Economia Criativa Tensões entre inovação e cultura. Práticas regionais que desafiam modelos estrangeiros

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Transcrição:

Conferência Internacional LALICS 2013 Sistemas Nacionais de Inovação e Políticas de CTI para um Desenvolvimento Inclusivo e Sustentável 11 e 12 de Novembro, 2013 - Rio de Janeiro, Brasil Economia Criativa Tensões entre inovação e cultura. Práticas regionais que desafiam modelos estrangeiros Conferência Internacional LALICS 2013 Sistemas Nacionais de Inovação e Políticas de CTI para um Desenvolvimento Inclusivo e Sustentável 11 e 12 de Novembro, 2013 - Rio de Janeiro, Brasil Maximiliano Vila Seoane maxvila@uni-bonn.de

Sumário 1) Introdução 2) Transferencia de conceitos e práticas 3) Tensões 1) A criatividade é somente individual? 2) Que tipo de inovação é considerada? 3) Que tipo de empreendimentos são sustentáveis? 4) Qual é o tipo de propriedade a escolher? 5) Que tipo de cultura é protegida? 4) Respostas e abordagens diferentes na Ar e no Br 5) Discussão e sugestões

1) Introdução Conceito de indústria cultural de Adorno & Horkheimer Indústrias culturais (cinema, rádio, publicações, teatro, música, etc.) Indústrias criativas todas aquelas atividades que têm sua origem na criatividade, no talento e nas habilidades individuais, mas com potencial para a criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração da propriedade intelectual. (DCMS, 1998). Economia criativa por John Hawkings UNCTAD: Relatório sobre economia criativa como uma estrategia possível de desenvolvimiento

2) Transferencia de conceitos e práticas A América Latina tem uma grande diversidade de expressões culturais étnicas e populares Ampla diversidade linguística Ainda grandes desafios de inclusão social As indústrias culturais estabelecidos na América Latina têm um alto grau de concentração da propriedade em poucas empresas, que, ironicamente, em uma terra de grande diversidade de vozes, são poucos os que podem disseminar seu conteúdo (Becerra & Mastrini, 2008) Tudo isso lança dúvidas sobre a aplicação direita de políticas puramente comerciais para a área da cultura

Um exemplo é o Brasil, que em 2011 criou a secretaria de economia criativa. Mas o conceito utilizado ainda estão surgindo, similar mas também diferente do original, que inclui termos como "sustentabilidade", "diversidade cultural", "inclusão", sem descuidar da "inovação". Na Argentina, optou por utilizar o termo indústrias culturais a nível nacional, e as indústrias criativas em Buenos Aires,

3.a) A criatividade é somente individual? Existem várias perspectivas para o estudo da criatividade (Runco, 2007). Pesquisas indicam a importância das condições sócio- culturais que promovem a criatividade ( Simonton et ai., 2000). Isto significa que a criatividade não depende exclusivamente das características pessoais, não existe uma qualidade de "génios ". A criatividade é um processo coletivo, em muitos casos, um fato refletido não só na criação de grupos na área de ciência e tecnologia, mas também em grupos artísticos e, particularmente, no sentido de colaboração de vários povos indígenas da América Latina, como os mapuches. Sem acesso à formação, educação e grupos sociais onde você joga e troca desse conhecimento é difícil de adquirir as habilidades necessárias para ser criativo em uma área.

3.b) Que tipo de inovação é considerada? A inovação enraizado definição associado à introdução bem sucedida de um novo produto ou processo no mercado (Frascati). A transferência desta convenção para a área cultural sugerem que existem produtos ou serviços culturais, e que seu sucesso é medido pelo mercado. a interpretação da cultura apenas com um produto ou serviço é uma parceria que gerou e ainda gera intenso debate internacional e encontra antecedentes nas discussões entre UNESCO e da OMC para impedir a cultura é considerada como um serviço simples mais. Disputa ainda não resolvida. Necessidade de expandir o conceito da inovação

3.c) Que tipo de empreendimentos são sustentáveis? O modelo padrão das indústrias criativas e economia criativa falam do emprendedor cultural de forma análoga à teoria da inovação com sua figura do empreendedor. Este modelo baseia seu funcionamento no lucro, e com isso define a sua condição sustentável, geralmente de forma independente dos impactos ambientais ou sociais negativos que possa ter. No entanto, se mover essa lógica para a área cultural, a preponderância deste modelo esmaga e lógica ofusca público e comunitária, não necessariamente limitam seus critérios de sustentabilidade aos retornos financeiros. Diz-se que tais empreendimentos (operando sob diferentes lógicas) não têm futuro, no entanto, a experiência em muitos países latino-americanos mostra o contrário. Várias iniciativas estão em funcionamento há anos (embora em adversa).

