ISSN: X COLÓQUIO DO MUSEU PEDAGÓGICO 28 a 30 de agosto de 2013

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Transcrição:

ASPECTOS GRAMATICAIS DOS ELEMENTOS LOCALIZADORES EM LIBRAS 624 Lizandra Caires do Prado * (UESB) Adriana Stella Cardoso Lessa de Oliveira ** (UESB) RESUMO Este trabalho apresenta resultados parciais acerca da natureza gramatical dos elementos Localizadores (Locs.) em libras. Estes elementos se caracterizam como uma apontação de pessoas, objetos ou seres em geral no espaço físico da fala. Classificamos esses elementos como Locs. articulados e Locs. não- articulados, segundo sua natureza articulatória. Os Locs. são tratados por autores como Moreira (2006) e Bellugi e Klima (1982) como base de referência pronominal. Também Pizzuto et al (2006) identificam dois tipos de elementos ditos dêitico- anafóricos, classificados como: sinal manual padrão e Estruturas Altamente Icônicas (EAI). Por nossa análise, estes elementos não são apenas figurativos, mas possuem papéis gramaticais na sentença. Para comprovar esta hipótese, construímos testes de aceitabilidade, nos quais os informantes surdos, usuários da libras, irão definir, sob diversos aspectos, o que é ou não gramatical nesta língua. PALAVRAS- CHAVE: Gramática Gerativa. Libras. Localizadores. 624Estudo vinculado ao projeto intitulado Elementos dêiticos em narrativas em libras, do Programa de Mestrado em Linguística da UESB. *Aluna do curso de Mestrado em Linguística PPGLin, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB. É integrante de equipe executora do projeto de pesquisa intitulado Inclusão de pessoas surdas no mundo letrado: proposta de criação de um sistema de escrita para libras e de métodos de alfabetização em libras e em português para pessoas surdas, financiado pelo CNPq (483450/2009-0) e pela FAPESB (PPP 0080/2010). E- mail: caireslizandra@gmail.com. **Doutora em Linguística, professora adjunta do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários DELL/UESB e professora titular do Programa de Mestrado em Linguística, pela mesma universidade. Coordena o Grupo de Pesquisa das Estruturas Gramaticais e Aquisição da Linguagem e o projeto de pesquisa referido acima. E- mail:adriana.lessa@gmail.com. 3285

INTRODUÇÃO Os Localizadores (Locs.) 625 são elementos amplamente utilizados na libras. Por sua característica dêitica, são identificados como uma apontação de pessoas, objetos, personagens etc. no espaço físico em que se encontra o sinalizante (falante). Definidos, inicialmente, como articulados e não- articulados, segundo a sua natureza articulatória, procuramos analisar o seu papel gramatical na sentença. Os Locs. articulados são realizados como os sinais/gestos em libras normalmente o são, ou seja, envolvem a presença dos parâmetros da língua, conforme a hipótese da unidade MLMov (Mão Locação Movimento), proposta por Lessa- de- Oliveira (2012). Este grupo de Locs. pode indicar a referenciação de duas formas: acompanhando outros sinais dentro de um sintagma; ou isolados, servindo eles mesmos como argumentos de verbos. Neste último caso, os encontramos como três pessoas do discurso: como terceira pessoa, ao apontar ou localizar personagens ou objetos, reais ou imaginários, à frente ou ao lado do enunciador; como segunda pessoa, quando o enunciador aponta para a pessoa com quem está falando; e de primeira pessoa, quando o enunciador aponta para o próprio corpo, assumindo a identidade da personagem. Quando este movimento de apontação ocorre de forma vai- e- vem, tendo por referência o próprio corpo do enunciador, temos uma variante indicando as primeira e segunda pessoas do discurso (nós). A apontação pode indicar também o carpo do enunciador e uma ou mais terceiras pessoas (nós) ou fazer um círculo que inclui o corpo de enunciador e as segundas e terceiras pessoas reais ou imaginárias, presentes ou ausentes (nós todos). Os Locs. articulados indicam também lugares reais ou imaginários, próximos (aqui) ou distantes (lá) do enunciador. 625 Ver Prado e Lessa- de- Oliveira (2012). 3286

