1 I CONGRESSO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA UTFPR CÂMPUS DOIS VIZINHOS PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE TRABALHADORES EM ATIVIDADES DE IMPLANTAÇÃO FLORESTAL Pedro Caldas Britto 1,2*, Eduardo da Silva Lopes 1 [orientador] Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO, Câmpus de Irati, PR. E-mail: pbflorestal@yahoo.com.br, eslopes@pq.cnpq.br 2 Mestrando em Ciências Florestais, bolsista CNPQ. *Autor para correspondência Resumo: Este trabalho teve por objetivo estudar o perfil antropométrico de trabalhadores que atuavam nas atividades de implantação florestal, descrevendo a aplicação das principais medidas antropométricas relacionadas ao trabalho e gerando informações para subsidiar o dimensionamento de postos de trabalho, equipamentos e ferramentas. A coleta de dados foi realizada em uma empresa prestadora se serviços florestais, localizada no estado do Paraná. Foram selecionadas 41 variáveis antropométricas de uma população de 250 trabalhadores, com uso de uma cadeira e régua antropométrica, antropômetro e fita métrica, sendo os dados analisados nos percentis 5%, 50% e 95% e relacionados com algumas atividades da implantação florestal. Os resultados demonstraram uma necessidade de ferramentas com diferentes ajustes e adaptadas a variações antropométricas dos trabalhadores, tais como as dimensões dos pés, das mãos, distância de alcance dos braços, estatura em pé, entre outros. Palavras-chave: atividades silviculturais, antropometria, ergonomia, engenharia florestal. Introdução Com uma taxa de crescimento anual de 3,5% o setor de florestas plantadas no Brasil vem passando por uma significativa expansão. Este crescimento implica na necessidade do aperfeiçoamento e de novas técnicas de implantação florestal, visando a melhoria dos processos produtivos, segurança do trabalho e responsabilidade ambiental e social. As atividades de implantação florestal são caracterizadas pelo uso de elevada demanda de mão de obra, sendo as atividades, na maioria das vezes, realizadas por métodos manuais ou semimecanizados, com os trabalhadores adotando posturas inadequadas e manuseando cargas acima do limite recomendado (Fiedler, 1998). Tal situação poderá comprometer a produtividade, causar o desconforto, aumentar os riscos de acidentes, além de tornar susceptível o aparecimento de lesões por esforços repetitivos e danos à saúde dos trabalhadores. Neste contexto, surge a ergonomia que é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência. Segundo Minetti et al. (2002), dentro da análise ergonômica do trabalho é importante a realização de estudos antropométricos, que permitem a concepção de forma racional de um posto de trabalho, máquina ou ferramenta, visando o maior conforto, segurança e saúde dos trabalhadores. Fernandes et al. (2009) diz que a antropometria é definida como o estudo das medidas das características do corpo humano, sendo os dados antropométricos expressos em percentis, que significa a proporção da população cuja medida é inferior a um determinado valor. O percentil de 95% indica que uma variável possui magnitude igual ou inferior a este valor, enquanto os 5% restantes corresponde ao extremo superior da referida variável. Segundo Minetti et al. (2002), as medidas antropométricas dos trabalhadores são dados de base essenciais para a concepção de um posto de trabalho que satisfaça ergonomicamente os trabalhadores, pois somente a partir das dimensões dos indivíduos é que se pode definir, de forma racional, o dimensionamento adequado da máquina ou ferramenta de trabalho, visando a redução dos erros e acidentes. O mesmo autor utilizou 35 17 e 18 de Outubro de 2011 225
variáveis antropométricas com objetivo de conhecer o perfil dos trabalhadores e propor melhorias na utilização da motosserra. Já Silva et al. (2006), utilizou as medidas antropométricas de uma população de trabalhadores para avaliar o posto de trabalho em uma fábrica de móveis, constatando que as alturas dos postos de trabalho se apresentaram fora dos limites recomendados para o percentil 95%, forçando o trabalhador a adotar posturas inadequadas. Diante disso, este trabalho teve por objetivo estudar o perfil antropométrico de trabalhadores das atividades de implantação florestal, identificando os padrões antropométricos, determinando os limites mínimos e máximos das variáveis estudadas e gerando informações para subsidiar o correto dimensionamento de postos e ferramentas de trabalho. Material e Métodos O estudo foi realizado em uma empresa prestadora de serviços florestais, localizada