3.d) Qual é o tipo de propiedade a escolher? Na área de inovação tecnológica, a resposta padrão é geralmente patentar, que concede ao requerente um monopólio temporário de exploração da invenção, em troca para espalhar os elementos fundamentais do que está protegido. Um modelo semelhante prevaleceu na área da cultura, direitos autorais ou direitos de autor, de acordo com a legislação dá um determinado número de anos, o direito de recolher royalties ao autor para suas obras e evitar que outras pessoas acessem ou reproduzir o mesmo,sem seu consentimento. Novamente aqui o risco de tradução é assumir que o modelo IP fechada é o única possível, afirmação que a variedade de práticas encontradas na realidade desmentem. Por exemplo Creative Commons.

3.e) Que tipo de cultura é protegida? Duas traduções perigosas: - que a inovação, como processo de destruição criativa, introduze novas práticas e tecnologias que substituem as anteriores. - que a difusão destas inovações muitas vezes seguem as curvas em forma de S, atingindo grande parte dos potenciais beneficiários depois de um tempo. Essas ideias transferidas para a área cultural pode terminar em sérios atos de discriminação, criando a percepção de que uma cultura é melhor que o resto, e por conseguinte tem que espalhar suas práticas para civilizar as periferias. Um conceito claramente colonial, que assume como verdadeira a existência de um processo evolutivo na área cultural. Teve a oposição de campo da relatividade cultural em etnologia, e é adicionada à tensão mencionada para a proteção da "diversidade cultural" (Mattelart, 2002).

4) Respostas e abordagens diferentes na Argentina e no Brasil Apoiou iniciativas em diferentes áreas culturais e comunidades. Por exemplo, audiovisual, teatro, griô, quilombolas, povos indígenas, cultura digital, entre outros Reconheceu como pontos a experiências em funcionamento de organizações da sociedade civil. Concedeu um estúdio multimídia (uma câmera de vídeo, mesa de som, microfones e computadores que funcionam como ilhas de edição software livre) (Costa, 2012; Turino, como 2010). O programa foi uma iniciativa pioneira para mostrar que a cultura é diversificada, extensa, variada, e que vai muito além das práticas puramente comerciais. Onde a tecnologia teve um relevante rol para conectar os pontos. Neste sentido, ela pode ser considerada uma experiência de "inovação social.

Lei 26.522 de serviços de comunicação audiovisual na Argentina Permite que as organizações não-governamentais sem fins lucrativos (cooperativas, universidades, sindicatos, etc) fornecem esses serviços.. Caso das cooperativas: desenvolvem conteúdo representando princípios cooperativos, onde prevalece o coletivo sobre o individual, e a solidariedade sobre o lucro Reavaliação da produção audiovisual Adicione a isso o potencial oferecido para proteger a memória de eventos, atos, culturas e costumes que enriquecem as coleções coletivas e rica diversidade de conhecimento existente. Cultura digital Coloca em dúvida a ideia de indústria cultural Visibilidade na mídia para os diferentes grupos e comunidades Crowdsourcing e crowdfunding

5) Discussão e sugestões Evite transladar diretamente os conceitos de estudos de inovação para a área cultural. Isso ignora que a cultura vai muito além da lógica privada, que por sua vez inclui a lógica pública, comunitária e cooperativa baseada não exclusivamente na busca de rentabilidade. Preciso adotar uma definição mais ampla de inovação para a área cultural, tendo em conta as práticas de criação coletiva e colaboração. A importância da inovação e do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas não pode ser descuidado, mas que e atendam às necessidades dos diferentes atores criativos. Uma discussão renovada sobre as diferentes leis de direitos autorais na América Latina. Se copiamos uma lógica de fora da região, a relação entre cultura e inovação pode ser perigosa pela riqueza da diversidade regional. No entanto, pode ser uma oportunidade, se implementamos modelos inclusivos que consideram e apoiam as diversas lógicas existentes.

Muito obrigado! Maximiliano Vila Seoane maxvila@uni-bonn.de