APELAÇÃO CÍVEL N. 638896-9, DA COMARCA DE LONDRINA 2.ª VARA CÍVEL RELATOR : DESEMBARGADOR Francisco Pinto RABELLO FILHO APELANTE : MUNICÍPIO DE LONDRINA APELADO : ALESSANDRO VICTORELLI Execução fiscal IPTU e taxas Objeção de executividade. 1. Prescrição do crédito tributário CTN, art. 174 Marco inicial do prazo prescricional que recai no dia seguinte àquele estabelecido para pagamento do valor do tributo Execução de crédito tributário referente ao exercício de 1999 Ajuizamento após o decurso do prazo de cinco anos Prescrição configurada. 2. Exercício fiscal de 2000 Interrupção do prazo prescricional que ocorre com a citação pessoal Artigo 174, parágrafo único, inciso I, do Código Tributário Nacional, com redação anterior à Lei Complementar n.º 118/2005, aplicável ao caso Retardamento para que a relação jurídica processual se completasse Demora que não pode ser imputada aos mecanismos do Poder Judiciário Prescrição configurada. 3. Recurso a que se nega seguimento. Vistos estes autos de apelação cível n.º 638896-9, de Londrina, 2.ª Vara Cível, em que é apelante Município de Londrina e apelado, Alessandro Victorelli. Exposição 1. Município de Londrina ajuizou execução fiscal em face de Alessandro Victorelli, perante a 2.ª Vara Cível de Londrina, expondo, em síntese, ser dele credor do valor de R$ 21.465,51, a título de imposto predial e territorial urbano e taxas de iluminação pública, coleta de lixo, combate a incêndio e conservação de vias, Página 1 de 7
consubstanciados nas certidões de dívida ativa n.º 27.288-8, 27.289-6, 27.290-0 e 27.291-8. 1.1. Expedido o mandado de citação em 10 de janeiro de 2005 (f. 8), foi devolvido sem cumprimento em 29 de setembro de 2005 (f. 7-v.), diante da impossibilidade de localização do executado (f. 11). 1.2. Intimado sobre a devolução do mandado de citação sem cumprimento, o exequente efetuou carga dos autos em 13 de outubro de 2005 (f. 12), devolvendo-os em 13 de julho de 2006 (f. 14). 1.3. Em 30 de novembro de 2006, o executado opôs objeção de executividade (fs. 15-22), sustentando, em resumo: i) é parte ilegítima para figurar no polo passivo da execução fiscal, porquanto não era proprietário dos imóveis à época da ocorrência dos fatos imponíveis da obrigação tributária; ii) adquiriu 25% dos imóveis sobre os quais incidem os tributos em análise em 29 de março de 2000, e em 31 de julho do mesmo ano alienou seu quinhão; iii) como não é proprietário ou possuidor dos imóveis sobre os quais incidem o IPTU e as taxas, não pode figurar no polo passivo da execução fiscal, devendo ser extinta; iv) o crédito tributário está prescrito, já que somente a citação pessoal interrompe o curso do prazo prescricional; v) houve abandono da causa e paralisação injustificada do curso do processo, de forma que a execução fiscal deve ser extinta, nos termos do artigo 267, inciso II e III, do Código de Processo Civil. 1.4. Impugnação (fs. 33-38): i) cabe ao contribuinte comunicar as alterações nos dados do cadastro do imóvel, nos termos do artigo 14, parágrafo 5.º, do Código Tributário Municipal; ii) não pode ser penalizado pela desídia do executado em promover as alterações Página 2 de 7
cadastrais pertinentes; iii) a alegação de ilegitimidade não é capaz de atingir o lançamento tributário, que foi realizado em conformidade com a lei; iv) o lançamento foi efetuado em nome do titular em relação ao qual o imóvel estava cadastrado e deve ser mantido; v) não há falar em prescrição; v.i) os débitos foram inscritos em dívida ativa em 31 de dezembro de 1999 e 31 de dezembro de 2000, sendo essas datas o início do prazo prescricional; v.ii) como a execução foi ajuizada em 23 de dezembro de 2004 e o despacho determinando a citação ocorreu em 28 de dezembro de 2004, não houve prescrição do crédito tributário; vi) o executado não providenciou as atualizações dos dados cadastrais e por esse motivo não foi possível a citação pelo oficial de justiça; vii) com a manifestação espontânea do executado, foi suprida a falta da citação. 1.5. Sentença 1 (fs. 40-42): i) declarou a ocorrência de prescrição do crédito tributário; ii) julgou extinta a execução fiscal, nos termos do artigo 269, inciso IV, do Código de Processo Civil; iii) condenou o exequente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00. 1.6. Apelação pela parte exequente (fs. 48-53): i) não há falar em prescrição do crédito tributário, porquanto a ação foi ajuizada antes do transcurso do prazo prescricional; ii) os débitos foram inscritos em dívida ativa em 31 de dezembro de 1999 e 31 de dezembro de 2000, sendo essas datas o início do prazo prescricional; iii) como a execução foi ajuizada em 23 de dezembro de 2004 e o despacho determinando a citação ocorreu em 28 de dezembro de 2004, não houve prescrição do crédito tributário; 1 Juiz Luiz Gonzaga Tucunduva de Moura. Página 3 de 7
