[COLOQUE AQUI O NOME DA UNIVERSIDADE] [COLOQUE AQUI O NOME DO CURSO] MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E A DIGNIDADE. Direito HUMANA DO TRABALHADOR



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Transcrição:

[COLOQUE AQUI O NOME DA UNIVERSIDADE] [COLOQUE AQUI O NOME DO CURSO] PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E A DIGNIDADE Direito HUMANA DO TRABALHADOR Célio xxxxxxxxx Orientador: Profº xxxxxxxxxxxxx O TRABALHADOR E O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO Autor: Célio José Campos Júnior Orientador: Prof. Luiz da Silva Flores LOCAL, 2009

CÉLIO JOSÉ CAMPOS JÚNIOR O TRABALHADOR E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Luiz da Silva Flores Brasília 2009

FOLHA DE APROVAÇÃO

Monografia de autoria de Célio José Campos Júnior intitulada O TRABALHADOR E O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito da Universidade Católica de Brasília, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: Prof. Luiz da Silva Flores Orientador Curso de Direito UCB (Professor Membro) Curso de Direito UCB (Professor Membro) Curso de Direito UCB Brasília 2009

AGRADECIMENTOS À Deus e aos meus pais, por dar-me todas as oportunidades; à Nossa Senhoria Aparecida, por suas interseções junto ao Pai. À Adriana Emerick de Oliveira Campos, minha esposa, por toda força, compreensão e companheirismo. Ao meu irmão Rodrigo, como incentivo acadêmico. Aos amigos e colegas da Corumbá Concessões S.A., em especial à Dra. Roselane Cristina Matos, minha supervisora. A todos os amigos, presentes ou ausentes, mas todos do coração. E principalmente ao Professor Luiz da Silva Flores pela dedicação em orientar meu trabalho.

RESUMO A escolha do tema do presente estudo surgiu a partir da convicção de que todo trabalhador tem o direito fundamental não só ao trabalho, mas ao trabalho em ambiente norteado pela dignidade humana. Para tanto, o objetivo geral visa uma abordagem sobre a dignidade humana do trabalhador em seu ambiente de trabalho. Os objetivos específicos buscam apresentar os paradoxos envolvendo o meio ambiente de trabalho, as condições de trabalho e as relações humanas envolvidas, a evolução histórica, para atingir o bem estar social num contexto coletivo e individual, para enfim compreender a dignidade humana do trabalhador frente às garantias fundamentais dispostas da Carta Magna de 1988 e legislações aplicáveis à sua defesa e proteção. Neste estudo será destacada a importância da necessidade de um meio ambiente de trabalho que ofereça condições sociais, físicas e biológicas para o desenvolvimento das atividades laborais com a devida dignidade ao trabalhador em consonância com as disposições asseguradas pela Constituição Federal, meio aos princípios constitucionais fundamentais. Ao final da presente monografia serão apresentadas as considerações finais sobre o desenvolvimento da abordagem e análise propostas. PALAVRAS-CHAVE: Trabalhador. Meio ambiente do trabalho. Dignidade humana. Direito do Trabalho. Direito Ambiental. Direito Constitucional. Garantias Fundamentais.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 07 CAPÍTULO I - HISTÓRIA E CONCEITOS DE TRABALHO E DE MEIO AMBIENTE DO TRABALHO... 11 1.1 HISTÓRIA E CONCEITO DE TRABALHO... 11 1.2 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA... 18 CAPÍTULO 2 - MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E APLICAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA... 23 2.1 ASPECTOS JURÍDICOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO... 23 CAPÍTULO 3 - A DIGNIDADE HUMANA DO TRABALHADOR NO AMBIENTE DE TRABALHO E FORMAS DE SUA PROTEÇÃO ----------------------------------------- 26 3.1 FORMAS DE PROTEÇÃO JURÍDICA DO TRABALHADOR EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO... 26 3.2 PROTEÇÃO DO TRABALHADOR NO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO SOB A OPTICA CONSTITUCIONAL E LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS... 34 CONCLUSÃO... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 56

7 INTRODUÇÃO Já há alguns anos que muito se estuda sobre a proteção à dignidade da pessoa humana em todos os ramos do Direito, máxime no Direito privado e nas relações jurídicas privadas. É consenso na doutrina, com grande prestígio da jurisprudência, principalmente a dos Tribunais Superiores, que a proteção à dignidade da pessoa humana é o fundamento de todo o ordenamento jurídico e também a finalidade última do Direito. Logo, a interpretação do direito não pode estar divorciada dos princípios constitucionais e, principalmente, dos princípios que consagram direitos fundamentais. Por isso, a necessidade de se abordar o tema no presente trabalho e apresentar como a doutrina moderna tem se posicionado em relação aos princípios fundamentais da Constituição Federal e sua aplicabilidade na proteção do trabalhador e de sua dignidade. O presente trabalho inicia-se com a demonstração do histórico e da evolução do conceito de trabalho, seguindo desde a antiguidade, passandose pelo momento em que o homem começa a transformar a natureza e o ambiente em sua volta extraindo deles, sua sobrevivência e obtenção de riquezas, até a revolução industrial. A dignidade é inerente ao ser humano, sendo um valor intrínseco da própria condição humana. Todo ser humano tem dignidade pelo fato de ser pessoa. Por isso, é complexa a definição do conceito de dignidade. Embora a Constituição Federal mencione no artigo 1º, inciso III que a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil e freqüentemente a doutrina se refira ao princípio da dignidade da pessoa humana.

