LIVROS PARA A ESCOLA NORMAL NO PARANÁ: MODELOS E PROJETOS SOCIAIS SE VIABILIZAM NA ESCOLA Resumo Marlete dos Anjos Silva Schaffrath FAP/PR marlete.schaffrath@pucpr.br Maria Elisabeth Blanck Miguel (Orientadora) PUCPR maria.elisabeth@pucpr.br Eixo temático: História da Educação Agência Financiadora: CAPES O texto apresenta alguns elementos históricos e teóricos para a compreensão das concepções pedagógicas que, a partir do século XIX, passaram a nortear as políticas de formação de professores para as escolas brasileiras e os saberes pedagógicos necessários para a atuação no magistério púbico do ensino elementar. O quadro histórico apresentado toma como pano de fundo a constituição da Escola Normal no Paraná e as determinações oficiais de currículo e manuais escolares na segunda metade do século XIX, priorizando a análise do livro Lições de Coisas de Saffray indicado para a Escola Normal de Curitiba em 1882. Os dados e as análises trazidas por este trabalho são provisórios uma vez que se trata da apresentação de estudos inconclusos da pesquisa de tese de doutoramento pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com a temática da Escola Normal de Curitiba e os compêndios que nela circularam no final do Período Imperial e início do período Republicano. As referências para este trabalho são os dados oficiais disponibilizados pelo Arquivo Público do Estado do Paraná, Biblioteca Pública e Círculo de Estudos Bandeirantes (PUC-PR), assim como a produção bibliográfica nacional que no âmbito da Historiografia da Educação tem tratado desta temática. Também subsidiam teoricamente este trabalho, textos de autores estrangeiros que interpretam as questões pedagógicas do passado em conjunto como a cultura, a história das sociedades. Da análise conjunta das fontes até o momento, obtivemos dados que nos ajudam a compreender melhor a dinâmica do sistema público de formação de professores na Província do Paraná. Palavras-chave: Escola Normal. Compêndios. História da educação no Paraná. Introdução As reflexões aqui apresentadas buscam fornecer alguns elementos históricos e teóricos para a compreensão das concepções pedagógicas que, a partir do século XIX, passaram a
11553 nortear as políticas de formação de professores para as escolas brasileiras e os saberes pedagógicos necessários para a atuação no magistério púbico do ensino elementar. O quadro histórico apresentado toma como pano de fundo a constituição da Escola Normal no Paraná e as determinações oficiais de currículo e manuais escolares na segunda metade do século XIX. Primeiramente o texto apresenta aspectos do movimento histórico dos investimentos do poder público provincial na formação de professores para o ensino elementar no que se refere à recomendação e aquisição de manuais pedagógicos para uso da Escola Normal a partir de 1880. Em seguida passamos à referência a algumas tendências filosóficas que fundamentaram a política de instrução escolar que mobilizava governos europeus assim como impulsionaram a escola pública brasileira. O destaque paranaense aqui apresentado não deve ser entendido como a criação de uma história paralela, independente, mas como a tentativa de marcar algumas especificidades da sociedade do Paraná no contexto dos governos provinciais brasileiros. Os dados e as análises trazidas por este trabalho são provisórios uma vez que se trata da apresentação de estudos inconclusos da pesquisa de tese de doutoramento pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com a temática da Escola Normal de Curitiba e os compêndios que nela circularam no final do Período Imperial e início da República. De todo modo, seriam estas análises provisórias considerando perspectivas teóricas que colocam o trabalho de pesquisa e seus resultados como derivados de condições históricas, culturais e, sobretudo parciais, dado o movimento da história e mesmo o fato do pesquisador