Caracterização das famílias e das atividades de produção e comercialização do Assentamento Anhumas, em Castilho-SP



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Transcrição:

Caracterização das famílias e das atividades de produção e comercialização do Assentamento Anhumas, em Castilho-SP Thays Floriano Bezerra Graduanda em Agronomia da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (UNESP) Passeio Correntes, 8. CEP: 5385-. Ilha Solteira-SP thaystfb@bol.com.br Antonio Lázaro Sant Ana Professor do Depto. de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - UNESP Avenida Brasil, 5. Cx. Postal 5. CEP: 5385-. Ilha Solteira-SP lazaro@agr.feis.unesp.br Área Temática: Reforma Agrária e Políticas de Redução da Pobreza Forma de apresentação: apresentação em sessão sem debatedor.

Caracterização das famílias e das atividades de produção e comercialização do Assentamento Anhumas, em Castilho-SP Resumo O trabalho analisa as características das famílias e as atividades de produção e de comercialização que têm sido importantes na melhoria da renda e do bem estar dos produtores de um assentamento de implantação recente, o Projeto Anhumas, em Castilho (SP). Os produtores foram escolhidos com base em dados secundários e em informações dos técnicos do Itesp. Os dados de cada experiência foram levantados por meio de um questionário, aplicado junto aos três grupos existentes e 3% das famílias do Assentamento. A caracterização geral das famílias indicou que há limitações ligadas ao baixo grau de escolaridade dos produtores e que as experiências que estão se estruturando e as alternativas utilizadas tiveram como base de sustentação os recursos de investimento recebidos do Pronaf. A atividade predominante é a pecuária de leite e embora apresente uma baixa tecnificação, com queda acentuada da produção de leite na época da seca, alguns produtores começam a se estruturar para obter uma produção mais uniforme ao longo do ano. Os produtores têm buscado também outras alternativas de produção e/ou de comercialização. Embora ainda sejam atividades incipientes, dado o tempo relativamente curto de implantação do assentamento, podem tornar-se importantes fontes de renda para as famílias. Constatou-se também que a produção para o autoconsumo, mesmo não gerando renda monetária, é um importante mecanismo de reprodução social destes produtores. PALAVRAS-CHAVE: Assentamento rural; Caracterização das famílias e da produção; região de Andradina-SP.

Caracterização das famílias e das atividades de produção e comercialização do Assentamento Anhumas, em Castilho-SP. APRESENTAÇÃO A atual pesquisa faz parte de um projeto mais amplo que visa estudar as experiências (familiares ou grupais) relativas à produção e à comercialização que têm sido relevantes para melhorar a renda e/ou a percepção de bem estar das famílias dos assentamentos da região de Andradina. No caso específico da pesquisa que originou este trabalho está sendo estudado o Assentamento Anhumas, no município de Castilho (SP). Os trabalhos sobre assentamentos rurais, que tratam da organização da produção e da comercialização, têm demonstrado que é enorme a variedade de experiências. Elas podem estar ligadas ao âmbito específico de uma família, de um grupo de produtores ou de uma associação/cooperativa com grande número de membros; também podem estar vinculadas a uma política agrícola específica e/ou às intervenções de instituições de assistência técnica e extensão rural. Este estudo (assim como os demais previstos para serem realizados em outros assentamentos da região de Andradina) busca identificar alternativas que apresentam potencial desenvolvimento, a partir das experiências já existentes, mesmo que sejam de pequeno porte. Para superar o âmbito específico de cada experiência, serão analisados os aspectos organizacionais e metodológicos comuns às diversas experiências, especialmente as possíveis articulações entre as estratégias dos produtores/grupos, a assistência técnica/extensão rural e as políticas públicas. Desta forma, esta pesquisa poderá contribuir para melhorar as condições de vida das famílias assentadas e propiciar melhor utilização dos recursos públicos, em termos de investimentos e extensão rural. O Assentamento Anhumas possui como particularidade, em relação aos demais assentamentos que serão estudados no Projeto mais amplo, o breve período de implantação (pouco mais de 3 anos). Este fato, se por um lado limita a análise sobre a consistência temporal das experiências avaliadas, por outro lado permite observar as condições em que são criadas e desenvolvidas as experiências em um assentamento que está se estruturando.. A IMPORTÂNCIA DOS ASSENTAMENTOS RURAIS De acordo com dados citados no II Plano Nacional de Reforma Agrária (II PRNA), no período entre 995 e, foram assentadas 5.38 famílias. Trata-se de uma quantidade expressiva quando se compara com os trinta anos anteriores, desde a promulgação do Estatuto da Terra, em que apenas 8 mil famílias haviam sido assentadas. O ritmo parece ter arrefecido no final do Governo Fernando Henrique e o Governo Lula embora projete até o assentamento de 5 mil famílias, em 3 assentou apenas 33 famílias; em, segundo os dados oficiais (Incra) foram assentadas 8.3 famílias (INCRA, ). Quando se avalia a demanda potencial, constata-se que há um grande contingente de produtores sem terra, mais de 3,3 milhões (arrendatários, parceiros e posseiros), segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 995/. Seriam necessárias várias dezenas de O II PRNA está disponível em http://www.incra.gov.br, acesso em //5. Em de acordo com os dados citados no II PRNA foram assentadas 38 famílias, enquanto a média dos anos anteriores (997-) foi superior a 8 mil famílias/ano.

