Administração pública em perspectiva: inovações e resquícios institucionais. Alketa Peci EBAPE/FGV

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Transcrição:

Administração pública em perspectiva: inovações e resquícios institucionais Alketa Peci EBAPE/FGV alketa.peci@fgv.br

INDICE Burocracia/Mercado/Rede como modelos ideais Administração Pública As fontes de legitimidade da burocracia Novas configurações institucionais para AP? AP na interface com o mercado e o terceiro setor. O papel dos resquícios institucionais e as inovações inesperadas 2

Burocracia-Mercado-Rede como modelos ideais de AP Administração pública é governo em ação W.Wilson Trajetória Histórica da Administração Pública Burocracia Mercado Rede Diferentes soluções relativas à equação AP X democracia e X política Qual a legitimidade de um burocrata não eleito? 3

Burocracia A) Necessária para implementar o papel, em expansão do Estado (de Bem Estar Social, Progressista ou Desenvolvimentista); A) A resposta administrativa : delegação (democracia representativa), separação com a política (neutralidade); Promoção de valores como eficiência, eficácia e economia; modelo organizacional verticalizado baseado na expertise; Impersonalismo 4

O modelo burocrático: consequências A) Gigantismo burocrático; B) Insulamento tecnocrático; C) Exemplo Brasileiro - O modelo da empresa estatal verticalizada Bras ; - Expertise engenharia - Disparidades regionais 5

O Mercado: a competição como modus operandi da AP A. Mercado como resposta da AP à crise do Estado B. Escolha como princípio democrático e de gestão C. A competição, a rivalidade entre agencias governamentais garante a eficiência no governo D. Gestor publico tem flexibilidade para gerir seus recursos humanos e orçamentários. 6

Administração Publica em Ação Papeis de Estado Orientação chave Regulatório Pro-competição Social Equidade social Desenvolvimentista Intervencionismo econômico

O que faz uma AI?

O que faz uma AI?

O que faz uma AI?

ANP e a composição do board

Explorando possíveis associações Maior grau de politização menor foco em regulação; Maior expertise na indústria menor foco em burocratização; Estrutura da indústria - politicas da agencia; Corpo burocrático procuradores-burocratização.

Comparando os Reguladores Outras fontes de captura? (setor regulado, burocracia? São politicamente capturáveis? AUTONOMIA DECISÓRIA dos REGULADORES Tem formação adequada? Tem experiência prévia no setor? regulado 13

Comparando os Reguladores As agências reguladoras federais apresentam maior níveis de expertise (formação + experiência) de que as estaduais; As agências estaduais especializadas apresentam maior nível de expertise; A natureza multisetorial um obstáculo à expertise??? Boa parte dos reguladores estaduais e federais vem do setor público, porém: Maior parte dos reguladores estaduais retorna para o setor público Maior parte dos reguladores federais vai para o setor regulado Claros indícios de fortalecimento da carreira da REGULOCRACIA 14

O mercado: Estado Regulador A. Proliferação do modelo de Independent Regulatory Agency; B. Na AL e OCDE até 80 eram criadas menos de 5 agências/ano 90 a 2002 mais de 20 agencias/ano *chegando a 30/ano no período de 1996 a 2001; Agências foram criadas em 73% dos países Brasil típico exemplo de AGENCIFICAÇÃO, com mais de 50 agências criadas nos três níveis da federação C. Expansão do modelo torna as ARIs sujeitas a reformas continuas D. As novas instituições impõem uma dinâmica própria 15

A reforma de melhoria regulatoria Regulating rule-making Regulocracia brasileira: Privilegia o evidence-based: Regulatory Impact Assessment Transforma um instrumento de controle politico da burocracia num instrumento de controle burocrático da politica 16

Relação Estado Setor Privado IRAs independentes? apenas FORMALMENTE Recurso a mecanismos tradicionais como autarquia especial, mandatos (paralisados), fontes independentes de recursos (contingenciados), controles... MAS... São organizações mais permeáveis a princípios de transparência e profissionalização no setor público; Profissionalização e expertise setorial favorecem o surgimento da REGULOCRACIA; Cultura empírica e contato direto com cliente/cidadão; Adoção de instrumentos mais inovadores (AIR). Atenção Crescente intervenção do Poder Legislativo em esferas de AP balizadas pela expertise. 17

Competição? Educação superior 60-70 universidade publica (60-70s) 2000-2014 ciclo da universidade privada Financiamento Publico Rankings Saúde Reforma da SUS vis a vis mercado de saúde suplementar Os usuários do sistema de saúde tem uma escolha? Existe escolha dentro do mercado de saúde suplementar?

Rankings onde existe competição Heinrich, Carolyn (2017)

O Mercado: consequências A. Privatização # competição B. Ótica de curto prazo C. A barganha e a negociação: multiplicação de stakeholders... D. Mudou substancialmente o papel esperado do Estado... Nova retórica da administração pública: Cliente, serviço, desempenho, agencificação, rankings. A reforma pouco avançou no sentido de: prover a competição entre os órgãos públicos dotar de maior flexibilidade o gestor público 20

O modelo atual? O Estado em Rede A. Democracia participativa ou relações contratuais??? No Brasil, a rede governança privilegia relações contratuais: Com o setor privado: concessão, PPP... Com o IIIo setor: termos de parceria - OS, OSCIPs... Dentro da AP: contrato de gestão, acordo de resultados, avaliação de desempenho... 21

Para ilustrar...relação Estado com o terceiro setor no Brasil Uma revolução silenciosa Ano Base Transferência de R$ para entidades sem fins lucrativos 2014 10.539.606.951,45 2013 9.582.561.317,49 2012 7.187.439.254,42 2011 5.401.112.708,56 Table 1: Fundos transferidos pelo Governo Federal. Fonte: http://www.portaltransparencia.gov.br 22

Relações Estado Terceiro Setor Proliferação de modelos contratuais (OS e OSCIPs) Diversos estágios de maturação dos modelos: do caso de polícia a sucesso organizacional; Dependência do Estado como principal provedor de recursos; Sócios fundadores: políticos ou burocratas; Indícios de um IIIo setor fabricado Quando falta capacidade no mercado de non-profit... EMPRAPII e saúde: public non-profit

Conclusões As trajetórias de reforma da AP resultam no surgimento de instituições sincréticas, marcadas por resquícios institucionais do passado, e inovadoras (em dimensões inesperadas...) Porém, algumas tendências se observam: Cultura de AP voltada para transparência e mensuração (o ideal do homem racional ); Tendências corporativistas quando logica burocrática cresce; Consolidação de novas forma de controle; Demanda para novo tipo de expertise dentro do setor publico gestor de contratos; 24