interpretar os dados e os significar a partir de seu lugar social. As referências para este trabalho são os dados oficiais disponibilizados pelo Arquivo Público do Estado do Paraná, Biblioteca Pública e Círculo de Estudos Bandeirantes (PUC-PR), assim como a produção bibliográfica nacional que no âmbito da Historiografia da Educação tem tratado desta temática. Também subsidiam teoricamente este trabalho, textos de autores estrangeiros que interpretam as questões pedagógicas do passado em conjunto como a cultura, a história das sociedades. Da análise conjunta das fontes até o momento, obtivemos dados que nos ajudam a compreender melhor a dinâmica do sistema público de formação de professores na Província do Paraná. Entretanto, conforme defende Faria Filho (1999), é preciso ver a legislação como
11554 uma prática ordenadora das relações sociais e, neste caso, a prescrição dos livros para a Escola Normal são atos oficiais do poder público e devem ser compreendidos com tal. Os livros didáticos e manuais para a Escola Normal de Curitiba estão colocados nesta proposta de pesquisa como fontes privilegiadas para o estudo da historiografia da educação no Paraná, que não obstante às características contextuais de sua sociedade não poderia ser estudada sem um nexo com o estudo da historiografia da educação na sociedade brasileira. Condições europeias para a instrução pública pelos livros didáticos Foi no século XIX que se deu a expansão da rede pública de instrução na Europa e para viabilizar este projeto, deu-se também a constituição de um sistema de formação de professores nas chamadas Escolas Normais. Em função da necessidade de estruturação desses níveis de ensino nas escolas produziu-se determinada literatura pedagógica (revistas pedagógicas, livros didáticos, manuais para professores e para alunos, e outros impressos), na intenção de construir um sistema de ensino sob bases científicas, colocadas como universais. Muitos educadores europeus se destacaram na proposição de métodos de ensino e teorias para a educação de crianças nas escolas. A Alemanha particularmente elegeu o ensino de massa como meio para reconstrução social, cedeu vários nomes que influenciaram a educação em todo o mundo ocidental. Da Europa em geral, destacam nomes como Russeau (1721-1778); Herbart (1776-1841); Pestalozzi (1746-1827); Basedow (1723-1790) dentre outros. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) educador suíço, que influenciado pelo pensamento de Rousseau (1721-1778) fundou algumas escolas a Europa que serviram como laboratório experimental para suas teorias baseadas no Romantismo europeu 1 e desenvolveu teorias educativas expressas nas obras Leonardo e Gertrudes (1781) e Como Gertrudes instrui seus filhos (1801). Suas teorias desenvolviam idéias acerca da política, da moral e da sociedade e defendiam a harmonia entre elas. O trabalho de Pestalozzi serviu para estruturar o sistema de ensino da Prússia que ficou conhecido como sistema escolar prussianopestalozziano (ZANATTA, 2005). 1 O Movimento Romântico europeu foi um movimento artístico e filosófico ocorrido na Europa a partir de 1800, que defendia mudanças no comportamento individual, destacando a personalidade, sensibilidade, emoção e os valores interiores e a liberdade, contrariando o racionalismo que constituiu os estados nacionais europeus.