Por sua vez, os Locs. não- articulados caracterizam- se pela sua não articulação como unidades MLMov e, portanto, não iremos encontrar qualquer parâmetro realizado articulatoriamente, assim como os outros sinais/gestos normalmente o são. Sendo assim, como podemos identificar tais elementos? Estes estão presentes no texto através da direção do olhar, do movimento do corpo e, também, estão intrínsecos aosverbos que apresentam movimento de um ponto a outro no espaço físico, tendo por referência o eu. Em estudos anteriores, Moreira (2006) propôs que esses elementos formariam a base da referência pronominal. Nesta mesma perspectiva, Bellugi e Klima (1982) apontam a presença desses elementos na língua de sinais americana (ASL American Sing Language), indicando- os como formadores da base da referência pronominal. Entretanto, propomos que esses elementos Localizadores são uma categoria distinta e não apenas uma característica dos pronomes. Com ponto de vista divergente, os autores Pizzuto et al (2006) identificam dois tipos de elementos ditos dêitico- anafóricos, que eles classificam como: sinal manual padrão e Estruturas Altamente Icônicas (EAI). Explicam eles que essas duas formas consistem na opção consciente do falante em ilustrar ou não o que diz. Discordando dessa análise, supomos que estes elementos sejam mais que ilustrações, são elementos de referenciação construídos no espaço físico, para serem utilizados de forma dêitica. Para analisar se os Locs. apresentam, efetivamente, uma função gramatical e, assim, sugerir uma possível categoria para estes elementos, preparamos testes de aceitabilidade, nos quais os informantes surdos, usuários da libras, irão avaliar a gramaticalidade do uso dos Locs. no interior das sentenças nessa língua, observando diversos aspectos, dentre eles, as variações na ordem sintática, a possibilidade de serem ocultos ou mesmo de coocorrência. De acordo com nossa hipótese, os Locs. são elementos utilizados pelos falantes para a construção de referentes no espaço físico. Ao apontar um elemento 3287

em um determinado espaço, este não pode ser modificado aleatoriamente no decorrer do discurso, sem que seja marcado pelo falante. Assim, se o falante localiza um objeto à sua esquerda, por exemplo, a partir deste momento todas as referências a este objeto serão naquele ponto até que o falante deseje modificá- lo; neste caso, o deslocamento será bem marcado por ele. O primeiro ponto para que compreendamos os Locs. como elementos gramaticais é, justamente, o seu papel na construção do referente no mundo físico. Mas, sendo assim, existe uma ordem fixa para estes elementos? E, tendo um papel gramatical, qual a possível categoria a que pertencem? Neste ponto, os testes de aceitabilidade são um recurso necessário à compreensão acerca dos papéis gramaticais dos Locs. na libras. Para cada função exercida por eles na sentença, montamos diversas possibilidades de usos para verificar se são possíveis ou não nessa língua. Assim, selecionando sentenças em que aparecem Locs. articulados e não- articulados (do tipo direção do olhar), reescrevemos sentenças alternativas, nas quais estes elementos estão ocultos, em ordens diversas e com verbos de diferentes características, a saber, verbos em que se apresentam intrínsecos em sua articulação o movimento de um ponto a outro no espaço físico, tendo por referência o eu enunciativo 626, e verbos em que este movimento não ocorre. Ao observar essas sentenças, os informantes irão avaliar sua gramaticalidade. Para ilustrar tais testes, observemos as sentenças que serão submetidas a esse crivo: LOC.Mãe COZINHAR AMASSARMASSA COLOCARMIUDOS/CESTA A mãe de Chapezinho Vermelho cozinhou, preparou pão e arrumou na cesta ( _ ) 626 Ver Benveniste (1976) 3288

