A poética da resistencia. Igor Lugris

Documentos relacionados
Dois poemas inéditos de José Maria Álvarez Blázquez. José-Martinho Montero Santalha

Potencias e radicais

Associação dos Profissionais Tradutores / Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais de Mato Grosso do Sul - APILMS

A memoria recobrada. Concha Rousia

Lectura minimamente política dun poema de Lorenzo Varela aparentemente moi político. Xesús Alonso Montero

BOLSA DE EMPREGO BEN EMPREGADO III

PLANEJAMENTO (PARLENDAS,...)

Nome e apelidos:... Curso:... Data:... POTENCIAS E RAÍCES. Lese a elevado á quinta. BASE

Rosalía de Castro e os poetas románticos brasileiros. Claudio Murillo

CONCURSO SUSO VAAMONDE POLA LIBERDADE

Sexo não rima com nexo

Museo Interactivo da Historia de Lugo. Omni Tempore. Juan Pablo Mastroianni

O criador de ilusões

Nas asas da poesia. A poesia nasce no coração e floresce na cabeça.

As claves da. factura eléctrica

PROCEDEMENTO FACTURA ELECTRÓNICA - UNIVERSIDADE DE VIGO 2015

CONSELLERÍA DE CULTURA, EDUCACIÓN E ORDENACIÓN UNIVERSITARIA

Poesia Jacineide Travassos i

Pergaminho dos Sonhos

Coordenação do Ensino Português em França

EXPOSICIÓN DE TEMAS FASES DO TRABALLO. 2. Xustificación necesidade utilidades. 3. Motivación introdutória 3º ESO

"ESPELHO, ESPELHO MEU" Roteiro de. Deborah Zaniolli

En concreto, Mensagem. Luis G. Soto

Canto de Poeta. meus lábios soletram inocentes líricas de virtuosos trovadores líricas perdidas sobre as

Corazón de luz. Carmen Blanco

Quando eu era pequeno, à noite, e já estava sentado na cama, a mãe dizia

A tristeza. A tristeza

Ciencia que estuda o pasado da humanidade.

Gabriel Arruda Burani. EstilhACos. de Mim

GUILHERME TETAMANTI O passo-a-passo para organizar uma viagem incrível, das férias a sua volta ao mundo.

Núcleo de Ação Educativa. Material Educativo. Oficina Artístico-literária CAFEZINHO. FOTO: Flávia Violim

FEIJOADA POÉTICA MUSICAL PARA O DIA DA MULHER

Darío Xohán Cabana. Canta de cerca a morte. Diana Conchado

Tradución e Interpretación Descriptores Creditos ECTS Carácter Curso Cuadrimestre. 6 OB 3 1c Galego

RESOLUÇÃO. O nome do projeto DANÇANDO PARA NÃO DANÇAR é criativo, descontraído e atraente, abrange tanto o sentido da língua culta como o da gíria.

A MANUEL ANTÓNIO PINA POESIA REUNIDA ASSÍRIO & ALVIM

PETRA NASCEU COMO TODAS AS CRIANÇAS. ERA UMA

Alberto Augusto Miranda e X. Carlos Domínguez Alberte (coord). Mulher a facer vento. Teresa Seara. 1 Por referencia a esta publicación electrónica*

Acontecimentos na Bíblia que devem ser esclarecidos:

Tanussi Cardoso i AUTORRETRATO. O tigre, em silêncio, é o que penso. Quando ataca, é o que posso. Eutomia, Recife, 14 (1): , Dez.

As mulleres escritoras ( ). O xénio de Rosalía, de Célia M. Armas. Maria Anjos López Otero

LITERATURA. Aluno (a): 9º ano: A [ ] B [ ] C [ ] Professor: Lucas Salomão. Goiânia, / / 2017

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: a Literatura no Enem. Literatura Brasileira 3ª série EM Prof.: Flávia Guerra

05 Movémonos mellor?

PLANEJAMENTO. NOME IDENTIDADE Competências Linguagem oral, leitura, escrita, atenção Identificar o próprio nome, sua identidade; Objetivos

Abordagem fria. Por que fazer abordagem fria? Onde fazer abordagem fria?