11555 Os métodos pestalozzianos foram adotados pelas Escolas Normais fundadas para formar professores de acordo com a reforma de ensino que se estruturava na Prússia. De acordo com as perspectivas de Russeau e Pestalozzi a educação deveria ser concebida como um processo e seguir os mesmos princípios da natureza: liberdade, bondade e respeito à individualidade da criança. Como resultado do processo educativo nestas bases, estariam o desenvolvimento das capacidades humanas, ou seja, a inteligência, o caráter e os bons sentimentos. Pestalozzi defendia que o meio essencial da educação intelectual é a observação, ou a intuição. A partir daí estabeleceu alguns princípios para o seu método de ensino: a) Partir do conhecido ao desconhecido; b) Do concreto ao abstrato; c) Do particular ao geral; d) Da visão intuitiva à compreensão geral; e) Tempo suficiente para o aprendizado; f) O amor deve regular as relações entre mestres e discípulos De acordo com o método, a criança faria naturalmente uma associação entre todos os elementos envolvidos no processo de ensino e os organizaria num todo orgânico, dependente de cada consciência humana, o que resultaria em pontos de vista alcançados liderados pela intuição. O Método intuitivo ou Lições de Coisas tinha como característica fundamental a oferta de lições lógicas, sensíveis à experiência e que permitisse ao aluno chegar ao raciocínio de conceitos abstratos pelos estudos dessas lições, de acordo com Bittencourt (2004). O método de ensino intuitivo difundiu-se primeiramente na Europa na segunda metade do século XIX. No Brasil, o Ministro Leôncio de Carvalho, ainda no período Imperial recomendou a adoção deste método na década de 1880. Também Rui Barbosa defendeu publicamente o referido método de ensino, além de traduzir o livro de Norman A. Calkins com o título de Primeiras lições de coisas, de acordo com Souza (1998). A essência do método intuitivo, conforme descreve Valdemarin (1998) está na concepção de que conhecimento se origina nos sentidos humanos e que as idéias e as coisas ensinadas às crianças na escola vão
11556 [..].formar indivíduos que usem menos a memória e mais a razão e que valorizem a observação e o julgamento próprios como meios de construção do conhecimento e da implementação das atividades produtivas. (VALDEMARIN, 1998, p.80) Na perspectiva do Método intuitivo, a razão, a experiência e os sentidos são os instrumentos humanos para a compreensão do mundo natural e social. Os conteúdos dos livros de lições de coisas difundiam as modernas descobertas científicas, os valores morais das sociedades cristãs e o espírito produtivo das sociedades liberais. Condições brasileiras e Escola Normal Paranaense No Século XIX se consolidava o poder burguês na Europa e isto influenciou o pensamento pedagógico que passou a considerar novas propostas educacionais e de acesso às escolas, de acordo com Cunha (1979). No Brasil, a partir da instalação da Corte Portuguesa em 1808, nossa sociedade colonial foi palco de muitas mudanças, mas ainda não havia um projeto pedagógico para a educação brasileira, segundo Aranha (1996). Até este momento, não havia circulação de material de apoio aos poucos professores que ministravam aulas nas Províncias. Os professores adquiriam conhecimentos nas próprias escolas onde estudavam as primeiras letras, ou seja, reproduziam seu mestre, conforme descreve Tanuri (1969). Somente a partir 1869, os manuais ou compêndios de pedagogia que já circulavam na Europa começaram a ser adotados pela instrução pública brasileira. Cabe ressaltar, entretanto que o ensino escolar no Brasil estava, neste período, fortemente assentado sob bases tradicionais onde a relação professor/aluno e itens como o ensino e a aprendizagem estavam sujeitos aos valores morais, religiosos e baseados na autoridade do professor em escala imediata e no Estado, como provedor da instrução pública. A Escola Normal foi criada no Brasil em 1835 2 e a partir daí várias províncias brasileiras passaram a se organizar a fim de criarem também uma Escola Normal para formar professores para o ensino elementar. As províncias no Brasil desde o Ato Adicional de 1834 eram responsáveis por prover o ensino elementar e Normal em seus territórios. Então, as Escolas Normais iam aparecendo nas capitais ou cidades mais importantes de acordo com a 2 De acordo TANURI, L. M. Contribuição para o estudo da Escola Normal no Brasil. São Paulo: CRPE, n. 13, 1970.