8 Com o passar do tempo surge à necessidade de criação de normas que regulamentem as relações de trabalho. Para tanto, é criada a legislação trabalhista cuja aplicabilidade será vista com maior clareza mais a frente por este estudo. Nesse ínterim, vale salientar que a proposta desse estudo é elaborar uma reflexão acerca do elemento humano que compõe toda atividade econômica e as medidas de proteção da dignidade humana do trabalhador no seu ambiente de trabalho. Pensar o cotidiano de trabalho é também referir ao ambiente de trabalho, onde pessoas exercem atividades em um determinado espaço físico, e é este o elemento humano da atividade econômica. No contexto do trabalho e do ambiente onde este ocorre, vale refletir sobre a dignidade humana assegurada por princípios constitucionais que também será abordada no segundo e terceiro capítulos deste estudo. Compreende-se que é através do trabalho que se pode realizar a dignidade humana. Nada é mais digno do que a possibilidade de trabalhar e poder se sustentar e ou sustentar a família. E o trabalho só é possível na sociedade contemporânea a partir da atividade econômica. Assim, torna-se impossível pensar na busca do lucro desvinculada da responsabilidade social que reveste todo e qualquer empreendimento. E desse modo, a responsabilidade da empresa passa pelo estímulo à boa convivência entre os seus colaboradores. A dignidade humana está relacionada a um conjunto de elementos com capacidade para possibilitar a cada um dos membros da espécie humana um mínimo de existência prazerosa. Estar de bem consigo e com as pessoas em sua volta significa dignidade.

9 É sabido que um trabalhador deprimido ou oprimido terá sua produtividade afetada e renderá menos. É do interesse das empresas a construção de um ambiente de trabalho interativo norteado por interação e respeito mútuo e para utilizar um termo mais atual, sustentável. A construção de um ambiente de trabalho sustentável, que prioriza a dignidade humana sem descuidar da produtividade que leva à eficiência econômica e ao lucro, deve estimular a tolerância entre as pessoas que ali convivem cotidianamente. No que se refere às condições físicas em que se exerce a atividade laboral existe norma reguladora, mas no que tange ao aspecto interpessoal, não existe regulação. O Direito do Trabalho trata dos contratos de trabalho na perspectiva patrimonial, no entanto, quando diz respeito às questões surgidas no ambiente de trabalho, estas ficam sujeitas à regra geral do direito civil, podendo ser deslocada para apreciação da Justiça do Trabalho. Neste contexto o presente estudo elencou-se como tema de estudo, trabalhador e meio ambiente de trabalho sob o enfoque da dignidade humana e proteção do trabalhador. Para tanto, questiona-se como tem sido tratada pela legislação questões que ferem à proteção da dignidade humana do trabalhador no meio ambiente de trabalho? A metodologia para realização do trabalho ocorreu com base em revisão de literatura, estruturado em capítulos. Veremos no decorre do presente estudo que o conceito de Meio Ambiente do Trabalho, diferentemente das outras divisões didáticas do Direito Ambiental, relaciona-se direta e imediatamente com o ser humano trabalhador no seu cotidiano, em sua atividade laboral exercida em proveito de outrem.

10 Portanto, o seu conceito é abrangente, como cita o professor Fiorillo: é o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometem a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos, etc.). Convém salientar que há distinção entre proteção ao meio ambiente de trabalho e a proteção do direito do trabalho, pois, o primeiro tem por objeto jurídico a saúde e a segurança do trabalhador, para que desfrute a vida com qualidade, através de processos adequados para que se evite a degradação e a poluição em sua vida. Já o direito do trabalho vincula-se a relações unicamente empregatícias com vínculos de subordinação. A regulamentação dessa divisão Meio Ambiente do Trabalho, segurança e saúde do trabalhador está baseada na Constituição Federal de 1988, pois foi ela que elevou à categoria de direito fundamental a proteção à saúde do trabalhador e aos demais destinatários inseridos nas normas constitucionais, como passaremos a discorrer no estudo que segue.

11 CAPÍTIULO 1 HISTÓRIA E CONCEITOS DE TRABALHO E DE MEIO AMBIENTE DO TRABALHO 1.1 HISTÓRIA E CONCEITO DE TRABALHO Para discutir o meio ambiente do trabalho e a relação com a dignidade humana do trabalhador faz pertinente retomar um pouco da história do trabalho humano. Etimologicamente, a palavra trabalho tem sua origem no vocábulo latino tripaliu, denominação de um instrumento de tortura formado por três (tri) paus (paliu). Desse modo, originalmente, "trabalhar" significa ser torturado no tripaliu. Partindo-se deste conceito perguntamos: quem eram os torturados? Estes eram os escravos e os pobres que não podiam pagar os impostos. Assim, quem "trabalhava", naquele tempo, eram as pessoas destituídas de posses. A partir de então, a idéia de trabalhar como ser torturado passou a dar entendimento não só ao fato da tortura em si, mas também, por extensão, às atividades físicas produtivas realizadas pelos trabalhadores em geral: artesãos camponeses, agricultores, pedreiros, etc. Tal sentido foi de uso comum na antigüidade e, com esse significado, atravessou quase toda a Idade Média. Somente no século XIV começou a ter o sentido genérico que hoje lhe atribuímos, qual seja, o de "aplicação das forças e faculdades, talentos e habilidades humanas para alcançar um determinado fim".