1. NORMAS XERAIS: CRITERIOS DE VALORACIÓN. 2. ESTIMACIÓN SIMPLIFICADA DOS PRESUPOSTOS DE EXECUCIÓN MATERIAL DA EDIFICACIÓN.

A primavera voltou. LÍNGUA PORTUGUESA. Compreensão da leitura

AULA 1.2 Conteúdo: Figuras de linguagem. Versificação Gêneros contemporâneos INTERATIVIDADE FINAL LÍNGUA PORTUGUESA DINÂMICA LOCAL INTERATIVA

TOTAL DE PÁGINAS DA EDIÇÃO: 99

Iracema ia fazer aniversário. Não

Que é unha rede de ordendores?

Poemas de um Fantasma. Fantasma Souza

Fado. Francisco Souto

Sou eu quem vivo esta é minha vida Prazer este

Os três filhos entram no Labirinto e seguem o percurso da mãe através do sangue.

Você vai constatar o quão longe pode ir um debate sobre gravidez, por exemplo, que

Unha viaxe á lúa.

RASCUNHO. Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro. Tradutor Público e Intérprete Comercial

Rede CeMIT Cursos Gratuítos de Alfabetización Dixital MAIO Aula CeMIT de Cuntis

Um olhar para o Poema PCNP LP Aline Cristina do Prado PCNP LP Cristiane Aparecida Nunes

Maria Helena Morais Matos Coisas do Coração

SABEDORIA POPULAR DICIONÁRIO DE FRASES PROVÉRBIOS E DITADOS POPULARES

Poder para testemunhar e sonhar. Série: 2000 anos depois Atos 2

Eu sou feita de madeira Madeira, matéria morta Mas não há coisa no mundo Mais viva do que uma porta.

DESENHO ANIMADO. Eu acho que vi um gatinho Procurando Nemo

Três Poemas Sobre Pinturas De Christopher Pratt

Unidade Didáctica 3: Contamos a nosa historia

Material Educativo: Disse o Dicionário

10 HOMEÓSTATOS DE JOSÉ-ALBERTO MARQUES [SEGUIDOS DE TRANSCRIÇÃO TEXTUAL]

PRAZAS LIMITADAS. GRUPO MÁXIMO DE 15 PERSOAS

COMO SER UM NEGRO. Começamos no presente atemporal eu e o mundo que é uma mentira porque a própria eternidade finge morrer em nós

Interpretação de textos Avaliação Parcial II. Língua Portuguesa Brasileira Antonio Trindade

"Enrédate con seguridade" by FADEMGA Plena inclusión Galicia is licensed

Era dia 28 de Março de 2017, ainda uma noite fria surpreendentemente e havia um rapaz mais ou menos alto cabelo quase careca, olhos verdes azulados e

PROPOSTA PARA EVIDENCIAR COMPETÊNCIAS DE LEITURA

OS SÍMBOLOS POÉTICOS DAS CANTIGAS DE AMIGO LINGUA GALEGA E LITERATURA 3º ESO CPI AS REVOLTAS (CABANA DE BERGANTIÑOS) PROFESORA: ANA MARTÍNS

O melhor amigo O melhor amigo, Página 1

VOCABULÁRIO: Folgando: descansando, alegrando-se; excede: ultrapassa; arque: aguente; tropica: tropeça; maldizem: lamentam; refuga: rejeita.

A cidade do Século XXI afronta diversos retos derivados dunha nova conciencia medioambiental e dunha nova concepción dos espazos urbanos.

1-Nome: 2-Nascimento: 3-Turma: 4-Causa da surdez: 5-Data de diagnóstico da surdez: 6-Tempo na escola:

Conceitos PARTE III Conceptos PARTE III

Fabiany Monteiro do Nascimento. Amor Perfeito

Marcelo Cantalino. Geração Facebook

UMA AVENTURA NO MUNDO DE

CONSELLERÍA DE CULTURA, EDUCACIÓN E ORDENACIÓN UNIVERSITARIA

Tens alguma bagagem? Sim, tenho a minha mochila e um saco grande. Bom, eu fico com o saco e tu ficas com a mochila. Está bem?

