O SABER ESCUTAR COMO ELEMENTO NA CONSTRUÇÃO DO PLANEJAMENTO DE AULAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA



Documentos relacionados
ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS NO ENSINO SUPERIOR: OUTRAS POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO PROFESSOR

ESTRATÉGIAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Profa. Me. Michele Costa

O DESAFIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PATOS, PARAÍBA: A PROFICIÊNCIA DOS ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE PATOS

OS LIMITES DO ENSINO A DISTÂNCIA. Claudson Santana Almeida

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

do estágio para a formação de futuros professores

O ESTUDO DE CIÊNCIAS NATURAIS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA RESUMO

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ORLANDO VENÂNCIO DOS SANTOS DO MUNICÍPIO DE CUITÉ-PB

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: BREVE HISTÓRICO DA UFPB VIRTUAL

REPRESENTAÇÕES DE AFETIVIDADE DOS PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Deise Vera Ritter 1 ; Sônia Fernandes 2

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

RESUMO. Autora: Juliana da Cruz Guilherme Coautor: Prof. Dr. Saulo Cesar Paulino e Silva COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

INVESTIGANDO O ENSINO MÉDIO E REFLETINDO SOBRE A INCLUSÃO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA PÚBLICA: AÇÕES DO PROLICEN EM MATEMÁTICA

O ENSINO DA MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE JOGOS EM SALA DE AULA E DE UM OLHAR SENSÍVEL DO PROFESSOR

ITINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

IMPLANTANDO OS DEZ PASSOS DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA EDUCAÇÃO INFANTIL RELATO DE UMA EXPERIENCIA

Aprendizagem da Matemática: um estudo sobre Representações Sociais no curso de Administração

A PRÁTICA DE MONITORIA PARA PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL DE LÍNGUA INGLESA DO PIBID

GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO CURRICULO ANO 2 - APROFUNDAMENTO

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

As contribuições do PRORROGAÇÃO na formação continuada dos professores da Rede Municipal de Educação de Goiânia.

AS SALAS DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E A PRATICA DOCENTE.

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

A EDUCAÇAO INFANTIL DA MATEMÁTICA COM A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Instituto Educacional Santa Catarina. Faculdade Jangada. Atenas Cursos

A INCLUSÃO DOS DIREITOS HUMANOS NAS TURMAS DO EJA POR MEIO DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

ENSINO DE QUÍMICA: REALIDADE DOCENTE E A IMPORTANCIA DA EXPERIMENTAÇÃO PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

O PERCURSO FORMATIVO DOS DOCENTES QUE ATUAM NO 1º. CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA

USANDO A REDE SOCIAL (FACEBOOK) COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

O EDUCAR SENSÍVEL E AS POSSIBILIDADES NO SÉCULO XXI. Palavras chave: Educação sensível; experiências; sensibilidade; humanização.

RELATO DE ESTÁGIO PEDAGÓGICO VOLUNTÁRIO NA DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS NO CONTEXTO ESCOLAR

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE SETEMBRO DE 2012 EREM LUIZ DELGADO

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

NOVOS CAMINHOS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

PROFESSORES DO CURSO DE TECNOLOGIA EM HOTELARIA: CONHECENDO A CONSTITUIÇÃO DE SEUS SABERES DOCENTES SILVA

Formação de Professores: um diálogo com Rousseau e Foucault

tido, articula a Cartografia, entendida como linguagem, com outra linguagem, a literatura infantil, que, sem dúvida, auxiliará as crianças a lerem e

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

SUA ESCOLA, NOSSA ESCOLA PROGRAMA SÍNTESE: NOVAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA

1 Na formação é diferente, porque é um processo de desenvolvimento pessoal. A formação

IESG - INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE GARÇA LTDA. Rua América, 281 Garça/SP CEP (14)

Atividades CTS em uma abordagem argumentativa: a reflexão de um futuro professor

A Prática Educativa na EAD

UTILIZAÇÃO DA PLATAFORMA MOODLE PARA O ENSINO DE MATRIZES E DETERMINANTES

Mostra de Projetos Tribuninha

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

DICA PEDAGÓGICA EDUCAÇÃO INFANTIL

INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E A RECONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

O blog no processo de ensino e aprendizagem em Ciências: horizontes e possibilidades

OS SABERES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA. Cleber Luiz da Cunha 1, Tereza de Jesus Ferreira Scheide 2

PSICOPEDAGOGIA. DISCIPLINA: Desenvolvimento Cognitivo, Afetivo e Motor: Abordagens Sócio Interacionistas

MANUAL DO CURSO SUPERIOR TECNOLOGIA EM GESTÃO COMERCIAL QP EM CONTACT CENTER

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

EDUCADOR INFANTIL E O PROCESSO FORMATIVO NA CONSTRUÇÃO DE ATORES REFLEXIVOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