12 Para isso, Araújo faz o que ele chamou de panorama histórico da origem do trabalho humano, destacando a forma de trabalho surgida na Idade Antiga, asseverando o seguinte: [...] o homem sempre trabalhou, desde os primórdios da escravidão, tendo como meta principal a obtenção de armas. Tendo em vista as batalhas travadas com seus semelhantes, nas quais morriam, verificou-se que seria mais útil aos poderosos da época a sobrevivência de seus desafetos, para trabalharem na condição de escravos, tirando proveito de tal situação, passando a vendê-lo, trocálo ou alugá-los, tal como fossem objetos. 1 Em sua apresentação histórica sobre surgimento do trabalho, o mesmo autor diz que: Com o passar tempo, muitos escravos passaram a ser livres como forma de reconhecimento pelos senhorios em vista dos relevantes serviços prestados, aonde com o tempo iam ganhando liberdade, porém, só tinham direito de trabalhar em seus ofícios habituais ou alugando-se a terceiros, porquanto, tendo a vantagem pecuniária do salário de forma direta, para si próprio. 2 Na explicitação de Araújo, já na Idade Média, o caráter do trabalho sofre mudanças. A escravidão cede espaço à servidão. Em outra época, na servidão, não tendo o trabalhador mais total condição humilhante de escravo, não dispunha de sua 1 ARAÚJO, Jair. Relação de Emprego - Contrato Individual de trabalhos e afins: Empreitada, Sociedade, Parceria Rural, Trabalho Autônomo, Trabalho Avulso, Estágio, Trabalho Cooperativo, Trabalho Voluntário. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.p.15. 2 ARAÚJO, Jair. Relação de Emprego - Contrato Individual de trabalhos e afins: Empreitada, Sociedade, Parceria Rural, Trabalho Autônomo, Trabalho Avulso, Estágio, Trabalho Cooperativo, Trabalho Voluntário. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.p.15.

13 liberdade, sendo caracterizada pela sociedade feudal, em que detinha a posse da terra, firmando na terra a expressão da agricultura ou pecuária. Ao mesmo tempo, aos servos, era assegurado o direito de herança de animais, objetos pessoais e, em alguns lugares, o de uso de pastos, podendo o senhor da terra mobilizá-lo obrigatoriamente para a guerra e também, cedendo seus servos aos donos de pequenas fábricas ou oficinas já existentes. (ARAÚJO, 2001, p. 16). Essa breve explanada sobre a evolução das relações de trabalho nos mostra que as principais formas de trabalho utilizadas durante a Antiguidade Clássica, Oriental e o Período Medieval foram à escravidão e a servidão. Os trabalhadores eram escravos ou servos, pessoas relegadas da sociedade, tendo sido escravizadas por serem membros de povos conquistados ou por não pertencerem, por via consangüínea, à nobreza. 3 Ademais, com a especialização das atividades humanas, imposta pela evolução cultural da humanidade, em especial a Revolução Industrial, a palavra trabalho tem hoje uma série de diferentes significados, de tal modo que o verbete, no Dicionário "Aurélio", lhe dedica vinte acepções básicas e diversas expressões idiomáticas. Com a valorização das relações comerciais e o crescimento do capital, o trabalho humano passou a ser a principal fonte de criação de riquezas, pois a produção fundava-se, predominantemente no trabalho humano. O período posterior à Idade Média é conhecido por Idade Moderna, cujo marco é o século XV. Diferentemente dos outros períodos históricos, marcados pelo grande espaço temporal, este período durou pouco mais de duzentos anos, estendendo-se até o final do século XVII. 4 3 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Trabalho Decente. (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. 2009. 4 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Trabalho Decente. (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. 2009.

14 De acordo com Araújo 5 a situação acima citada, evoluiu continuamente, quando, então, eclodiu a Revolução Industrial, ocorrendo novas lutas, sendo apagado do cenário o senhor da terra, do mestre da corporação, dando espaço para figuras mais abrangentes, o patrão, detentor do capitalismo, que ao lado do Estado, iria aplicar e fiscalizar a lei, de conformidade com os costumes da época. A Revolução Industrial consolidou o trabalho assalariado que já vinha ocorrendo desde os fins do sistema feudal (trabalho servil) com o renascimento do comércio e das cidades e a divisão do trabalho que de sistema artesanal passa a manufatura e desta forma, com o surgimento da indústria, tem-se o pagamento da atividade desenvolvida pela pessoa que passa contar apenas com a força de trabalho, isto é, a mão-de-obra, ficando os meios de produção (máquinas e afins) com o capitalista (patrão). Assim, salienta Araújo: Tais épocas que antecederam o reconhecimento social do homem, representadas por: a) escravidão; b) servidão; c) corporações de ofício e d) Revolução Industrial constituem sem dúvida o marco histórico da valorização do trabalho humano, incluindo, ainda, sua dignidade, sua moral, inerentes à pessoa humana como essencialmente útil ao desenvolvimento das relações entre capital e o trabalho. 6 5 ARAÚJO, Jair. Relação de Emprego - Contrato Individual de trabalhos e afins: Empreitada, Sociedade, Parceria Rural, Trabalho Autônomo, Trabalho Avulso, Estágio, Trabalho Cooperativo, Trabalho Voluntário. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. 6 ARAÚJO, Jair. Relação de Emprego - Contrato Individual de trabalhos e afins: Empreitada, Sociedade, Parceria Rural, Trabalho Autônomo, Trabalho Avulso, Estágio, Trabalho Cooperativo, Trabalho Voluntário. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.p.18.