anos para completar o processo de reforma agrária, mesmo considerando aquele ritmo mais intenso observado no período 995-. Há ainda a agravante de que muitos produtores familiares continuam a ser expulsos do campo, sem ter perspectivas de obter condições adequadas de vida nas cidades. Numa perspectiva histórica, a ausência de uma política agrária pelas agências governamentais fez com que a implementação de assentamentos rurais, na grande maioria dos casos, tenha sido resultado das contundentes ações políticas dos trabalhadores rurais. As iniciativas desses trabalhadores têm sido o verdadeiro motor das desapropriações (BERGAMASCO e NORDER, 3; HEREDIA et al., ). Heredia et al. (), em pesquisa que abrangeu 9 projetos em várias regiões do país 3, constatou que 9% dos assentamentos implantados envolveram situações de conflito, e apenas % das desapropriações foram requeridas pelo Incra. No estado de São Paulo, de acordo com o Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) até outubro de haviam 95 famílias assentadas em 7 projetos. Um levantamento da produção nos assentamentos do estado de São Paulo, referente à safra 99/, verificou que em 59% da área é desenvolvida a pecuária leiteira; 5% da área é ocupada com a produção de grãos e apenas % destina-se à fruticultura. No período entre 95/9 e 99/ houve uma tendência de diversificação da produção e o aumento significativo da produção de leite e da cultura da mandioca (ITESP, ). Ainda de acordo com o Itesp (998), o valor monetário médio por família ficou em torno de,5 salários mínimos por mês, aos valores da época (9/97), alcançando nos assentamentos mais consolidados valores superiores a cinco salários mínimos/mês. No entanto, alguns autores (GRAZIANO NETO, 99; MÜLLER, 99) questionam a necessidade e/ou eficácia da reforma agrária no Brasil, argumentando que não há farta disponibilidade de terras ociosas e portanto um programa deste tipo poderia desmantelar um sistema produtivo forte e que tem sido capaz de produzir muito mais sem incorporar mais gente, seja como mão-de-obra, seja como proprietário (MÜLLER, 99, p. 35). Já Graziano da Silva (99; 999) embora não descarte a redistribuição de terras, enfatiza que a reforma agrária não deve ter como foco principal a produção agrícola, já que parcela expressiva da renda hoje auferida pelos produtores rurais não tem sua origem na agricultura. A tendência de crescimento da pluriatividade é um aspecto importante e deve ser considerado na elaboração dos projetos, mas não pode servir de justificativa para não realização da reforma agrária. Mas há vários estudos, como o da FAO/PNUD (99); Ferrante e Bergamasco (99) e Heredia et al. () que destacam a melhoria da condição de vida das famílias após o assentamento, tanto do ponto de vista objetivo, como em termos de percepção da grande maioria dos assentados. O trabalho da FAO/PNUD (99) conclui que renda média obtida por uma família assentada é superior ao obtido pelas famílias de trabalhadores rurais, embora haja uma diversidade muito acentuada de acordo com a região. Heredia et 3 As regiões pesquisadas, denominadas manchas, por concentrarem grande número de assentamentos foram o entorno do DF - GO e MG; o sertão do Ceará; o sudeste do Pará; o oeste de Santa Catarina; sul da Bahia e zona canavieira do NE (AL, PB e PE), totalizando 39 municípios. Dados disponíveis na página oficial do Itesp: www.institutodeterras.sp.gov.br, acesso em //. O Itesp inclui, neste total, os reassentamentos organizados pelas companhias hidrelétricas e outros implantados pelo governo do Estado. Após este período, somente na região de Andradina foram implantados quatro novos assentamentos, o Belo Monte em Andradina com 7 famílias; e os assentamentos Anhumas (3 famílias), São Joaquim ( famílias) e Terra Livre ( famílias), no município de Castilho. 3