PROJETO CONVIVÊNCIA E VALORES

TÍTULO: ALUNOS DE MEDICINA CAPACITAM AGENTES COMUNITÁRIOS NO OBAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

MATRIZES CURRICULARES MUNICIPAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA - MATEMÁTICA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA EM MOGI DAS CRUZES

AS CONTRIBUIÇÕES DO CURRÍCULO E DE MATERIAS MANIPULATIVOS NA FORMAÇÃO CONTINUADA EM MATEMÁTICA DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAS DO ENSINO FUNDAMENTAL

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR

PROFISSÃO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA UEPB MONTEIRO PB.

Métodos de ensino-aprendizagem aplicados às aulas de ciências: Um olhar sobre a didática.

Crenças, emoções e competências de professores de LE em EaD

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

PERFIL INVESTIGADOR DO LICENCIANDO EM MATEMÁTICA DO ESTADO DO MARANHÃO. Celina Amélia da Silva CESC/UEMA/MA, Brasil

REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES TUTORES PARA O ENSINO DE TEATRO À DISTÂNCIA

Unidade I ESCOLA, CURRÍCULO E CULTURA. Profa. Viviane Araujo

Entrevista sobre o Programa Kulto

FATORES INOVADORES NA PRODUÇÃO TEXTUAL DE LÍNGUA ESPANHOLA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES ESTA ESCOLA É O BICHO

A ARTE E A EXPRESSÃO CORPORAL NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL 1

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL II DA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL VIDAL DE NEGREIROS CUITÉ/PB

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

Educação Física: Mais do que um espaço de desenvolvimento físico, um espaço de possibilidade dialógica.

A MATEMÁTICA ATRÁVES DE JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA PROPOSTA PARA ALUNOS DE 5º SÉRIES

A ORALIZAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA EM SALA DE AULA

JOGOS NAS AULAS DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO PIBID: UMA POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E DE INTERAÇÃO

INFORMÁTICA NA ESCOLA: UM PROJETO COMO INSTRUMENTO DE ESTÍMULO PARA O INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR

A IMPORTÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS NO PROCESSO EDUCATIVO NAS ESCOLAS

Transcrição:

O SABER ESCUTAR COMO ELEMENTO NA CONSTRUÇÃO DO PLANEJAMENTO DE AULAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Lourdes Helena Rodrigues dos Santos, Claudete da Silva Lima Martins, Daniela Pedra de Mattos, Rozane Silveira Alves Universidade Federal de Pelotas/RS/Brasil lourdes.h@ig.com.br; claudetemartins@unipampa.edu.br;dani.mattos@yahoo.com.br;alves.rozane2gmail.co m Resumo A preocupação constante com a busca de mudanças nas práticas pedagógicas e nas relações professor/aluno que possibilitem caminhos para enfrentarmos os sérios desafios presentes na escola, nos provoca a destinarmos uma atenção especial a um aspecto fundamental no momento da construção do planejamento do trabalho pedagógico, o direito dos alunos de serem escutados, consultados e de emitirem opinião sobre o processo do qual fazem parte na sala de aula. A presente pesquisa teve como objetivo conhecer as ideias que possuem sobre o estudo da matemática, as crianças que serão alunas dos estagiários do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância da Universidade Federal Pelotas. A pesquisa foi de cunho qualitativo desenvolvendo sua metodologia através da coleta de dados online, obtida a partir de um roteiro de perguntas semiestruturadas, realizada presencialmente com alunos, pelas futuras estagiárias nas suas escolas campo de estágio. Ao concluir a pesquisa percebemos que escutar o aluno é fundamental, para a construção do planejamento, pois através da interação e do diálogo, podemos perceber as dificuldades, as necessidades, interesses e pontos de vista dos alunos, tornando mais fácil a interpretação de como poderemos ajudar no desenvolvimento do seu aprendizado, e no planejamento de aulas mais criativas, significativas e atraentes para os alunos. Palavras-chave: escuta, planejamento, educação a distância Resumen La preocupación constante con la busca por cambios en las prácticas pedagógicas y en las relaciones profesor/alumno que posibiliten caminos para enfrentarnos los serios desafíos presentes en la escuela, nos provoca a destinarnos una atención especial al un aspecto fundamental en el instante de la construcción del planeamiento del trabajo pedagógico, el directo de los alumnos de serien escuchados, consultados y de emitieren opinión sobre el proceso do cual hacen parte en la sala de aula. La presente 3855

