Nota Jurídica. Gratificação de Qualificação, GQ. Lei n. 11.539/2007. Decreto n. 7.922/2013. Portaria MPOG n. 403/2014. PVL

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Transcrição:

Nota Jurídica Gratificação de Qualificação, GQ. Lei n. 11.539/2007. Decreto n. 7.922/2013. Portaria MPOG n. 403/2014. PVL

Brasília, 25 de fevereiro de 2015. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS ANALISTAS E ESPECIALISTAS EM INFRAESTRUTURA, ANEINFRA, formaliza consulta em que solicita esclarecimentos a respeito da possibilidade de propositura de medida judicial com o objetivo de impugnar o art. 7º, inciso I, da Portaria n. 403, de 13 de outubro de 2014, editada pela Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão. A análise será estruturada na exposição dos aspectos gerais da Gratificação de Qualificação (GQ), seguida dos argumentos contrários e favoráveis à propositura da demanda. I DOS ASPECTOS GERAIS DA GQ DEVIDA AOS ANALISTAS E AOS ESPECIALISTAS EM INFRAESTRUTURA A Lei n. 11.539, de 08 de novembro de 2007, criou, no âmbito da Administração Pública federal direta, os cargos de Analista de Infraestrutura e de Especialista em Infraestrutura Sênior. Essa norma, no art. 4º-A, estabeleceu que a estrutura remuneratória desses cargos seria composta por três parcelas: o vencimento básico, a Gratificação de Desempenho de Atividade em Infraestrutura (GDAIE) e a Gratificação de Qualificação (GQ). As duas primeiras espécies estipendiais, de acordo com a lei mencionada, consubstanciam verbas de caráter universal, ou seja, são devidas a todos os Analistas e Especialistas em Infraestrutura, indiscriminadamente. A GQ, por sua vez, é concedida com base no cumprimento de requisitos técnico-funcionais, acadêmicos e organizacionais necessários ao desempenho das atividades inerentes aos cargos e, por isso, é reservada apenas à parcela dos servidores da Carreira de Infraestrutura. O art. 14º-A, 4º, da Lei n. 11.539/07 determinou que o pagamento dessa gratificação ocorreria de acordo com a divisão em GQ Nível I e 2/12

em GQ Nível II, garantidas a 30% (trinta por cento) e a 15% (quinze por cento) dos cargos providos, respectivamente. A Lei n. 11.539/07, no entanto, não esgotou a disciplina relativa à GQ e reservou a regulamentação dessa parcela à própria Administração Pública. Em 18 de fevereiro de 2013, foi editado o Decreto n. 7.922, que dispôs acerca das GQ's devidas a diversas Carreiras do Poder Executivo federal, entre as quais figura a Carreira de Infraestrutura. Esse decreto reiterou alguns dos dispositivos da Lei n. 11.539/07 e disciplinou, em linhas gerais, os principais aspectos atinentes à concessão da GQ aos Analistas e aos Especialistas em Infraestrutura. Assim como verificado na Lei da Carreira, o Decreto n. 7.922/13 delegou ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) a competência para a regulamentação do processo de concorrência à GQ 1. Após quase cinco anos da edição da lei que assegurou a percepção da GQ aos Analistas e aos Especialistas em Infraestrutura, foi editada a Portaria MPOG n. 403/14. Esse ato administrativo, ao dispor sobre os critérios e os procedimentos específicos relativos à concessão da gratificação, aperfeiçoou o 1 Art. 36. A classificação dos servidores que concorrem à GQ dentro das vagas fixadas a cada ano, obedecerá a ordem decrescente do resultado obtido por cada servidor da soma da pontuação atribuída para cada critério abaixo, conforme disposto em ato do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: I - doutorado; II - mestrado; III pós-graduação lato sensu com carga horária mínima de trezentos e sessenta horas-aula; IV - tempo de efetivo exercício no cargo; V - produção técnica ou acadêmica na área de atuação do servidor; VI - participação como instrutor ou palestrante em cursos e eventos técnicos sobre assunto atinente às atividades da carreira ou cargo isolado; e VII - tempo de efetivo exercício em cargos em comissão ou função de confiança de direção ou chefia. 1º O ato de que trata o caput disporá sobre a pontuação mínima necessária para participação do servidor no processo de concorrência à GQ nível I e à GQ nível II. 2º A pontuação máxima a ser atribuída em função do inciso VII do caput não poderá superar a pontuação atribuída em função da posse de título de doutor. 3º O servidor selecionado para o recebimento de mais de um nível de gratificação será automaticamente excluído da seleção para a de nível inferior. 4º Caso exista igualdade no total de pontos obtidos pelos servidores que estiverem concorrendo à GQ, serão considerados como critérios de desempate, na seguinte ordem: I - tempo de efetivo exercício em cargos em comissão ou função de confiança de assessoramento; II - tempo de efetivo exercício no cargo; e III - a classificação no concurso de ingresso. ( ) Art. 41. Ato do Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão disporá sobre os procedimentos específicos para concessão da GQ, observado o disposto neste Decreto e na Lei n. 11.539, de 2007. 3/12

