quinze anos nos Estados de Pernambuco e da Bahia. Já disse isso em outras reuniões, e vou repetir agora; tenho o prazer de estar aqui com duas figuras que são testemunhas dessa época: uma é um ator direto desses atos, Ary Burger, que chegou a ser Presidente da ITEC, que era afiliada a uma ONG americana e, exatamente junto com empresários pernambucanos e baianos, criaram a UNO; e também o Henry Jackelen, que hoje 21

está aqui como representante do PNUD e que, mais ou menos em 1981, foi avaliador do programa UNO, em Caruaru. Essa experiência é muito emblemática, para não perdermos de vista o que está posto hoje para o microcrédito, que a Beatriz traduziu muito bem tanto do ponto de vista dos conceitos do microcrédito, como da sua institucionalidade. Evidentemente, essa história de 20, 25 anos que o microcrédito tem internacionalmente e também no Brasil permitiu chegar-se a isso hoje. Mas é fundamental e está sendo o grande esforço do BNDES, que iniciemos desse novo patamar, dessa nova qualidade da institucionalidade do microcrédito, porque é a partir daí que vamos garantir o desenvolvimento desse serviço, dessa indústria tão importante para o País. Naquela época, até para ensaiar, para demonstrar que era viável fazer crédito a uma pessoa física que tinha uma atividade econômica informal, que esse crédito era produtivo, benéfico, que essa pessoa honrava seu compromisso, era necessário e se justificava dinheiro a fundo perdido de agências internacionais, etc. Nessa época era possível uma ONG pensar e não ter como trabalhar, e não ter a sustentabilidade como uma filosofia, mais do que uma meta. Isso foi muito importante porque permitiu dar essa demonstração, mostrar o impacto que isso trazia, fomentar essa metodologia e apontar as deficiências, as fraquezas. Exatamente por isso, mesmo a UNO pagou esse preço como entidade pioneira e dezenas de outras no Brasil e na América Latina, que, apesar de fazerem um bom trabalho, cinco, dez, quinze anos depois desapareceram porque tinham dependência do crédito doado; desapareceram porque a idéia assistencialista do subsídio ao crédito era muito forte. Pensava-se que o acesso do pobre a esse crédito tinha de ser subsidiado. Isso demonstrou a inviabilidade desses conceitos e nos fez caminhar 22

para os conceitos de institucionalidade a que a Beatriz se referiu, hoje a concepção e o trabalho que o BNDES está fazendo. Para que trilhemos um caminho seguro no sentido de expandir a microfinança, o microcrédito no Brasil, é preciso que as iniciativas tanto de governo como privadas adotem e defendam esses princípios, porque o maior beneficiário será o pequeno empreendedor, aquele pequeno empresário que estamos querendo beneficiar. É um desserviço começar uma iniciativa de microcrédito, abrir essa possibilidade ao pequeno empreendedor e depois essa instituição não ter a possibilidade, a capacidade, pela sua autogestão, de continuar prestando esse serviço e até de acompanhar o crescimento desse empresário. Queria enfatizar esse aspecto, reforçando todos os conceitos que a Beatriz expôs: o crédito, o juro real, a capacidade de sustentabilidade das instituições, o modelo institucional que permita a penetração no mercado financeiro. Tenho mais de uma década participando da criação e trabalhando com ONGs no setor de microcrédito, mas hoje é preciso reconhecer que esse modelo institucional já não é adequado ao desafio da microfinança no País. Numa hora oportuna foi institucionalizada a SCM e estamos num esforço comum Banco Central, BNDES, Banco do Brasil, enfim, várias instituições tratando de aperfeiçoar esse modelo. É esse o caminho da institucionalidade do microcrédito. Os exemplos que temos na América Latina de entidades que conseguiram responder melhor à necessidade do pequeno empreendedor é exatamente o modelo muito próximo ou diretamente dentro do mercado financeiro. Acho que a grande contribuição que todo o movimento, todas as pessoas, todas as instituições que estiveram envolvidas com o microcrédito nessas últimas décadas puderam oferecer para o desenvolvimento do nosso País é uma alternativa 23