pesquisa estuve como objetivo conocer las ideas que tienen sobre el estudio y la matemática, los niños que irán ser alumnos de los estagiários del Curso de Licenciatura de Matemática a Distancia de la Universidad Federal de Pelotas. La pesquisa fue de cuño cualitativo desarrollando su metodología a través de la coleta de dados online, obtenida a partir de un rutero de preguntas seme - estructuradas, realizada presencialmente con alumnos, por las futuras estagiritas en suyas escuelas campo de estágio. Al concluir la pesquisa percibimos que escuchar el alumno es fundamental, para la construcción del planeamiento y que a través de la interacción y del diálogo, podemos percibir las dificultades, las necesidades, intereses y puntos de vista de los alumnos, tornando menos difícil la interpretación de cómo podremos ayudar en el desarrollo de su aprendizaje y un planeamiento de clases creativos y atrayentes para los alumnos. Palabras-chave: escucha, planeamiento, educación a distancia 1. NOSSO CENÁRIO As discussões realizadas nos cursos de formação inicial de professores tem apresentado de uma maneira enfática a preocupação com as práticas de ensino, baseando o olhar na necessidade da qualificação das práticas pedagógicas desenvolvidas no cotidiano escolar. De acordo com Freire (1996), se faz necessário, na escola, uma prática pedagógica participativa, dialógica e democrática, nesse contexto saber escutar é condição para o desenvolvimento de uma prática educativa interativa entre professores e alunos. Na medida em que aprendemos a escutar, paciente e criticamente, o educando, afirma Freire, podemos passar a falar com ele e não falar para ele, como se fôssemos detentores da verdade a ser transmitida. As pesquisas na área da sociologia da infância indicam cada vez mais a necessidade de estudos que permitam dar voz às crianças, ou seja, saber mais sobre o que gostam, o que desejam e o que pensam; estimulando a compreensão das crianças como atores capazes de criar e modificar culturas transformando a realidade em que estão inseridas. Sarmento (2005, p.364), propõe que, compreender o estudo da criança levanos a reconhecermos a infância como categoria geracional própria, ou seja, as crianças a partir de sua alteridade como os múltiplos outros, perante os adultos. Diante desta realidade, faz-se necessário redimensionar o foco do processo de aprendizagem na escola, incluindo na construção do planejamento do trabalho pedagógico, um aspecto fundamental, o direito das crianças de serem consultadas, 3856

escutadas, de exercerem sua liberdade de expressão e opinião sobre o processo do qual fazem parte. Nesse sentido, Freire (1996) diz, que a escuta do professor é essencial para que o mesmo possa ajudar o aluno a reconhecer-se como construtor de seu conhecimento, e que é a partir desse (re)-conhecimento que aprendente e ensinante podem se conectar para um estabelecimento de relações que venham contribuir para um avanço no processo de desenvolvimento para a aprendizagem e o ensino. Na realidade da Educação a Distância, este escutar se faz através do Ambiente Virtual de Aprendizagem, onde a interação é feita com o aluno. Escutar implica as leituras das mensagens dos alunos e nossa fala é feita através da escrita que respondemos a estes. Quando há a oportunidade dos alunos se expressarem, quando proporcionamos um ambiente virtual em que eles se sintam motivados para as suas falas, estamos escutando nossos alunos, deixando de lado os currículos tradicionais e entrando em uma perspectiva crítica, abrindo portas para que possamos conhecê-los de fato, bem como valorizando-os como pessoas e não apenas como alunos virtuais. (CORRÊA, SANTOS, SOARES e SANTOS, 2010) Baseado nessas premissas, a presente pesquisa teve como objetivo conhecer as ideias que as crianças, que serão alunas dos estagiários do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância da Universidade Federal de Pelotas, possuem sobre o estudo da matemática. Esta pesquisa justifica-se por considerarmos de grande importância a contribuição que as ideias dos alunos fornecerão como subsídios pedagógicos, na construção e execução dos planejamentos para as práticas docentes dos estagiários. 2. CAMINHOS PERCORRIDOS A pesquisa foi de cunho qualitativo desenvolvendo sua metodologia através da coleta de dados online, obtida a partir de um roteiro de perguntas semiestruturadas realizada presencialmente pelas futuras estagiárias, nas suas escolas campo de estágio, com base em um estudo indicado na disciplina de Trabalho de Campo 1, do Curso de Licenciatura de Matemática a Distância da Universidade Federal Pelotas. As questões 3857