15 Até chegar ao atual sistema de trabalho o sistema de serviço perpassou pelas relações escravistas, servis, corporações (produção manufatureira) e as relações de trabalho assalariadas com a Revolução Industrial. Com o passar do tempo, inicia-se, segundo Araújo: Uma nova era social, em que a intervenção do Estado era rigorosa, e onde se exercia sua verdadeira responsabilidade, equilibrando as relações, ou pelo menos tentava uma aproximação entre capital e o trabalho, propugnando normas de interesses coletivos, em geral, protegendo os mais fracos, viabilizando uma política com finalidades sociais bem mais acentuadas. 7 Com a Revolução Industrial, houve profundo aumento do trabalho e com isso aumentaram os conflitos em razão da ausência de regulamentação do trabalho, desse modo, esse novo tempo social, sofreu intervenção do Estado que teve papel de instrumento de equilíbrio e aproximação mais harmônica entre capital e trabalho, buscando com isso estabelecer uma regulamentação que protegesse o trabalhador. Todavia, a Igreja também teve influência na moldagem das relações de trabalho, teve papel de fundamental importância, propagando a necessidade da união entre capital e o trabalho, enfocando um binômio entre as classes sociais envolvidas. 8 7 ARAÚJO, Jair. Relação de Emprego - Contrato Individual de trabalhos e afins: Empreitada, Sociedade, Parceria Rural, Trabalho Autônomo, Trabalho Avulso, Estágio, Trabalho Cooperativo, Trabalho Voluntário. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.p.18. 8 ARAÚJO, Jair. Relação de Emprego - Contrato Individual de trabalhos e afins: Empreitada, Sociedade, Parceria Rural, Trabalho Autônomo, Trabalho Avulso, Estágio, Trabalho Cooperativo, Trabalho Voluntário. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.p.19.

16 Nesse liame, é importante considerar o trabalho humano em acepções amplas que trazem o aspecto de totalidade da palavra, que estabelece todo elo da temática aqui proposta. Assim, de acordo com Ramalho 9 : a) numa acepção moral e filosófica, o trabalho é encarado como um meio de realização espiritual e de promoção humana; b) numa acepção econômica, é perspectivado como um fator de produção; c) numa acepção sociológica, é visto como uma fonte conveniente de relações e de conflitos sociais; e, finalmente, d) do ponto de vista jurídico, é uma atividade humana, desenvolvida para satisfação de necessidades de outrem. Mediante a história do trabalho e sua evolução ao longo do tempo, torna-se pertinente para este trabalho que versa sobre o trabalhador e o meio ambiente do trabalho, destacamos outros conceitos de trabalho de doutrinadores e estudiosos para no decorrer do trabalho adentrar nos aspectos jurídicos dos termo trabalhos e meio ambiente. Segundo Ramalho 10 o trabalho se inscreve numa realidade mais vasta, dotada de múltiplas e distintas valências, jurídicas e não jurídicas: a realidade do trabalho. 9 RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Direito do Trabalho Parte I Dogmática Geral. 1ª ed. Coimbra: Almedina, 2005.p.13. 10 RAMALHO, Maria do Rosário Palma. Direito do Trabalho Parte I Dogmática Geral. 1ª ed. Coimbra: Almedina, 2005.p.14.

17 Para Felice Bataglia 11 trabalho é toda a atividade do homem, seja criando em si a sua vida, seja projetando-se no mundo exterior. Livre exaltação do eu profundo, explicação para o não-eu, sempre trabalho, tormento e destinação do homem, fadiga e alegria. Desta forma, dos primórdios da Humanidade até aos nossos dias o conceito trabalho foi sofrendo alterações, preenchendo páginas da história com novos domínios e novos valores. Do Egito à Grécia e ao Império Romano, atravessando os séculos da Idade Média e do Renascimento, o trabalho foi considerado como um sinal de injúria, de desprezo e de inferioridade. Esta concepção atingia o estatuto jurídico e político dos trabalhadores, escravos e servos. Com a evolução das sociedades, os conceitos alteraram-se. O trabalho-tortura, maldição, deu lugar ao trabalho como fonte de realização pessoal e social, o trabalho como meio de dignificação da pessoa. O trabalho humano é, dentro de uma concepção ampla, uma atividade, exercida de forma física ou intelectual, e que é necessária à realização de uma tarefa ou de um serviço qualquer. Assim, podemos afirmar que toda atividade humana implica, necessariamente, na realização de um trabalho. 11 BATAGLIA, FELICE. 136. CAPÍTULO V. FUNDAMENTO E ESTRUTURA DAS RELAÇÕES DE TRABALHO. NOS PARADIGMAS DO ESTADO CONTEMPORÂNEO,

18 1.2 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA Nas ultimas décadas surgiu estudos ambientais e conseqüentemente houve a necessidade de conceituar meio ambiente, que antes da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 12 estava relacionada especificamente às condições da natureza. No entanto a partir do evento citado entre outros fatores o ser humano passou a não só compartilhar, mas estar incluído entre os problemas ambientais tais como a pobreza, o urbanismo entre outros. E assim o conceito clássico tornou-se insuficiente e teve que ser ampliado para atender a sua amplitude. A título de definição e enquadramento doutrinário, o meio ambiente é considerado como um direito fundamental de terceira geração, que são os direitos de solidariedade e fraternidade, como a paz no mundo, o desenvolvimento econômico dos países, a preservação do meio ambiente, do patrimônio comum da humanidade e da comunicação, os quais são imprescindíveis à condição humana e merecem a proteção do Estado e da sociedade em geral. A saber, os direitos de primeira geração são os direitos civis e políticos. Os direitos de segunda geração são os sociais econômicos e culturais, os quais servem para dotar o ser humano das condições materiais necessárias ao exercício de uma vida digna. O conceito de meio ambiente foi definido, pela primeira vez, legalmente, através da o artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/81 esta trouxe vários conceitos referentes ao meio ambiente em si, a sua definição legal e instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente o qual prescreve que meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem 12 II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, teve como principal tema a discussão sobre o desenvolvimento sustentável e sobre como de reverter o atual processo de degradação ambiental.

