ANO 5 NÚMERO 35 MARÇO DE 15 PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO 1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS Prof. Flávio Riani Após um período de ajustes no valor dos chamados bens com preços administrados a inflação medida pelo IPCA atinge um patamar extremamente preocupante, mantendo-se, por dois períodos consecutivos, níveis acima do teto máximo para ela estabelecido nas metas governamentais. O grande risco nesse processo é o de que, com taxas de inflação elevadas, surjam pressões de toda natureza por recomposição de preços, voltando-se ao perigoso processo de indexação na economia brasileira. Como se não bastasse os efeitos provocados pela correção dos preços administrados, a desvalorização do real poderá ser também outro fator indutor da inflação via custos. Tais fatores geraram situações nas quais são vários os setores que apresentam taxas acumuladas de elevação de preços superiores à taxa média do IPCA apurado até fevereiro desse ano. Apesar desses impactos iniciais a expectativa é a de que ao longo do ano haja uma tendência à diminuição das taxas mensais que, de qualquer forma, ainda resultarão num índice acumulado superior ao teto máximo estimado pelo governo. A divulgação do PIB de 14 possibilita analisar a profunda desaceleração da economia brasileira, abrindo espaço para projeções sobre o nível de atividade esperado da economia em 15. O indicador relativo à produção industrial em janeiro de 15, no entanto, suscita algumas reflexões sobre uma possível recuperação da economia brasileira em 15. Nesta carta registramos a evolução deste processo, que dá mostras de um grande grau de volatilidade e muitas oscilações, tornando as projeções sobre os próximos meses ainda mais complexas e desafiantes. - ELEVAÇÃO DOS PREÇOS ADMINISTRADOS FAZEM TAXAS DE INFLAÇÃO ACUMULADAS, MEDIDA PELO IPCA, SUPERAREM NOVAMENTE A META ESTABELECIDA. A taxa de inflação apurada pelo IPCA em fevereiro alcançou o patamar de 1,4%. Embora ela seja pouco inferior à de janeiro, percebe-se pelo gráfico 1 que ela superou em muito a taxa obtida no mesmo período do ano anterior quando alcançou,69%. O valor acumulado até fevereiro foi exatamente o dobro do apurado no mesmo período do ano anterior, contribuindo para que o valor acumulado nos últimos 1 meses superasse o teto máximo da meta de 6.5%. EXPEDIENTE Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler Dom Walmor Oliveira de Azevedo Reitor Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Vice-Reitora Professora Patrícia Bernardes Assessor Especial da Reitoria Professor José Tarcísio Amorim Chefe de Gabinete do Reitor Professor Paulo Roberto Souza Chefia do Departamento de Economia Professora Ana Maria Botelho Coordenação do Curso de Ciências Econômicas Professora Ana Maria Botelho Coordenação Geral Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 13 Avenida Dom José Gaspar, 5 Bairro Coração Eucarístico CEP: 3535-91 Tel: 3319.439 www.pucminas.br/iceg/conjuntura icegdigital@pucminas.br
Gráfico 1 -% IPCA 9 8 7 6 5 4 3 1 1,,69 1,4 fev/15 fev/14 jan/15 Fonte: IBGE 7,7 6,5,48 1,4 Acum.15 Acum.14 Acum. 1 Meta meses máxima Em relação aos fatores que mais contribuíram para as variações no IPCA pode-se destacar três deles: primeiro os aumentos dos combustíveis cujos preços elevaram-se em 8,4% em fevereiro, refletindo o aumento no PIS/Confins, contribuindo para que o setor de transportes subisse,%; outro fator explicativo do aumento da taxa de inflação em fevereiro foram os reajustes das mensalidades escolares que nos cursos regulares elevaram-se em aproximadamente 7,4%; por fim a alimentação e bebidas variou,81% índice esse inferior ao observado em janeiro. Apesar disso, o grupo alimentação fora de casa elevou-se em,95% pressionando a elevação agregada