DESCRIÇÃO DAS LARVAS DE Psectrogaster amazonica E Potamorhina altamazonica (CURIMATIDAE, PISCES) DA AMAZONIA CENTRAL.

Documentos relacionados
04) Astyanax altiparanae Garutti & Britski, 2000

16) Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

55) Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)

19) Leporinus friderici (Bloch, 1794)

30) Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836)

23) Schizodon fasciatus Spix & Agassiz, 1829

56) Rhinelepis strigosa Valenciennes, 1840

48) Pseudoplatystoma corruscans (Agassiz, 1829)

60) Astronotus ocellatus (Cuvier, 1829)

38) Auchenipterus osteomystax (Ribeiro, 1918)

Descrição das Larvas das Principais Espécies de Peixes Utilizadas pela Pesca no Pantanal

OCORRÊNCIA DE OVOS Ε LARVAS DE CHARACIFORMES MIGRADORES NO RIO NEGRO, AMAZONAS, BRASIL

Ovos e larvas de peixes de água doce... 32) Hoplias sp.

NOTAS Ε COMUNICAÇÕES A REPRODUÇÃO Ε O INÍCIO DA VIDA DE Hoplias malabaricus (Erythrinidae; Characiformes) NA AMAZÔNIA CENTRAL

Ordem Tetraodontiformes

Cyprinodontiformes. Gilmar Baumgartner Carla Simone Pavanelli Dirceu Baumgartner Alessandro Gasparetto Bifi Tiago Debona Vitor André Frana

Ordem Scorpaeniformes

ANALISE DE ICTIOPLÂNCTON AHE- JARI

Ordem Gadiformes. Ana Cristina Teixeira Bonecker Claudia Akemi Pereira Namiki Márcia Salustiano de Castro Paula Nepomuceno Campos

SUPERCLASSE PEIXES 2) CLASSE CONDRÍCTEIS PEIXES CARTILAGINOSOS

Cypriniformes. Gilmar Baumgartner Carla Simone Pavanelli Dirceu Baumgartner Alessandro Gasparetto Bifi Tiago Debona Vitor André Frana

17) Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1847

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

A Bacia Amazônica: Conectividade, Migrações e Ciência Cidadã Conhecendo os peixes migradores

Evolução dos vertebrados

Metodologia. Gilmar Baumgartner Carla Simone Pavanelli Dirceu Baumgartner Alessandro Gasparetto Bifi Tiago Debona Vitor André Frana

Ordem Ophidiiformes. Ana Cristina Teixeira Bonecker Claudia Akemi Pereira Namiki Márcia Salustiano de Castro Paula Nepomuceno Campos

RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA NA ÁREA DA UHE MAUÁ

5 Ecologia e biologia do peixe Mugil liza (tainha)

ABUNDÂNCIA RELATIVA DE Auchenipterus nuchalis DO RESERVATÓRIO COARACY NUNES

BIOLOGIA - 1 o ANO MÓDULO 60 CORDADOS

Composição e abundância de peixes da interface entre as águas. de crepúsculos matutino e vespertino, no lago Catalão, Amazonas, Brasil

20/10/2009 DOBRAMENTO DO EMBRIÃO DOBRAMENTO DO EMBRIÃO DOBRAMENTO DO EMBRIÃO. dá FORMA CILÍNDRICA ao embrião

A GNATHOSTOMATA DATA: 13/08/13 PROFS. ELEONORE SETZ, FELIPE TOLEDO

Gymnotiformes. Gilmar Baumgartner Carla Simone Pavanelli Dirceu Baumgartner Alessandro Gasparetto Bifi Tiago Debona Vitor André Frana

Ordem Beloniformes. Ana Cristina Teixeira Bonecker Claudia Akemi Pereira Namiki Márcia Salustiano de Castro Paula Nepomuceno Campos

Produção de peixes nativos: vocação do estado mato-grossense. Darci Carlos Fornari Genetic Fish Rise