regramento relativo à GQ e tornou possível a realização do processo de concorrência. Alguns dispositivos da Portaria MPOG n. 403/14 geraram significativa repercussão entre os servidores da Carreira. Dentre esses preceitos, merece destaque o art. 7º, inciso I, que consignou que apenas poderiam concorrer à GQ os Analistas e os Especialistas que, até o dia 31 de dezembro do ano anterior ao processo de seleção, tivessem três anos de efetivo exercício em seus cargos. Diante disso, foi aventada, por alguns servidores, a possibilidade de ingresso em juízo para buscar a anulação da norma mencionada. Devido à controvérsia inerente ao tema, faz-se necessária a exposição da argumentação favorável e desfavorável à propositura dessa medida judicial. II DOS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À PROPOSITURA DA MEDIDA JUDICIAL Conforme explicitado, existem basicamente três normas que regulam a GQ dos Analistas e dos Especialistas em Infraestrutura: a Lei n. 11.539/07, o Decreto n. 7.922/13 e a Portaria MPOG n. 403/14. Ao analisar esses normativos, verifica-se que a Portaria editada pelo MPOG encontra fundamento de validade no ato praticado pela Presidente da República, que, por sua vez, legitimase a partir da norma promulgada pelo Congresso Nacional. Em atenção à hierarquia das normas, cada um dos dispositivos mencionados deve obedecer aos limites impostos pela regra imediatamente superior, sob pena de configurar-se como regulamento ilegal. Nesse ponto, vale destacar que essas limitações impostas pelas normas superiores às de hierarquia inferior não engessam por completo a atividade administrativa. O ordenamento jurídico brasileiro confere à Administração a prerrogativa para, a partir da edição de regulamentos, esmiuçar o disposto nas leis editadas pelo Congresso Nacional, com vistas ao seu fiel cumprimento. Não pode o regulamento criar direito inexistente ou limitar injustificadamente garantia dada pelo ato superior. 4/12

A essa prerrogativa se relaciona a discricionariedade administrativa. Acerca do tema, mostra-se oportuna a transcrição do seguinte trecho da obra do jurista Marçal Justen Filho: ( ) Na discricionariedade, há atribuição pela lei da competência para o administrador formular uma escolha segundo sua avaliação subjetiva, ainda que por critérios objetivos. A discricionariedade não é um defeito da lei. Não é nem desejável nem possível que todas as leis contenham todas as soluções a serem adotadas por ocasião de sua aplicação. Isso tornaria a atividade administrativa petrificada, sem possibilidade de adaptação para solucionar os problemas da realidade. Por isso, a discricionariedade é, antes, uma virtude da disciplina normativa. É a solução jurídica para a insuficiência do processo legislativo de geração de normas jurídicas: o legislador não dispõe de condições de prever antecipadamente a solução mais satisfatória para todos os eventos futuros. Por isso, é da essência da discricionariedade que a autoridade administrativa exercite a sua competência de modo a formular a melhor solução possível, a adotar a disciplina jurídica mais satisfatória e conveniente para resolver o caso concreto. ( ) 2 A Presidente da República, ao editar o Decreto n. 7.922/13, no exercício da competência a ela conferida pelo 4º do art. 14 da Lei n. 11.539/07, estabeleceu os critérios gerais para a concessão das GQ's de diversas carreiras de servidores públicos. No que concerne à GQ devida aos Analistas e aos Especialistas em Infraestrutura, o Decreto n. 7.922/13 determinou fossem observados alguns requisitos particulares. Confira-se: Art. 32. A GQ dos titulares dos cargos de que trata o inciso IV do caput do art. 1º será paga aos servidores que a ela fizerem jus em retribuição ao cumprimento de 2 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 6. ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Fórum, 2010, p. 213. 5/12

