Golpe Militar: A Psicologia e o Movimento Estudantil do Rio Grande do Sul



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Transcrição:

1919 X Salão de Iniciação Científica PUCRS Golpe Militar: A Psicologia e o Movimento Estudantil do Rio Grande do Sul Pâmela de Freitas Machado 1, Helena B.K.Scarparo 1 (orientadora) 1 Faculdade Psicologia, PUCRS, 2 Pós-Graduação da Psicologia da PUCRS Resumo O presente trabalho apresenta resultados de um estudo que busca identificar e registrar os processos de ativismo político empregados pelo movimento estudantil da Psicologia no Rio Grande do Sul, durante golpe militar de 1964. O estudo buscou compreender visões de mundo, trajetórias e lutas dos estudantes que protagonizaram o movimento, tendo em vista o contexto de formação em uma universidade particular e em uma profissão recentemente oficializada. Através da coleta e análise de imagens e documentos oriundos do acervo do Diretório Acadêmico do Curso de Psicologia da PUCRS (DAIP) pudemos compreender e registrar alguns aspectos desse contexto. Além disto, foram realizadas entrevistas com estudantes desta época, podendo assim, associar fontes documentais, imagéticas e narrativas. A relevância da pesquisa reside na possibilidade de subsidiar reflexões sobre os contextos da repressão política e seus efeitos nos processos de formação profissional para a cidadania. Além disso, ressalta-se o potencial de registro sobre a realidade do uso de diferentes fontes para a efetivação de um estudo em História da Psicologia. Assim, este estudo permitiu refletir criticamente sobre as articulações entre o contexto político, a construção da Psicologia e o movimento estudantil no Rio Grande do Sul. As análises permitiram vislumbrar algumas perspectivas de estudantes de Psicologia da época quanto ao Golpe Militar e estratégias para forjar espaços de estudo, discussão e diálogo sobre a vida política no Brasil, apesar da intensa repressão que assolava o cotidiano das Universidades brasileiras. Além disto, este trabalho buscou, sobretudo, possibilitar a construção de espaços de diálogos entre o passado e o presente, demonstrando a recursividade das práticas psicológicas comtemporâneas.

1920 Introdução A pesquisa tem especial interesse na identificação e compreensão da política estudantil da Psicologia, no Rio Grande do Sul, no período da Ditadura Militar no Brasil, de 1964 a 1985. Essa etapa da história brasileira tem sido amplamente analisada em diferentes áreas do conhecimento. É quase uma unanimidade ter-se tratado de uma época peculiar e intensa da política na qual a repressão à vida civil caracterizou o cotidiano da maioria do povo brasileiro. Especificamente no que tange à vida estudantil durante a Ditadura Militar, a literatura relata movimentos de resistência e manifestações de repúdio dos estudantes brasileiros à repressão política que cerceava sistematicamente qualquer ideologia contraposta ao pensamento do governo. No Rio Grande do Sul, não foi diferente: estratégias coletivas de resistência e mobilização caracterizaram as práticas de universitários preocupados em compreender e criticar o contexto político cotejando-o com suas utopias e projetos profissionais. Mais tarde, tais personagens foram essenciais na concepção de ações políticas que favoreceram mudanças significativas na vida brasileira. Segundo Prado (2002) este processo não é psicológico, mas psico-político, já que assume, desde o início, uma visão de mundo e de sujeito permeada de relações de poder. Deste modo, é extremamente relevante compreender estas trajetórias a partir das relações da Psicologia com a esfera política imbricada nas relações cotidianas que, tanto como disciplina quanto como prática, está fortemente submetida a silêncios que impediram o conhecimento, a penetração e a participação política explícita (PRADO, 2002). Neste sentido, cabe, então, perguntar quais são os conteúdos, discursos, representações e ações coletivas anunciadas pelo movimento estudantil no âmbito da Psicologia no RGS naquele período e quais as demandas, problematizações e projetos que caracterizaram esse movimento, a fim de promover processos reflexivos e dialógicos quanto à dimensão política da Psicologia. Metodologia Para conhecer e registrar aspectos da história do movimento estudantil no âmbito da Psicologia optamos por uma abordagem qualitativa, analisando imagens, documentos e narrativas. Acreditamos que as imagens anunciam aspectos da realidade social e, por isso, são vias de representação dessa realidade. Como lembra Barthes (1984), as imagens fazem refletir e sugerem sentidos que não podem desmembrar-se do contexto de origem. A pesquisa construiu um banco de imagens, na qual foram selecionadas vinte delas e agrupadas em categorias, segundo o foco de sua temática. Associada ao exame de imagens