NÚMERO DE VÉRTEBRAS DE CHARACIFORMES DO RIO AMAZONAS Ε SEU USO NA IDENTIFICAÇÃO DE LAR

FILO CHORDATA Biologia Professor João

Dendrophryniscus bokermanni, sp.n. Figs 1-12

Ordem Pleuronectiformes

Ordem Anguilliformes

BIOLOGIA IV Aula 05 Profa. Marcela Matteuzzo. Equinodermas e Protocordados

Reino Animalia 0 (Metazoa) Filo Chordata. Natália A. Paludetto

REVISTA BRASILEIRA DE ZOOLOGIA

ESTUDO MORFOLÓGICO DE SCHISTOSOMA MANSONI PERTENCENTES A LINHAGENS DE BELO HORIZONTE (MG) E DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

André Vieira Galuch 1, Mirian Rodrigues Suiberto 2, Keshiyu Nakatani 1,3,4, Andréa Bialetzki 3 * e Gilmar Baumgartner 5

Cordados I. Peixes, Anfíbios e Répteis. Cursinho Popular de Ensino Pré-Vestibular TRIU Pela popularização da universidade pública

Larva de quinto estádio e pupa de Caligo martia ~Godart) (Lepidoptera, Nymphalidae, Brassolinae)

P E I X E S. Quanto ao esqueleto:

Filo Chordada (Cordados) Vitor Leite

Slide 1. A1 Adriana; 31/08/2017

28 LOPES & SAMPAIO: OCORRÊNCIA DE ALBULA NEMOPTERA NA BAHIA Introdução A família Albulidae, pertencente à ordem Albuliformes, está constituída por dua

Caracterização morfológica de larvas de peixes capturadas no complexo estuarino dos rios Pará e Paracauarí (estado do Pará - Brasil)

Chave para gêneros do baixo rio Iguaçu, com categorias superiores

Perciformes. Gilmar Baumgartner Carla Simone Pavanelli Dirceu Baumgartner Alessandro Gasparetto Bifi Tiago Debona Vitor André Frana

Cor C da or do da s do Prof. Fernando Belan Prof. Fernand - BIOLOGIA MAIS o Belan

GUATUBESIA, NOVO GÊNERO DE GONYLEPTIDAE

ALIMENTAÇÃO DE Rachycentron canadum NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

UM NOVO GÊNERO E DOIS ALÓTIPOS DE "GONY- LEPTIDAE" (OPILIONES) 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BILÓGICAS CURSO DE BACHARALERADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS LORENA SANCHES VIEIRA

Sérgio Ypiranga Pinto *

11. Núcleos de conservação de peixes

Filo extremamente diversificado quanto ao tamanho e ao aspecto geral de seus representantes O agrupamento baseia-se no desenvolvimento embrionário,

ACERCA DE UM SUB-HOLÓSTEO DO KARROO DE ANGOLA POR CARLOS TEIXEIRA

Os peixes representam a maior classe em número de espécies conhecidas entre os vertebrados. Acredita-se que os peixes tenham surgido por volta de 540

Revta bras. Ent. 32(2): OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XXI. (OPILIONES, GONYLEPTIDAE) ABSTRACT

Descrição do girino de Sphaenorhynchus surdus (Cochran, 1953) (Anura, Hylidae)

5 o ano Ensino Fundamental Data: / / Atividade de Matemática e Ciências Revisão Nome:

FICHA BIOMÉTRICA PARA PEQUENOS CETÁCEOS (Adaptado de NORRIS, 1961)

ESPÉCIES ARBÓREAS DA BACIA DO RIO MAUÉS-MIRI, MAUÉS AMAZONAS

José Celso O. MALTA 1

Crustáceos (crusta= crosta ou pele grossa)

Espécie Indígena ou Autóctone Originária de um determinado País ou região. Espécie endémica Só existe numa determinada região ou País

Ordem Stomiiformes. Ana Cristina Teixeira Bonecker Claudia Akemi Pereira Namiki Márcia Salustiano de Castro Paula Nepomuceno Campos

Sistema Classificação Lineano

Caracterização do desenvolvimento inicial de Auchenipterus osteomystax (Osteichthyes, Auchenipteridae) da bacia do rio Paraná, Brasil

