PÓLEN COMO RECURSO ALIMENTAR DO BICUDO Anthonomus grandis Boheman, 1843 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) NA SAFRA E ENTRESSAFRA DO ALGODOEIRO 1

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Transcrição:

PÓLEN COMO RECURSO ALIMENTAR DO BICUDO Anthonomus grandis Boheman, 1843 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) NA SAFRA E ENTRESSAFRA DO ALGODOEIRO 1 Paulina de Araújo Ribeiro (Embrapa Cenargen / paulina@cenargen.embrapa.br), Edison Ryoiti Sujii (Embrapa Cenargen) Eliana Maria Gouveia Fontes (Embrapa Cenargen), Ivone Rezende Diniz (Universidade de Brasília), Maria Alice de Medeiros, Carmen Silvia Soares Pires (Embrapa Cenargen), Maria Lea Salgado-Labouriau (Universidade de Brasilia), Benedito Alísio da Silva Pereira (Universidade de Brasília) RESUMO - A cultura do algodoeiro na região dos Cerrados apresentou enorme potencial de crescimento após a década de 90, em virtude da área disponível, clima favorável e adoção de alta tecnologia. Porém, o ataque de insetos-praga ainda é um fator que preocupa a cadeia produtiva da cultura, principalmente, o ataque do bicudo do algodoeiro, considerado a praga que causa os maiores prejuízos. O presente estudo foi realizado com o objetivo de identificar quais os recursos alimentares são utilizados pelo bicudo no início e final do ciclo do algodoeiro. Foram identificados grãos de pólen encontrados no trato digestivo de 168 bicudos coletados em armadilhas de feromônio na Fazenda Coperbrás, Distrito Federal. A análise de grãos de pólen foi realizada utilizando a técnica de acetólise. Foram encontrados grãos de pólen em 54% dos bicudos, com um total de 398 grãos, dos quais 345 foram identificados como pertencentes a 19 famílias de plantas. Houve predomínio de grãos de pólen pertencentes às famílias Smilacaceae (49%), Proteaceae (8%) e Melastomataceae-Combretaceae e Myrtaceae (5%). O bicudo possui a capacidade de se dispersar entre áreas de vegetação natural e campos de algodoeiro em busca de pólen de diversas plantas. Palavras-chave: Anthonomus grandis, pólen, cerrado, Smilacaceae. INTRODUÇÃO O agronegócio do algodoeiro, Gossypium hirsutum L. (Malvaceae), cresce anualmente em áreas de cerrado, devido a busca por maior qualidade e produtividade. No entanto, aliado a esse fator surge a preocupação do controle de pragas tais como o bicudo do algodoeiro Anthonomus grandis Boheman, 1843 (Coleoptera: Curculionidae), que causa anualmente os mais sérios prejuízos, em virtude do hábito endófago e pela dificuldade de controle (DEGRANDE, 1998). Alguns autores afirmam que após o ciclo do algodoeiro, os bicudos migram para abrigos naturais e aí permanecem em diapausa, em refúgios localizados nas matas, nos capinzais (GONDIM et al., 2001), nos arbustos e nas capoeiras (DEGRANDE, 1991). Várias espécies de insetos, assim como o bicudo, alimentam-se de pólen (JONES, 1995). O desenvolvimento dos ovos no organismo da fêmea do bicudo é dependente dessa dieta de pólen (Rummel, 1986). Os grãos de pólen, quando recuperados do trato digestivo dos insetos são distintos e facilmente reconhecíveis. Isto porque a sua parede externa, a exina, é quimicamente muito estável e morfologicamente muito variada (Salgado-Labouriau, 1973), resistindo aos ácidos acético, clorídrico, sulfúrico e fluorídrico que são usados em seu processo de recuperação (Salgado-Labouriau, 1984). 1 Apoio financeiro: CNPq, FINEP