11557 estrutura de cada província. Isto explica o motivo pelo qual, essas escolas não funcionavam articuladas oficialmente entre si; não recebiam os mesmos investimentos e sua organização e funcionamento dependia diretamente do poder político e econômico da Província. No Paraná, pelo menos na esfera do poder público, a importância de se criar uma Escola Normal estava expresso em diversas falas dos Presidentes da Província que se sucediam uns aos outros desde 1854. Contudo, foi somente em 1870, que o então Presidente da Província Antonio Luiz Affonso de Carvalho aprova a Lei n. 238 3 criando uma Escola Normal na cidade de Curitiba para habilitar professores para o magistério no ensino elementar. A partir deste período, os Relatórios da Instrução Pública passam a relatar os investimentos para o funcionamento da referida escola. Num dos primeiros relatos, em 1882, é anunciada a compra dos seguintes materiais impressos para uso da Escola Normal (MOACYR, 1940), (Quadro 01): TIPO DE MATERIAL AUTOR/TÍTULO ARÉA DE ENSINO Manual Saffray Lições de Coisas Ensino Manual Método Schereber Ginástica Livro Introdução ao livro à Infancia Pedagogia Livro Aritimetica de Oton Matemática Livro Geografia de Zaluar Geografia Livro Taboada de Póvoas Matemática Catecismo Catecismo de Montepellier Religioso Quadro 01- Lista de alguns dos impressos adotados na Escola Normal de Curitiba no ano de 1882. Fonte: MOACYR, Primitivo. A instrução e as Províncias: Subsídios para a história da educação no Brasil 1834-1889. 3º. Vol. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940. Os manuais e livros para professores embora destinados ao uso escolar são diferentes entre si; eles diferem, em sua natureza e forma, assim como também são distintos dos manuais escolares ou livros didáticos dirigidos aos alunos do ensino primário. Os textos contidos nestes documentos não são apenas lições sequenciadas de tarefas docentes, eles 3 Lei n. 238 de 19 de Abril de 1870. Lei de criação da Escola Normal em Curitiba.
11558 correspondem aos discursos adequados aos papéis que os professores, em diferentes tempos e espaços, deveriam desempenhar (CHARTIER, 1991). Destacamos como exemplo deste tipo de material o Manual Lições de Cousas de autoria do Doutor Saffray (SAFFRAY, 1908), um dos impressos recomendados para uso na Escola Normal de Curitiba a partir de 1882. O manual de Saffray é porta voz de um projeto modernizador da sociedade em andamento no séc. XIX na Europa. Ele induz ao aprendizado de produtos e de processos de conhecimento que estariam em consonância com o modelo de progresso de acordo com o autor, que era francês. Percebe-se que implícita ou explicitamente há a veiculação da cultura vigente por meio da atividade pedagógica. Para Valdemarin (2000), o conteúdo proposto em Lições de Coisas veicula uma valorização do progresso científico e do uso de conhecimentos advindos deste progresso nas sociedades modernas. Esses conhecimentos fundamentados nos valores e saberes que o desenvolvimento das ciências em diversos âmbitos proporcionou, seriam acrescentados aos programas escolares e passariam a constituir um corpo de saberes agora incorporados e divulgados pela escola. Os avanços das ciências como a física e a geometria e suas aplicações na construção de máquinas e produtos precisavam ser difundidos como os valores que constituiriam as modernas sociedades. Partilhar da tendência cientificista da época, na qual a nação brasileira estava tentando se inserir certamente fez com que o presidente da Província do Paraná encomendasse o material Lições de Cousas para ser usado pelos professores na Escola Normal (1880) 4 de Curitiba. No limite, as características do conteúdo veiculado pelo impresso em questão, evidenciam uma educação de elite ainda que fosse aplicada para os pobres nas escolas públicas da Província. O vinho, o chá, o café, a louça fina e a porcelana (SAFFRAY, 1908, p. 349-350) são apresentados como conteúdos a serem abordados pelos professores em suas aulas no ensino elementar. Vê-se aqui a influência de valores culturais das elites, que teriam acesso aos bens culturais e materiais que a sociedade industrial tinha produzido. E que chegava para o povo, ao menos nos livros impressos e nas lições escolares. Na escola, estes valores eram difundidos como conhecimento necessário para o trânsito social. 4 PARANÁ. Relatório do Presidente da Província Carlos Augusto de Carvalho, em outubro de 1882. Relatórios e Falas dos Presidentes da Província, APEPR. 1882.