Filogenia e caracterização dos Teleostomi

BIOLOGIA ANIMAL II. 8 classes de Moluscos:

PEIXES COMERCIAIS DO ESTUÁRIO DOS RIOS TIMONHA E BITUPITÁ, CE NORDESTE DO BRASIL

Resumo. Introdução. ictioplâncton são de extrema importância na determinação dos períodos e locais de desova, tornando-se fundamentais tanto para a

INTRODUÇÃO. Angela VARELLA 1

Prova de Aferição de Matemática e Ciências Naturais Prova 58 5.º Ano de Escolaridade 2019

Atualmente são conhecidas mais de espécies atuais de animais vertebrados, com as mais diferentes formas e habitats.

Colégio Santa Dorotéia Área de Ciências da Natureza Disciplina: Ciências Ano: 7 o Ensino Fundamental Professores: Bernardo Dias e Danielle Ornelas

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE MARECHAL CANDIDO RONDON CENTRO DE CIENCIAS AGRÁRIAS PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

A forma do corpo provavelmente evoluiu a partir de um tipo inicial semelhante ao das salamandras, nadando por ondulações do corpo e cauda.

O início da conquista do ambiente terrestre

KALIPHARYNX PI RAM BO A E GEN. ET SP. N. (TREMATODA : FELLODISTOMIDAE) PARASITA DO PEIXE PULMONADO AMAZÔNICO LEPIDOSIREN PARADOXA FITZINGER

Oi pessoal dos 8 os anos, estão com saudade das atividades escolares? Pois bem, precisamos dar seqüência aos estudos e, na volta às aulas, no dia 17,

DESCRIÇÃO DA DIETA DO LAMBARI BRYCONOPS MELANURUS (CHARACIDAE, TETRAGONOPTERINAE) E DAS POSSÍVEIS RELAÇÕES DA ESPÉCIE COM A MATA CILIAR

Atividade de Recuperação Paralela

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

download free Comprimento padrão 115,0 mm

RELAÇÃO PESO-COMPRIMENTO DE COLOSSOMA MACROPOMUM E PROCHILODUS NIGRICANS A PARTIR DE DADOS DE DESEMBARQUE EM MANACAPURU AM 1

ONGEP PRÉ-PROVA BIOLOGIA 2013

Transcrição:

DESCRIÇÃO DAS LARVAS DE Psectrogaster amazonica E Potamorhina altamazonica (CURIMATIDAE, PISCES) DA AMAZONIA CENTRAL. Flavio Lima NASCIMENTO 1, Carlos ARAÚJO-LIMA 2 RESUMO Foram descritas as larvas de Psectrogaster amazonica e Potamorhina altamazonica, obtidas por fecundação artificial. As características morfológicas, morfométricas foram apresentadas segundo a classificação de estádios de desenvolvimento. As larvas das duas espécies podem ser separadas pelo padrão de pigmentação e número de miômeros. Palavras-chave: Amazônia, larvas de peixes, desenvolvimento larval, Characiformes, Potamorhina, Psectrogaster. Larval Description of Psectrogaster amazonica and Potamorhina altamazonica (CURIMATIDAE, PISCES) of Central Amazon. ABSTRACT Larvae of Psectrogaster amazonica and Potamorhina altamazonica, obtained by artificial fertilization, were described. The morphologic, morphometric characteristics are presented according to the classification of development. The larvae of the two species can be separated by their pigmentation patterns and myomere numbers. Keywords: Amazon, fish larvae, larval development, Characiforms, Potamorhina, Psectrogaster: INTRODUÇÃO Informações sobre a identificação das larvas de Characiformes são importantes para se entender a ecologia reprodutiva de peixes da Amazônia Central. Há informações de correlação da reprodução e o período larvai de várias espécies de Characiformes com o rio Amazonas. Algumas espécies, como Colossoma macropomum, Potamorhina latior e Mylossoma ssp foram amostradas quando migravam dos lagos de várzea para o canal principal, com gônadas maduras (GOULDING & CARVALHO, 1982; COX-FERNANDES, 1988). Também existem no rio, grande número de larvas de Characiformes (ARAUJO- LIMA, 1984; PETRY, 1989). Estudos detalhados sobre a ecologia das larvas não podem ser realizados, especialmente, devido a falta de conhecimento sobre as larvas e sua identificação. O desenvolvimento larval das espécies de Characiformes da Amazônia Central é conhecido para apenas 4 espécies (ARAUJO-LIMA, 1985; 1991 ; ARAUJO-LIMA et al, no prelo) das 132 encontradas por JUNK et al (1983) nesta comunidade. Neste trabalho apresentamos a descrição das larvas de Psectrogaster amazônica Eigenmann and Eigenmann e Potamorhina altamazonica Cope. Ambas são comuns na calha central do rio Amazonas e têm crescente impor- 1 CPA Pantanal, EMBRAPA, CP-109, Corumbá, MS, 79320-900 2 DBA, 1NPA, CP-478, Manaus, AM, 69011 ACTA AMAZÔNICA 23(4):457-472. 1993.