na região dos Campos Gerais, estado do Paraná. A população pesquisada foi composta de 250 trabalhadores que atuavam nas atividades de plantio, adubação, aplicação de herbicida e roçada (Figura 1). Foram selecionadas 41 variáveis antropométricas dos trabalhadores para aplicação do estudo, sendo todas as medidas estáticas, ou seja, relacionadas com as dimensões físicas do corpo parado em posições padronizadas. Os dados foram obtidos de acordo a norma alemã DIN 33402, contemplando 13 medidas na posição sentada; 13 medidas na posição em pé; 5 medidas da cabeça; 7 medidas das mãos e 3 medidas dos pés, todas obtidas por medição direta e com uso de uma cadeira e régua antropométrica, fita métrica e um antropômetro, conforme metodologia proposta por Couto (1995). De posse dos dados obtidos foram identificados os padrões antropométricos dos trabalhadores envolvidos nas atividades, permitindo estabelecer os limites mínimos e máximos das variáveis estudadas para subsidiar o correto dimensionamento de postos e ferramentas de trabalho, sendo neste caso avaliado somente as dimensões do corpo em pé, por estar relacionada com o trabalho. Resultados e Discussão Os resultados das medidas antropométricas estáticas dos trabalhadores envolvidos nas atividades de implantação nas posições em pé, sentado e as medidas da cabeça, dos pés e das mãos, representadas pelos percentis 5, 50 e 95%, pela média, desvio padrão (DP) e coeficiente de variação (CV) são descritos na Tabela 1. Os resultados indicam que 90% da população de trabalhadores possuem uma estatura entre 156,8 cm (percentil 5%) e 178,8 cm (percentil 95%), com média de 167,2 cm, o mesmo pode ser considerado para as outras variáveis. Na Tabela 2 as variáveis foram relacionadas com a sua aplicação nas atividades de implantação florestal, indicando qual seria a medida a ser adotada com o uso do percentil mais adequado. Como pode ser visto, a variável estatura dos trabalhadores (altura do topo da cabeça) é uma dimensão de grande importância no dimensionamento da altura mínima de passagens (portas), obstruções para visibilidade e vestuários, devendo ser aplicada a medida no percentil 95% (179 cm), de forma a atender a maioria dos trabalhadores. Já a altura do centro da mão com o braço pendido é uma variável de grande importância, sendo capaz de indicar o alcance inferior máximo dos trabalhadores, e conseqüentemente, a altura adequada das ferramentas. 17 e 18 de Outubro de 2011 226
Neste caso, é importante considerar a variação existente entre os percentis de 5 a 95% (68 a 82 cm), obtendo diferentes ajustes nas ferramentas de trabalho. A largura da mão e o cilindro de pega indicam que as dimensões das pegas da ferramenta deveriam ser de no mínimo 11,5 cm (percentil 95%) e 2,5 cm (percentil 5%), respectivamente, devendo ressaltar a necessidade de disponibilização de ferramentas com diferentes ajustes. As dimensões referentes à largura, comprimento e circunferência das mãos, bem como a largura e o comprimento dos pés, podem melhorar o projeto para a confecção de luvas e botas de proteção, sendo nestes casos também recomendável a adoção de medidas entre os percentis de 5 a 95%. Já a circunferência e a largura da cabeça de frente facilitam o dimensionamento de equipamentos de proteção para a cabeça, como capacetes e bonés, devendo também existir uma regulagem que atendam os trabalhadores nos percentis de 5 a 95%, devendo neste caso serem adotadas as medidas de 52,5 a 57,7 cm e de 14,3 a 16,4 cm, respectivamente. No caso da determinação do alcance superior máximo dos trabalhadores a insumos e ferramentas, representados pela variável da altura do braço erguido, deve ser adotada a medida no percentil 5%, de forma a atender a parte mais baixa da população, com os equipamentos localizados em uma altura máxima de 185,7cm. É importante ainda ressaltar que, na empresa existe com freqüência, a troca de funções entre os funcionários. Portanto, essas variáveis podem ser utilizadas no dimensionamento e melhorias dos projetos de postos de trabalho, máquinas e ferramentas de qualquer atividade florestal. Além disso, as medidas antropométricas dos trabalhadores mostraram-se úteis para o correto dimensionamento de equipamentos de proteção individual, como botas, luvas, capacetes, etc. Conclusão A maioria das variáveis antropométricas mostrou-se útil no ajuste de postos de trabalho, equipamentos e ferramentas utilizados nas atividades de implantação florestal, possibilitando a adaptação às medidas dos trabalhadores, fato pouco observado atualmente nas empresas florestais. O conhecimento das medidas antropométricas dos trabalhadores mostrou-se úteis para o correto dimensionamento de equipamentos de proteção individual, como botas, luvas e capacetes, possibilitando a melhoria do conforto, segurança e saúde dos trabalhadores florestais. