SELEÇÃO DE EXTRATORES PARA A PREVISÃO DA DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO EM SOLOS DE MATO GROSSO Johan Kely Alves Barbosa 1, José da Cunha Medeiros 2, Gilvan Barbosa Ferreira 3, Genildo Bandeira Bruno 4 (1) Embrapa Algodão. Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174 58107-720 Campina Grande, PB e-mail Johank@bol.com.br (2) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174 58107-720 Campina Grande, PB e-mail cunha@cnpa.embrapa.br (3) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174 58107-720 Campina Grande, PB e-mail gilvanbf@cnpa.embrapa.br (4) CCA-UFPB, Campina Grande,PB. RESUMO O teor de P disponível no solo antes do plantio do algodoeiro determina a probabilidade de resposta da cultura à adubação fosfatada e permite a racionalização dos custos com fertilizantes. A seleção do extrator adequado é importante para calibrar a quantidade de adubo necessária ao alcance da produção de máxima eficiência econômica. Com esse objetivo, foi realizado esse experimento em casa de vegetação, na Embrapa Algodão (Campina Grande, PB), com nove solos de MT usados no cultivo do algodoeiro. Utilizou-se um fatorial 9 x 4 (solos x doses) em um delineamento inteiramente ao acaso, com quatro repetições. As amostras de solos foram corrigidas em sua fertilidade, incubadas com 0, 100, 200 e 300 mg/dm 3 de P e cultivadas com a variedade Aroeira por 90 dias, ocasião em que avaliou-se diversas características da planta e se fez a análise de tecido vegetal (por digestão ácida) e de solo pelos extratores Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1, Olsen e Resina. Os extratores Bray-1, Mehlich-3 e Mehlich-1 têm as melhores eficiências agronômicas na previsão de P para o algodoeiro e devem ser calibrados no campo, para gerar recomendações de adubação fosfatada, considerando o fator capacidade tampão de fosfato dos solos para se aproveitar toda sua sensibilidade. INTRODUÇÃO O conhecimento do teor de P disponível no solo é muito importante para a recomendação de adubação fosfatada adequada à obtenção de altas produtividades no algodoeiro, especialmente nos solos do cerrado de Mato Grosso, o maior produtor do país, cujo solo é pobre e apresenta alta capacidade de retenção do fosfato aplicado. Em conseqüência, são utilizadas doses elevadas de fertilizantes, aumentado os custos de produção. O MT é o maior consumidor de adubos do país, usando 554 mil t de P 2 O 5, na fórmula média 4-18-16 de N-P 2 O 5 -K 2 O (Serrana Fertilizantes, 2003). O Mehlich-1 (H 2 SO 4 0,0125 mol/l + HCl 0,05 mol/l, ph 1,2) é usado no MT para a previsão de P disponível no solo para o algodoeiro. Entretanto, existem outras opções para se fazer essa análise. Em São Paulo usa-se a Resina com sucesso (Raij et al., 1996), apesar dela ter baixa sensibilidade à capacidade tampão de P (CTP) nos solos, contrariamente ao Mehlich-1 e demais extratores ácidos que sofrem profundas alterações em sua capacidade de extração com a variação dessa propriedade (Alvarez V. et al., 2000, 1999; Novais & Smyth, 1999; Alvarez V., 1996). Os extratores Bray-1 (NH 4 F 0,03 mol/l + HCl 0,02 mol/l ph 2,6), Olsen (NaHCO 3 0,5 mol/l ph 8,5) e Mehlich-3 (CH 3 COOH 0,2 mol/l + NH 4 NO 3 0,25 mol/l + NH 4 F 0,015 mol/l + HNO 3 0,13 mol/l + EDTA 0,001 mol/l ph 2,5) são amplamente utilizados em vários países do mundo (Novais & Smyth, 1999; Georgia University Station, 1992). Este último tem a possibilidade de ser usado na extração de micro e macronutrientes e dosagem por ICP-AES e se correlaciona bem com os demais extratores, independente do ph original dos solos (Novais & Smyth, 1999; Georgia University Station, 1992). O Bray-1 e o Mehlich-1 são indicados para solos ácidos, com baixos teores de P-Ca, pois atacam o P-Al, a forma mais disponível para a planta, e extrai porções variáveis de P-Fe; o Olsen é indicado para solos calcários, alcalinos ou para locais onde