requisitos técnico-funcionais, acadêmicos e organizacionais necessários ao desempenho das atividades de seus respectivos cargos, de acordo com os valores constantes do Anexo IV à Lei n. 11.539, de 2007, conforme disposto neste Capítulo. 1º Os requisitos técnico-funcionais, acadêmicos e organizacionais necessários à percepção da GQ abrangem o nível de qualificação que o servidor possua em relação a: I - conhecimento dos serviços que lhe são afetos, na sua operacionalização e na sua gestão; e II - formação acadêmica e profissional, obtida mediante participação, com aproveitamento, nas seguintes modalidades de cursos: a) doutorado; b) mestrado; ou c) pós-graduação lato sensu, com carga horária mínima de trezentas e sessenta horas-aula. (grifos aditados) Como mencionado anteriormente, esse mesmo Decreto, nos arts. 36 e 41, atribuiu ao MPOG a liberalidade para decidir sobre os procedimentos e os critérios específicos da seleção para a participação dos Analistas e dos Especialistas em Infraestrutura no processo de concorrência à GQ. Diante disso, a Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão editou a Portaria n. 403/14, que tratou de maneira mais detalhada sobre esses aspectos. O dispositivo desse ato normativo que suscitou maior controvérsia foi o relativo ao requisito de tempo de efetivo exercício no cargo para participação no processo de concorrência, cujo teor se transcreve: Art. 7º Para fins de cumprimento dos requisitos técnico-funcionais, acadêmicos e organizacionais de que tratam os incisos I e II do 1º do art. 32 do Decreto n. 7.922, de 18 de fevereiro de 2013, é necessário que o servidor que concorrerá à GQ tenha, até 31 de dezembro do ano que anteceder o processo de concorrência: I três anos de efetivo exercício no cargo; e II pelo menos uma titulação acadêmica. (grifos aditados) 6/12

Da leitura da norma, verifica-se que a Ministra do Planejamento, no exercício da discricionariedade administrativa, considerou que a exigência dos três anos de efetivo exercício nos cargos da Carreira de Infraestrutura concretizava o requisito disposto no art. 32, 1º, I, do Decreto n. 7.922/13, de conhecimento dos serviços que lhe são afetos, na sua operacionalização e na sua gestão. Assim, ao impor esse critério para a participação no processo de concorrência à GQ, a Ministra não impôs uma cláusula de barreira aos demais servidores, mas apenas densificado a previsão de requisito disposta no decreto, sem criar ou restringir qualquer direito. Vale destacar, também, que a ANVISA, ao regulamentar a GQ de seus servidores, editou a Portaria n. 1.053, de 25 de junho de 2013, que estabeleceu critério temporal semelhante ao da Portaria MPOG n. 403/14, nos seguintes termos: Art. 9º. Os requisitos mínimos para habilitar o servidor a participar da concorrência da GQ são: I estar em efetivo exercício no cargo para o qual concorre para a GQ na Anvisa; II estar posicionado, no mínimo, na Classe A, Padrão II do cargo; III possuir, pelo menos, um título de pós-graduação em área de interesse da Agência; e IV não estar em licenças e afastamentos sem remuneração nas datas previstas no art. 11. (grifos aditados) Ao analisar a lei dos cargos que compõem o quadro de pessoal da ANVISA, percebe-se que o padrão funcional mencionado só é atingido após, no mínimo, um ano de efetivo exercício. Assim, a A gência Reguladora determinou que apenas os servidores com ao menos um ano de experiência podem participar do processo de concorrência à GQ. O estabelecimento de procedimentos para a concessão de direitos previstos em lei por atos regulamentares é aceita pelo Judiciário. Caso semelhante ao presente é o dos concursos de remoção. A Lei n. 8.112/90 deixou para ato do Poder Executivo a regulamentação do processo de remoção. A 7/12