al. () mostra que 9% dos assentados apontaram melhoria na sua condição de vida depois da chegada no assentamento. Leite (99) menciona outro aspecto que deve ser analisado ao se discutir o processo de reforma agrária/assentamentos: o custo para assentar uma família é menor do que o custo para a criação de um emprego urbano. O desempenho dos assentamentos, no entanto, não pode fundar-se numa análise que se limita aos aspectos monetários e econômicos e nem mesmo ao exame de dados estatísticos sobre as condições de vida, pois, apresentam uma realidade complexa e dinâmica, em constantes mutações, onde diferentes projetos são construídos e expectativas geradas, estratégias familiares são redefinidas e uma série enorme de fatores ligados ao contexto regional, às políticas públicas, à organização interna, aos mediadores e aos recursos naturais; fatores estes que nem sempre são passíveis mensuração ou que não são nem mesmo identificados adequadamente naquelas análises (BERGAMASCO e FERRANTE, 998). Bergamasco e Norder (99) apontam como fatores que influenciam a diferenciação no processo de geração de rendas a existência ou não de apoio governamental ao aprimoramento técnico-econômico dos projetos, o acesso ao crédito; a qualidade do solo e o tamanho da área agricultável; a experiência e os prévios recursos financeiros e produtivos de cada família; o sistema local e regional de comercialização da produção; a distância e o acesso aos centros consumidores5. De acordo com Souza Fº et al. () a decisão política de apoiar os agricultores familiares (assentados ou não), para ser consistente e efetiva, deve levar em conta as diversidades socioeconômica e regional que caracteriza essa população. É preciso ter a coragem de selecionar grupos de produtores e áreas específicas, e direcionar e desenhar um conjunto de políticas, levando em conta as especificidades e potencialidades de cada área. Manter a tradição populista de programas de alcance supostamente universais, mas que na prática atinge apenas uma parcela da população, é o caminho mais rápido para diluir os recursos escassos e banalizar o apoio à agricultura familiar. Selecionar implica definir, com mais clareza, opções. Já não é suficiente indicar a agricultura familiar como prioridade. É necessário selecionar dentro da agricultura familiar, discriminar uns dos outros. Mas este atendimento a especificidades não pode ter como orientação o viés de uma suposta viabilidade econômica de determinados setores da agricultura familiar, como parece ser o caso do Pronaf que tem beneficiado agricultores familiares com maiores rendas (SACCO DOS ANJOS et al., ). Os assentamentos também não são meros espaços de passividade, em seu cotidiano os assentados constroem novas relações sociais, recriam antigos laços de solidariedade e lutam por seus direitos. Apesar das pressões internas e externas algumas experiências resistem ao tempo, em alguns casos sofrem metamorfoses, mas continuam a luta para a criação de alternativas próprias que sejam capazes não só de fornecer renda às famílias, mas responder também pela construção de determinados projetos de vida. Representam não apenas a busca de condições materiais adequadas de vida, mas também a realização de desejos e sonhos como indica a recente pesquisa, coordenada por José de Souza Martins, sobre cinco assentamentos rurais de diferentes regiões brasileiras, (MARTINS, 3). 5 Outro texto que destaca a importância das políticas públicas é o elaborado por Medeiros e Esterci (99). Já os atores internos que geram diferenciação entre os assentados também foram analisados em Sant Ana (99).