11559 Antonio Gramsci (1981) discute o conceito de hegemonia nas sociedades capitalistas como o conjunto de funções para domínio e direção que uma classe social exerce sobre outra classe no decorrer de um determinado período histórico. Para o autor, a dominação ideológica de uma classe social sobre outra, se dá pela dominação intelectual (segundo ele, algumas vezes pela força). Assim, as classes dominantes se perpetuam no poder pela subordinação intelectual a qual submetem as classes subalternas. Sob a proposta de Gramsci, podemos inferir que as ideologias constitutivas dos já referidos impressos, aquelas que certamente derivaram ou se produziram a partir deles, forjam a perspectiva intelectual compartilhada pelas classes hegemônicas no Século XIX, e cujos domínios se estabeleciam para as demais. Os manuais, livros e outros impressos para uso escolar e especialmente para uso na Escola Normal foram definitivamente adotados como sustentáculo do ensino público e as traduções de livros estrangeiros foram aos poucos cedendo lugar às produções nacionais. Bittencourt (2004) em estudo sobre a produção didática brasileira avalia que o perfil dos autores variou entre os anos de 1810 e 1910. Primeiro, a chegada da família real portuguesa ao Brasil motivou a produção de obras diversas e permitiu sua impressão pela Impressão Régia. A autora identifica que a partir de 1827, os autores, intelectuais ligados ao governo, expressavam em suas obras a preocupação com a organização dos cursos secundários e superiores, certamente acompanhando os projetos da Coroa. A partir de 1880, entretanto, com a implantação de políticas liberais, o Império brasileiro identificou a necessidade de estender a escolarização pública via escola elementar. Neste momento, deu-se, segundo a autora, impulso à produção de literatura específica para a formação escolar do cidadão brasileiro. Para as escolas foram produzidos, com a aprovação e incentivo do governo Imperial, compêndios, cartilhas, manuais que eram traduzidos ou concebidos por intelectuais próximos ao governo. Estes autores produziam textos para estudo nas diversas áreas e expressavam ali suas experiências no ensino em diversos níveis, suas habilidades em traduzir e adaptar textos estrangeiros para a realidade brasileira. Ainda segundo a autora, de início os livros eram destinados aos professores e esses decidiam sobre os conteúdos escolhidos para leitura e cópia. Na segunda metade do século XIX porém, os livros foram também direcionados aos alunos, o que passou a exigir um outro tipo de formatação para o material. Os livros escolares para alunos contavam com ilustrações,
11560 grafia adequada e tiragens maiores. Essas mudanças no público alvo dos livros didáticos acabaram por estimular o setor de autoria e editoração de livros infantis no Brasil. Enfim, o desenho de uma sociedade moderna ia sendo traçado pela escola. Os impressos utilizados para a escolarização das massas alicerçaram projetos de ensino que por sua vez subsidiaram projetos políticos para as sociedades. Algumas conclusões Os livros da Escola Normal foram escritos durante a constituição de sistemas de ensino públicos, obrigatórios, gratuitos e organizados pelo Estado a fim de promover a expansão da educação escolar. Entretanto, para compreender a construção histórica e social destes manuais é preciso identificar o perfil desejado para uma formação docente que deveria forjar nos alunos o espírito da época, ao mesmo tempo em que é preciso também buscar entender os motivos pelos quais determinados impressos vieram para o Brasil. Os manuais, os que foram traduzidos e ou adaptados de autores franceses, ingleses, alemães e outros, e aqueles que posteriormente foram produzidos por autores brasileiros traziam as marcas de disputas políticas e religiosas, filosóficas e expressavam desejos pessoais e de grupos. E todos eles, em todos os tempos, circulam nas escolas como processos e produtos autorizados para a escolarização do povo. Na Escola Normal do Paraná (Curitiba) os livros adotados correspondiam, na maior parte das vezes, aos mesmos adotados em outras Escolas de outras capitais. Especificamente sobre Lições de coisas, sua adoção marca o desejo da Província do Paraná de inserir-se nos projetos de escolarização e aquisição de valores morais e profissionais, dos quais partilhavam as demais províncias que compunham a nação brasileira. REFERÊNCIAS AZEVEDO. Fernando de. A cultura brasileira: Introdução ao estudo da cultura no Brasil. (Tomo terceiro: A transmissão da cultura). 4 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1964. BITTENCOURT, C.M. Autores e editores de compêndios e livros de leitura. (1810-1910). In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.3, p. 475-491, set./dez. 2004). CHARTIER, Roger. "O mundo como representação". Estudos Avançados, vol. 5, n.º 11, jan./abr. 1991, pp. 173-191.
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