19 física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Observação se faz para o fato de que a Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988, não definiu o que é meio ambiente, mas é a primeira Constituição, dentre as outras sete anteriores, que dispõe de um capítulo destinado exclusivamente ao meio ambiente, conforme se denota do Capítulo VI Do Meio Ambiente (artigo 225), o qual está inserido no Título VIII Da Ordem Social. Conseqüentemente a legislação brasileira acompanhou este processo de mudanças baseado no art.3º, inciso I, da Lei 6.938/81, estabelecendo que meio ambiente pode ser entendido por varias condições, leis, influências e interações de ordem física, que ampara a vida do ser humano em todas as suas formas. Posteriormente, com base na Constituição Federal de 1988, nota-se que meio ambiente sofreu uma divisão natural, cultural, referente ao trabalho. Meio ambiente natural ou físico é constituído pela flora, água, fauna, solo, atmosfera e o ecossistema (art. 225, 1º, I, VII). Meio ambiente cultural e a arte, arqueologia, paisagem manifestações culturais, populares entre outros (art. 215, 1º e 2º). Nesse aspecto faz-se oportuno considerar que o meio ambiente artificial constitui o conjunto de edificações urbanas públicas ou privadas, conforme os arts.182, art.21, XX e art.5º, XXIII da CF. Meio ambiente do trabalho se traduz nas relações, condicionamentos, que faz parte do espaço laboral relativos à qualidade de vida do trabalhador (art.7, inciso XXXIII e art.200, da CF). Podemos, ainda, conceituar meio ambiente do trabalho como "o conjunto de fatores físicos, climáticos ou qualquer outro que interligados, ou não, estão presentes e envolvem o local de trabalho da pessoa". Apesar desta definição aparentar certo individualismo, isto não acontece pois ante a importância da proteção dos trabalhadores e o interesse e obrigação do

20 Estado de protegê-los, como demonstrado na legislação constitucional, o conceito extrapola na prática o aparente individualismo, tomando conotações de um direito transindividual ao mesmo tempo que difuso. Para o ilustre doutrinador, José Afonso da Silva 13, o meio ambiente do trabalho corresponde ao complexo de bens imóveis e móveis de uma empresa e de uma sociedade, objeto de direitos subjetivos privados, e de direitos invioláveis da saúde e da integridade física dos trabalhadores que o freqüentam. Amauri Mascaro do Nascimento 14 entende que o meio ambiente de trabalho é, exatamente, o complexo máquina-trabalho; as edificações, do estabelecimento, equipamentos de proteção individual, iluminação, conforto térmico, instalações elétricas, condições de salubridade ou insalubridade, de periculosidade ou não, meios de prevenção à fadiga, outras medidas de proteção ao trabalhador, jornadas de trabalho e horas extras, intervalos, descansos, férias, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais que formam o conjunto de condições de trabalho etc. A definição do doutrinador, Julio Cesar de Sá da Rocha 15, é de que: o meio ambiente do trabalho caracteriza-se como a ambiência na qual se desenvolvem as atividades do trabalho humano. Diante das modificações por que passa o trabalho, o meio ambiente laboral não se restringe ao espaço interno da fábrica ou da empresa, mas se estende ao próprio local de moradia ou ao ambiente urbano. 13 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 2 ed., São Paulo, Ed. Malheiros, 2003, p. 5. 14 NASCIMENTO, Amauri Mascaro do. A defesa processual do meio ambiente do trabalho. Revista LTr, 63/584.2007. 15 ROCHA, Júlio César de Sá da. A defesa processual do meio ambiente do trabalho: dano, prevenção e proteção jurídica. São Paulo, Ed. LTr, 2002, p. 30.

21 Para Rodolfo de Camargo Mancuso 16, o meio ambiente do trabalho conceitua-se como: habitat laboral, isto é, tudo que envolve e condiciona, direta e indiretamente, o local onde o homem obtém os meios para prover o quanto necessário para a sua sobrevivência e desenvolvimento, em equilíbrio com o ecossistema. Portanto, o meio ambiente de trabalho pode ser considerado como o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio baseia-se na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentam (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc.). É importante que o empregador estabeleça um meio ambiente do trabalho sadio. Um conceito ideal de meio ambiente do trabalho é formulado por Celso Antonino Pacheco Fiorillo ao dizer que: constitui meio ambiente do trabalho o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos). 17 16 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública trabalhista. 5 ed., São Paulo, Ed. RT, 2002, p. 59. 17 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro, São Paulo, Saraiva, 2002, p.22-23.

22 A definição acima transcrita traz todos os elementos essenciais de um meio ambiente do trabalho equilibrado. Assim, podemos afirmar que o meio ambiente do trabalho é o local da prestação de serviços, estendendo este conceito para aqueles que exercem suas atividades em um local distinto da estrutura física da empresa, com algumas características especiais: (i) deve garantir a dignidade do trabalhador e os valores sociais do trabalho (art. 1º, inciso III e IV da CF); (ii) deve assegurar condições mínimas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso XXII da CF). Para que o meio ambiente do trabalho atinja esses ideais é preciso que haja uma interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. 18 Esse direito à vida e à qualidade de vida acima apresentado tem estreita relação com a vida do trabalhador, especialmente em seu meio ambiente do trabalho. A essencialidade da proteção ao meio ambiente de trabalho, como etapa importante para o equilíbrio do meio ambiente geral, justifica-se porque, normalmente, o homem passa a maior parte de sua vida útil no trabalho, exatamente no período da plenitude de suas condições físicas e mentais, razão pela qual o trabalho, habitualmente, determina o estilo de vida, interfere no humor do trabalhador, bem como no de sua família. 19 18 SILVA, Paulo Henrique Tavares da. Valorização do Trabalho como Princípio Constitucional da Ordem Econômica Brasileira: interpretação crítica e possibilidades de efetivação. Curitiba: Juruá, 2003, p.2. 19 MELO, Sandro Nahmias. Meio ambiente do trabalho: direito fundamental, p. 70.