3. OBJETIVO O trabalho realiza uma análise preliminar das características das famílias e das atividades de produção e de comercialização que têm se constituído em importantes fontes de renda e/ou contribuído para a realização dos projetos de vida das famílias de um assentamento de implantação recente, o Projeto Anhumas, em Castilho (SP).. METODOLOGIA E TÉCNICAS DE PESQUISA A metodologia deste trabalho tem como pressuposto a avaliação de que as experiências desenvolvidas nos assentamentos rurais não devem ser examinadas apenas em termos de seus resultados econômicos (e menos ainda quando estes são reduzidos aos ganhos monetários) ou a partir do progresso material das famílias assentadas, embora resultados econômicos positivos e melhoria das condições de vida sejam desejáveis. A pesquisa que deu origem a este trabalho está sendo realizada no Assentamento Anhumas, no município de Castilho (SP), que possui 3 famílias. Com base nos dados do Itesp, especialmente a partir de informações colhidas junto ao agrônomo responsável pelo assentamento e dos dados de campo foram levantadas as características gerais do assentamento Anhumas em Castilho. Em seguida foi elaborado um questionário sucinto (elaborado em duas versões, uma para os produtores individuais e outra para os grupos). O questionário, aplicado junto a famílias do assentamento (3% do total), levanta informações sobre a procedência da família e a ocupação anterior do responsável; tempo de assentamento; composição, idade e escolaridade da família; outras atividades ou fontes de renda; mão-de-obra utilizada no lote; infra-estrutura disponível no lote/assentamento; caracterização da produção animal e vegetal em termos de área, produção, tecnologia utilizada e destino da produção; crédito; e sobre fontes de apoio e informação. Um outro questionário foi aplicado junto aos três grupos existentes no Assentamento Anhumas. Neste questionário são colhidas informações sobre a identificação do grupo e seu ano de formação; as atividades desenvolvidas; composição do grupo e características dos membros; mão-de-obra utilizada nas atividades (quando for o caso); infra-estrutura pertencente ao grupo; crédito e sobre fontes de informação e apoio recebidos. Após a aplicação dos questionários, os dados foram tabulados e os resultados serão apresentados a seguir. Cabe enfatizar que a pesquisa terá continuidade, visando aprofundar as questões levantadas nos questionários e a examinar nestes processos as possíveis interfaces entre as estratégias dos produtores e as políticas públicas de extensão rural e desenvolvimento. 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Este assentamento tem uma história de lutas pela terra que inicia-se em meados da década de 9, sendo que uma parte das famílias são excedentes do grupo que ocupou a Fazenda Timboré (atual Assentamento Timboré). A imissão de posse, no entanto, só ocorreu em de junho de. Atualmente é composto por 3 famílias divididas em uma área de.35,8 hectares. Os lotes distribuídos variam entre 7,9 e,5 ha. A quase totalidade (59 lotes) possuem entre 5, e,5 hectares. Dentre os responsáveis pelos lotes, em deles aparece a mulher como a primeira titular. 5.. Caracterização das famílias entrevistadas no Assentamento Anhumas 5

Os resultados parciais apresentados têm um caráter mais descritivo, pois, para realização de uma análise mais consistente serão necessárias outras informações previstas para serem coletadas nas próximas fases da pesquisa (entrevistas com os produtores e agentes externos ao assentamento). Todas as famílias entrevistadas estão na área desde a implantação do Assentamento Anhumas, em. A maioria das famílias, 7% delas, morava em cidades da região. % 7% 8% % % % % % Agrícola Não agrícola Figura : Atividades exercidas antes da Imissão de Posse. Fonte: Dados da Pesquisa, 5. Pode-se observar na Figura que mais de ¾ dos produtores entrevistados declararam já ter trabalhado em alguma atividade agrícola antes de ser assentado. Dentre as ocupações não agrícolas mencionadas pelos produtores estão pedreiro, ajudante geral, vendedor, caminhoneiro e outras. De modo geral são ocupações de baixa qualificação e remuneração. Também em relação às ocupações agrícolas, embora muitos não tenham especificado, trata-se em grande parte dos casos de experiências de trabalho e não de administração das atividades. Na análise da composição das famílias consideraram-se todos os membros que moram no lote. A Figura mostra que a maior parte das famílias, correspondente a 75% dos casos, são compostas por até quatro membros, enquanto % das famílias são formadas apenas por duas pessoas, mas não se trata do início de um ciclo familiar e sim de casais com idade média de 5 anos. Nº de Famílias 8 7 5 Até 3 5 ou mais Quantidade de Membros Figura : Número total de membros da família. Fonte: Dados da Pesquisa, 5.

