Gleison Mourão da Silva Aluno de Licenciatura em geografia campos Araguaína/ UFT E-mail: gleisonmourao@hotmail.com Alberto Pereira Lopes, Doutor em geografia humana pela a Universidade de São Paulo e professor adjunto/uft E-mail: beto@uft.edu.br ASSETAMENTO LUAR DO SERTÃO: O RETORNO DAS FAMILIAS A TERRA INTRODUÇÃO Nesse trabalho buscamos abordar como estão vivendo as famílias que foram regastadas vitimas da escravidão por dívida, onde as mesmas foram alocadas no Assentamento Luar do sertão, em Ananás TO, e como se deu o retorno delas a terra. Desse modo buscamos vivenciar de perto como estar sendo o convívio dessas famílias com a criação do assentamento, e de que modo se deu o processo de criação desse lugar, onde beneficiara centenas de pessoas, trazendo uma dignidade a toda essa gente que tanto sofreram vitimas da escravidão por dívida. Identificamos a quantidade de famílias que hoje se fazem presentes no assentamento, o tamanho dos seus lotes, o que eles produzem, quais os benefícios de mora nesse lugar. Também buscamos entender o que é trabalho escravo por dívida, ou escravidão contemporânea. No Tocantins, a relação de peonagem com as forças produtivas se define pelo processo degradante da condição humana, da submissão de um para o outro, devido á falta de emprego, de educação e de uma reforma agrária que inclua o trabalhador na sociedade por meio de políticas públicas, destinadas á melhoria das famílias assentadas, para que estas não se tornem os migrantes sem destino e sem direção, criando condição do trabalho escravo por dívida, conforme afirma Lopes (2014). Dessa maneira, o assentamento Luar do sertão é resultado de muita batalha dos trabalhadores rurais e da Pastoral da Terra graças ás mobilizações, os seminários, as reuniões e, sobre tudo a participação de projetos alternativos como a horta comunitária, desenvolvido pelo Centro de Direitos Humanos de Araguaína em inclusão dos trabalhadores que resultou na criação de um lugar em que todos tivessem direitos como: moradia, escola, produção
e saúde. É nesse contexto que pesquisamos a luta e o resultado da formação do assentamento luar do sertão no município de Ananás TO. OBJETIVOS Tivemos como objetivo desse trabalho mostrar de forma contextualizada a luta dos trabalhadores, em conjunto com a Comissão da Pastoral da terra em relação á criação do Assentamento Luar do Sertão no município de Ananás. Discutir formas preventivas das instituições no combate ao trabalho escravo, e a construção de projeto de inclusão dos trabalhadores no Assentamento, e também, identificar no assentamento a produção dos trabalhadores, a moradia, o cotidiano fazendo uma correlação do antes e depois da criação do assentamento, como viviam e como vive essas famílias até chegar a tão esperada criação do assentamento luar do sertão. Identificar qual a sua jornada de trabalho diária e semanal, fazendo uma correlação com o antes, quando eles trabalhavam nas fazendas. OS INSTRUMENTOS METODOLOGICOS Os instrumentos utilizados na pesquisa para obtermos os resultados previstos, visam estabelecer parâmetros de investigação por meio das técnicas que irão fornecer elementos para o campo de interesse. O primeiro foi à pesquisa bibliográfica sobre o tema em estudo, o que irá permitir meios para explorar e buscar novas abordagens ao embasamento teórico e histórico em relação ao problema levantado. As fontes bibliográficas que servirão como base teórica na ótica do tema em estudo partirá de periódicos, livros, teses, dissertações, publicações avulsas, endereços eletrônicos etc., que trarão estudos sobre questão agrária e fundiária, os conflitos no campo, a reforma agrária, a criação de novos assentamentos, o trabalho escravo contemporâneo, as relações capitalistas e não capitalistas no campo, os camponeses etc. que permitirão trazer base teórica pertinente ao objeto do trabalho, para chegarmos a um resultado consistente. Assim trabalhamos com autores como; Lopes (2009), Campos (2004), Figueira (2004), Martins (1997). Para chegarmos aos resultados realizamos coleta de dados no campo por meio de observação direta e intensiva, entrevista com os moradores, e também com os integrantes da pastoral da terra, que prestam uma assistência às famílias assentadas, onde a cada três meses os seus integrantes fazem uma visita ao assentamento buscando