MATERIAL E MÉTODOS Obtenção de amostras As larvas de Potamorhina altamazonica e Psectrogaster amazônica foram obtidas por fecundação artificial. Os reprodutores de JR amazônica foram capturados com malhadeiras de 25 e 30 mm entre-nós opostos, na embocadura do lago Catalão, no rio Amazonas. Após a extrusão, os reprodutores (6 machos e 3 fêmeas) foram devidamente numerados, fixados em formol a 10% por 48 horas e posteriormente colocados em álcool etilico comercial a 70%. A fecundação dos gametas foi feita a seco. Os ovos foram incubados em caixas de isopor com água branca do rio Amazonas. Decorridos 12 horas após a fecundação, os ovos eclodiram e as larvas foram transportadas em sacos plásticos para os aquários no laboratório, onde permaneceram até o final do período larvai. A temperatura da água foi mantida próxima à do rio (29 C -±4; ARAÚJO-LIMA, 1984) por estabilizadores automáticos de temperatura, e monitorada a cada trinta minutos por um "Data/Logger". A manutenção da qualidade da água foi feita por filtração biológica, esterilização com raios ultra-violeta e renovação de 80 a 90% da água a cada 15 dias. A partir do terceiro dia de vida as larvas foram alimentadas 2 vezes ao dia com zooplàncton natural (<100 um), coletado nos tanques da Coordenação de Pesquisa em Aquicultura do INPA, e fornecido na proporção de 1 a 3 indivíduos/ml, seguindo HUNTER (1984). As larvas de P. altamazonica, foram obtidas de uma desova realizada em 1989. Estavam conservadas em formol a 4% e pertenciam à coleção da Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática do INPA. Essas amostras permitiram descrever a espécie até a fase de mesolarva. O segundo e terceiro estádios de protalarvas, caracterizado pelo surgimento da bexiga natatòria e das nadadeiras peitorais, não foram descritos, devido à ausência de exemplares na coleção. Análise das amostras As larvas foram amostradas a cada 12 horas durante a primeira semana e a partir daí, a cada 24 horas. Os exemplares eram anestesiados, antes de serem fixados em formalina a 4%. Para melhor conservação, as amostras foram mantidas na geladeira e abrigadas da luz. Posteriormente, cada larva foi numerada e acondicionada individualmente. As amostras foram separadas por estádios de desenvolvimento (SNYDER, 1976). As medidas foram tomadas em um estéreo-microscópio com uma ocular micromètrica. As principais medidas corporais foram tomadas segundo ARAUJO-LIMA (1991). A descrição e registro dos padrões de pigmentação foram realizadas em estéreo-microscópio com fundo branco, levando-se em conta a forma (ramificado, punctiforme ou mancha= vários melanóforos punctiformes unidos), o número e a posição dos melanóforos em relação às estruturas do corpo da larva. As ilustrações foram feitas com auxílio de uma câmara