tenha sido feita adubação com fosfato natural, pois não ataca o P-Ca, solubilizando variscita (P-Al) e strengita (P-Fe). Esse trabalho teve como objetivo selecionar extratores de P disponível para o algodoeiro em solos de Mato Grosso. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido em casa de vegetação, de nov/2001 a set/2002, na Embrapa Algodão, Campina Grande, PB. Utilizou-se solos de nove municípios de MT, cujas amostras foram selecionadas de modo estivessem com teores de argila + silte dentro das seguintes classes: > 400, 200-400 e < 200 g/kg, representando solos com alta, média e baixa capacidade tampão de fosfato (CTP), respectivamente. Elas foram coletadas na camada de 0-20 cm, destorroadas, peneiradas e caracterizadas química e fisicamente. Em seguida, elas foram corrigidas, incubadas com 0, 100, 200, 300 mg/dm 3 de P e o ensaio foi montado no arranjo fatorial 9 x 4, em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. Foi utilizada a cultivar Aroeira, com 2 plantas/vaso, conduzida até 90 DAE. Analisouse os teores de P no solo por Mehlich-1 e 3, Bray-1, Olsen e Resina e na planta, além de outras variáveis de interesse agronômico. Os dados foram submetidas à análise correlação, variância e regressão e as equações significativas geradas (P disponível pelos diferentes extratores em função de doses) foram utilizadas para confeccionar as tabelas apresentadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os extratores recuperaram (b 1 ) teores de P variáveis e diferentes entre si no conjunto de solos utilizados (Tabela 1), com taxas de recuperação média de 0,191, 0,379, 0,396, 0,194 e 0,233 mg/dm 3 por mg/dm 3 de P aplicado, para Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1, Olsen e Resina, respectivamente. O Mehlich-1 teve a menor taxa de extração, enquanto o Mehlich-3 e o Bray-1 tiveram as maiores. A presença do NH 4 F aproximou a capacidade de recuperação de P dos extratores Bray-1 e Mehlich-3, apesar desse último ter outros compostos quelatantes de Fe e Ca que aumentam a extração das formas de P (Georgia University Station, 1992). Os altos teores de P extraídos por Bray-1 e Mehlich-3, assim como os teores muito próximos encontrados por Olsen e Mehlich-1 provavelmente se devam ao ataque do P-Al como sendo a forma de P predominante nesses solos (Novais & Smyth, 1999). Os extratores foram altamente correlacionados entre si, especialmente aqueles cuja extração se dá em ph ácido (Tabela 2), possivelmente por causa da ação de extração semelhante: dissolução ácida, troca iônica e complexação de Fe, Al e Ca. Já a alta correlação observada entre todos eles, provavelmente seja devido às doses crescentes de P aplicadas aos solos, pois elas diminuem a sensibilidade dos coeficientes de correlação, aproximando os valores de r. As taxas de recuperação (b 1 ) dos extratores ácidos foram bem correlacionados com o teor de argila, enquanto a resina teve baixa correlação com esse estimador da CTP dos solos (Tabela 2), como anteriormente destacado por Alvarez V. (1996, 2000) e Novais & Smyth (1999). Os extratores ácidos tiveram os maiores coeficientes de correlação com as variáveis analisadas na planta, comparativamente à Olsen e à Resina, especialmente quanto se observa o conteúdo de P acumulado na parte aérea da planta (Tabela 3). Essa variável mede a eficiência agronômica do extrator para prever a disponibilidade de P para as plantas e, por esse critério, os extratores Olsen e Resina são os de piores desempenho. Novais & Smyth (1999) e Alvarez V (1996) já demonstraram que as plantas têm sensibilidade ao fator CTP dos solos e que um extrator que pretenda imitar a ação de suas raízes na aquisição desse nutriente precisa ter sensibilidade equivalente, senão sua eficiência agronômica fica reduzida a valores muito baixo como o observado. O Olsen provoca dispersão de argila, turbidez e amarelecimento nos extratos, além da presença do íon HCO 3 - que deve ser neutralizado para que se consiga uma curva estável do complexo fosfomolíbdico na sua dosagem colorimétrica.
CONCLUSÃO Os extratores ácidos (Bray-1>Mehlich-3>Mehlich-1) foram agronomicamente mais eficientes para a previsão da disponibilidade de P para o algodoeiro e devem ser calibrados para uso na recomendação da adubação fosfatada. O fator capacidade tampão deve ser levado em consideração na calibração desses extratores durante toda a etapa experimental no campo para que se consiga aproveitar toda sua sensibilidade na estimativa dos teores de P disponível para ao algodoeiro.
