O Modal Rodoviário Logística por José Luiz Portela Gómez O Brasil é um país voltado para o uso do modal rodoviário. Esse fato se deve às poucas restrições para a operação do crescimento da indústria automobilística na economia brasileira, aos longos anos de priorização desse modal e aos restritos investimentos dos governos no desenvolvimento das outras modalidades de transportes. Nas décadas passadas, os baixos investimentos nos sistemas ferroviário e aquaviário prejudicaram a produtividade na movimentação de cargas, inibindo a redistribuição da matriz de transporte nacional. Em consequência, o que se viu ao longo das últimas décadas foi a concentração do uso da rodovia e a alta dependência do modal rodoviário. De acordo com o trabalho apresentado pelo Centro de Estudo Logístico CEL / COPPEAD - Panorama Logística Gestão do Transporte Rodoviário de Cargas, as grandes empresas brasileiras transportam, em média, 94% de suas cargas por rodovia. Do total das empresas participantes da pesquisa, um terço informou utilizar somente o modal rodoviário na movimentação de suas cargas; aproximadamente dois terços informaram utilizar predominantemente o modal rodoviário, e somente 6% das entrevistadas apontaram utilizar predominantemente outros modais. As empresas, no entanto, gostariam de aumentar a participação dos modais ferroviário e aquaviário em suas matrizes. Segundo as empresas pesquisadas, caso os meios alternativos às rodovias tenham capacidade para comportar o elevado aumento da movimentação de cargas, a participação do modal rodoviário na matriz de transporte poderá diminuir nos próximos anos. Entretanto, nota-se que, mesmo havendo uma forte tendência ao aumento do uso da multimodalidade, o modal rodoviário ainda será predominante e responsável por uma parcela expressiva das cargas transportadas no país. O uso intensivo das rodovias acarreta elevados custos de transporte, já que o modal rodoviário, após o aéreo, é a modalidade de custo unitário mais elevado. Os custos logísticos do país poderiam ser bem menores caso houvesse maior equilíbrio do uso dos 11
modais e, principalmente, investimento no desenvolvimento da infra-estrutura logística nos demais modais. Nessa conjuntura, projetos infra-estruturais para ampliação e reestruturação das linhas férreas e a modernização dos portos precisam ser inseridos na relação dos investimentos prioritários para viabilizar a melhoria da logística do país. Gerar condições para o desenvolvimento da multimodalidade é essencial para estimular o desenvolvimento econômico do Brasil. Além do engajamento na construção de um cenário multimodal na infra-estrutura de transportes brasileira, é necessário ter em conta um aspecto relevante em qualquer projeto: a sustentabilidade do desenvolvimento. Dessa forma, se se discute a ampliação e a modernização dos modais de transporte nacional para alcançar avanços logísticos e econômicos, não se esquecendo da responsabilidade para com um desenvolvimento sustentável, não se pode deixar de avaliar a logística do diesel e do biodiesel no Brasil. No processo de colaboração com a sustentabilidade, em 13 de janeiro de 2005, o B100, biodiesel puro, foi introduzido na matriz energética brasileira pela Lei 11.097. O biodiesel é um combustível produzido a partir de óleos vegetais ou de gorduras animais. Dezenas de espécies vegetais presentes no Brasil podem ser usadas na produção do biodiesel, entre elas soja, dendê, girassol, babaçu, amendoim, mamona e pinhãomanso. O Brasil está entre os maiores produtores e consumidores de biodiesel do mundo, com uma produção anual, em 2009, de 1,6 milhão de m³, e uma capacidade instalada, em janeiro de 2010, para cerca de 4,7 milhões de m³. Esse volume está sendo produzido através de aproximadamente 39 usinas distribuídas pelo território brasileiro, conforme mapa 1. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a utilização do biodiesel junto com o etanol é vista como um dos principais mecanismos de combate ao aquecimento global, pois reduz as emissões de gás carbônico (CO2). Comparando-se com o diesel de petróleo, o biodiesel 12 ecoenergia Fev Mar
AC AM Plantas autorizadas que produziram em 2008 RR Plantas autorizadas que não produziram em 2008 Araguassú Amazonbio RO Agrosoja CLV TO Ouro Verde Coomisa MT Cooperfeliz Flagrill Agrosoja Biopar Cooperbio Barralcool tem significativas vantagens ambientais. Estudos do National Biodiesel Board (associação que representa a indústria de biodiesel nos Estados Unidos) demonstraram que a queima de biodiesel pode emitir em média 48% menos monóxido de carbono; 47% menos material particulado (que penetra nos pulmões); 67% menos hidrocarbonetos. Levando em conta, então, a importância de se introduzir efetivamente o biodiesel na matriz energética do país, a Resolução nº 6/2009 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), publicada no Diário MS PA Biocamp Bio Óleo ADM SSIL Brasil Ecodiesel Bsbios RS AP Agrenco Big Frango Bioplan PR Granol MA Binaural Granol GO Caramuru Fertibom SC Oleoplan SP Agropalma Biocapital MG Bioverde Oficial da União (DOU) em 26 de outubro de 2009, aumenta de 4% para 5% o percentual obrigatório de mistura de biodiesel ao óleo diesel comercializado em todo o