clara seguindo as técnicas descritas por FABER & GADD (1983). O número de miômeros totais incluiu todas as unidades, do primeiro occipital incompleto ao último urostilo. Na contagem dos miômeros pré-anais foram consideradas todas as unidades do primeiro occipital até o último miômero, cortado medianamente pela tangente que passa pela margem anterior do ânus. As contagens de miômeros foram feitas em um microscópio com luz polarizada. RESULTADOS Foram analisadas 376 larvas de Psectrogaster amazônica e 34 larvas ώ Potamorhina alt amazônica, provenientes de três desovas e de uma desova, respectivamente. Após a fecundação, os ovos de P. amazônica ficaram em repouso no fundo da caixa de incubação. Aproximadamente 6 horas após a eclosão, as larvas buscavam a superfície, mantendo esse movimento vertical até o terceiro dia de vida livre, quando passaram a nadar no sentido horizontal. Descrição da morfologia e pigmentação das larvas de Psectrogaster amazônica Protolarva: Estádio 1 - recém eclodida (Fig.l): Comprimento padrão de 2,1 a 2,6 mm. Saco vitelínico grande e elíptico, medindo no comprimento 30 a 45% e na largura 20 a 30%, em relação ao Figura 1. Protolarva de Psectrogaster amazônica (estádio I - cp= 2,4 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; sv= saco vitelínico; td= tubo digestivo; a= ânus)

comprimento padrão. Seção da nadadeira embrionária ventral inserida na margem posterior do saco vitelínico. Todas as larvas com duas manchas triangulares bem definidas no focinho, duas no saco vitelínico: uma na região anterior junto à cabeça e outra na região posterior junto à nadadeira embrionária. De 1 a 9 melanóforos na margem superior da seção préanal da nadadeira embrionária ventral. Estádio 2 - bexiga natatòria inflada (Fig.2) Comprimento padrão de 2,5 a 3,5 mm. Saco vitelínico medindo no comprimento 15 a 23% e na largura 9 a 12% em relação ao comprimento padrão. Opérculo definido. Boca sub-terminal. Β Figura 2: Protolarva de Psectrogaster amazônica (estádio 3 - cp= 3,5 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; bn= bexiga natatòria; sv= saco vitelínico; p= pericàrdio).

Todas as larvas com olhos totalmente pigmentados. Bexiga natatòria inflando e levemente pigmentada na superfície dorsal. Melanóforos espalhados irregularmente sobre o focinho. Mancha de melanóforos da região anterior do saco vitelínico cobrindo a região anterior do pericàrdio. Melanóforos na linha mediana ventral do saco vitelínico ligando as manchas da região posterior e anterior. Margem superior da seção pré-anal da nadadeira embrionária ventral com 3 a 9 melanóforos. Estádio 3 - início da alimentação exógena (Fig.3): Comprimento padrão de 3,8 a 4,0 mm. Todas as larvas sem saco vitelínico. Boca terminal e articulada, circundada por pequenos melanóforos ramificados. Bexiga natatòria pigmentada dorsalmente. Série de melanóforos na parte dorsal do tubo digestivo. Abdômem coberto por uma rede de melanóforos. Melanóforos ramificados no dorso da cabeça e no focinho. Opérculo com manchas externas esparsas. Figura 3. Protolarva de Psectrogaster amazônica (estádio 4 - cp= 4,0 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; op= opérculo; nt= notocorda)

Toda a superfície lateral do corpo com melanóforos ramificados alinhados verticalmente. Nadadeira embrionária ventral com 1 a 3 pequenos melanóforos na margem superior da seção préanal e duas manchas de melanóforos, acima e abaixo do final da notocorda. Mesolarva - nadadeira caudal em formação (Fig.4). Comprimento padrão de 6,2 a 7,9 mm. Dentes cônicos no dentário e prémaxilar. Extremidade da nadadeira embrionária ventral inserida na linha vertical mediana do abdômen. Nadadeira dorsal sem raios, delineada na nadadeira embrionária. Raios na nadadeira caudal. Todas as larvas com pigmentação externa na cabeça, região ventral e lateral do tubo digestivo. Pigmentação intensa no dorso e porção lateral do tronco até o ânus; a partir daí, pigmen- Figura 4: Mesolarva de Psectrogaster amazônica (cp= 7,2 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; nd= nad. dorsal; nc= nad. caudal; tb= tubo digestivo; a= ânus; p= pericàrdio; bn= bexiga natatòria).