Tabela 1. Equações de regressão de P recuperado ( Υˆ, em mg/dm 3 ) por Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1, Olsen e Resina em função das doses de P aplicadas ao solo (x, em mg/dm 3 ). Solo Mehlich-1 Mehlich-3 Bray-1 Olsen Resina Bo b1 R 2 Bo b1 R 2 bo b1 R 2 bo b1 R 2 bo b1 R 2 1 10,31 0,218 0,918** 16,94 0,410 0,941** 20,84 0,416 0,979** 11,43 0,206 0,974** 20,37 0,275 0,979** 2 15,29 0,094 0,929** 15,52 0,235 0,936** 10,08 0,303 0,898** 10,97 0,159 0,972** 21,17 0,243 0,929** 3 9,72 0,257 0,972** 22,45 0,538 0,995** 18,35 0,573 0,997** 8,28 0,216 0,998** 13,44 0,218 0,982** 4 15,88 0,284 0,992** 25,68 0,540 0,999** 26,63 0,590 0,998** 11,37 0,181 0,987** 9,70 0,202 0,965** 5 7,71 0,147 0,955** 17,18 0,402 0,915** 18,57 0,410 0,900** 9,87 0,219 0,960** 19,23 0,271 0,945** 6 5,40 0,163 0,976** 18,17 0,305 0,977** 14,89 0,328 0,964** 9,94 0,187 0,971** 18,03 0,232 0,967** 7 50,52 0,369 0,976** 132,14 0,691 0,973** 135,35 0,625 0,984** 52,48 0,270 0,987** 49,77 0,324 0,999** 8 12,91 0,110 0,999** 17,33 0,180 0,878** 20,90 0,215 0,901** 15,41 0,172 0,999** 22,93 0,234 0,986** 9 5,47 0,080 0,993** 4,01 0,110 0,987** 2,49 0,108 0,949** 3,30 0,135 0,995** 8,87 0,097 0,984** Média 14,80 0,191 0,968 29,946 0,379 0,956 29,79 0,396 0,952 14,78 0,194 0,983 20,39 0,233 0,971 **: Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. O modelo linear usado é Υˆ = b0 + b1x.
Tabela 2- Coeficientes de correlação linear entre os extratores usados e das suas respectivas taxas de recuperação (b 1 ) do P aplicado com o teor de argila (Arg). Campina Grande, PB, 2003. Mehlich-3 Bray-1 Olsen Resina b 1 com Arg Mehlich-1 0,976*** 0,979*** 0,926*** 0,826*** -0,718* Mehlich-3-0,997*** 0,931*** 0,827*** -0,740* Bray-1-0,936*** 0,849*** -0,780** Olsen - 0,954*** -0,650* Resina - - - - -0,501 o ***, * e o : Significativo a 0,1, 5 e 10%, respectivamente, de probabilidade pelo teste t. N=36 Tabela 3-. Coeficientes de correlação linear dos valores médios de variáveis da planta e teores de P disponível pelos extratores usados. Campina Grande, PB, 2003. Mehlich-1 Mehlich-3 Bray-1 Olsen Resina PSRAIZ 0,477** 0,476** 0,494** 0,316* 0,201 PSCAU 0,533*** 0,591*** 0,605*** 0,407** 0,294* PSFFF 0,377* 0,454** 0,464** 0,343* 0,283* PSPAT 0,451** 0,524*** 0,536*** 0,381* 0,299* P 0,437** 0,476** 0,479** 0,505*** 0,503*** CONTP 0,600*** 0,684*** 0,692*** 0,579*** 0,503*** DCAU 0,488** 0,480** 0,504*** 0,388** 0,296* ALT 0,395** 0,426** 0,425** 0,323* 0,250 O NFOL 0,387** 0,441** 0,433** 0,425** 0,386* AFPFOL -0,121-0,111-0,136-0,223 o -0,275 o AFPPLA 0,319* 0,353* 0,327* 0,247 o 0,143 NBOT 0,168 0,182 0,182 0,185 0,192 o, *, ** e ***: Significativo a 10, 5, 1 e 0,1% de probabilidade pelo teste t. N=36. Produção de matéria seca de raiz (PSRAIZ), caule (PSCAU), folhas, flores e frutos (PSFFF), matéria seca total da parte aérea (PSTPA), teor (TP) e conteúdo (CONTP) de fósforo (P) na parte aérea, diâmetro do caule (DCAU), altura da planta (ALT), número de folhas por planta (NFOL), área foliar por folha (AFPFOL) e por planta (AFPPLA), número de botões florais (NBOT) por planta e P disponível extraído por Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1, Olsen e Resina, em nove diferentes solos de Mato Grosso, em casa de vegetação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALVAREZ V., V.H. Correlação e calibração de métodos de análises de solos. In: ALVAREZ V., V.H.; FONTES, L.E.F.; FONTES., M.P.F., eds. O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentável. Viçosa, SBCS/UFV/DPS, 1996. p.615-645. ALVAREZ V., V.H.; NOVAIS, R.F.; BARROS, N.F.; CANTARUTTI, R.B. ; LOPES, A.S. Interpretação dos resultados das análises de solos. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G; ALVAREZ V., V.H., eds. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5 a aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. p. 25-32. ALVAREZ V., V.H.; NOVAIS, R.F.; DIAS, L.E.; OLIVEIRA, J.A. Determinação e uso do fósforo remanescente. B. Inf. Soc. Bras. Ci. Solo, v.25, p.21-32, 2000. GEORGIA UNIVERSITY STATION. Council on Soil Testing and Plant Analysis: handbook on reference methods for soil analysis. Athens, 1992. 202p. NOVAIS, R.F., SMYTH, T.J. Fósforo em solo e planta em condições tropicais. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1999. 399p.
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