Brasil a partir de 1º de janeiro de 2010. Segundo dados do Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2009, a distribuição de óleo diesel pelas companhias distribuidoras atingiu o patamar de 44,8 milhões m³ em 2008. Esse volume de óleo diesel comercializado correspondeu a 48,3% do total do mercado de venda de derivados de RJ PI BA ES CE Petrobras Petrobras PE RN PB AL SE Comanche petróleo (nesses números já está incluído o biodiesel puro B100). Considerando a estimativa de venda de diesel no mercado interno brasileiro para 2010, com a mistura de 5% de biodiesel puro (B100) no diesel, o volume total de biodiesel corresponderá a 2,2 milhões de m³. Nos dias 1 e 2 de março deste ano, a Petrobras comprou 565.000 m³ do B100 produzido nas usinas localizadas no território brasileiro, os quais correspondem aos 5% liberados pela ANP para promover a mistura ao diesel nos meses de abril a junho de 2010. Entre os dias 19 e 26 de março também deste ano, a Petrobras disponibilizou todo o volume de B100 para o 1 º leilão de 2010 em que participaram as distribuidoras de combustíveis. Como se vê, esforços estão sendo realizados para a execução da Resolução nº 6/2009. Quanto à questão da logística do biodiesel, é importante que vejamos sua conjugação com a logística do diesel. Quase todo o diesel transportado no mercado brasileiro vem através da rede de dutos existente entre as refinarias da Petrobras até os terminais de derivados das distribuidoras de combustíveis e, especificamente no norte do país, através do modal aquaviário (marítimo), por meio da cabotagem, transportando derivados dos terminais da Petrobras /Transpetro localizados nas principais Refinarias do Sul, Sudeste até os portos no litoral e, a partir desses portos, transportados por cabotagem até os terminais nas regiões Nordeste e Norte. O mapa 2 ilustra a localização da refinarias. Fev Mar ecoenergia 13
RR AP REMAN Refinaria Isaac Sabbá Manaus ASFOR Refinaria de Asfalto de Fortaleza Fortaleza AM PA MA CE RN AC RO TO PI PE PB AL SE REVAP Refinaria Henrique Lage São José dos Campos MT BA RLAM Refinaria Landulpho Alves - Matarípe São Frascisco do Conde REPLAN Refinaria do Planalto Paulista Paulínia RPBC Refinaria Presidente Bernardes Cubatão MS GO SP MG RJ ES REGAP Refinaria Gabriel Pessoa Betim Refinaria de Capuava Mauá PR REDUC Refinaria Duque de Caxias Campos Elísios REFAP Refinaria Alberto Pasqualini Canoas RPISA Refinaria de Petróleo Ipiranga Rio Grande RS SC RPMANG Refinaria de Petróleo de Manguinhos Rio de Janeiro RPAR Refinaria Presidente Getúlio Vargas Araucária Já o biodiesel (B100) sai das usinas através do modal rodoviário diretamente para os terminais das distribuidoras de combustíveis. As coletas ocorrem com o objetivo de aproximar a produção das usinas aos terminais existentes das distribuidoras e processar, nesses terminais, a mistura do B100 ao diesel, para que, posteriormente, as distribuidoras entreguem o produto aos mercados consumidores. A partir do mapeamento das principais regiões produtoras de B100, ilustradas no mapa 3, percebe-se que 369.600 m³ da produção, ou seja, 65% da produção e oferta de B100 estão localizados nas regiões Centro-Oeste e Sul, distantes dos principais mercados de consumo do diesel e, ainda, afastados dos terminais primários das distribuidoras de combustíveis, localizados próximos às refinarias. Fica claro, portanto, que a falta dos demais modais no país, para a realização da movimentação da produção do B100 até os terminais de distribuição para o processo de mistura de 5% ao diesel, prejudica, em uma primeira instância, a própria logística dos combustíveis, e, numa segunda instância, o custeamento da execução e distribuição da mistura obrigatória. Estima-se que a distância média, por viagem, para coleta do B100 entre as usinas existentes para atender a demanda atual do mercado brasileiro é superior a 1.000 km. Assim, o grande fator negativo para a logística e para o custo é a distância entre a boa parte da produção nas regiões Centro-Oeste e Sul até os grandes mercados, o que gera aumento de custos de transportes para deslocamento da produção. Nesse contexto, é de se esperar que as carências na infraestrutura de transportes gerem grandes impactos na logística do biodiesel e, consequentemente, na do diesel. É importante ressaltar que não existe nenhum outro produto capaz de afetar tanto a economia quanto o diesel, pois está presente nos custos de transportes de todas as mercadorias movimen- 14 ecoenergia Fev Mar
REMAN Volume Arrematado no 1 leilão de 2010 por Região 23.850 m³ 75.000 m³ 243.700 m³ RELAN tadas. Dessa forma, é essencial que os gestores responsáveis pela contratação de transporte rodoviário analisem detalhadamente as alternativas e as avaliações das possibilidades de se otimizar os trajetos com a combinação de carga e uso de fluxos nos sentidos de retorno. Além disso, precisam estar sempre atentos à eficiência na operação interna da empresa e aos parâmetros do mercado. REVAP 96.550 m³ REGAP Região Norte REPLAN Região Nordeste REDUC Região Centro-Oeste Região Sudeste Região Sul REPAR REPERG 125.900 m³ RBPC RPMANG José Luiz Portela Gómez Gestor/Lílder da Área de Transportes da Petróleo Ipiranga Fev Mar ecoenergia 15