Estratificação social e poder político nas sociedades de Antigo Regime. Jorge Penim de Freitas

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O soberano não representava mais seus príncipes e condes, passando a encarnar diretamente a representação do povo submetido ao seu poder!

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Transcrição:

Estratificação social e poder político nas sociedades de Antigo Regime Jorge Penim de Freitas

Caracteriza-se pela sociedade de ordens, assente em critérios de nascimento, fortemente hierarquizada e com fraca mobilidade social.

Clero (o primeiro estado): Ocupa com a nobreza o topo da hierarquia social. Ordem privilegiada e rica. Aglutina elementos de todos os grupos sociais. No entanto, devido à rígida hierarquia, cada um ocupa um lugar compatível com a sua origem social.

Nobreza (o segundo estado): É a ordem de maior prestígio. As famílias mais antigas constituem a nobreza de sangue ou de espada. Orgulhosa das suas linhagens antigas, dedica-se à carreira das armas. Subdivide-se em categorias hierarquizadas.

Príncipes, duques, condes e outros pares do Reino, que convivem de perto com o monarca, na corte. (ao lado, retrato de D. João Rodrigues de Sá e Meneses, Conde de Penaguião)

Pequena nobreza rural, menos importante do que a da corte. Tem dificuldade em viver dignamente apenas com os rendimentos provenientes dos seus domínios senhoriais.

Parte desta nobreza era proveniente da burguesia (Terceiro Estado), sendo muitos deles juristas. Olhada cm desprezo pela nobreza de sangue, veio a fundir-se com ela pelo casamento.

Terceiro Estado (ou povo): É a ordem mais heterogénea da sociedade de ordens. No topo estão os homens de letras, formados nas universidades e que o rei emprega no cada vez mais complexo aparelho administrativo e burocrático do Estado. Entre eles, estão organizados hierarquicamente, dependendo a importância da função que exercem.

Financeiros e mercadores, cuja reconhecida utilidade e riqueza granjeava estatuto e respeito.

Outros ofícios, como boticário, joalheiro, chapeleiro, etc, mais ligados à atividade mercantil do que ao trabalho manual, também mereciam respeito.

Todos estes membros do Terceiro Estado constituem a elite da ordem nãoprivilegiada, embora em escalões diferenciados São designados por burgueses. A sua lenta ascensão na sociedade (grangeando riqueza, prestígio e influência) marca o Antigo Regime.

Num escalão inferior estão aqueles cujo trabalho assenta no corpo: lavradores (com terra própria ou arrendada aos senhores nobres ou eclesiásticos)

e abaixo deles estão os artesãos, que desempenham os chamados ofícios mecânicos, como o sapateiro da imagem

seguiam-se os humildes assalariados, com trabalho incerto no campo ou na cidade

e por fim, os mais miseráveis, os que não trabalhavam: mendigos, vagabundos e indigentes.

Todos os elementos do Terceiro Estado, ricos ou pobres, pagavam impostos. Os camponeses constituíam, em média, mais de 80% da população europeia durante o Antigo Regime.

Jacques-Bénigne Bossuet, clérigo francês, teorizou os fundamentos do Absolutismo régio. Ao rei eram atribuídos todos os poderes e toda a responsabilidade do Estado. Legitimava este poder supremo na vontade de Deus.

É sagrado, porque Deus conferiu esse poder aos reis. Atentar contra o rei é, pois, sacrilégio. Mas esse poder deve ser usado para o bem público. É paternal, pois segue o modelo da primeira autoridade que os homens conhecem, o pai. Proteger os fracos e governar com brandura deve ser um princípio a seguir, cultivando a imagem de pai do povo.

É absoluto. O rei não presta contas a ninguém acerca do que ordena. Mas deve assegurar o respeito pelas leis e pelas normas da justiça, de forma a evitar que se instale entre os seus súbditos a lei do mais forte. Está submetido à razão (sabedoria). São as qualidades intrínsecas do monarca (bondade, firmeza, força de carácter, prudência) que asseguram o bom governo.

A Europa dos parlamentos: sociedade e poder político

1568: Revolta contra a soberania espanhola, liderada por Guilherme de Orange. Forma-se a República das Províncias Unidas. Tolerância religiosa, liberdade de pensamento e valor do indivíduo prevaleciam nesta República.

REPÚBLICA DAS PROVÍNCIAS UNIDAS Conselho dos Doze (ou de Estado) Estados Gerais da República PROVÍNCIAS CIDADES Estados Provinciais Conselho de Regentes

A sua organização política descentralizada foi determinante para o desenvolvimento económico verificado. Confederação das Província Unidas Conselho das cidades Estado da Província Estados Gerais de Haia Administração local Aplicação da justiça Controlo da atividade económica Administração fiscal Designação do Grande Pensionário e do Stathouder Discussão de aspetos comuns das províncias Diplomacia e relações externas Decisões sobre a guerra e a paz

A descentralização da federação de Estados multiplicava os cargos de governação a diversos níveis. Famílias nobres e famílias burguesas cooperavam na governação, mas disputavam entre si estes cargos.

Aos nobres cabiam geralmente as funções militares. O Stathouder-Geral, chefe supremo dos exércitos, recaía nos príncipes de Orange, descendentes de Guilherme, o Taciturno, líder da revolta contra Espanha.

As famílias ricas burguesas dominavam os conselhos das cidades e das províncias. A província da Holanda detinha uma posição reforçada nos Estados Gerais de Haia, cabendo-lhe escolher o Grande Pensionário, cargo semelhante ao de primeiro-ministro. (na imagem, Johan de Witt)