Quanto ao número de filhos (Figura 3), 85% das famílias possui no máximo dois filhos, sendo que 5% não possui nenhum filho morando com a família. Somente 5% das famílias possuem três filhos ou mais e em apenas um caso esse número chega a seis. Por outro lado, notou-se uma tendência de composição mais ampla do núcleo familiar em parte significativa dos lotes: 3% das famílias possuem outros parentes, como sobrinhos, netos, genros e noras, ou agregados morando na área. Nº de famílias 8 9 5 3 3 Nenhum 3 ou mais Figura 3: Número de filhos por família. Fonte: Dados da Pesquisa, 5. A idade do casal (ou do entrevistado, quando não há um cônjuge) pode ser observada na Figura. Os homens em média são um pouco mais velhos, 8% deles possuem mais de anos, enquanto % as mulheres estão nessa mesma faixa etária. Dentre as mulheres duas possuem menos de 3 anos e nenhuma mais de anos; enquanto com os homens ocorre exatamente o contrário: nenhum tem menos de 3 e dois possuem mais de anos. Nº de Pessoas 8 5 7 5 a 3 anos 3 a anos a 5 anos 5 a anos Mais que anos Homem Mulher Figura : Faixa etária do casal (ou do entrevistado, quando este não possui cônjuge) das famílias entrevistadas no Assentamento Anhumas. Fonte: Dados da pesquisa, 5. Quanto à escolaridade observa-se um quadro preocupante, mais acentuado em relação aos cônjuges, pois, % são analfabetos, e outros % estudaram no máximo até a ª série do ensino fundamental (antigo primário). No caso dos entrevistados nenhum declarou ser analfabeto, mas 55% estudaram no máximo até a ª série do ensino fundamental (Figura 5). 7

Proprietário (a) Cônjuge 8 7 No. de Pessoas 5 3 5 3 3 Analfabeto Até 3ª série EF Até ª série EF 5ª a 7ª série EF EF completo EM incompleto EM completo Superior incompleto Não soube informar Figura 5: Grau de escolaridade do casal (ou somente do entrevistado quando este não possui cônjuge) do Assentamento Anhumas. Fonte: Dados da Pesquisa, 5. Somente dois cônjuges concluíram o ensino médio e dentre os entrevistados apenas um deles terminou este nível e iniciou o curso superior (cabe registrar que o curso era de Agronomia na Esalq/USP). Em função da idade média dos casais relativamente avançada, 53% dos filhos possui mais de anos (Figura ), estando potencialmente aptos para contribuir no trabalho do lote. Em termos de capacitação técnica os filhos formam um grupo que deverá ser alvo de atenção, pois de modo geral apresenta maior grau de escolaridade e poderá contribuir com os pais na adoção de práticas mais complexas em termos tecnológicos (mas sem esquecer de considerar a influência do tipo de hierarquia familiar predominante, em que o pai concentra a maior parte das decisões). Menores que 7 anos % Maiores que anos 53% 7 a anos % Figura : Faixa etária dos filhos dos entrevistados do Assentamento Anhumas Fonte: Dados da Pesquisa, 5. 8