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro e a empresa pela cessão da área e apoio na coleta dos dados utilizados para o desenvolvimento do estudo. Referências COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte. Ergo Editora, v.2, 1995. FERNANDES, H. C. et al. Análise antropométrica de um grupo de operadores brasileiros de feller buncher. Scientia Forestalis. v. 37, n, 81. P.17-25. 2009 FIEDLER, N. C. Análise de Posturas e esforços despendidos em operação de colheita florestal no litoral do estado da Bahia. Viçosa, MG: UFV, 1998, 103 p., Tese (Doutorado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, 1998. 17 e 18 de Outubro de 2011 227
MINETTI, L. J.; SOUZA, A. P.; ALVES, J. U. FIEDLER, N. C. Estudo antropométrico de operadores de motosserra. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. v.6, n.1, p.166-170, 2002. SILVA, K. R. et al. Avaliação antropométrica de trabalhadores em indústrias do polo moveleiro de Ubá, MG. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.4, p.613-618, 2006. Tabela 1. Medidas de algumas variáveis antropométricas dos trabalhadores florestais. Medidas Antropométricas (cm) Percentis 5% 50% 95% Média DP CV (%) 1.1 Estatura, corpo ereto 156,8 167 178,5 167,2 6,4 4 1.2 Altura dos olhos, em pé 145,1 155,3 164 155,1 5,9 4 1.3 Altura dos Ombros 129 138,4 149 143,7 5,9 4 1.4 Altura do Cotovelo 94 102,2 111 102,1 5,0 5 1.5 68,1 75 81,2 75,0 4,3 pendido 6 1.6 185,7 199 214,3 196,4 8,7 erguido 4 1.7 Comprimento do braço, na horizontal, até o centro da mão 51,8 58 64,8 58,1 4,0 7 1.9 Largura dos Ombros, em pé 32 35,3 39,5 37,0 3,2 9 1.11 Largura dos Quadris, em pé 26,7 30,2 34,2 30,6 2,4 8 3.1 Comprimento vertical da cabeça 20,3 22 24,1 22,4 1,2 6 3.2 Largura da cabeça, de frente 14,3 15,2 16,4 15,2 0,7 5 3.3 Largura da cabeça, de perfil 17,3 18,6 20 19,3 0,9 5 3.4 Distância entre os olhos 5,1 6,1 7,8 6,4 0,9 14 3.5 Circunferência da Cabeça 52,5 55 57,7 54,5 1,6 3 4.1 Comprimento da Mão 16,9 18,3 20 18,3 1,0 5 4.2 Largura da Mão 9,3 10,5 11,7 10,5 0,8 8 4.3 Comprimento da palma da mão 9,2 10,3 11,5 10,3 0,7 7 4.4 Largura da palma da mão 7,6 9 10 8,9 0,7 8 4.5 Circunferência da palma 21,5 24,5 26,8 24,2 1,6 6 4.6 Circunferência do pulso 15,6 17 18,8 17,1 0,9 6 4.7 Cilindro de pega máxima (diâmetro) 2,5 4 5 3,8 0,7 18 5.1 Comprimento do pé 22,7 25 27,3 24,9 1,4 5 5.2 Largura do pé 8,3 9,5 10,7 9,8 0,8 8 5.3 Largura do calcanhar 5,8 6,9 8,7 7,0 0,9 12 1. Corpo em pé 3. Cabeça 4. Mãos 5. Pés Figura 1. Atividades avaliadas: (a) Plantio; (b) Adubação; (c) Aplicação de Herbicida; (d) Roçada. 17 e 18 de Outubro de 2011 228
Tabela 2. Utilização das principais variáveis antropométricas relacionadas ao trabalho. 1. Corpo em pé 3. Cabeça 4. Mãos 5. Pés Variável Antropométrica Estatura, corpo ereto Altura dos olhos, em pé Altura dos Ombros pendido Comprimento do braço, na horizontal, até o centro da mão Largura da cabeça, de frente Distância entre os olhos Utilização Determinar a altura mínima para passagens e portas Determinação do ângulo superior e inferior de visibilidade nos planos frontal e sagital Determinar a altura mínima e máxima para apoio costal Percentil Indicado (%) 95 Determinar o alcance inferior máximo 95 Determinar a distância de alcance horizontal Determinar a largura mínima e máxima de capacetes e bonés Determinar largura de óculos e máscaras de proteção 5 Circunferência da Cabeça Determinar diâmetro de capacetes e bonés Comprimento da mão Largura da mão Comprimento da palma da mão Largura da palma da mão Cilindro de pega máxima (diâmetro) Comprimento do pé Largura do pé Determinar o alcance dos dedos e dimensionar corretamente luvas de proteção. Determinar a largura mínima de cabo e da pega de ferramentas e equipamentos; Determinar dimensões adequadas de luvas de proteção. Determinar dimensões adequadas de luvas de proteção. Determinar a largura mínima de pega do cabo de ferramentas e ajuste de equipamentos, Determinar dimensões adequadas de luvas de proteção. Determinar o diâmetro de cabo de ferramenta e o ajuste de equipamentos. Determinar o comprimento mínimo e máximo de sapatos e botas Determinar a largura mínima e máxima de sapatos e botas 95 Largura do calcanhar Dimensionar sapatos e botas de proteção. Fonte: Adaptado de Minete et al. (2002). 17 e 18 de Outubro de 2011 229