tação na parte ventral do tronco até base da nadadeira caudal. Melanóforos na base das nadadeiras dorsal, caudal e na nadadeira embrionária pós-anal. De 1 a 3 melanóforos na margem superior da seção pré-anal da nadadeira embrionária ventral. Pigmentação interna na lateral do pericàrdio e dorso da bexiga natatòria. Metalarva - nadadeira ventral presente (Fig.5): Comprimento padrão de 8 a 13 mm. Todas as nadadeiras com raios. O número de raios de nove metalarvas foi de 10 a 12 (moda 11) nas nadadeiras dorsal e anal e 9 na nadadeira pèlvica. Nas nadadeiras peitoral e caudal não foi possível contá-los. Nadadeira adiposa formada e com pequenos melanóforos punctiformes. Escamas finas e transparentes. Larvas densamente pigmentadas Figura 5. Metalarva de Psectrogaster amazônica (cp= 9,0 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; nd= nad. dorsal; n.ad= nad adiposa; na= nad. anal; np= nad. pèlvica).

com melanóforos sobre toda sua região dorsal. Porção lateral do abdômen com melanóforos ramificados. Descrição da morfologia e pigmentação das larvas de Potamorhina altamazonica Protolarva: Estádio 1 - recém-eclodida (Fig.6): Comprimento padrão de 2,1 a 3,0 mm. Saco vitelínico grande e elíptico medindo no comprimento 28 a 32% e na largura 15 a 17% em relação ao comprimento padrão. Extremidade anterior da nadadeira embrionária ventral inserida na margem posterior do saco vitelínico. Todas as larvas com duas manchas triangulares bem definidas no focinho, uma mancha na região anterior do saco vitelínico e um melanóforo no final do tubo digestivo, acima do ânus.

Estádio 4 - olhos pigmentados (Fig.7): Comprimento padrão de 3,5 a 4,0 mm. O saco vitelínico medindo no comprimento de 1 a 2% e na largura 0,5 a 0,8% em relação ao comprimento padrão. Extremidade da nadadeira embrionária ventral inserida na linha mediana vertical do estômago. Olhos pigmentados. Boca terminal e articulada. Todas as larvas com a região anterior do saco vitelínico e o pericàrdio cobertos por uma mancha de melanóforos. Bexiga natatòria inflada e pigmentada no dorso. Tubo digestivo com melanóforos ramificados na sua região látero-superior e um acima do ânus. Todas as larvas com pigmentação interna marcando a região superior da cavidade branquial. Manchas Figura 7. Protolarva de Potamorhina altamazonica (estádio 4 - cp= 3,5 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; op= olhos pigmentados; td= tubo digestivo; a= ânus; cb= cavidade branquial)

triarí triangulares na região superior do focinho e algumas larvas com um grande melanóforo na região ventral da mandíbula. Estádio 5 - início da alimentação exógena (Fig. 8): Comprimento padrão de 3,0 a 4,0 mm. Boca terminal, articulada. Saco vitelínico ausente. Alimentação exógena iniciada. Todas as larvas com pequenos melanóforos espalhados no focinho e na região ventral da mandíbula. Lábios delineados por melanóforos punctiformes. Pigmentação interna na região da cavidade branquial. Bexiga natatòria dorsalmente pigmentada. Tubo digestivo com 9 a 11 melanóforos em cada lateral. Figura 8. Protolarva de Potamorhina altamazonica (estádio 5 - cp= 3,9 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; cb= cavidade branquial; bn= bexiga natatòria; tb= tubo digestivo)