Em todos os lotes as residências são de alvenaria, variando de m a m. Algumas delas ainda estão em fase de construção e a maioria ainda não completou a fase acabamento. Há outros tipos de construções, como galpões e currais, mas a grande maioria destas são edificações precárias, construídas de forma improvisada, devido aos parcos recursos disponíveis. Um dos principais problemas enfrentados no assentamento é a falta de água potável. Numa tentativa de minimizar essa deficiência, proprietários (7% dos entrevistados) construíram poços ou cacimbas em seus lotes (Tabela ). Porém, em épocas de estiagem, essa medida praticamente se inviabiliza, já que muitos desses reservatórios secam devido ao rebaixamento do lençol freático. As máquinas e implementos agrícolas estão presentes em apenas 3% dos lotes (Tabela ). No restante das propriedades, para o seu manejo em geral, os produtores recorrem a empréstimos ou aluguéis, quando não o fazem o serviço manualmente ou com a ajuda de animais, no caso, especialmente eqüinos. Em parte este precariedade deve-se ao fato de somente em novembro de ter sido instalada a energia elétrica nos lotes. Quanto aos veículos de locomoção, embora existam em número considerável (3), concentram-se em apenas % das propriedades (Tabela ). Isso implica que a maioria dos moradores depende basicamente de transporte público para realizarem suas compras, irem à escola, buscar atendimento médico e odontológico, negociarem seus produtos na cidade mais próxima (no caso Castilho, que se encontra a cerca de Km do Assentamento Anhumas). Tabela : Benfeitorias, máquinas e equipamentos dos produtores pesquisados do Assentamento Anhumas. Benfeitorias Nº de Propriedades Total do Bem Casas de Moradia Galpão Curral Depósito/Tulha Paiol Poço, cacimba Máquinas e Equipamentos Trator Triturador Veículo Equipamento de irrigação 3 7 8 3 7 3 Tanque de resfriamento Implemento agrícola Fonte: Dados da pesquisa, 5. Buscou-se na caracterização das famílias um maior detalhamento das atividades realizadas no lote. Na tabela tem-se que a criação de bovinos, mais especificamente, o gado leiteiro é a atividade mais freqüente, presente em todos os lotes pesquisados; em seguida aparecem as aves, como galinhas e gansos; e suínos (ambos em 8% dos lotes). Outras criações como cabritos e carneiros (ambos presentes em % dos lotes) são as atividades menos procuradas. Exceto o caso da bovinocultura de leite, em que 9% dos produtores destinam sua produção à agroindústria, nos demais casos trata-se de 9

experiências limitadas em termos de escala, tecnificação e comercialização. Porém, são muito importantes por destinarem-se, primordialmente, à subsistência das famílias. Tabela : Plantel e destino principal dos produtos do Assentamento Anhumas. Espécie No. De Produtores Plantel Destino Principal da Produção Bovinos 3 agroindústria e auto consumo Suínos 78 auto consumo Aves 5 auto conumo Cabrito 9 auto consumo Carneiro 3 auto consumo Fonte: Dados da Pesquisa, 5. Com relação à bovinocultura leiteira, a maior parte da produção concentra-se na época das águas, com uma produção média dos produtores entrevistados de 8 litros/dia. Na seca, essa produção média diminui 3%, ou seja, reduz-se para 33 litros/dia por produtor (Tabela 3). Mas há diferenças entre os produtores, enquanto a grande maioria apresenta queda de produção no período seco, três produtores aumentaram sua produção nesta época mais crítica, gerando um maior lucro, já que o produto obtém preço mais elevado neste período. A média de produtividade na época da pesquisa foi de 5,7 litros/vaca, com extremos de, a 8,7 litros/vaca. Embora seja uma produtividade baixa, é um pouco superior a média dos produtores familiares da região. Tabela 3: Características da bovinocultura de leite dos produtores pesquisados do Assentamento Anhumas. BOVINOCULTURA DE LEITE PRODUTORES (P) ANIMAIS (cabeças) Vacas em Lactação na Época da Pesquisa (VL) Vacas Secas na Época da Pesquisa (VS) PRODUTIVIDADE (litros/dia) Produção Total na Época da Pesquisa (PT) Produção Total nas Águas (PTA) Produção Total na Seca (PTS) Média de Produção nas Águas (PTA/P) Média de Produção na Seca (PTS/P) AUTO CONSUMO (litros/dia) Auto Consumo Total (ACT) Média de Auto Consumo (ACT/P) Fonte: Dados da pesquisa, 5. QUANTIDADE 53 7 875 9 8,5 33, 5,5,5 Em geral, o autoconsumo de leite (e de alguns de seus derivados) é expressivo, em média,,5 litros por família diariamente. Mas, há casos em que esse consumo pode chegar a 5 litros por dia. Cabe destacar que um consumo semelhante na cidade só é possível para famílias de rendas muito mais elevadas que a dos produtores rurais.