iv) após o ajuizamento da ação, a citação somente não se concretizou pela lenta atuação dos mecanismos da Justiça, de forma que deve era aplicada a súmula n.º 106 do Superior Tribunal de Justiça; v) os honorários advocatícios arbitrados são excessivos, devendo ser reduzidos. 1.7. Recurso respondido (fs. 55-62). Decisão 2. O recurso de apelação merece conhecimento, na medida em que estão presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, assim os intrínsecos (cabimento, legitimação e interesse em recorrer), como os extrínsecos (tempestividade, regularidade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e preparo dispensado). 3. O Município-apelante sustenta que não houve prescrição extintiva do crédito tributário relativo a débitos de IPTU e taxas dos exercícios de 1999 e 2000. 3.1. Pois bem. É ressabido que a prescrição tributária ocorre quando, por decurso de prazo, o sujeito ativo da obrigação tributária perde o direito de ação judicial para a cobrança do crédito tributário. Nessa linha, o artigo 174 do Código Tributário Nacional dispõe que a ação para cobrança dos créditos fiscais prescreve em cinco anos, contados de sua constituição definitiva, isto é, o ato de lançamento regularmente comunicado (pela notificação) ao devedor. 2 2 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 20. ed. revista. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 505. Página 4 de 7
3.2. Como não se pode falar em início do curso do prazo prescricional enquanto não verificada a inércia da Fazenda Pública, o que se dá a partir de quando a satisfação do crédito for exigível, tem-se que o primeiro dia daquela marcha prescricional recai no dia seguinte ao prazo de vencimento da obrigação. 3 3.3. Consoante consta das certidões de dívida ativa fornecidas pela parte exequente (fs. 3-6), o vencimento da obrigação tributária relativa ao exercício financeiro de 1999 ocorreu em 19 de junho de 1999, e ao exercício financeiro de 2000, em 24 de maio de 2000. 3.3.1. Tem-se, então, que o primeiro dia para a contagem do lustro prescricional, é 20 de junho de 1999 para ao exercício de 1999, e 25 de maio de 2000 para o exercício de 2000. 3.4. Como a execução foi ajuizada em 23 de dezembro de 2004, o crédito tributário referente ao exercício de 1999 já estava atingido pela prescrição, uma vez que no dia 20 de junho de 1999 iniciou-se a contagem do prazo prescricional, findando-se em 20 de junho de 2004. 3.5. Quanto ao exercício fiscal de 2000, é inquestionável que a execução foi proposta com lapso inferior a cinco anos da constituição do crédito tributário. 3.6. Por outro lado, é evidente que conforme dispõe o artigo 174, parágrafo único, inciso I, do Código Tributário Nacional, com redação anterior à Lei 3 Por todos, q. cfr. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 20. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 505-07. Página 5 de 7
Complementar n.º 118/2005, aplicável ao caso 4, a prescrição somente se interrompe pela citação pessoal feita ao devedor. 3.7. No caso de que aqui se trata, a execução foi ajuizada em 23 de dezembro de 2004. Expedido o mandado de citação em 10 de janeiro de 2005 (f.8), foi devolvido sem cumprimento em 29 de setembro de 2005 (f. 7-v.), diante da impossibilidade de localização do executado (f. 11). 3.8. Intimado sobre a devolução do mandado de citação sem cumprimento, o exequente efetuou carga dos autos em 13 de outubro de 2005 (f. 12), devolvendo-os somente em 13 de julho de 2006 (f. 14). 3.9. Como se vê, somente com o comparecimento espontâneo do executado, para a oposição de objeção de executividade (fs. 15-22), em 30 de novembro de 2006, houve a interrupção do prazo prescricional, de forma que também o exercício de 2000 encontra-se atingido pela prescrição. 3.10. É de se destacar ainda que não tem incidência aqui a súmula 106 do Superior Tribunal de Justiça. É que apesar de ter ocorrido um lapso de 9 meses entre a expedição do mandado de citação e sua devolução pelo oficial de justiça, o Município-exequente efetuou a carga dos autos em seguida, permanecendo com eles por 9 meses, sem requerer qualquer diligência para possibilitar a citação do executado. 4 A execução foi ajuizada em 23 de dezembro de 2004, anterior, portanto ao início da vigência da à Lei Complementar n.º 118/2005, que alterou a redação do artigo 174, parágrafo único, inciso I, do Código Tributário Nacional. Página 6 de 7
3.11. Desse modo, não merece reforma a sentença. Conclusão 4. Passando-se as coisas dessa maneira, nego seguimento ao recurso (CPC, art. 557, caput), uma vez que manifestamente improcedente e em confronto com jurisprudência dominante deste Tribunal e do Superior Tribunal de Justiça. 5. Intimem-se. 6. Buscando celeridade (CF, art. 5., inc. LXXVIII; CPC, art. 125, inc. II), autorizo a Sra. Chefe da Seção a subscrever os atos comunicacionais pertinentes. Curitiba, 18 de dezembro de 2009. Desembargador Rabello Filho RELATOR Página 7 de 7