Mesolarva (fig.9): Comprimento padrão de 3,5 a 4,0 mm. Dentes cônicos no dentário e prémaxilar. Extremidade da nadadeira embrionária ventral inserida ventralmente a 36% do comprimento padrão. Nadadeira dorsal com os primeiros raios. Nadadeira caudal com raios não bifurcados. Todas as larvas com melanóforos esparsos no dorso da cabeça, vários melanóforos punctiformes no dentário e ventralmente na mandíbula. Abdômen com pigmentação esparsa nas regiões lateral e ventral. Vários melanóforos distribuídos ao longo das laterais do tubo digestivo, pequenos melanóforos formando um anel próximo ao ânus. Pequenos melanóforos punctiformes entre os raios da nadadeira caudal. Mancha de melanóforos na nadadeira embrionária pós- Figura 9 Mesolarva de Potamorhina altamazonica (cp= 4,0 mm) (A= vista lateral; B= vista dorsal; C= vista ventral; td= tubo digestivo; a= ânus; bn= bexiga natatòria; p= pericàrdio)

anal junto ao corpo, seguida de pequenos melanóforos até a base da nadadeira caudal. Bexiga natatòria e pericàrdio intensamente pigmentados na face anterior. Morfometria das larvas de Psectrogaster amazônica e Potamorhina altamazonica As protolarvas de P. amazônica (2,1 a 4,2 mm de comprimento padrão) e P. altamazonica (2,1 a 4 mm de comprimento padrão), apresentaram relações positivas entre cp e as razões: comprimento da cabeça/cp (Fig. 10-A), comprimento do focinho/comprìmento padrão (Fig. 11-A), distância interorbital/comprimento padrão (Fig. 11- C) e diâmetro do olho/comprimento padrão (Fig. 12-A). As relações foram negativas para: comprimento pré-dorsal/comprimento padrão (Fig. 10-B), comprimento pré- ventral/comprimento padrão (Fig. 10-C) e comprimento préanal/comprimento padrão (Fig. 11-Β). As relações nas mesolarvas se mantiveram praticamente constantes para todas as medidas (Fig. 10,11 e 12). Houve sobreposição entre as duas espécies em todas as medidas. Nas 139 protolarvas de P. amazônica analisadas, o número de miômeros totais variou de 32 a 33 (moda= 32) e os pré-anais de 21 a 23 (moda= 21). As protolarvas de P. altamazonica apresentaram o número de miômeros totais e pré-anais constantes em 37 e 23 (n= 29), respectivamente (Fig. 12). O número de miômeros totais separa as duas espécies. DISCUSSÃO Comparando-se as descrições de Psectrogaster amazônica e Potamorhina altamazonica, nota-se que os caracteres de pigmentação e número de miômeros são os mais importantes para diagnosticar as duas espécies. A sobreposição dos dados morfométricos inviabilizam sua utilização na separação das larvas. A contagem do número de miômeros totais separou Psectrogaster amazônica á 1, Pbtamorhina altamazonica e de P. latior descrita por Araujo-Lima (1991), mas não Potamorhina latior de Potamorhina altamazonica (fig. 13). A presença de pigmentação apenas na região anterior do saco vitelínico e a ausência de melanóforos na seção pré-anal da nadadeira embrionária das duas espécies de Potamorhina é uma característica adicional marcante para separá-las de Psectrogaster amazônica. O padrão de pigmentação, entretanto, não difere as protolarvas de P. altamazonica de P. latior. Apenas na fase de mesolarva é possível distinguilas, pois P. latior tem o dorso mais pigmentado e não apresenta mancha de melanóforos na região da nadadeira anal, como P. altamazonica. A presença de um melanóforo na testa das protolarvas parece ser uma característica da família, pois estava presente nas três espécies. Seria interessante checar sua presença nas larvas de Psectrogaster rutiloides, Potamorhina pristigaster e outras

Comprimento padrão Figura 10. Variação das razões do Comprimento da cabeça/ Comprimento padrão (A), Comprimento pré-dorsal/ Comprimento padrão (B), Comprimento pré-ventral/ Comprimento padrão (C), em função do comprimento padrão para Psectrogaster amazônica (quadrado vazado) e Potamorhina altamazonica (círculo cheio)