de modelo de instituição financeira, mas dentro do mercado financeiro, para atender a esse segmento. Faço um apelo a esta Casa que, ao pensar em legislar para facilitar esse processo, fique muito atenta a essa realidade. Essa concepção e essa institucionalidade estão muito bem trabalhadas e coordenadas no País por meio do trabalho que o BNDES está desenvolvendo. É muito fino o negócio de emprestar, de dar pequenos empréstimos, de receber, voltar a emprestar, com negócios que são relativamente frágeis, que estão na base da economia. Isso requer processos muito profissionais, tecnologias complexas, instituições que tenham capacidade de auto-sustentação, que possam enfrentar isso como um negócio. É uma coisa fantástica, é uma atividade econômico-financeira que tem um impacto social extremamente elevado, extremamente positivo no desenvolvimento dessas famílias e do país em que estão situadas. Mas exatamente pela sua importância, pela sua vitalidade no sentido de criar um processo de desenvolvimento mais harmônico, requer toda essa sofisticação, esses cuidados e esse profissionalismo para que esse trabalho, o que já está desenvolvido não sofra solução de continuidade, como outras experiências que, por não atacar essas debilidades e era natural naquilo que estava nascente, por não ter essa visão, não puderam hoje continuar no cenário como ator ativo e dar a sua contribuição. Eram estas as minhas palavras. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) Agradecemos ao Dr. Valdi de Araújo Dantas sua exposição. Porto Sol. Passamos a palavra ao Dr. Ary Burger, Presidente da Cooperativa de Crédito 24

crédito. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES É uma instituição comunitária de O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) Registramos a presença do Dr. Israel Testa, do Programa de Providência da Arquidiocese de Brasília. O SR. ARY BURGER Queria, antes, responder ao Deputado sobre o custo do crédito nas empresas que estão financiando microcrédito. O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) Pois não. O SR. ARY BURGER Há um conceito errado com relação a isso. O pequeno não está interessado na taxa de juros, mas no dinheiro. O giro comercial dele é muito rápido; ele tem que pagar no fim de semana, então, precisa de um giro financeiro que acompanhe isso. Se não tem o dinheiro, ele vai para o agiota, que lhe cobrará bem mais caro do que estamos cobrando. O problema é que temos que satisfazê-lo na sua necessidade de ter o dinheiro na hora certa; de poder, se possível, em dois ou três dias dispor do dinheiro. Esta é a grande experiência que, creio, todos nós que estamos nisso sabemos. Estou envolvido com o problema do pequeno empresário desde 1963. Nesse ano tinha ajudado a organizar o BRDER, no Rio Grande do Sul, e estava sendo o seu segundo Presidente, em seguida. E li um livro de um grande professor em Harvard, chamado Activing Society Sociedade de Resultados, que diz algo muito importante: não são as universidades que fazem empresários. Empresários saem do cadinho onde a pequena empresa vai mostrar se são capazes ou não. Há um problema humano no desenvolvimento que temos de enfrentar. A pequena empresa é de onde sai o empresário. Aqueles pequenos a quem, no BRDER, demos os financiamentos são as tramontinas, as marco polos, as recrosul de hoje; são as grandes empresas do Rio Grande do Sul. Eram pequeninas e demos 25

a elas o primeiro recurso. Não se trata de um favor social, mas de se cumprir uma necessidade. Quero, primeiramente, chamar a atenção para isso. Acho que a Dra. Beatriz apresentou muito bem como está sendo feito e o que se está realizando. Preocupa-me uma coisa: nós, brasileiros, temos que nos unir e trabalhar juntos. Creio que precisamos de uma legislação sobre isso. Agora, chamo a atenção para o fato de que estamos experimentando, como muito bem disse a Dra. Beatriz. Creio que, como somos um País extenso, com culturas diferentes, com experiência já existente, deveríamos ter uma legislação que não fosse casuística, que estabelecesse regras gerais e que deixasse lugar a que a regulamentação fosse modificando. Para isto, deveria haver um órgão que se encarregasse de fiscalizar, de colher essa experiência e aprimorá-la. Neste ponto, tenho que citar o BNDES, que está fazendo um brilhante trabalho, e a Caixa Econômica Federal, que está tentando alguma coisa. Na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) há um grupo que se preocupa com o problema do financiamento aos empresários, principalmente os menores. Os grandes têm lá suas formas de obter recursos. A Caixa Econômica Federal pretende não fazer o papel de redistribuição do BNDES, mas, utilizando suas agências, está fazendo um trabalho necessário. Estamos indo lá na ponta, no bem pequeno. Quem vai cuidar do médio e do pequeno empresários? Isto é importante. Por exemplo, estamos desenvolvendo uma experiência, com grande apoio do BNDES, de como montar uma rede estadual que não vá complicar, que vá ser efetiva, eficiente. Vejam bem, se criarmos, em cada Estado, trinta a cinqüenta pequenas Porto Sol ou a experiência do Nordeste, essa gente terá de captar recursos. Chegará um momento em que elas terão que buscar recursos. Se cada 26