ouvir a comunidade suas queixas, duvida, fazendo uma espécie de assessoramento. Este instrumento de pesquisa nos trará a coleta de informações contidas na vida pessoal do informante, a sua trajetória e experiência vivida no trabalho. Estes são os procedimentos que trouxeram as respostas necessárias ás questões investigadas, a luz do conhecimento científico. RESSULTADOS PREMILINARES Quase todos os assentamentos que surgem no Brasil são frutos da reforma agrária, que consiste na sua maioria na retomada de terras produtivas, das mãos de especuladores, e grileiros que falsificam sues títulos e escrituras. Esses grileiros se beneficiam da pouca fiscalização por parte da União, em fiscalizar e proteger suas terras, de forma que ao falsificar os documentos necessários eles tomam posse da terra, passando a dar uma mínima utilidade possível, evitando assim gastos. Desse modo acabam deixando grandes porções de terra sem atribui- La um valor produtivo. Prejudicando milhões de brasileiros que realmente necessitam, e estão interessados em fertilizá La, com muito trabalho e dedicação, fazendo das mesmas terras produtivas. Dessa maneira, verificamos que o retorno das famílias a terra se deu através do projeto de criação de uma horta comunitária, uma parceira entre o município de Ananás, CDHA (Centro de Direitos Humanos de Araguaína) e CPT (Comissão Pastoral da Terra), e as próprias famílias que foram resgatadas vítimas da escravidão por dívida, que participaram da criação, e na produção de hortaliças, dando um novo rumo para suas vidas. A horta teve como objetivo proporcionar um trabalho para essas famílias, fazendo surgir sua fonte de sustento, e evitando que esses trabalhadores resgatados voltem á reincidência em tal prática. Pois são muitos os trabalhadores que vivem nesse tipo de trabalho, que ao ser resgatado acabam voltando, porque precisam de trabalho para a sobrevivência. O projeto foi significativo, para mostrar o caminho da reforma agrária com recursos que der sustento ao trabalhador para permanecer na terra. No entanto o projeto era limitado devido o tamanho da área, além de ser uma amostragem do que poderia ser necessário para retirar o trabalhador da reincidência do trabalho escravo. O papel que vêm assumindo algumas entidades como a CPT e CDH, mostra o quanto o Estado é falho na organização e distribuição das políticas públicas, diríamos lento e sem vontade política em resolver a estrutura
fundiária, permanecendo o desmando e a expansão do latifúndio. (LOPES, 2009, p.261) A criação do assentamento se deu graças ao trabalho de instituições não governamentais como a CPT e o CDHA no que diz respeito à prevenção das vítimas do trabalho escravo, no momento que criou parcerias com a prefeitura da cidade de Ananás-TO para garantir um trabalho de subsistência desses trabalhadores a não retornarem a degradação e precarização do trabalho. Posteriormente, após o resultado da horta comunitária, diante da luta das famílias, é que a terra torna-se realidade, com a criação do assentamento em uma fazenda praticamente improdutiva no município em que o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) desapropriou para interesse social para fins da reforma agrária. A metodologia de cadastro das famílias estava pautada, sobretudo nas vítimas da escravidão por dívida, que estavam trabalhando na horta comunitária que foi um projeto de inclusão entre o CDHA e prefeitura para aqueles que fossem resgatados da escravidão para não retornar a condição de trabalhadores escravizados. O Assentamento Luar do Sertão atualmente conta com vinte e oito famílias assentadas na qual cada família recebeu um lote com seis alqueires, para viabilizar o processo de produção e reprodução social, sem a preocupação das atrocidades que foram submetidas do cativeiro contemporâneo da terra. Assim, a vítima era sujeito do destino que o outro lhe concedia. Nela, a pessoa empenhada sua própria capacidade de trabalho ou a de pessoas sob sua responsabilidade (esposa, filho, pais) para saldar uma conta. E isso acontece sem que o valor do serviço, executado seja aplicado no abatimento da conta de forma razoável ou que a duração e a natureza do serviço estejam claramente definidas. (CPT, 2011, p.02) A partir do momento em que a terra torna-se propriedade do pequeno trabalhador, ela passa a ser como espaço da cidadania e da atenuação do processo de exclusão social. A distribuição da terra no assentamento Luar do Sertão constitui-se de alguns lotes que são banhados por uma represa, em que as famílias vivem do plantio de mandioca, feijão, milho, banana, entre outros legumes, frutas, verduras e hortaliças, e criam animais como galinha, porco, patos, que são utilizados para o consumo dessas famílias e os excedentes são vendidos na cidade de Ananás.