Na Tabela 3 pode-se observar também outros dados relativos à pecuária de leite em termos de plantel, produtividade e autoconsumo. A Tabela traz a relação das principais culturas cultivadas. O milho é destaque como a cultura anual semeada em todos os lotes pesquisados, seguido de pastagem (Brachiaria) presente em 8% dos lotes, algodão e mandioca (ambos em 55% dos lotes), culturas frutíferas (5%), cana-de-açúcar (35%), feijão e olerícolas (ambos 5%) e sorgo, cultivado em apenas uma propriedade. É importante ressaltar que dessas atividades, algumas são destinadas somente à subsistência, dentre elas especialmente a fruticultura e a olericultura, e parte do milho, da mandioca e do feijão. Tabela : Principais culturas cultivadas pelos produtores do Assentamento Anhumas. CULTURA PRODUTORES ÁREA (ha) Milho 8, Brachiaria 7, Mandioca,8 Algodão, Frutíferas * Cana-de-açúcar 7,7 Olerícolas 5 * Feijão 5, Sorgo, Fonte: Dados da Pesquisa, 5. * As culturas frutíferas e olerícolas são cultivadas de forma consorciada em áreas muito restritas e servem basicamente ao autoconsumo da família/propriedade. No questionário também foi apresentada uma série de práticas agrícolas para que o entrevistado manifestasse quais têm realizado. Os resultados podem ser observados na Figura 7. Fungicida Herbicida Análise de solo Terraços Plantio em nível 7 Inseticida/acaricida Calcário 7 Adubo mineral Semente/muda certificada 8 9 5 5 Número de Produtores Figura 7: Práticas agrícolas e gerenciais realizadas pelos entrevistados do Assentamento Anhumas. Fonte: Dados da Pesquisa, 5.

Os três itens mais citados foram semente/muda certificada (95%); adubo mineral (9%) e calcário (85%). Em seguida aparece a aplicação de inseticida / acaricida, mencionada por 8% dos entrevistados. Em geral, o solo a ser cultivado não apresenta terraços (somente 35% mencionaram utilizar esta prática), mas o plantio em nível é realizado por %, visto que os terrenos não possuem grande declividade. A análise de solo, embora tenha sido pouco citada (3%), de acordo com declaração dos próprios produtores, foi realizada na implantação do assentamento, sob orientação do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), órgão governamental que fornece apoio técnico aos produtores. O apoio técnico do Itesp foi o mais lembrado pelos produtores, já que 75% deles declararam buscar com freqüência orientações junto ao engenheiro agrônomo deste órgão público, no momento de instalar uma nova cultura e/ou criação na propriedade (Figura 8). Já alguns afirmaram procurar esse mesmo tipo de informação com outros proprietários e vizinhos (5%) em reuniões realizadas na sede do assentamento, além de meios de comunicação como televisão (5%), jornais e/ou revistas (5%). 5 Nº de Produtores 5 5 3 3 Agrônomo do Itesp Outros produtores Televisão Experiência própria Jornal/Revista Figura 8: Fontes de informação e apoio aos produtores pesquisados do Assentamento Anhumas Fonte: Dados da Pesquisa, 5. Quando são questionados a respeito de algum órgão governamental ou empresa privada que teve papel importante para ter dado certo as atividades que vem realizando (Figura 9), a Prefeitura de Castilho foi citada por 85% dos proprietários, por fornecer principalmente água em caminhões-pipas, assistência médica, transporte coletivo e maquinário. É interessante notar que neste caso os produtores não identificaram o Itesp com as formas de apoio mais amplas, associando-o somente ao trabalho de orientações técnicas, embora este órgão também tenha atuado na intermediação de outros benefícios obtidos para o assentamento. Esta questão precisa ser investigada com maior profundidade para verificar se foi a pergunta sugeriu a exclusão da assistência técnica ou se esta foi pouco valorizada na avaliação da situação em que se encontram atualmente.