uma delas tiver que ter uma pessoa para buscar recursos, vai haver um problema sério, porque será oneroso; de outro lado, será um problema para o BNDES atender tanta gente sem alguém que faça antes uma peneira disso. Por isso, o BNDES está conosco nos ajudando a criar uma rede estadual. Estou chamando a atenção para isto porque é muito importante. Uma coisa é uma unidade, outra é criar uma série de unidades que tenham uma coordenação, uma maneira de trabalhar em conjunto. Desculpem-me estar-me entusiasmando. Não sei se estou indo demais. Então, o que digo é o seguinte: estamos indo para o caminho certo. Precisamos de uma legislação. Mas, vejam bem, a fiscalização não deveria ficar no Banco Central. Iríamos onerar demasiadamente o Banco Central com uma infinidade de pequenas instituições. Deveria haver um órgão que se encarregasse dessa fiscalização. Aliás, fui do Banco Central e, na época, batalhei contra a fiscalização dentro do banco, porque havia uma rivalidade entre o redesconto, que tratava e via o problema de cada dia dos bancos, e a fiscalização, que vinha com aquela dureza. Não funciona. É um órgão independente, como é nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, Itália e Inglaterra. Acho que a fiscalização disso que estamos fazendo deve ser alguma coisa diferente do que ter um órgão que fiscalize e outro órgão que crie as regras. Creio que já falei demais. A Porto Sol agradece a oportunidade. Agradeço a oportunidade de estar junto com meus amigos lá do Nordeste e outros aqui, principalmente contando com a presença do BNDES aqui conosco. Obrigado. 27

O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) Agradecemos ao Dr. Ary Burger e passamos a palavra ao Deputado Coriolano Sales, para que faça suas considerações. O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES Sr. Presidente, inicialmente, quero agradecer a presença a diversas instituições que foram convidadas e registrar que este é um momento muito importante que esta Comissão está vivendo de colher subsídios e informações dessas representações financeiras, do BNDES e das demais instituições que acudiram ao nosso requerimento. Como V. Exa. sabe, acompanho essa questão do cooperativismo de crédito e das políticas de microcrédito e tenho um vivo interesse por isso, porque acho que o verdadeiro combate à pobreza e à miséria está nessa política. O Brasil precisa de um plano contra a miséria, contra as condições de pobreza em que vive a sua população, cerca de 60 milhões de pessoas. Não vamos fazer isso com cesta básica, com assistencialismo, nada disso. Vamos fazer isso principalmente com políticas firmes de educação e de crédito. É claro que o combate à pobreza e à miséria não vai resumir-se a isso, mas há outras medidas, como reforma agrária, política habitacional consistente, política de saúde firme, profunda, mas acho que, principalmente, nessas duas políticas é que o Governo deveria centrar o seu esforço, as suas ações. Acho que o microcrédito é de fundamental importância para o Brasil. É algo novo, no sentido de que a regulamentação começa a se dar agora, com a SCM, com a sua inserção dentro do sistema financeiro. Mas, efetivamente, se percebe que há uma preocupação no País, porque, como disseram aqui o representante do CEAPE e o Presidente da Porto Sol, se chegarmos a um momento em que houver duas mil ONGs de crédito no Brasil, como é que se opera isso, como se fiscaliza, como se 28