Todas as famílias sempre trabalharam com a terra, mas nunca tiveram oportunidade de trabalhar para si mesmo. Com a criação do assentamento essas pessoas tiveram a liberdade de trabalhar na terra como pertencimento, fazendo com que os mesmos possam criar sua carga horária de trabalho, que antes quando ainda trabalhavam nas fazendas às vezes a carga horária passava de dez horas diárias. A política de reforma agrária é necessária diante da exclusão que vive milhares de trabalhadores sem salário, sem saúde, sem educação etc. A criação do Assentamento Luar do sertão demonstra a inclusão das famílias na sociedade, esses trabalhadores tiveram uma melhor condição de vida no que diz respeito à própria relação e condição de trabalho. O assentamento também dispõe de uma associação que representa essas famílias na qual luta pelo o melhoramento de produção buscando recursos para dentro do assentamento, como um curso de apicultura que foi ministrado aos moradores, o melhoramento da estrada que dá acesso ao local, o ônibus escolar que todos os dias busca os alunos para levar até a escala, um caminhão da prefeitura que vai duas vezes por mês buscar as mercadorias que são produzidas, para que esses pequenos produtores possam vender na cidade. No que diz respeito aos créditos, as famílias já receberam uma parcela paga pelo o INCRA, que é chamada de crédito inicial que foi paga em dinheiro no valor de três mil e duzentos reais (3.200,000), na qual esse valor foi destinado para a compra de produtos como sementes, adubos, entre outros insumos para o começo do plantio, e também para a compra dos instrumentos de trabalho machado, foice, enxada martelo, pregos, cavadeiras, entre outros materiais de trabalho no campo. Diante da conquista da terra, os assentados são desafiados a organização do espaço na perspectiva de melhorias no processo produtivo e nas relações sociais. A criação de uma associação de trabalhadores facilita a integração das famílias na perspectiva do processo produtivo e da política de melhoria para os assentados. Bergamasco; Norder (1996, p.59) afirma que: As associações facilitam o contato entre os assentados e as instituições públicas e privadas relacionadas à produção agropecuária, como bancos, agroindústrias, agências governamentais, centros consumidores, fornecedores de equipamentos e insumos etc.
Nesse sentido, a associação do Assentamento Luar do Sertão sempre se reúne com seus associados mensalmente, em uma casa que funciona como a sede dessa associação. Um dos resultados da organização dos associados foi recentemente a demarcação da rede de energia elétrica, onde logo as casas passarão a receber energia elétrica, como também estão esperando receber a segunda parcela do credito, que será destinada a construção das residências em que foi assinado um contrato em que a prefeitura receberá a verba para a construção das casas. A horta comunitária teve um papel significativo para essas famílias no que diz respeito a proximidade, integração, e após a emancipação do assentamento esta relação ficou mais próxima diante do contexto de vizinhança, dos mesmos objetivos de melhoria para o assentamento criando laços de amizades e companheirismo e compartilham da mesma luta social, além da felicidade de cultivarem seus produtos em terras próprias. Na ultima visita feita ao assentamento, podemos observar a perspectiva dos moradores em relação ao futuro que almejam em buscar de melhorias qualidade de vida, no processo produtivo e na moradia que atualmente se encontram em casa de madeira coberta de palha. Desse modo, é necessário que as famílias possam ter uma moradia mais digna com um melhor conforto; com o aumento na produção, torna-se a renda das famílias maior, dando mais ânimo para os produtores a continuarem trabalhando na terra, e não se sintam tentados a sair para procurar outros trabalhos para melhorar à renda mensal de casa, fazendo com quer percam o interesse pela a terra. Praticamente todas as famílias reservam um pedaço de terra, dos seus lotes para o plantio de mandioca, pois é um tubérculo que tem facilidade de produção devido às características da própria terra que é arenosa. Da mandioca se extraí vários outros produtos que são bastante vendáveis na região, como a farinha, o polvilho e a farinha de pulba; o principal problema é que o assentamento ainda não conta com uma casa de farinha, que é o local onde é feito todo o processo de fabricação desse alimento que vai desde o descasco até o processo de secagem, e em seguida o ensacamento do produto final. Devido à falta de estrutura, acaba dificultando um pouco mais o processo de produção, pois é necessário que após o cultivo do tubérculo no campo, ele seja levado