23 Assim pode-se afirmar que o meio ambiente do trabalho equilibrado é um direito fundamental e essencial do trabalhador, tornando-se uma condição para a efetividade do ideal de trabalho decente, uma vez que toda a atividade laborativa se insere em um ambiente de trabalho. Por ser o ambiente de trabalho o local onde o trabalhador desenvolverá todas ou, ao menos, a maioria de suas atividades, ele deve atender às condições mínimas de proteção à saúde, segurança e bem estar do trabalhador. Diante das definições supracitadas, temos que o tema meio ambiente de trabalho é um ramo autônomo, sendo o seu objeto a salvaguarda do homem no seu ambiente de trabalho contra as formas de degradação da sua sadia qualidade de vida. E, assim, esse conceito deve ser considerado nos campos doutrinário, legal e constitucional. CAPÍTULO 2 - MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E APLICAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 2.1 ASPECTOS JURÍDICOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO Os aspectos jurídicos do meio ambiente do trabalho são amplos, uma vez que o legislador optou por um conceito jurídico aberto, criando um espaço positivo de incidência da normal legal, o qual está em harmonia com a Constituição Federal em seu artigo 225, tutelando os aspectos do meio ambiente compreendido como natural, artificial, cultural e do trabalho, definindo, ainda, o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

24 A Constituição Federal de 1988 adotou dois objetos para tutelar no que tange à questão ambiental, quais sejam: um imediato que é a qualidade do meio ambiente em todos os seus aspectos, e outro mediato que é a saúde, a segurança e o bem estar do cidadão, expresso nos conceitos de vida em todas as suas formas prescrito no artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/81, supra), e, em qualidade de vida (predisposto no artigo 225, caput, da CF). A definição de meio ambiente de trabalho em tela não se limita apenas ao trabalhador que possui uma carteira profissional de trabalho CTPS devidamente assinada e registrada. A definição geral do meio ambiente de trabalho deve ser ampla e irrestrita, vez que envolve todo trabalhador que desempenha uma atividade, remunerada ou não, e porque todos estão protegidos constitucionalmente de um ambiente de trabalho adequado e seguro, necessário à digna e sadia qualidade de vida. O conceito de meio ambiente onde exerce seu ofício diário, que é essencial à sua qualidade de vida, além de ser um direito fundamental. Atualmente, o homem não busca apenas a saúde no sentido estrito, mas anseia por qualidade de vida e, como profissional, não deseja apenas condições higiênicas para desempenhar sua atividade; pretende, sim, ter qualidade de vida no trabalho. As primeiras preocupações no campo do meio ambiente do trabalho foram com a segurança do trabalhador, reflexo da própria degradação da saúde do trabalhador à época da Revolução Industrial, com o intuito de afastar a agressão dos acidentes do trabalho. Posteriormente, preocupou-se com a medicina do trabalho para curar as doenças e, assim, ampliou-se a pesquisa para a higiene pessoal, visando a saúde do trabalhador, na busca do bem-estar físico, mental e social. Atualmente, a pretensão é avançar além da saúde do trabalhador, em vista da integração deste com o ser humano dignificado, que tem vida dentro e fora do ambiente do trabalho.

25 Não obstante, a Constituição Federal de 1988, pela primeira vez, destinou um capítulo específico ao meio ambiente. A questão ambiental, anteriormente comportava apenas uma fundamentação teórica e, atualmente, foi erigida à condição de norma de direito fundamental, sendo irrelevante o fato de não se encontrar incluída no capítulo que trata dos direitos e garantias fundamentais. O ambiente de trabalho está inserido no meio ambiente, sim, como supra afirmado, o que é perfeitamente compreendido na análise do artigo 225, da Constituição Federal, em harmonia com as demais normas constitucionais que disciplinam a saúde do trabalhador, por exemplo, o artigo 200, inciso VIII, o qual dispõe sobre o dever do Sistema Único de Saúde SUS em colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Ambiente, segundo algumas concepções, quer dizer: aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas, por todos os lados; envolvente: meio ambiente. Sendo assim, o meio ambiente, sendo o lugar que envolve todos os seres vivos, guarda estreita relação com o conceito de hábitat, que é o lugar de vida de um organismo ou o total de características ecológicas do lugar específico habitado por um organismo ou população. É no valor da dignidade da pessoa humana que a ordem jurídica encontra seu próprio sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, na tarefa de interpretação normativa. Consagra-se, assim, dignidade da pessoa humana como verdadeiro super princípio a orientar o Direito Internacional e o Interno. 20 20 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 4ed. São Paulo: Max Limonad, 2000, p. 54.