0,12 0,1 0,08 0,06 0.04 0,02 cm m o α ο α o ο Ο 0D00 Ο ι ο ο ο ο α π ο β 0. 10 12 14 0,3 0,25 0,2 0,15 m o 0,1 0,05 0, 10 12 14 Comprimento padrão Figura 11. Variação das razões do Comprimento do focinho/ Comprimento padrão (A), Comprimento pré-anal/ Comprimento padrão (B), Distância interorbital/ Comprimento padrão (C), em função do comprimento padrão para Psectrogaster amazônica (quadrado vazado) e Potamorhina altamazonica (círculo cheio)

CL O O O ε a 0,12 0,1 J- 0,08 0,08 0,04 0,02 0. o o o ao co a ocn a o a 0 D eoo a SMC CD OOMIOD Comprimento padrão A 10 12 14 Figura 12. Variação das razão do Diâmetro do olho/ Comprimento padrão (A), em função do comprimento padrão para Psectrogaster amazônica (quadrado vazado) e Polamorhina altamazonica (círculo cheio) Ijìiill I Potamorhina latior (n= 50) 1; : ΠϊιÌ: 1 Potamorhina altamazonica (n= 129) Psectrogaster amazônica (n= 29) 32 33 34 35 36 Número de miômeros totais 37 Figura 13. Freqüências do número de miômeros pré-anais e totais para Psectrogaster Potamorhina latior (Araujo-Lima, 1991), Potamorhina altamazonica amazônica,

próximas. Este é um caracter conspícuo e que seria de grande valor para a identificação das larvas da família em análise de amostras do rio Amazonas. As larvas de Potamorhina altamazonica e Psectrogaster amazônica se distinguem de Semaprochilodus insignis (ARAUJO-LIMA, 1985) e Mylossoma spp (ARAUJO-LIMA et al, no prelo) outras duas espécies que ocorrem no rio Amazonas, por serem menores e pelo número reduzido de miômeros. Literatura Citada ARAUJO-LIMA, C. A. R. M- 1984. Distribuição espacial e temporalde Characiformes em um setor do rio SolimÕes/Amazonas próximo a Manaus. Dissertação de mestrado INPA-FUA, Manaus, 81 p.fnão publicado] ARAUJO-LIMA, C. A. R. M.- 1985. Aspectos biológicos de peixes amazônicos. V. Desenvolvimento larval do jaraquiescama grossa, Semaprochilodus insignis (Characiformes, Pisces) da Amazônia Central. Rev. Bras. Biol, 45: 423-431. ARAUJO-LIMA, C. A. R. M.- 1991. A larva de branquinha comum, Potamorhina latior (Curimatidae, Pisces) da Amazônia Central. Rev. Bras. Biol., 51: 45-56. ARAUJO-LIMA, C.A.R.M; KIROSVSKY, A. L. & MARCA A. G.. As larvas dos Pacus.Mylossoma spp (Teleostei, Characidae), da Amazônia Central. Rev. Bras. Biol.,[ no prelo]. COX-FERNANDES, C- 1988. Estudos de migrações laterais de peixes no sistema lago do Rei {ilha do Careiro) -AM.. Dissertação de Mestrado INPA-FUA, Manaus. 170 p.fnão publicado] FABER, D. J. & GADD, S.- 1983. Several drawing techniques to illustrate larval fishes. Trans. Am. Fish. Soc, 112: 349-353. GOULDING, M. & CARVALHO, M.L.- 1982. Life history and management of the tambaqui (Colossoma macropomum, Characidae): An important Amazonian food fish. Rev. Bras, de Zoologia, /:107-133. HUNTER, J. R.- 1984. Synopsis of culture methods for marine fish larvae. American Society icthyologists and Herpetologists. Special Publication, 1: 24-27. PETRY, P.- 1989. Deriva do ictioplâncton no paraná do Rei, várzea do Careiro, Amazonia central, Brasil. Dissertação de Mestrado INPA-FUA, Manaus, 68p. [não publicado] SNYDER, D. E.- 1976. Terminologies for intervals of larval fish development. In J. Boreman editor. Great Lakes fish egg and larval identification: proceedings of a workshop. United States Fish and Wildlife Service, FWS/OBS-76/23, Ann Arbor, Michigan, USA. Aceito para publicação em 01/06/94