dos preços. De qualquer forma, os efeitos maiores provocados nos preços em fevereiro foram consequência das elevações observadas nos preços administrados. Conforme destaca a tabela 1, os itens que apresentaram maiores elevações nos últimos 1 meses foram os de energia elétrica, ônibus urbano e gasolina. No que se refere aos preços livres as carnes foram as que apresentaram maiores taxas de crescimento no período. Tab. 1 - IPCA Selecionado 1 meses até fev.15 Itens % Administrados Energia Elétrica 3,7 Ônibus Urbano 13,77 Gasolina 1,86 Preços Livres Carnes,19 Empregado Doméstico 9,99 Refeição fora de casa 9,56 Fonte : IBGE Quando se analisa a trajetória de crescimento dos preços medidos pelo IPCA e dos preços administrados (cujos preços são controlados pelo governo) pelo gráfico nota-se claramente o controle feito pelo governo no período de 14 até as eleições, na tentativa de
controlar a inflação. As consequências do represamento nesses valores recaíram sobre as finanças das empresas administradas e com impactos mais significativos na inflação de fevereiro após a recomposição dos preços. 1 1 8 6 4 jan/14 Gráfico -Evolução dos Índices de Preços e Metas do Governo para o IPCA fev/14 mar/14 abr/14 mai/14 jun/14 jul/14 ago/14 set/14 out/14 nov/14 dez/14 jan/15 fev/15 Administrados IPCA Teto máximo Meta Fonte: IBGE Os gráficos 3,4 e 5 seguintes destacam o comportamento da inflação medida pelo IPCA nas regiões nas quais as variações de preços são apuradas. Eles mostram variações nos valores apurados nas regiões com destaque na permanência do Rio de Janeiro nos índices acumulados tanto no ano quanto nos últimos 1 meses. 1,8 1,6 1,4 1, 1,8,6,4, 1,66 Graf. 3 -IPCA Por Regiões Fev.14 % 1,,57 Fonte: IBGE
Graf. 4 IPCA por Regiões Acumulado em 15 % 3,5 3,5 1,5 1,5 1,36,48,93 Graf. 5 - IPCA por Regiões Acumulado 1 meses % 1 8 6 6,64 7,7 9, 4 No que se refere aos grupos nos quais as variações de preços são apuradas, o gráfico 6 destaca as taxas do IPCA acumuladas em cada um deles nos últimos doze meses até fevereiro de 15. Nesse período os gastos com habitação apresentaram elevações de 11,31% muitos superiores a média de crescimento dos preços cujo valor foi 7,7%, situação essa que pode ser observada também em relação ao grupo Alimentação e Bebidas cujo crescimento atingiu 8,99%. O fato dos preços nesses dois setores terem crescido em taxas acima da média do IPCA é negativamente significativo em função da importância desses dois grupos nas despesas correntes familiares.
Gráf. 6 -IPCA por Grupos Acumulado nos útimos 1 meses até fev.15 % 1 1 8 7,7 8,99 11,31 6 4-3- Evolução da produção industrial: recuperação ou manutenção da volatilidade? Prof. Ricardo F. Rabelo De acordo com os últimos dados sobre produção industrial divulgados pelo IBGE, em janeiro de 15, a produção industrial brasileira acusou crescimento de,% em relação a dezembro de 14, dando mostras de uma possível recuperação em 15. Esse crescimento resultou da expansão da produção em duas das quatro grandes categorias econômicas e em 13 dos 4 ramos pesquisados. Gráfico 7 - Produção Industrial Setores Janeiro 15/Dezembro 14 9, 8, 7, 6, 5, % 4, 3,, 1,, Indústria geral Extrativas Fonte: IBGE Transformação Alimentícia Têxtil Metalurgia Setores Informática/eletronica Materiais Elétricos Máquinas e eqtos