que pautaram a entrevista realizada, com os alunos de 5ª à 8ª série do Ensino Fundamental, foram: o que os alunos pensam sobre a disciplina de matemática? O que os alunos gostariam de saber sobre matemática? Qual a importância que os alunos dão para a matemática? Quais as sugestões que os alunos dão para o planejamento das aulas de matemática? No desenvolvimento da pesquisa foram analisadas respostas das entrevistas realizadas com 48 alunos de escolas de abrangência dos Polos do Curso Licenciatura de Matemática a Distância, das cidades de Camargo, Restinga Sêca e Cachoeira do Sul, localizadas na região Sul, do Brasil. 3. ANÚNCIOS DOS ACHADOS Na análise das respostas percebeu-se que os alunos consideram a matemática uma disciplina muito importante no currículo escolar, contudo, grande parte a considera complicada e difícil para aprender e entender, necessitando diretamente de uma boa explicação por parte do professor e bastante interesse, dedicação e concentração dos alunos. Alguns alunos, não percebem aplicação prática da matemática, julgando-a como desnecessária. No entanto, a maioria dos alunos pensa que a matemática é indispensável para o dia-a-dia, e para tudo que vão realizar. No que diz respeito à importância da matemática, a maioria dos alunos destacaram a matemática como a disciplina mais utilizada fora da escola. No entendimento deles, a matemática tem a sua utilização diária e aplicação para toda a vida, no dia-a-dia e na profissão que escolherão no futuro. Em termos práticos, segundo as respostas dos alunos, a importância de aprender matemática, está relacionada às compras do supermercado, saber comparar preços, o jogo de baralho, medir, pesar, fazer receitas e etc. Em relação a que gostariam de aprender foi mencionado, o conhecimento sobre o histórico da matemática, saber mais sobre conteúdos com aplicação prática no cotidiano, como juros, porcentagem, descontos. Alguns responderam que gostariam de aprender novos conteúdos, que a professora os ensinasse de forma diferente, divertida com jogos e exemplos práticos. 3858

A realização da pesquisa possibilitou aos estagiários do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância perceberem que para que seja possível a construção de uma aprendizagem significativa é necessário ensinar a lógica matemática e a trabalhar com atividades que imitam a realidade vivenciada pelo aluno no seu dia-a-dia. Com a construção de um planejamento pedagógico que vise re-significar a matemática, produzindo aulas mais criativas capazes de produzirem melhorias nas aprendizagens e chamar atenção dos alunos. Nesse sentido, investigar a escuta dos alunos por meio da presente pesquisa, além de permitir a reflexão em torno da temática apresentada, permitiu aos próprios estagiários e as pesquisadoras se inserirem num processo formativo onde ensino e pesquisa encontram-se intimamente interligados, a favor de uma educação libertadora e, portanto, significativa para todos os envolvidos, pois Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p. 30-31). 4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nas palavras dos alunos podemos reconhecer a grande contribuição que o trabalho de investigação pode proporcionar por oportunizar aos estagiários a aproximação com a realidade e o conhecimento sobre diversos aspectos que perpassam as relações pedagógicas nas aulas de matemática, tendo possibilitado a busca pela construção deste conhecimento de uma forma bastante prática e vivencial, possibilitando com isso o enfoque nas necessidades, interesses e nos desejos de mudanças sugeridos pelos alunos. A prática da pesquisa através da escuta das vozes das crianças deveria fazer parte de uma prática mais freqüente no momento do planejamento e organização da aula de matemática acontecendo de forma aprofundada e abrangente. Tal aspecto se tornou evidente diante da relevância das falas dos alunos, no que se refere ao desafio de 3859

compreender o que se passa com eles e a repensar o significado das atitudes, comportamentos, manifestações de satisfação ou de insatisfações diante das propostas apresentadas pela professora nas aulas de matemática. Enfim, as contribuições advindas deste estudo estão em busca de novas perspectivas, de mudanças que qualifiquem a construção do planejamento para as práticas pedagógicas nas aulas matemática, que serão realizadas pelo grupo de estagiários do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância, no espaço escolar das escolas municipais, e reconhece na escuta a vozes das crianças uma contribuição que não pode deixar de ser considerada nesse contexto. REFERÊNCIAS Abramowicw, A.(2006). Trabalhando a diferença na educação infantil. São Paulo: Ed. Moderna Corrêa, L., Santos, T., Soares, S. & Santos, L.(2010). Sobre o saber escutar: elementos para o diálogo na relação professor e aluno na educação a Distância. Painel apresentado no 1º Congresso Internacional de Educação a Distância da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas Delgado, A. C. (2003) Infâncias e Crianças: o que nós adultos sabemos sobre elas? Rio Grande, RS, Brasil. Palestra ministrada em um curso de extensão para educadoras de educação infantil: Infância e televisão. Rio Grande Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.são Paulo: Paz e Terra. Morin, E. (2000). Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez Sarmento, M. (2005). Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Revista Educação e Sociedade, Campinas, vol. 26, n.91, pg. 361-378 3860

Sirota, R. (2001). Emergência de uma sociologia da infância: evolução do objeto e do olhar. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n.112, p.7-31 3861