A MEDIAÇÃO COMO MEIO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO DIVÓRCIO POR VIA ADMINISTRATIVA Lorrana Moulin Rossi Advogada, graduada pela Faculdade de Direito de Vitória-FDV, especialista em Educação, Governança e Direito Ambiental: a gestão de espaços antropizados. RESUMO: A Lei n. 11.441/2007 possibilita o divórcio consensual por via administrativa, o qual possui maior celeridade e menor custo, em comparação com o divórcio por via judicial, além de colaborar com o desafogamento do Poder Judiciário. Entretanto, como o consenso é parte fundamental, muitas vezes os desacordos entre os cônjuges impossibilitam o divórcio por via administrativa. Nesse ponto, a mediação é útil para reestabelecer o diálogo, solucionando conflitos, de forma que só se chegue ao Judiciário os casos em que o acordo não tenha se estabelecido, mesmo após a tentativa mediante a técnica. Palavras-chave: divórcio-administrativo-mediação É sabido que a existência de conflitos é inevitável em uma sociedade e, visando evitar maiores danos, o Estado tomou para si o poder-dever de dizer o Direito, resolvendo as lides, através do Poder Judiciário. Ocorre que, embora haja esse poder-dever, nem todos os conflitos necessitam da tutela estatal para que haja resolução. Apesar disso, em muitos casos, a própria sociedade se acostumou a buscar o Poder Judiciário como primeira e única opção, ignorando outros meios de solução de conflitos.
Um dos meios de resolução de conflitos não-estatal é a mediação, que tem se mostrado eficaz para o fim ao qual se propõe e, muitas vezes, mais vantajosa às partes que dela se socorrem. Segundo o processualista Fredie Didier Júnior, A mediação é uma técnica nãoestatal de solução de conflitos, pela qual um terceiro se coloca entre os contendedores e tenta conduzi-los à solução autocomposta. A mediação é conduzida por uma pessoa neutra, em relação à causa e aos envolvidos, que tem por função facilitar a resolução do conflito pelas próprias partes. A resolução de conflitos através da mediação é extremamente viável principalmente pelos baixos custos, celeridade, sigilo e por as partes envolvidas escolherem, em conjunto, a melhor forma de extinguir a questão que as aflige, fatores estes que resultam em menor desgaste emocional e maior satisfação. Nesse passo, vale citar Wanderley Waldo, em seu livro Mediação, p.19: A mediação tem como principal característica propiciar oportunidades para a tomada de decisões pelas partes em conflito, utilizando técnicas que auxiliam a comunicação no tratamento das diferenças de forma construtiva e interativa. Essa técnica de resolução de conflitos também pode ser usada em conflitos sobre direitos de família, que não tratem de direitos indisponíveis, direitos de menores e incapazes. A resolução dos conflitos, no divórcio, pelos próprios cônjuges, sem a participação do Estado, foi chancelada por meio da inovação trazida através da Lei n. 11.441/2007, que regulamentou o divórcio consensual por via administrativa, mediante o qual, possibilitou-se haver a dissolução do casamento civil. Também no divórcio por via administrativa, o vínculo matrimonial será dissolvido de maneira direta, sem necessidade de prévia separação judicial ou extrajudicial, em consonância com a Emenda Constitucional n. 66, que deu nova redação ao 6º, do
artigo 226, da Constituição Federal, que cumpre citar: 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. Esse procedimento proporciona maior celeridade e, ao mesmo tempo, impede que se chegue ao Judiciário causas onde a participação desse é injustificada, evitandose, dessa forma, o atraso desnecessário em outros processos. A Lei 11.441/2007 prescreve que o divórcio administrativo é cabível quando o casal não tenha filhos menores ou incapazes. Ademais, deve ser feita, consensualmente, a partilha dos bens comuns, determinada a pensão alimentícia ou sua inexistência, bem como, decidido sobre a continuidade ou não do uso do nome do cônjuge. Como se observa, esse tipo de divórcio privilegia as partes e o Judiciário, refletindo no interesse público. Todavia, interessa notar que além da presença da capacidade das partes e dos filhos, deve-se existir consenso quanto aos bens, pensão e nome. E é aí que a técnica da mediação pode ser de crucial importância, evitando maiores prejuízos aos cônjuges, ao Judiciário e à sociedade. Imaginando-se um casal, sem filhos menores ou incapazes, que quer se divorciar, mas ainda não tenha consenso sobre a divisão de bens, pensão alimentícia e uso do nome, em muitos casos, o caminho direto para o Judiciário pode não ser o melhor, sendo mais interessante, para todos, a tentativa de solução dos conflitos, através da técnica de mediação. Nesse passo, vale dizer que a mediação, por sua característica integrativa, poderá, em alguns casos, reatar os laços de comunicação entre as partes, que, muitas vezes, é o causador das discordâncias que desaguam no divórcio, com isso, poderia, até mesmo, impedir o fim do casamento de modo precipitado. Não sendo esse o caso, a mediação é técnica eficiente para resolver os demais conflitos.