26 Todavia, promover uma definição para a dignidade da pessoa humana enquanto norma jurídica fundamental se revela uma tarefa de difícil alcance, haja vista a contínua transformação social da sociedade contemporânea. CAPÍTULO 3 A DIGNIDADE HUMANA DO TRABALHADOR NO AMBIENTE DE TRABALHO E FORMAS DE SUA PROTEÇÃO 3.1 FORMAS DE PROTEÇÃO JURÍDICA DO TRABALHADOR EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO Entendendo-se o meio ambiente do trabalho como um conjunto de fatores físicos, climáticos ou quaisquer outros que interligados, ou não, estão presentes e envolvem o local de trabalho do indivíduo, é natural admitir que o homem passou a integrar plenamente o meio ambiente no caminho para o desenvolvimento sustentável preconizado pela nova ordem ambiental mundial. Também, pode-se afirmar que o meio ambiente do trabalho faz parte do conceito mais amplo de ambiente, de forma que deve ser considerado como bem a ser protegido pelas legislações para que o trabalhador possa usufruir de uma melhor qualidade de vida. A defesa do meio ambiente incorporou-se definitivamente como uma das principais reivindicações dos movimentos sociais no Brasil e no mundo. Tradicionalmente classificado em quatro espécies distintas, quais sejam, meio ambiente natural, artificial, cultural e laboral, cabe ao Ministério Público do Trabalho zelar pela defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis referentes à última.

27 Segundo Celso Antônio Pacheco Fiorillo, in Curso de Direito Ambiental Brasileiro- (4ª edição, São Paulo, Ed. Saraiva, 2003, p. 22/23), o meio ambiente do trabalho É o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc.). Ao falarmos em termos de previsão constitucional, na proteção ao meio ambiente prevista na Constituição Federal, insere-se também o meio ambiente do trabalho, pois Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, além de competir ao sistema único de saúde colaborar na proteção ao meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (art. 200, inciso VIII e art. 225 da CF). Além disso, a Carta Magna estabelece expressamente como direito social dos trabalhadores urbanos e rurais a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (artigo 7º, XXII). Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: ( ) VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Laura Martins Maia de Andrade, nos ensina e nos esclarece: Deduzimos, pois, que na proteção do meio ambiente do trabalho é de rigor observar o contido no art. 7º, inciso XXII, que determina a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,

28 higiene e segurança, coibindo-se, desta forma, a degradação das condições ambientais, desde que efetivamente observando o quanto resta estabelecido tanto na Consolidação das Leis do Trabalho, como na Portaria n. 3.214/1978, do Ministério do Trabalho, e, também, nas Constituições e leis estaduais e municipais, além, das convenções e acordos coletivos do trabalho, no que respeita à preservação da saúde dos trabalhadores. É direito fundamental da pessoa humana ter assegurada sua vida (art. 5, caput, da CF) e saúde (art. 6, da CF), no meio em que desenvolve suas atividades laborais. Quanto ao meio ambiente do trabalho na CLT, temos alguns dispositivos infraconstitucionais de proteção ao meio ambiente descritos na CLT Consolidação das Leis do Trabalho e na Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NA CLT CAPÍTULO V DA SEGURANÇA E DA MEDICINA DO TRABALHO SEÇÃO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 154. A observância, em todos os locais de trabalho, do disposto neste Capitulo, não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho. Parágrafo único. Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada:

29 a) à observância das instruções expedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior; b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa. Art. 159. Mediante convênio autorizado pelo Ministro do Trabalho, poderão ser delegadas a outros órgãos federais, estaduais ou municipais atribuições de fiscalização ou orientação às empresas quanto ao cumprimento das disposições constantes deste Capítulo. Existe ainda para a proteção da dignidade humana do trabalhador e do meio ambiente do trabalho a atuação do Ministério Público do Trabalho. A garantia de um meio ambiente do trabalho seguro e saudável está entre as prioridades de atuação do Ministério Público do Trabalho. Em sua atuação nessa área, o MPT baseia-se no conceito de saúde e segurança elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nas normas da Organização Internacional do Trabalho, na Constituição Federal, na CLT, bem como nas portarias e normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego. O objetivo principal da atuação do MPT é prevenir para dar reais condições de saúde e segurança no trabalho. O Ministério Público age a partir do recebimento de denúncia ou ao ter notícia de que as normas de saúde e segurança não estão sendo respeitadas. Sua ação visa prevenir a ocorrência de acidentes do trabalho ou doenças profissionais. O MPT adota todas as providências necessárias para afastar ou minimizar os riscos à saúde e à integridade física dos trabalhadores,

30 obrigando o cumprimento das normas referentes ao meio ambiente de trabalho. Nesse sentido, são funções institucionais do MPT, dentre outras (art.129, inc. III, CF; art.6º, inc. VII, "c" e "d", art.83, inc. III e art. 84, inc.ii, todos da Lei Complementar nº 75/93). Promover a ação civil pública, o inquérito civil e outros procedimentos administrativos para a proteção: do patrimônio público e social; do meio ambiente do trabalho; dos interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos), quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos. Com maestria, a Professora Laura Martins Maia de Andrade, nos esclarece sobre este Instituto no seu livro meio Meio Ambiente do Trabalho, pgs. 145-46, in verbis: "O Supremo Tribunal Federal, no recurso extraordinário RE- 206220/MG, julgado em 16 de março de 1999, tendo com relator o Ministro Marco Aurélio, reconheceu a competência da Justiça do Trabalho para conhecer e julgar ação civil pública versando condições de trabalho em que os pedidos voltavamse à preservação do meio ambiente do trabalho, e, portanto aos interesses de empregados. Essa decisão reformou a do Superior Tribunal de Justiça, proferida em conflito de competência estabelecido entre a Quarta Junta de Conciliação e Julgamento de Juiz de Fora MG e o Juízo de Direito da Fazenda Pública, suscitado em ação que tinha por objeto a prevenção de lesões oriundas do trabalho, mais precisamente, lesões por esforços repetitivos LER. O recurso extraordinário foi interposto com fundamento na alínea a do inciso III, do art. 102, da Constituição Federal, sob alegação de ofensa ao disposto no art. 114, da Constituição Federal, que determina:

31 "Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsia decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que têm origem no cumprimento de suas sentenças, inclusive coletivas. 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. 2º Recusando-se qualquer das partes a negociação ou arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições respeitadas as disposições constitucionais e legais, mínimas de proteção ao trabalho." Desta feita foi obtida na seguinte jurisprudência: Ementa: Competência. Ação Civil Pública Condições de Trabalho. Tendo a ação civil pública como causas de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente de trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho5. (RE n 206.220-MG. Rel. Mini. Marco Aurélio. DJU 17/9/99, p. 58. Julgamento 16/03/1999, 2ª Turma). Ademais, destacamos este estudo a competência prevista na E/C 45: Justiça comum deve julgar danos por acidente de trabalho - Ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho ou doença profissional deve ser processada e julgada pela Justiça comum.

