Substituto de Conselheiro Alexandre Manir Figueiredo Sarquis Segunda Câmara Sessão: 26/5/2015 73 TC-001817/009/12 Órgão Público Concessor: Prefeitura Municipal de São Miguel Arcanjo. Entidade(s) Beneficiária(s): Sistema de Assistência Social e Saúde SAS (OSCIP). Responsável(is): Antonio Celso Mossin e Claudete de Oliveira Souza de Paula. Assunto: Prestação de contas repasses públicos ao terceiro setor. Justificativas apresentadas em decorrência de assinatura de prazo, pelo Conselheiro Robson Marinho, publicada(s) no D.O.E. de 11-04-13. Exercício: 2011. Valor: R$2.357.394,73. Advogados(s): Daniela Francine Torres, Bianca Rauen Maciel Thomé, Cintia Marsigli Afonso Costa e outros. Procurador(es) de Contas: João Paulo Giordano Fontes. Fiscalizada por: UR-9 DSF-I. Fiscalização atual: UR-9 - DSF-I. Segunda Câmara Sessão: Relatório Em exame, prestação de contas decorrente de termo de parceria, referente ao exercício de 2011, no valor total de R$ 2.357.394,73 (recursos municipais), firmado entre a Prefeitura Municipal de São Miguel Arcanjo e o Sistema Assistencial Social e Saúde - SAS, tendo por finalidade a prestação de serviços de medicina e de suporte técnico na unidade municipal de pronto atendimento. O termo de parceria e os termos aditivos, tratados no TC-2350/009/08, foram julgados irregulares pela e. Segunda Câmara, assim como as prestações de contas dos exercícios de 2008 e 2009, ora tratadas nos TC s-2186/009/2009 e 1727/009/2010. A fiscalização apontou ocorrências, dentre elas: i) divergências nos valores informados pela entidade e nos valores referentes às disponibilidades bancárias; ii) terceirização de serviços médicos; iii) terceirização de 1
atividades de gerenciamento administrativo, com alto custo dos contratos administrativos; iv) pagamentos de juros e multas; v) elevado nível de endividamento da entidade com potencial risco à continuidade dos serviços; vi) informações divergentes quando comparado com o Demonstrativo Integral de Receitas e Despesas e do extrato do relatório de execução física e financeira do termo de parceria; vii) parecer da auditoria independente, que emitiu parecer com ressalvas; viii) aprovação do desempenho da OSCIP com diversas recomendações pelo Conselho de Políticas Públicas; ix) descumprimento às Instruções nº 02/08. As interessadas apresentaram justificativas e documentos relacionados aos apontamentos da equipe de fiscalização. Quanto ao questionamento referente ao endividamento, a entidade entende inexistir irregularidade na questão, em razão de que gerencia recursos financeiros de terceiros, repassados na exata medida para o atendimento das despesas necessárias para a execução de cada projeto pactuado. Assevera que, grande parte desse passivo refere-se ao provisionamento de despesas com pessoal e encargos, que somente ocorrerá no momento de eventual dispensa de funcionários da OSCIP. Além disso, o regime contábil utilizado é o de competência, sendo contabilizadas dívidas de longo prazo, cujas receitas para liquidação serão repassadas no período adequado. Quanto à terceirização de serviços médicos, asseverou que o plano de trabalho no subitem 7 do item 9, estabeleceu a possibilidade de contratação de empresas terceirizadas. Em relação ao elevado custo do gerenciamento administrativo, informou que tais custos englobam o pagamento de serviços contábeis, jurídicos, financeiros, informática, dentre outros. Acresceu que ao analisarmos as despesas com serviços administrativos, observamos que estes representam um percentual mínimo dos recursos repassados e, portanto, dos custos para a execução pela OSCIP da parceria pactuada, mostrando-se, a nosso ver, como um gasto razoável com tal tipo de atividade, especialmente considerando-se o 2
porte da unidade de saúde gerenciada, que realizou no exercício de 2011 mais de 52.000 consultas/atendimentos de urgência e emergência, além de mais de 14.000 exames de análises clínicas, raio-x, eletrocardiograma, bem como outros procedimentos, conforme consignado no Relatório de Avaliação do Termo de Parceria, acostado às fls. 60/63 dos autos.. No que diz respeito ao pagamento de juros e multas, informou que está providenciando a devida restituição ao erário. Foi aberto novo prazo às interessadas, desta vez para que apresentassem: a) as atas de suas reuniões ordinárias e extraordinárias, relacionadas ao período que houve prestação de serviços à Prefeitura Municipal de São Miguel Arcanjo; b) os contratos firmados entre a OSCIP e as empresas: Globalvita Saúde Ltda., Aviza Assessoria e Consultoria S/C LTDA., Nexo Consultoria e Serviços Ltda., Planos Adm Hospitalar Ltda., e Gestão Administração e Serviços Ltda.; c) respectivos contratos sociais das mencionadas empresas; d) notas fiscais por ela emitidas no exercício de 2011. E, no mesmo prazo, deveriam informar sobre a existência de remuneração dos dirigentes da entidade. Segundo o SAS, como já é do conhecimento dessa E. Corte, a documentação atinente a esta Entidade foi requisitada pelo Ministério Público do Estado, não se encontrando, portanto, na posse desta OSCIP, o que torna dificultoso o atendimento do quanto determinado. Acostou aos autos unicamente o contrato com a empresa Nexo Consultoria e Serviços Ltda. No tocante ao aspecto econômico-financeiro, a ATJ entendeu que as divergências constatadas pela fiscalização no demonstrativo das receitas e despesas (Anexo 15) e nas peças contábeis podem ser afastadas, porquanto assiste razão à defesa ao alegar que houve confusão entre os dados que retratam o regime de competência e aqueles que se referem ao regime de caixa. Prossegue informando que As despesas operacionais do exercício de 2011 corresponderam a R$ 2.812.537,28, 3