necessidade de cumprimento do estágio probatório para a participação nesse concurso não foi considerada ilegal. Importa destacar o entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca da imposição de critérios em concursos de remoção que se relacionam com o tempo de efetivo exercício dos servidores no cargo. Confira-se: RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO DE REMOÇÃO. SERVIDOR EM ESTÁGIO PROBATÓRIO. VEDAÇÃO. POSSIBILIDADE. DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA. I - A Lei nº 8.112/90 (art. 36, parágrafo único, III, c) faculta à Administração estabelecer regras próprias complementares para regulamentação dos concursos de remoção, dentre as quais pode-se inserir as que estabeleçam os requisitos para a participação do certame. Assim, ao vedar a participação em referidos processos seletivos de servidor em estágio probatório, nada mais fez a Administração do que usar dessa discricionariedade conferida pela lei. II - O edital do concurso público do qual a recorrente foi aprovada (Edital nº 01/2004-DRH), já vedava a participação de servidores em concursos de remoção antes de decorridos três anos de efetivo exercício no cargo. Recurso ordinário desprovido. (STJ, Quinta Turma, RMS n. 22055 RS 2006/0115118-6, Relator Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 26/06/2007, Data de Publicação: DJ 13.08.2007 p. 390) Nesse julgamento, a Corte Superior entendeu que o Poder Executivo pode definir a aprovação no estágio probatório como requisito para a participação dos servidores públicos nos casos de concurso de remoção, que se assemelha ao certame em comento. Esse é também o entendimento do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Desse Tribunal, destaca-se a ementa de recente julgado: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO. PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL. 8/12

CONCURSO DE PROMOÇÃO NA CARREIRA. CUMPRIMENTO DO ESTÁGIO PROBATÓRIO / CONFIRMATÓRIO. NECESSIDADE. ILEGALIDADE DO EDITAL E DA RESOLUÇÃO. INEXISTÊNCIA. 1. A participação em concurso de promoção de servidores que ainda não cumpriram o estágio probatório já foi objeto de análise pelo Superior Tribunal de Justiça, que vem entendendo que os prazos devem ser observados, sendo vedada a promoção, por se encontrarem ainda em período de avaliação pela Administração. Precedentes. 2. A Lei Complementar nº 73/93, ao dispor sobre as atribuições do Conselho Superior da Advocacia Geral da União, conferiu ao CSAGU a função, dentre outras, de organizar as listas de promoção e de remoção, sendo certo que não há como executar tal atribuição sem a edição de atos e resoluções aptos à instrumentalização da tarefa. Inexistência de ilegalidade no Edital CSAGU nº 39/2008 e na Resolução CS-AGU nº 05/2006. 3. Apelação não provida. (TRF1, Segunda Turma, Relator Juiz Federal Convocado RENATO MARTINS PRATES, e-djf1 p. 171. 23/10/2013) Por fim, ainda que tal requisito possa ser considerado como cláusula de barreira, o que se admite apenas a título argumentativo, impende destacar o posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) acerca do tema. A Suprema Corte, no julgamento do Recurso Extraordinário n. 635.739, reconheceu a constitucionalidade das cláusulas de barreira na realização de concursos públicos para provimento de cargos. Confira-se a ementa do julgado: Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. 2. Concurso Público. Edital. Cláusulas de Barreira. Alegação de violação aos arts. 5º, caput, e 37, inciso I, da Constituição Federal. 3. Regras restritivas em editais de concurso público, quando fundadas em critérios objetivos relacionados ao desempenho meritório do candidato, não ferem o princípio da isonomia. 4. As cláusulas de barreira em concurso público, para seleção dos candidatos mais bem classificados, têm amparo constitucional. 5. Recurso extraordinário provido. 9/12