Hardee et al. (1998) analisaram grãos de pólen ingeridos por adultos de bicudos coletados de armadilhas durante um ano no Delta do Mississipi (USA) e constataram que as plantas da família Asteraceae (Compositae) foram os recursos alimentares mais utilizados pelo inseto. Essa família também foi a mais importante para bicudos coletados também em armadilhas de feromônio nos Estados Unidos (Jones e Coppedge, 1996, 1999). Na Argentina, grãos de pólen recuperados de bicudos indicaram que o inseto utilizou plantas das famílias Amaranthaceae, Compositae, Euphorbiaceae, Fabaceae (Leguminosae), Malvaceae, Polygonaceae e Solanaceae como fonte de alimentação (Cuadrado e Garralla, 2000; Cuadrado, 2002). Desse modo, constata-se que plantas de várias famílias, não pertencentes à família Malvaceae servem como fonte alimentar para o bicudo na ausência do algodoeiro. O cerrado apresenta uma vegetação rica, com mais de 6.400 espécies de plantas vasculares (Mendonça et al., 1998), onde as florações ocorrem em diferentes períodos do ano. Atualmente, a região Centro-Oeste representa mais de 80% da produção nacional de algodoeiro. Assim, essa região necessita de pesquisas com enfoques ecológicos que possibilitem um manejo mais adequado de pragas. Diante do exposto, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de identificar quais os recursos alimentares são utilizados pelo bicudo-do-algodoeiro no início e no final do ciclo da cultura do algodoeiro. MATERIAL E MÉTODOS Obtenção dos insetos A coleta de bicudos foi realizada no Núcleo Rural Rio Preto, Distrito Federal (15º45 S e 47º45 W), em área da Fazenda Coperbrás, na safra e entressafra da cultura do algodoeiro em 2003/2004. As armadilhas foram dispostas em quatro áreas: Algodão cerrado Área contígua à área de cerrado; algodão mata Área contígua à área de mata de galeria; cerrado - Área de vegetação natural que margeava a cultura do algodoeiro; mata de galeria Área de vegetação natural que também margeava a cultura do algodoeiro. Em cada área foi estabelecida uma grade formada por quatro transectos (T1-T4) com 280 m cada, distantes 80 m entre si e iniciando a 10 m da borda da área. Em cada transecto das áreas de algodão cerrado e cerrado foi instalado um conjunto de cinco armadilhas a uma distância de 70 m uma da outra. Nas áreas de algodão mata e mata de galeria, em função da mata de galeria possuir uma faixa mais estreita do que a de cerrado, foram instaladas quatro armadilhas por transecto. A distância das armadilhas do cerrado para as armadilhas da mata foi de 1.100 m. Todas as armadilhas utilizadas eram de cor verde fluorescente Boll Weevil Accountrap, usadas com BIO bicudo que é um liberador impregnado com feromônio sintético. As armadilhas foram instaladas sobre estacas, aproximadamente 1 m acima do solo. Em cada armadilha foram colocados um liberador de feromônio e um pedaço (2 cm) de coleira contra carrapatos, utilizada em cães. Essa coleira mata e evita a fuga dos bicudos, devido à ação do carbamato e do piretróide existentes em sua composição. As capturas de bicudos e a manutenção das armadilhas foram feitas semanalmente e a troca do feromônio a cada 30 dias. Os bicudos capturados nas armadilhas foram acondicionados em sacos plásticos e transportados para o Laboratório de Bioecologia, Semioquímicos e Biossegurança da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, onde foram contados e mantidos em freezer dentro de frascos de vidro de 5ml. Bicudos coletados em janeiro no cerrado e fevereiro nas áreas de algodoeiro foram analisados quanto ao pólen ingerido. O mesmo procedimento foi adotado em relação aos bicudos coletados nas quatro áreas durante os meses de agosto e setembro, período final do ciclo do algodoeiro. O número