1921 encontra-se a análise de documentos oficiais e de narrativas de personagens que protagonizaram o movimento estudantil da Psicologia do Rio Grande do Sul durante o golpe militar. Para tanto, utilizou-se as perspectivas da História Oral com a análise de narrativas proposta por Jovchelovitch e Bauer (2002). No que tange às entrevistas, foram escolhidos cinco participantes que, de acordo com os documentos examinados e a literatura sobre o tema protagonizaram o movimento estudantil da Psicologia no Rio Grande do Sul naquela época. Através da interlocução das imagens, dos documentos e dos depoimentos foram formuladas as categorias de análise apresentadas abaixo. Resultados As análises realizadas revelam perspectivas dos acadêmicos quanto à experiência de estudar psicologia, num período caracterizado pela repressão radical da vida civil. Desse modo, destacaram-se os seguintes temas: O contexto do movimento estudantil, o ensino oficial da Psicologia, a inserção no movimento estudantil e as estratégias de resistência à repressão. O contexto do movimento estudantil - Essa temática abarca a história deste movimento, marcada por lutas de reivindicação e transformação social. Observou-se, através das imagens e da literatura pesquisada, que este movimento reuniu um grande número de estudantes e que foi fundamental para mudanças em nível local e global. É o caso das manifestações de maio de 68 na França e da passeata dos Cem mil, no Brasil. No caso do Brasil, no período do Golpe Militar, o movimento estudantil testemunhou o desaparecimento de jovens, a censura a professores, a interdição de universidades, a reforma universitária e a proibição de determinadas leituras, entre outras ações repressoras do Governo Militar de então. O ensino oficial da Psicologia: Os dados coletados denunciam a preponderância de aportes teóricos estruturados numa perspectiva individualista e adaptacionista de ser humano, o que poderia transformar profissionais da área em instrumentos de apoio à lógica ditatorial. Tal contexto é evidenciado tanto nas narrativas, como os documentos e nas imagens dos primeiros jornais do diretório acadêmico de Psicologia da PUCRS (DAIP). Inserção no movimento Estudantil: Uma mobilização dos estudantes de Psicologia contra posturas autoritárias de professores resultou numa greve, o que chamou a atenção de outros integrantes do movimento estudantil da Universidade. Assim ocorreu uma aproximação com o DCE da época. Deste modo, as alunas que iniciaram tal mobilização se

1922 inseriram no movimento estudantil, associando-se a outros cursos. Esta experiência foi base para a formação da primeira chapa do Diretório Acadêmico do Instituto de Psicologia (DAIP). Foi denominada Construção. Uma das primeiras providências do grupo eleito foi a montagem de um jornal do curso. Estratégias de resistência à repressão: Nessas se verifica apelos dos estudantes para a construção de práticas psicológicas emancipatórias e de enfrentamento ao contexto de ameaça e de produção de alienação da época. Observa-se a contradição que estava posta no decorrer da formação: um currículo pautado por teorias adaptacionistas e pelo controle dos docentes convivia com a efetivação de estratégias de resistência nas quais as inspirações teóricas eram proibidas pela censura. Podemos citar como exemplo, Paulo Freire, Alfredo Moffat e Felix Guatari, entre outros. Nessas ocasiões, também eram estudadas práticas de assistência e saúde coletiva nas quais se rompia com modelos convencionais de atendimento. Os estudantes buscavam ampliar a rede de participação no movimento através da identificação de colegas que poderiam aderir e do convite para que participassem de Jornadas temáticas. Nessas eram estudados discutidas questões políticas associadas à psicologia e à produção de espaços emancipatórios vinculados às práticas na área. Cabe ressaltar que a maioria dos depoentes e militantes do movimento estudantil, mais tarde, como profissionais, assumiram papéis de relevância social como articuladores e gestores de políticas sociais em nível municipal, estadual e federal. Considerações O conhecimento das especificidades do movimento estudantil pregresso da Psicologia no Rio Grande do Sul poderá subsidiar reflexões críticas sobre os lugares e responsabilidades sociais da área e das práticas profissionais no contexto histórico e político. As análises evidenciam que o conteúdo expresso nesses materiais denota pontos fundamentais das práticas psicológicas contemporâneas. Podemos citar como exemplo, a necessidade de refletir criticamente sobre a relação da área com a dimensão política do viver na sociedade. Cabe destacar que algumas temáticas ainda merecem ser ampliadas/aprofundadas. É o caso das convivência cotidiana daqueles jovens nos diretórios acadêmicos, especialmente no que se refere às relações de gênero. No que toca especificamente à vida estudantil na Psicologia cabe destacar a necessidade de problematizar o esvaziamento dos movimentos atuais e associá-los às circunstâncias do tempo presente. Esses parecem reeditar a lógica individualista já evidenciada nas propostas curriculares do período da Ditadura e, talvez, por isso, não

1923 convocam sujeitos coletivos a conquistar espaços de cidadania que a experiência estudantil pode proporcionar. Referências JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M.; BAUER, M. W. e GASKELL, G. (Orgs.). Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. 90-113p. SCARPARO, H. (Org). Psicologia e Pesquisa perspectivas metodológicas. Porto Alegre, 2008. Ed. Sulina. PRADO, M. A. A Psicologia Comunitária nas Américas: o Individualismo, o Comunitarismo e a Exclusão do Político na Psicologia. Porto Alegre: Reflexão Crítica, 2002. v 15. n 1.