32 A decisão é da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça. O entendimento reafirma a jurisprudência do tribunal e decisão adotada pelo Supremo Tribunal Federal. A questão não se confunde com as relativas a ação de indenização decorrente da relação de emprego, que continuam da competência da Justiça trabalhista. A 58ª Vara do Trabalho de São Paulo suscitou o conflito sob o argumento de que tanto o STJ quanto o STF, com base no artigo 114 da Constituição Federal, votaram pela competência da Justiça estadual no julgamento de causas fundadas em acidentes de trabalho e doença profissional, conforme disposto na súmula 15 do STJ. A 3ª Vara Cível do Foro Regional de São Miguel Paulista foi o juízo suscitado. O ministro Fernando Gonçalves, relator do conflito, esclareceu que o STJ já pacificou o entendimento de que cabe à Justiça estadual processar e julgar ação que tem o objetivo de conseguir indenização por acidente de trabalho ou doença profissional. Nesses casos, não se aplicaria a súmula 736 do STF. O próprio Supremo, no julgamento do Recurso Extraordinário 438.639, reafirmou que as ações de indenização propostas por empregado ou exempregado contra empregador, quando fundadas em acidente do trabalho, continuam a ser da competência da justiça comum estadual. Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário. O ministro Fernando Gonçalves considerou competente a 3ª Vara Cível de São Miguel Paulista para analisar o assunto. A decisão foi unânime. CC 47.633. (Fonte: Revista Consultor Jurídico. Pensamento Reafirmado.Disponível para consulta, in: http://conjur.estadao.com.br/static/text/34026,1, 2006.)

33 Ainda como forma de proteção jurídica da dignidade trabalhador no ambiente de trabalho, temos a criação da NR 9 - PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS. Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. O PPRA é parte integrante do conjunto mais amplo das iniciativas da empresa no campo da preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, devendo estar articulado com o disposto nas demais NR, em especial com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO previsto na NR 7. Esta NR estabelece os parâmetros mínimos e diretrizes gerais a serem observados na execução do PPRA, podendo os mesmos serem ampliados mediante negociação coletiva de trabalho. As ações do PPRA devem ser desenvolvidas no âmbito de cada estabelecimento da empresa, sob a responsabilidade do empregador, com a participação dos trabalhadores, sendo sua abrangência e profundidade dependentes das características dos riscos e das necessidades de controle. temos: Nesse sentido, dentre os conceitos relevantes previstos na NR 9,

34 RISCOS AMBIENTAIS: Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. AGENTES FÍSICOS: Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som. AGENTES QUÍMICOS: Consideram-se agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão. AGENTES BIOLÓGICOS: Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros. 3.2 PROTEÇÃO DO TRABALHADOR NO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO SOB A OPTICA CONSTITUCIONAL E LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS Sob uma óptica constitucional, aspecto relevante do meio ambiente é o do trabalho, cuja tutela mediata, de acordo com a lição de Celso Antônio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues, "concentra-se no caput do art. 225 da CF". Distintos são os bens juridicamente tutelados no Direito do Trabalho e no Direito Ambiental.

35 Enquanto o Direito do Trabalho ocupa-se preponderantemente das relações jurídicas havidas entre empregador e empregado, dentro de uma relação contratual privatística, o Direito Ambiental irá buscar a proteção do "homem trabalhador, enquanto ser vivo, das formas de degradação e poluição do meio ambiente onde exerce o seu labuto, que é essencial à sua qualidade de vida. Trata-se, pois, de um direito difuso". O presente estudo busca ainda analisar, pela utilização de métodos de hermenêutica constitucional, a relação entre os dispositivos da Carta de 1988 que podem ser invocados na busca da implementação da qualidade de vida do homem em seu meio ambiente de trabalho e parte da legislação infraconstitucional relativos à questão da Segurança e Higiene do Trabalho, notadamente os artigos 189 a 197 da Consolidação das Leis do Trabalho. Conforme citado no primeiro capitulo, o marco inicial da transformação profunda do meio ambiente de trabalho deu-se através da Revolução Industrial. Com ela, necessariamente, surgiu uma nova classe de operários, classificados como proletários, e, conjuntamente, houve a degradação do meio ambiente de trabalho. Com efeito, o crescimento da população e as instalações das unidades produtivas provocaram uma concentração desordenada dos espaços que resultou na construção de prédios, casas e galpões. A formação do meio ambiente urbano gerou a imediata necessidade de criação de novas formas de produção e distribuição de água, alimentos, energia e transporte. Dessa maneira, o resultado global foi um grave desequilíbrio ecológico no planeta. Comprova-se a degradação ambiental desenfreada com o seguinte pensamento dominante, na época, típico do capitalismo que se instalava, o qual adotava a (infeliz) tese de que o desenvolvimento de um país era medido, e muitas vezes registrado pelas