de bicudos analisados, foi definido, em função do número total de bicudos capturados mensalmente, com no mínimo oito e no máximo 16 insetos. Análise do grão de pólen presente no trato digestivo A análise de grãos de pólen presentes no trato digestivo dos bicudos foi realizada com a técnica de acetólise de Erdtman (1960), no Centro Nacional de Pesquisas de Hortaliças Embrapa, no Distrito Federal. O processo de acetólise é um processo químico que destrói o corpo do inseto, mas não os grãos de pólen (JONES e COPPEDGE, 1996). Foram processados 168 adultos do bicudo coletados nas quatro áreas: algodão cerrado - 48 bicudos, sendo 16 insetos para cada um dos meses de fevereiro, agosto e setembro; algodão mata - 48 bicudos, sendo também 16 insetos para cada um dos meses de fevereiro, agosto e setembro; cerrado 48 bicudos, 16 insetos para cada um dos meses de janeiro, agosto e setembro; mata de galeria 24 bicudos, sendo oito insetos em agosto e 16 em setembro. As identificações dos grãos de pólen foram feitas em microscópio óptico com auxílio da chave geral de identificação dos tipos polínicos da flora dos Cerrados (SALGADO-LABOURIAU, 1973) e de outras publicações pertinentes. A confirmação dos tipos polínicos foi feita pela Profª. Maria Lea Salgado-Labouriau (IG/UnB). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados grãos de pólen em 91 bicudos (54%) perfazendo um total de 345 grãos de pólen analisados, os quais foram identificados como pertencentes a 19 famílias de plantas. No início da safra do algodoeiro foram encontrados grãos de pólen de diferentes famílias no trato digestivo de bicudos capturados nas duas áreas cultivadas, indicando que a população de bicudo possivelmente migrou de refúgios utilizados na entressafra para a cultura do algodoeiro, como mencionado por Rummel (1986). No entanto, vale salientar que no início do ciclo de crescimento do algodoeiro, só foi possível capturar bicudo nas armadilhas da área de cerrado. Na mata de galeria só foram capturados insetos no mês de julho. Estas observações permitem sugerir que quando não há algodoeiro plantado o bicudo utiliza mais a área de cerrado como refúgio. Grãos de pólen da família Smilacaceae foram os mais utilizados pelos adultos do bicudo, correspondendo a 49% do total avaliado, seguidos pelos grão de pólen da família Proteaceae, correspondendo a 8% do total avaliado e das famílias Melastomataceae-Combretaceae e Myrtaceae com 5% do total avaliado. As famílias Fabaceae (Leguminosae), Malvaceae e Poaceae (Gramineae) apresentaram mais de 1% dos grãos de pólen encontrados, enquanto que as famílias Annonaceae, Acanthaceae, Asteraceae, Chenopodiaceae, Clusiaceae, Convolvulaceae, Malpighiaceae, Moraceae, Pinaceae, Rosaceae, Saxifragaceae e Scheuchzeriaceae apresentaram menos de 1% dos grãos de pólen encontrados. O gênero mais utilizado pelo bicudo Smilax (Smilacaceae) é representado por trepadeiras, ervas ou sub-arbustos eretos ou semiprostrados (Almeidaet al., 1998). Algumas espécies são muito freqüentes em áreas de cerrado e outras associações (JOLY, 1983). De acordo com a compilação de Mendonça et al. (1998), cerca de 20 espécies do gênero Smilax ocorrem no bioma cerrado, sendo na maioria trepadeiras distribuídas em matas de galeria. No Distrito Federal existe cerca de 10 espécies, sendo três delas de hábito ereto ou semiprostrado e sete espécies de mata de galeria (ANDREATA, 1997). Na Figura 1 são apresentados os resultados dos grãos de pólen recuperados do trato digestivo dos bicudos coletados nas quatro áreas e as respectivas famílias de plantas, em janeiro e fevereiro de 2004, período do início do ciclo da cultura do algodoeiro. Pode-se observar que os grãos de pólen da família Malvaceae foram comuns no trato digestivo de bicudos coletados nas duas áreas de algodoeiro.