No exemplo (1), apresentaremos aos informantes a sentença completa, na qual a ordem sintática do Loc. e sua relação com os núcleos verbais nos informam acerca dos seus papéis temático e sintático, que, neste caso, é de agente e de sujeito. Em seguida, no exemplo (2), o informante irá avaliar se esta mesma sentença continua sendo gramatical sem a presença sintaticamente realizada do Loc., enquanto que nos exemplos (3), (4) e (5), os informantes irão avaliar se o Loc. pode ocorrer em diferentes posições sintáticas, sem que isso cause prejuízo para a gramaticalidade da sentença e sem que o Loc. perca a sua função de sujeito. Da mesma forma, serão realizados testes que procurarão observar os papéis gramaticais dos Locs. nas suas diversas funções gramaticais. A categoria dos determinantes já é bastante estudada em línguas orais, como o português. Como já se sabe, os determinantes são elementos que atuam na construção dos referentes nominais e, portanto, subcategorizam os sintagmas nominais. No português, existem três opções. Há a possibilidade de ocorrerem sentenças sem a sua presença fonética, como em homem que é homem sabe respeitar ; neste caso, a ausência fonética de determinantes sugere uma generalização do item nominal referencializado, assim, pode- se interpretar essa sentença como referência a qualquer homem no mundo. A segunda possibilidade é uma sentença utilizando determinante do tipo artigo, como em a mulher já chegou ; neste caso, o artigo ocorre construindo o referente do item nominal, especificando- o relativamente. A terceira possibilidade é a realização de uma sentença utilizando um determinante demonstrativo, como em esta criança é bastante inteligente ; neste caso, o demonstrativo, além de criar o referente do 3289

item nominal, restringe ao máximo a sua extensão, especificando sobre qual criança se está falando. Nossa hipótese neste quesito é que os Locs. que acompanham outros sinais da libras são núcleos determinantes. Para a análise de Locs. neste contexto, proporemos testes em que serão apresentadas sentenças com Locs. realizados e outras com Locs. não realizados (sejam articulados ou não- articulados). Consideramos a hipótese de que a ausência dos Locs., caso sejam aceitos como gramaticais pelos informantes, dá a característica de "menos especificado" ao núcleo nominal, enquanto que os casos em que estes Locs. aparecem dá a característica de "mais especificador" a este núcleo, caso em que os Locs. se aproximariam dos determinantes demonstrativos de línguas como o português. Também, procuraremos testar sentenças em que os Locs. concorram com possessivos e quantificadores. Caso esta coocorrência seja possível na libras, será mais uma pista para compreendermos os Locs. como sintagmas determinantes (DPs), uma vez que os determinantes (Ds), possessivos (Pos) e quantificadores (Qs) ocupam núcleos distintos na árvore X- barra. REFERÊNCIAS BELLUGI, Ursula; KLIMA, Eward. The acquisition of three morphological systems in American Sign Language. Papersand Reports on child Language Development, v. 21,1982. BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral.v. 1. 4. ed. Tradução de Maria da Glória Novak e Maria Luisa Néri. Campinas: Pontes, 1976. CHOMSKY, Noam.Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris, 1981..The knowledge of language: its nature, origin and use.praeger: New York, 1986. 3290

LESSA- DE- OLIVEIRA, Adriana. Aquisição de escrita de libras: a estrutura do sistema SEL e possibilidades de sua aquisição. Anais do VIII ENAL / II EIAL. Encontro Inter/Nacional sobre Aquisição da Linguagem. Juiz de Fora: UFJF, 2012. MOREIRA, Renata. Uma descrição da dêixis de pessoa na língua de sinais brasileira: pronomes e verbos indicadores. 2007. 150f. Dissertação (Mestrado em Linguística), Universidade de São Paulo. 2007. PIZZUTO, Elena; ROSSINI, Paolo; SALLANDRE, Marie- Anne; WILKINSON, Erin. Dêixis, anáfora e estruturas altamente icônicas: Evidências interlinguísticas nas Línguas de Sinais Americana (ASL), Francesa (LSF) e Italiana (LIS).In: QUADROS, Ronice; VASCONCELLOS, Maria Lúcia (Orgs.). Questões teóricas das pesquisas em Línguas de Sinais. Florianópolis: Arara Azul, 2006. PRADO, L. C. ; LESSA- DE- OLIVEIRA, Adriana S. C.. Dêixis em elementos constitutivos da modalidade falada de línguas de sinais. Revista Virtual de Estudos da Linguagem, v. 10, p. 38-57, 2012. 3291