Os indícios de uma recuperação se revelam, em primeiro lugar, pelos setores, que podem estar respondendo a processos de crescimento. O primeiro setor a destacar é o de produtos alimentícios, que aumentou 3,9%, o que pode ter a ver com um aumento de demanda destes produtos. Outros setores com desempenho positivo se referem a atividades geralmente vinculadas ao investimento como o de máquinas e equipamentos (7,6%), metalurgia (5,4%), indústrias extrativas (,1%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (9,%). Esses setores são fundamentais para uma recuperação, pois tem a capacidade de propagar estes resultados para o conjunto da indústria. Já entre as grandes categorias econômicas, destacam-se setores como o de bens de capital, que cresceu 9,1%, revelando a maior expansão em janeiro de 15. Trata-se de um crescimento cuja intensidade foi a mais expressiva desde julho de 14, quando cresceu 14,7% e recuperou parte da redução de 13,4% acumulada entre outubro e dezembro últimos. Outro setor com desempenho positivo, embora reduzido, é o de bens intermediários, que teve crescimento de,7%. Já nas categorias relativas a bens de consumo, o comportamento foi de queda da produção. Dessa forma, a produção de bens de consumo duráveis recuou 1,4% e a de bens de consumo semi e não duráveis,3%. Gráfico 8 - Produção Industrial - Categorias- Janeiro 15/ Dezembro de 14 1 5 % -5-1 -15 Bens de Capital Fonte:IBGE Bens Intermediários Bens de Consumo Duráveis Setores Semiduráveis e não Duráveis Indústria Geral
De uma maneira geral, o setor industrial no início de 15 volta a revelar seu potencial produtivo, com um crescimento expressivo de,% na comparação janeiro de 15/dezembro de 14, o que foi a expansão mais ampla desde junho de 13 (3,5%). Isso, no entanto, não afastou a caraterística já apontada por nós nesta Carta, de grande volatilidade da produção industrial, oscilando cada vez mais em torno de resultados negativos. Refletindo os problemas estruturais da indústria e as tendências mais recentes da política econômica, que caminha para um ajuste recessivo, a produção total da indústria recuperou somente de forma parcial o recuo de 4,3% acumulado no período novembro-dezembro de 14 e agora está 8,9% abaixo do nível mais expressivo obtido em junho de 13. Se compararmos com igual mês do ano anterior, a produção industrial mantém essa retração, com o índice mensal de janeiro de 15 mostrando o décimo primeiro resultado negativo seguido, revelando novamente uma maior frequência de taxas negativas entre as atividades e as grandes categorias econômicas. 4- PIB EM 14 CRESCEU,1% E MOSTRA GRANDE DESACELERAÇÃO DA ECONOMIA Prof. Ricardo F. Rabelo Numa primeira análise dos resultados do PIB de 14, que foram divulgados no encerramento desta edição da Carta de Análise Conjuntural, a economia brasileira mostra um profundo processo de desaceleração, com um crescimento de apenas,1% após ter crescido,3% em 13. De acordo com os dados do IBGE, este desempenho se deve ao crescimento de,3% do PIB do quarto trimestre de 14, mantendo o crescimento do 3o. trimestre e compensando a queda havida nos dois primeiros trimestres. GRÁFICO 9 - PIB 14 OFERTA,8,6,4, % -, -,4 -,6 -,8-1 -1, PIB AGROPECUÁRIA INDÚSTRIA SERVIÇOS FONTE: IBGE VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVSETORES
Em termos setoriais o grande fator dinâmico foi ainda a Agropecuária, que registrou crescimento de 1,8%, enquanto a produção Industrial não teve grande alteração, com queda de,1%. Já o setor de Serviços cresceu,3%. Se compararmos com o quarto trimestre de 13, os resultados variam, com a Indústria tendo queda de 1,9%, os Serviços crescendo,4% e a Agropecuária mantendo a liderança do crescimento com expansão de 1,%. Considerando a evolução do PIB pela ótica da demanda, o consumo das famílias registrou expansão de 1,1% em relação ao trimestre anterior. Este continua sendo o fator responsável pelo crescimento do PIB. Em contrapartida o investimento, revelado pela formação bruta de capital fixo, teve queda de,4%, assim como a despesa de consumo do governo, com retração de,6%. Já no setor externo, as exportações recuaram 1,3% e as importações tiveram queda de 5,5%, revelando a importância que tem o setor externo no processo de desaceleração.