resultando no déficit de R$ 40.861,24. Assim, a considerar a realização pelo regime de competência inexiste saldo pendente de aplicação para o próximo exercício, uma vez que os recursos repassados foram integralmente consumidos na operacionalização da unidade gerenciada em 2011. Ao final de seu pronunciamento, manifestou-se pela regularidade das contas prestadas. No tocante ao aspecto jurídico, a ATJ opinou pela irregularidade da prestação de contas. Sobre a terceirização de serviços médicos, entendeu que não são passíveis de aceitação as justificativas da Entidade, considerando o item j da cláusula 1.1, do Termo de Parceria ser bastante claro que somente será admitida a terceirização de atividades meio e dos serviços de radiologia, exames laboratoriais, gesso, e outras atividades de suporte, NÃO podendo ser objeto de terceirização o gerenciamento e o atendimento médico. Ademais, que Considerando ainda que os documentos solicitados pelo e. Conselheiro Relator em fls. 217 não foram encaminhados em sua totalidade por estarem em posse do Ministério Público do Estado, impossibilita o esclarecimento das dúvidas suscitadas. Chefia de ATJ pela regularidade com recomendações. MPC pela irregularidade das despesas elencadas no item 2.2 do relatório da fiscalização de fls. 82 e seguintes. ak/ É o relatório. 4
Voto TC-001817/009/12 De se frisar, inicialmente, que o Município de São Miguel Arcanjo - ano de 2012 - suspendeu o termo de parceria firmado, em decorrência da ausência de prestações de contas e, também, da abertura de Inquérito Civil pelo Ministério Público do Estado de São Paulo que apura irregularidades envolvendo o SAS na administração do Hospital Regional de Itapetininga, em razão de emissão de notas frias, desvios, dentre outras irregularidades. Denotam-se, nestes autos, inúmeros descompassos com relação ao cumprimento das obrigações contidas nas Instruções nº 02/08, tanto com relação ao órgão público, quanto com relação à OSCIP, conforme restou evidenciado pelo relatório da fiscalização. A justificativa do SAS de que os contratos com os prestadores de serviços foram encaminhados ao Ministério Público e, por essa razão, não os possui para apresentação a esta Corte de Contas, é inaceitável e absurda! Por certo que o não encaminhamento da documentação requisitada serve para mascarar ilicitudes nas respectivas contratações, em afronta não só à Lei federal nº 9790/99, como às regras estabelecidas no termo de parceria, a demandar, assim, aplicação de severa penalidade à sua responsável. Há que se pontuar, ainda, que o Município de São Miguel Arcanjo deixou, ao que tudo indica, de proceder à escorreita fiscalização com relação à aplicação dos recursos pelo SAS, em vista, como acima mencionado, dos permissivos relacionados à terceirização de atividades não admitidas pelo termo de parceria e da não conferência dos recolhimentos previdenciários e fiscais, ocasionando atrasos e incidência de multas e juros pagos com recursos públicos, no total de R$ 2.757,73, ainda não restituídos ao erário. Assim como ocorrido com as parcerias nos Municípios de Itapetininga e Vargem Grande Paulista, o caso vivenciado pelo Município de São Miguel Arcanjo não se distancia dos 5
problemas constatados nas mencionadas parcerias, tanto é assim que respectivas parcerias estão sendo objeto de apurações pelo Ministério Público. Dessa forma, encurto razões, com fundamento no artigo 33, III, b, da Lei Complementar nº 709/93, meu voto julga irregulares as contas prestadas pelo Sistema Assistencial Social e Saúde - SAS acerca dos valores a ele transferidos durante o exercício de 2011, condenando a mesma entidade à devolução ao erário municipal do importe de R$ 2.757,73, e impedindo-a de novos recebimentos. Proponho, por conseguinte, o acionamento do disposto nos incisos XV e XXVII do artigo 2º da mesma norma legal. Aplico, ainda, multa de 500 UFESPs ao então Prefeito Municipal, Sr. Antonio Celso Mossin, por deixar, nos termos do artigo 74 da Constituição Federal, de promover o efetivo controle financeiro relacionado às despesas do SAS, e multa, com fundamento no artigo 104, II, da Lei complementar estadual nº 709/93, de 500 Ufesp s à Claudete de Oliveira Souza de Paula, responsável pelo SAS, por não atendimento ao despacho de fls. 217. Por último, proponho severa recomendação à Prefeitura Municipal de São Miguel do Arcanjo para: a) reforçar os mecanismos de controle interno, gerenciando e acompanhando suas parcerias com as entidades do terceiro setor, de modo a evitar situações como as reveladas nestes autos; b) atentar, em situações da espécie, com rigor, aos dispositivos constantes da Lei federal nº 9.790/99 e nas Instruções nº 02/08 deste Tribunal. Encaminhe-se cópia desta decisão ao Ministério Público do Estado de São Paulo. 6