Os insetos coletados em área de algodão mata apresentaram maior diversidade de grãos de pólen pertencentes a diferentes famílias de plantas em comparação às demais áreas. Na Figura 2 são apresentadas as porcentagens das famílias de plantas, cujos grãos de pólen foram recuperados do trato digestivo de bicudos em agosto e setembro de 2004, período que coincide com o final do ciclo do algodoeiro. Pode-se observar que a família Smilacaceae foi a mais abundante e presente em todas as áreas. A família Proteaceae foi constatada nos meses de agosto e setembro nas duas áreas cultivadas com algodoeiro. Essa família apresenta espécies que ocorrem em mata de galeria, cerradão mesotrófico e distrófico, cerrado denso, sentido restrito e ralo e campo limpo, com floração de março a novembro (Almeida et al., 1998), sugerindo a idéia da movimentação do bicudo entre as áreas estudadas. O gênero Eugenia (Myrtaceae) floresce entre setembro e outubro, com ocorrência no cerradão mesotrófico e distrófico, cerrado sentido restrito e cerrado ralo (Almeida et al., 1998). Coincidentemente foi exatamente nestes meses que grãos de pólen desse gênero foram encontrados no trato digestivo de insetos coletados nas áreas de algodão cerrado, algodão mata e cerrado. Foram encontrados grãos de pólen da família Annonaceae em bicudos capturados na área de algodão cerrado, no período pós-colheita do algodoeiro. Representantes dessa família são espécies lenhosas encontradas em áreas de cerrado. Nesse caso, possivelmente o inseto se alimentou em área de cerrado e dispersou para áreas algodoeiras próximas. A época de floração de plantas desta família é principalmente de setembro a novembro (ALMEIDA et al., 1998), período em que os insetos foram coletados. O bicudo apresentou capacidade de sobrevivência e movimento entre as áreas estudadas. Outro fato que comprova essa afirmação é que em apenas um único bicudo da amostra da área de algodão cerrado, em setembro, foram encontrados grãos de pólen de seis diferentes famílias de plantas. Portanto, a polifagia ocorre tanto na espécie quanto no indivíduo, em particular. Com base nestes resultados, pode-se inferir que as fontes de recursos alimentares existentes no cerrado têm um papel primordial na sobrevivência de adultos do bicudo, principalmente em períodos de entressafra da cultura do algodoeiro, o que pode ter contribuído para a adaptação desse inseto na área, assim como para a manutenção do inseto durante todo o ano na ausência de seu principal hospedeiro (JONES, 1995). É importante ressaltar que o bicudo do algodoeiro é uma das mais sérias pragas da cultura também em campos contínuos de milhares de hectares, sem intercalação com vegetação nativa. Tal fato reforça a necessidade da manutenção e preservação de áreas naturais que circundam as plantações de algodoeiro. As plantas que foram mais utilizadas pelo bicudo fora da área de cultivo do algodoeiro são características de áreas degradadas (Benedito Pereira, IBGE, Comunicação pessoal). Além disso, de acordo com Silberbauer et al. (2004) predadores generalistas visitam e movimentam-se entre os numerosos tipos de vegetação que circundam os campos de algodoeiros, como também nos campos da cultura. CONCLUSÕES O bicudo utilizou 19 famílias de plantas, no período de safra e entressafra da cultura do algodoeiro na Fazenda Coperbrás, DF. A família Smilacaceae foi o recurso alimentar mais importante utilizado pelo bicudo, principalmente no período de entressafra da cultura, seguida das famílias Proteaceae, Melastomataceae-Combretaceae e Myrtaceae. O bicudo possui a capacidade de se dispersar entre áreas de vegetação natural e campos de algodoeiro durante e após a colheita em busca de pólen de diversas plantas.

CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO A importância deste estudo está na constatação de que os grãos de pólen de Smilacaceae são o principal recurso para o bicudo na área do cerrado e, que as plantas dessa família, encontradas na área de cerrado estudada, ocorrem principalmente em áreas degradadas. Essa família ainda não havia sido encontrada como recurso alimentar utilizado pelo bicudo, em trabalhos semelhantes realizados em outros países como Estados Unidos e Argentina. % grãos de pólen 100 90 80 70 60 50 40 30 20 Scheuchzeriaceae Chenopodiaceae Clusiaceae Fabaceae Asteraceae Poaceae 10 0 Fev - Algodão Cerrado Fev - Algodão Mata Jan - Cerrado Meses de amostragens (Início ciclo algodoeiro) Smilacaceae Malvaceae Figura 1. Porcentagem de grãos de pólen e suas respectivas famílias de plantas encontradas no trato digestivo dos bicudos, capturados nas armadilhas com o feromônio Bio bicudo, em duas áreas de algodoeiro e de cerrado, no início da safra do algodoeiro (janeiro e fevereiro). Pinaceae % grãos de pólen 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Agosto - Área 1 Setembro - Área 1 Agosto - Área 2 Setembro - Área 2 Agosto- Área 3 Setembro -Área 3 Agosto - Área 4 Meses de coletas (Final ciclo algodoeiro) Setembro - Área 4 Moraceae Rosaceae Saxifragaceae Fabaceae Annonaceae Melastomataceae - Combretaceae Poaceae Malpighiaceae Asteraceae Convolvulaceae Proteaceae Smilacaceae Myrtaceae Figura 2. Porcentagem de grãos de pólen e suas respectivas famílias de plantas encontradas no trato digestivo dos bicudos capturados nas armadilhas com o feromônio Bio bicudo, em cultivos de algodoeiro, em cerrado e em mata de galeria, no final do ciclo do algodoeiro (agosto e setembro).

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