fls. 1067 DECISÃO Processo nº: 1027214-28.2016.8.26.0053 Classe - Assunto Mandado de Segurança Coletivo - Produtos Controlados / Perigosos Impetrante: Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo - Sinafresp Impetrado: Diretor Executivo da Administração Tributária da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo e outro Juiz(a) de Direito: Dr(a). Carmen Cristina Fernandez Teijeiro e Oliveira VISTOS. I - Vislumbrando a probabilidade do direito perseguido, bem como o perigo de dano, defiro a tutela de urgência pleiteada. Registro, em primeiro lugar, a legitimidade ativa do autor para impetrar o presente writ, independentemente de qualquer autorização expressa e individual dos seus associados, na medida em que esta exigência constitucional destina-se apenas às associações, conclusão que se depreende da leitura do acórdão proferido no RE 573.232, do STF, na medida em que os sindicatos são substitutos processuais naturais dos seus associados. Com efeito, referido dispositivo, diversamente do que ocorre com o artigo 5º, inciso XXI, da CF, que trata das associações, não demanda a autorização expressa para defender em Juízo o interesse de seus associados. Igualmente não se vislumbra decadência, ao menos em sede de cognição sumária, na medida em que o impetrante se volta contra a ausência de condições mínimas de segurança para lidar com os combustíveis, e não propriamente contra a Resolução que estabeleceu a operação "De olho na Bomba", Processo nº 1027214-28.2016.8.26.0053 - p. 1
fls. 1068 de forma que, não se tratando de uma condição estanque, mas ao contrário, de omissão que se protrai no tempo, não há falar-se em decadência. No mais, ao menos em análise perfunctória dos autos, vislumbro a existência de risco à saúde e à integridade dos agentes fiscais. Com efeito, em que pese a informação da Fazenda do Estado, no sentido de que a coleta do combustível é feita por terceiros, não informou quem seriam estas pessoas que supostamente acompanhariam os fiscais nas operações e procederiam à coleta da substância. Ao contrário, ao discorrer sobre o procedimento menciona apenas o agente fiscal e o motorista da Secretaria da Fazenda. Assim, bastante plausível a alegação do impetrante, no sentido de que toda a coleta e envase é feita pelos próprios fiscais. A Fazenda igualmente mencionou que possui EPIs adquiridos em 2.010, mas não informou quais são, a fim de demonstar a sua adequação, nem tampouco se são efetivamente disponibilizados aos fiscais, circunstância que, uma vez mais, corrobora as alegações iniciais. No que se refere ao transporte das amostras dos postos de gasolina para as Delegacias, a Fazenda informou que ele é feito nos veículos da Secretaria da Fazenda, os quais, por sua vez, são conduzidos pelos seus motoristas, de forma que não há necessidade de que os agentes transportem o combustível em seus veículos particulares. Contudo, ainda que assim seja, há irregularidade flagrante neste procedimento, na medida em que, em se cuidando de transporte de produtos perigosos, ele deve ser realizado em veículos adequados e equipados para tanto (fls. 975), e transportado por motorista devidamente habilitado para tal finalidade (fls. 1009/1010). As fotografias de fls. 1023/1027 e 1031/1035 Processo nº 1027214-28.2016.8.26.0053 - p. 2
fls. 1069 comprovam a precariedade do transporte, feito nos veículos oficial e particular do agente de rendas, em caixas de papelão, desprovido de condições de segurança mínimas. Igualmente nada mencionou a Fazenda com relação à adequação das embalagens destinadas ao envase do combustível coletado pelos agentes fiscais, em face da alegação trazida pelo Sindicato, no sentido de que eles não detém o selo do INMETRO. Por fim, uma vez mais a Fazenda do Estado confirma que as amostras do combustível referido eventualmente pernoitam nas Delegacias Regionais, sendo que as fotografias de fls. 1.036/1.040 comprovam a precariedade desta situação. Oportuno consignar que está-se tratando de coleta, envase, transporte, guarda e armazenamento de combustível, substância altamente inflamável. Não é demais afirmar que um simples acidente de trânsito com um dos veículos que transportam os combustíveis poderia ocasionar explosões e incêndios, colocando em risco não apenas a vida e a integridade dos servidores, mas também de particulares que desafortunadamente estivessem próximos ou se envolvessem no acidente. Inegável, outrossim, o risco a que são submetidos diariamente, não apenas os servidores das Delegacias Regionais, mas também a vizinhança destas repartições, em face da precariedade do armazenamento destas substâncias, conforme revelam as fotografias de fls. 1036/1040. Não se desconhece a relevância da operação "De Olho na Bomba", que tem por finalidade reprimir a venda de combustíveis em desconformidade com a legislação de regência. Contudo, o bem jurídico que se visa tutelar por Processo nº 1027214-28.2016.8.26.0053 - p. 3
fls. 1070 meio do presente remédio, a saber, a vida e a integridade física de seres humanos, obviamente a ela se sobrepõe. Ressalte-se, outrossim, que a simples adoção das medidas de segurança legalmente previstas para cada uma das etapas da operação referida é suficiente para afastar os riscos acima descritos, compatibilizando a inquestionável necessidade de fiscalização dos postos de gasolina com a saúde e integridade física dos servidores e também dos particulares. Desta feita, defiro a tutela de urgência postulada, para o fim de suspender a operação "De Olho na Bomba", devendo as autoridades coatoras se abster de expedir ordens aos Agentes Fiscais para que procedam à coleta, envase, transporte e guarda das amostras de combustíveis, até que lhes sejam disponibilizados os EPIs adequados à referida atividade, bem como que se observem todas as exigências legais no que se refere ao envasamento, transporte e armazenamento das amostras de combustível. II - No mais, notifiquem-se as autoridades coatoras para que prestem informações em dez dias, e cientifique-se a Fazenda Estadual para os fins do artigo 7º, inciso II, da Lei 12.016/09. III Decorrido o prazo, com ou sem informações, abra-se vista ao Ministério Público e, após, tornem conclusos. Cumpra-se, na forma e sob as penas da Lei, servindo esta decisão como mandado e ofício. Consigno que este processo é DIGITAL e, assim, a petição inicial e todos os documentos que a instruem podem ser acessados por Processo nº 1027214-28.2016.8.26.0053 - p. 4
fls. 1071 meio do endereço eletrônico do Tribunal de Justiça (http://esaj.tjsp.jus.br/cpo/pg/open.do), no link: Este processo é digital. Clique aqui para informar a senha e acessar os autos, conforme procedimento previsto no artigo 9º, caput 1, e parágrafo primeiro 2, da Lei Federal nº 11.419 de 19.12.2006, sendo que A SENHA DE ACESSO SEGUE NA FOLHA ANEXA. Exclusivamente no caso de Mandados de Segurança, solicita-se à autoridade impetrada que eventualmente não disponha de acesso ao E-SAJ, que encaminhe suas informações para o e-mail sp5.faz@tjsp.jus.br. Art. 105, inciso III, das NSCGJSP: É vedado ao oficial de justiça o recebimento de qualquer numerário diretamente da parte. A identificação do oficial de justiça, no desempenho de suas funções, será feita mediante apresentação de carteira funcional, obrigatória em todas as diligências. Int. São Paulo, 06 de julho de 2016. Carmen Cristina F. Teijeiro e Oliveira Juíza de Direito 1 Art. 9º. No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico, na forma desta Lei. 2 1º. As citações, intimações, notificações e remessas que viabilizem o acesso à íntegra do processo correspondente serão consideradas vista pessoal do interessado para todos os efeitos legais. Processo nº 1027214-28.2016.8.26.0053 - p. 5