Era uma vez uma família que vivia numa aldeia distante.

Material Educativo: Disse o Dicionário

Puntazo de Encontro speed-dating cultural

António Gedeão. Relógio D'Água. Notas Introdutórias de Natália Nunes. A Obra Completa

ASSUFBA REALIZA: CURSO PREPARATÓRIO PARA O

Aventuras de uma gota d água

CONSELLERÍA DE CULTURA, EDUCACIÓN E ORDENACIÓN UNIVERSITARIA

CECÍLIA MEIRELLES CIRANDA CULTURAL 2º ANO A/2011 CIRANDA CULTURAL_POEMAS

Eis que chega meu grande amigo, Augusto dos Anjos, ele com seu jeitão calado e sempre triste, me fala que não irá existir palavra alguma para

Tratamento de vida plena

COMO ESTE SALVAR A TUA VIDA OUTRAS COISAS BOAS... continua a ler!

Porta Para o Céu. Copyright 2016 Todos os direitos reservados. 1ªEdição. 1 Elias F. Mourão

Transcrição:

A poética da resistencia Igor Lugris Formas de citación recomendadas 1 Por referencia a esta publicación electrónica* Lugris, igor (2012 [2008]). A poética da resistencia. Galicia Hoxe. revista das Letras : 735 (4 de setembro), 1-8. reedición en poesiagalega.org. Arquivo de poéticas contemporáneas na cultura. <http://www.poesiagalega.org/arquivo/ficha/f/2304>. 2 Por referencia á publicación orixinal Lugris, igor (2008). A poética da resistencia. Galicia Hoxe. revista das Letras : 735 (4 de setembro), 1-8. * Edición dispoñíbel desde o 2 de agosto de 2012 a partir dalgunha das tres vías seguintes: 1) arquivo facilitado polo autor/a ou editor/a, 2) documento existente en repositorios institucionais de acceso público, 3) copia dixitalizada polo equipo de poesiagalega.org coas autorizacións pertinentes cando así o demanda a lexislación sobre dereitos de autor. En relación coa primeira alternativa, podería haber diferenzas, xurdidas xa durante o proceso de edición orixinal, entre este texto en pdf e o realmente publicado no seu día. O GAAP e o equipo do proxecto agradecen a colaboración de autores e editores. O copyright dos documentos publicados en poesiagalega.org pertence aos seus autores e/ou editores orixinais.

0 4 S E T E M B R 0 D O 2 0 0 8 - N Ú M E R O 7 3 5 Igor Lugrís

2 Igor Lugrís A poética da resistencia Identidade. Memoria. Arela de liberdade. Denuncia da uniformización cultural e lingüística, esmagadora da disidencia. Da explotación laboral e da inxustiza mundial. Chamado á resistencia. A camiñar para adiante. Sen medo. A crer en nós. No país. Son os alicerces da poética de Igor Lugrís (Melide, 1971). Unha obra indisociable do activismo cultural. Do compromiso social e nacional. E dunha teima por rachar as barreiras que seguen a afastar os poetas do lector. Con proxectos como o Cadáver esquisito creación colectiva a través de internet e Poesía para ver. Poesía para ler, poemas integrados en carteis, como os que recolle este número da Revista das Letras. Cun verso directo, próximo, apegado á realidade. Que intensifica a súa forza en Mongólia (2001) e Livro das confusons (2007). Sempre á procura da verdade, máis que da beleza, malia atento ao sentido estético. Á busca dun xeito de comprensión do mundo, base da toda transformación posible. Desde o concreto. O graíño de area. A iniciativa. Sen agardar pola industria cultural.

3 O autor da fotografía desta páxina é Benja G. Lainez. A cartel da portada está elaborado a partir dun orixinal do brasileiro Rico Lins. Debaixo deste cartel colocouse o nome do poeta ao que se lle adica este número da Revista das Letras.