(STF, Tribunal Pleno, RE n. 635739, Relator Ministro GILMAR MENDES, julgado em 19/02/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-193 DIVULG 02-10-2014 PUBLIC 03-10-2014) Guardadas as devidas proporções, algumas semelhanças entre os dois certames são nítidas. Ao passo que são consideradas válidas as regras restritivas em concursos para provimento de cargos públicos com base no desempenho meritório dos candidatos, podem ser consideradas válidas as cláusulas que limitem a participação de servidores no processo de concorrência à GQ fundadas em critérios que representem algum tipo de qualificação, como o tempo de efetivo exercício no cargo. Assim, diante do comando inserto no art. 32, 1º, I, do Decreto n. 7.922/13, considera-se possível que a Administração estabeleça os requisitos técnico-funcionais e organizacionais que considerar mais adequados à concessão da GQ. III DOS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À PROPOSITURA DA MEDIDA JUDICIAL É possível, também, defender que o requisito disposto no art. 7º, inciso I, da Portaria MPOG n. 403/14 configura hipótese de regra demasiado restritiva e ofensiva ao princípio da isonomia. Isso porque o tempo de efetivo exercício no cargo deveria ser considerado como critério classificatório como consta no art. 8º, VI, da Portaria MPOG n. 403/14 e no art. 36, IV, do Decreto n. 7.922/13 e não como requisito para a participação no processo de concorrência à GQ. Ao impor o período de três anos de investidura no cargo como condição para a participação no certame, a Administração desconsideraria de forma desarrazoada parte dos servidores integrantes da Carreira. A eleição do tempo de efetivo exercício no cargo como requisito para a participação e como critério classificador art. 7º, I, e art. 8º, VI representa, assim, um prejuízo em dobro ao servidor que não tem os três anos. 10/12

Para reforçar essa alegação, mostra-se pertinente a comparação entre a Portaria MPOG n. 403/14 e os demais atos normativos que regulamentaram as GQ's das outras carreiras contempladas com a edição do Decreto n. 7.922/13. A título exemplificativo, pode-se citar a situação dos servidores do Departamento Nacional de Produção Mineral, DNPM e do Plano de Carreiras dos Cargos de Tecnologia Militar, PCCTM. O DNPM, para regulamentar o art. 22, 1º, do Decreto n. 7.922/13, editou a Portaria n. 415, de 20 de setembro de 2013, que dispôs: Art. 7º Os requisitos mínimos para habilitar o servidor a participar da concorrência da GQ são: I possuir pelo menos um título de pós-graduação, ou especialização conforme art. 2º, 2º, em área de interesse do DNPM; II estar em efetivo exercício lotado no DNPM; e III Não estar em licenças e afastamentos sem remuneração nas datas previstas no art. 5º. Já o Comando do Exército, para dispor sobre o art. 52 do Decreto n. 7.922/13, determinou os seguintes elementos como requisitos para participação no processo de concorrência da GQ dos PCCTM: Art. 6º Para fins de percepção da GQ, aplicam-se as seguintes disposições: I o servidor somente fará jus à percepção da GQ, nível I, se comprovada: a) sua participação em cursos de capacitação ou qualificação profissional com carga horária mínima de cento e oitenta horas; ou b) se reconhecida a qualificação profissional adquirida em, no mínimo, dez anos de efetivo exercício no cargo, mediante aplicação de prova prática e/ou escrita. II para a percepção do nível II da GQ, o servidor deverá comprovar conclusão de curso de capacitação ou qualificação profissional com carga horária mínima de duzentas e cinquenta horas; e 11/12

III a percepção do nível III da GQ está condicionada à comprovada participação com aproveitamento, nos seguintes cursos: ( ) (grifos aditados) Da leitura dos dispositivos transcritos, verifica-se que os demais órgãos públicos, ao regulamentar a concessão da GQ aos seus servidores, não impuseram um período específico de tempo de efetivo exercício no cargo como requisito para a participação no processo de concorrência. Dessa forma, pode-se entender que o MPOG, ao dispor sobre os critérios e procedimentos específicos para a concessão da GQ aos Analistas e aos Especialistas em Infraestrutura, exerceu de maneira desarrazoada sua discricionariedade, de sorte a prejudicar parte dos servidores. IV CONCLUSÃO Diante de todo o exposto, é possível concluir que existem fortes argumentos a favor e contra a procedência de eventual medida judicial que objetive impugnar o art. 7º, I, da Portaria MPOG n. 403/14. Tendo em vista a significativa controvérsia gerada entre os seus filiados a respeito do tema, deve a atuação judicial da ANEINFRA, na presente hipótese, ser avaliada a partir do disposto em seu estatuto 3, que prevê a necessidade de consenso de seu corpo social. Assim a opinião de quem abaixo subscreve. TORREÃO BRAZ ADVOGADOS Antônio Torreão Braz Filho Larissa Benevides Gadelha Bruno Fischgold Paulo Vitor Liporaci Giani Barbosa 3 Art. 6º. A ANEInfra, por intermédio dos seus órgãos, sempre preservará em seus objetivos os princípios da busca do consenso e da consulta ao corpo social. (grifos aditados) 12/12