Informações técnicas Negociação Estradas Assistência social Energia elétrica Maquinário Transporte Assistência médica Água 3 5 5 Figura 9: Principais formas de apoio recebidas, segundo os produtores pesquisados Fonte: Dados da Pesquisa, 5. O Assentamento Anhumas apresenta três grupos formados: a Associação Ações Unidas do Assentamento Anhumas, a Cooperativa União da Vitória e um grupo informal formado por dez mulheres que tem como a estruturação de uma padaria artesanal no Assentamento. Desses três grupos, apenas a Associação está em pleno funcionamento desde 3, contendo atualmente membros, sendo que fazem parte da Diretoria. O grupo em questão adquiriu um tanque de resfriamento, no valor de R$ 38.,, financiado pela Nestlé. O prazo de pagamento é de 3 meses a partir da data de recebimento do tanque que, segundo o Conselheiro Fiscal da Associação, Sr. João Hermógenes Pereira, deveria acontecer em de março de 5. A Cooperativa formada no final de por aproximadamente pessoas, possui um tanque de resfriamento adquirido com recursos próprios e que também foi financiado pela Nestlé. Porém, desde que formou-se, o grupo enfrenta dificuldades financeiras e suas atividades estão restritas à entrega conjunta da produção de leite no tanque de resfriamento. O Grupo da Padaria, formado em, recebeu um Kit de cozinha com utensílios como batedeira, assadeira, forno, etc., doado pelo Governo do Estado de São Paulo, porém, está com o seu funcionamento suspenso pela Vigilância Sanitária da Prefeitura Municipal de Castilho SP, devido às condições precárias do estabelecimento onde deveria ser realizado trabalho de fabricação dos pães.. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PRÓXIMAS ETAPAS DA PESQUISA A caracterização geral das famílias pesquisadas no Assentamento Anhumas, em Castilho, indicou que há limitações ligadas ao baixo grau de escolaridade dos produtores e à capacidade de investimento. As experiências que estão se estruturando e as alternativas utilizadas tiveram como base de sustentação os recursos de investimento recebidos do Pronaf. A atividade predominante é a pecuária de leite e embora apresente uma baixa tecnificação, com queda acentuada da produção de leite na época da seca, alguns produtores começam a se estruturar para obter uma produção mais uniforme ao longo do ano. 3

Os produtores têm buscado também outras alternativas de produção e/ou de comercialização. Embora ainda sejam atividades incipientes, dado o tempo relativamente curto de implantação do assentamento, podem tornar-se importantes fontes de renda para as famílias. Estas alternativas em alguns casos seguem uma linha mais tradicional, como a cultura do algodão; em outros se diferenciam, como o plantio de olerícolas diversas destinadas à comercialização. Também há dois grupos (Cooperativa e Associação) que instalaram tanques de resfriamento de leite para servir grupos de produtores cooperados/associados. Constatou-se também que a produção para o autoconsumo, embora não gere renda monetária, é um importante mecanismo de reprodução social destes produtores. Pode-se observar este fato, por exemplo, no caso do leite, em que a quantidade média consumida está acima dos níveis médios dos trabalhadores urbanos. 7. REFERÊNCIAS ANJOS, S. et al. Agricultura familiar e políticas públicas: o impacto do Pronaf no Rio Grande do Sul. Revista de Economia e Sociologia Rural, v., n.3, p.59-8,. BERGAMASCO, S. M. P. P., NORDER, L. A. C. O que são assentamentos rurais. São Paulo: Brasiliense, 99. 87 p. (Coleção Primeiros Passos, 3). BERGAMASCO, S. M. P. P., FERRANTE, V. L. S. B. No reino da modernização: o que os números do Censo da reforma agrária (não) revelam. In: Os assentamentos de reforma agrária no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 998, p. 7-. SOUZA Fº., H. M. et al. Agricultura familiar e tecnologia no Brasil: características, desafios e obstáculos. In: In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL,,, Cuiabá (MT). Anais...Cuiabá (MT): SOBER/UFRJ/UFMT/ Embrapa Florestas e Gado de Leite,. Cd-rom. FAO/PNUD/MARA Principais Indicadores Sócio-Econômicos dos Assentamentos de Reforma Agrária. Brasília: Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, v., 99. FERRANTE, V.L.S.B. e BERGAMASCO, S.M.P.P. - A realidade multidimensional dos assentamentos rurais. Comunicação de pesquisa realizada durante o XVI Encontro Nacional dos Grupos Temáticos do PIPSA, 99. FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (FIBGE). Censo Agropecuário de 995/9. Rio de Janeiro (RJ): FIBGE. Disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br, acesso em: 3 de junho de 3. GRAZIANO DA SILVA, J. O desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro e a reforma agrária. In: STÉDILE, J. P. (org.) A questão agrária hoje. ª ed. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 99, p. 37-5. GRAZIANO DA SILVA, J Novos rumos do desenvolvimento rural. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 37, 999, Foz do Iguaçu. Anais...Foz do Iguaçu (PR): Sober, 999. Cd-rom.

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