4 1 2 A Adelino quando lhe perguntavam dizia que trabalhava no polígono industrial E nom era mentira Podermos transformar o céu e nom andar por aí com ele perdendo-o entre as interpretaçons e os mundos entre os caminhos e as horas A sua família sempre tivera umha leira em aquele terreo no final da costa de vacas Fora de seu pai E da sua avó E da mae desta Ele nunca teria vendido mas foi expropriaçom forçosa É polo bem de todos diziam-lhe no bar à hora dos cafés e as partidas Comprou justo onde tivera as patacas umha parcela com o dinheiro que lhe dérom e a pensom dos anos em Zurique Só havia três naves um burguer com karaoke e a sua horta Podermos assaltá-lo rompê-lo em mil anacos cada nuvem como nos rompe a nós para nom ter que reagir atréu cada vez que chega o futuro Podermos entendê-lo para entender os nossos silêncios as nossas ignoráncias para que todo seja mais que um delírio voluntário A solidade dum verso alheio que sempre escapa Nom existirem estas palavras Quando lhe perguntavam dizia que trabalhava no polígono industrial E nom era mentira

3 Olho para as leitugas enquanto boto água nas fendas da memória e co sacho golpeio docemente cada umha das palavras que rodeiam esta casa Parabéns berram os gatos todos os gatos do mundo enquanto sigo a cair polo precipício e oito galinhas cantam a coro a melodia das casas habitadas Um cam dorme diante da porta aberta Lentamente esqueço as horas os minutos os segundos até chegar a esta pequena sensaçom de calor Talvez todo seja arrastar palavras dum lado para outro sem cessar até que alguém escuite e entom ficar em silêncio Para sempre 4 Todo é terrivelmente complicado Mas nom há que se preocupar com isso Também o certo é que tudo é terrivelmente simples Igual que distinguir o abalo e o devalo Igual que ver chover Igual que pensarmos que existir é lembrar distáncias e falar silêncios Nom existe mais que o caminho O que vives é a viagem Estou confuso e nom escuito mais que o silêncio iluminando esta noite cheia de palavras molhadas Essas luzes que me rodeam é o lume da terra Arder é a palavra que procuras 5

6 5 (Compostela vermelha e etérea) 6 Compostela vermelha e etérea os sonhos de licor-café a terra de pedra que arde e o mundo que roda sempre do revês Os livros da madrugada cafés dentro do café a lua fala da memória e dumha história que nom vai morrer A pátria constroese nas ruas as ferramentas som todas as maos as cores das velhas bandeiras desenham os ritmos das novas cançons Compostela vermelha e etérea os sonhos de licor-café etc... Conheces todas as palavras dos dicionários em vários idiomas mas sigues sem saber o nome próprio da liberdade o significado da fraternidade os sinónimos da igualdade e por isso escreves enquanto pensas na tua foto a cores nos dominicais dos periódicos sérios 7 o citroen saxo tuneado de aitor soa melhor que o último CD de Eminem a todo volume que agora se escuita em toda a aldeia de zero a cem polo pentagrama nocturno turbo injection de luzes de néon azuis apurando as sensaçons na avenida da liberdade até exactamente o monumento aos doadores de sangue que se interpom na pista de baile com linha contínua e decide justo depois do ceda com um sigiloso estrondo premir no botom do stop 8 Também estivo aquela outra vez Quando decidimos assaltar o ceu da madrugada ao ritmo dum licorcafé mentre sonava ao longe dentro das nossas cabeças umha dessas cançons às que lhe inventavamos a letra Era quando aprendiamos idiomas ou palavras

9 (A miña lingua remix. Ocenic version) A minha língua quero na tua boca e falar com o silêncio dos peixes tam líquido e húmedo o falar dos sargos petaranhas e maragotas o falar dos xurelos as sardinhas e as xoubas Entendermo-nos entre bránquias Mirarmo-nos entre escamas Movermono-nos na âgua entre fluidos e sabores salgados como quem durme numha cama na tua cama 10 Ardem as pedras e sei que nom fuche tu porque te vim por última vez correndo escapando cara à praçá de Vigo mentres o caixeiro já estava ardendo e internet falava de saltos também na Corunha Vigo e Ferrol Ardem as pedras e amanhá os jornais falarám das cinzas dum mundo impossível Corre! 7

Coordinación: A.R. López e M. Dopico. Deseño: Signum.