até uma casa de farinha mais próxima, o que acaba encarecendo um pouco mais o produto, tendo como consequência a diminuição no lucro final. A Foto 1 mostra o plantio de mandioca, que é bastante cultivada pelas famílias no assentamento. Foto 1: Plantio de mandioca no Assentamento Luar do sertão Fonte: Gleison Mourão. 18 de maio de 2016. A Foto 1 acima mostra o plantio da mandioca, estando quase no ponto para ser colhida, observa-se que solo já foi limpo, o que facilita o manejo na hora de extraí-la. Na Foto 2 mostra o polvilho, também conhecido em algumas regiões do país como fécula de mandioca ou goma de tapioca. Este está em seu processo de secagem, que por alguns dias fica exposto ao sol forte para que possa secar completamente. O polvilho e bastante vendido e utilizado pelas famílias do assentamento, pois e dele que se faz o beiju ou chamada no Nordeste de tapioca. Foto 2: O resultado do processamento da mandioca na fabricação do polvilho Fonte: Gleison Mourão. 18 de maio de 2016
Na imagem acima mostra o polvilho, já no seu penúltimo processo, que é o de secagem, em seguida será ensacado e pronto para ser comercializado, ele é vendido a oito reias o prato, o que corresponde a dois litros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dessa forma, consideramos que o assentamento Luar do Sertão, foi criado para servir de refugio, e acolhida às famílias vítimas de trabalho escravo por dívida na região norte do estado do Tocantins, e com demais estados que fazem fronteiras nessa região. Também levantamos dados e informações da vida das famílias assentadas, e como estas se sentem em morar em terras próprias, o que melhorou em suas vidas após a sua vinda para o assentamento, fazendo assim um paralelo do antes e depois de chegarem ao Assentamento Luar do Sertão. A nossa principal indagação com essas famílias e saber se depois da vinda para o assentamento eles ainda precisam ou sente necessidade de sair para trabalhar fora, em fazendas, correndo o risco de novamente serem aliciados para o trabalho escravo, ou se com terra que lhes foi concedida é suficiente para o trabalho onde eles possam garantir o sustento de suas famílias. REFERÊNCIAS BERGAMASCO, Sônia; NORDEER, Luis A. Cabello. O que são assentamentos rurais. São Paulo: Brasiliense, 1996. (Coleção Primeiros Passos). BRASIL. Direitos Humanos no Brasil 2004: Relatório da rede social de justiça e direitos humanos. São Paulo, 2004 BRASIL. Plano do MDA/INCRA para a erradicação do trabalho escravo. 2. Ed (Rev.). Brasília, Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2005. BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. II Plano Nacional para Erradicação do trabalho Escravo. Brasília, SEDH, 2008. CAMPOS, M. G. A política nacional para erradicação do trabalho escravo. In: Brasil. Direitos Humanos no Brasil 2004: Relatório da rede social de justiça e direitos humanos. São Paulo, 2004. FIGUEIRA, R. R. Pisando fora da própria sombra: a escravidão por divida no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. LOPES, A. P. Escravidão por dívida no norte do estado do Tocantins: vidas fora do compasso. 2009. 315f. Tese. (Doutorado em Ciências Humanas). Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciência Humanas FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo. 2009. MARTINS, A.R. Fronteiras e noções. São Paulo: Contexto, 1992. (Repensando a geografia). MARTINS, J.de S. Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano. São Paulo: Hucitec, 1997. CPT, Comissão Pastoral da Terra. Estatística do Trabalho Escravo no Brasil. Campanha CPT T.E. Janeiro, 2013. Escravo, nem pensar! Disponível em : HTTP:// www.escravonempensar.org.br/2012/jovensparticipam-de-palestra-sbre-trabalhoescravo-no-tocantins.