No que tange à partilha, o restabelecimento da comunicação entre as partes tem o condão de facilitar o entendimento sobre qual bem ficará com cada parte. Em razão de o acordo não ser decisão emanada por pessoa distante da vida dos cônjuges, e sim por estes próprios, a possibilidade de satisfação e, até mesmo justiça, é maior do que quando a causa é submetida ao Poder Judiciário, até mesmo porque as partes sabem o valor e a utilidade que cada bem tem em especial para ela, independentemente de seu valor objetivo. Na mediação, por ter característica integrativa e de intensificação do diálogo, a divisão de bens ficará mais adequada, por levar em conta as características, gostos e o estilo de vida de cada cônjuge, deixando para eles mesmos a incumbência de chegar à conclusão sobre o que é melhor. A quantificação da pensão alimentícia ou a sua dispensa merece cuidado, todavia, não diferente do que o que deve ser dispensado ao assunto quando os cônjuges se dirigem ao cartório sem, previamente, submeterem-se ao procedimento de mediação. Essa atenção é devida à natureza jurídica dos alimentos, que a maioria dos juristas entende ser mista, a saber, um direito de conteúdo patrimonial e finalidade pessoal (Carlos Roberto Gonçalves, p. 500). É sabido que os alimentos têm por objetivo garantir a sobrevivência e manter, no que for possível, a condição social do alimentando. Todavia, esses critérios devem ser ponderados através do binômio necessidade-possibilidade, de forma que deve ser buscado o equilíbrio, para que não haja demasiado prejuízo a qualquer dos cônjuges. Quanto a esse assunto, há que se dizer que a utilização da mediação poderá apresentar mais preciso equilíbrio entre necessidade e possibilidade, quando for necessário determinar pensão alimentícia, e maior acerto quando da decisão de dispensa dessa, se comparado à ausência de diálogo e à decisão fria, impulsiva, muitas vezes impensada dos cônjuges.
No que tange à permanência, ou não, do uso do sobrenome do cônjuge, trata-se de conflito que também pode ser resolvido através da mediação, quando os cônjuges ponderarão sobre a viabilidade de se continuar a usar o sobrenome. O que se deve ter em mente é que quanto mais rapidamente o conflito acabar, melhor será para todos. Assim, mesmo que os cônjuges não tenham, de início, consenso sobre as questões referentes ao divórcio, é melhor que se submetam ao processo de mediação antes de bater às portas do Judiciário, pois a celeridade será maior, os custos serão menores e as probabilidades de satisfação e de justiça serão aumentadas. Referências: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7ao.htm Didier Júnior, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 6 ed. Salvador: Juspodivm, 2006. Vol 1. Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. Vol 6. Lei n. 11.441/2007, de 04 de janeiro de 2007, disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11441.htm> Waldo, Wanderley. Mediação. Brasília: Editora MSD, 2004